quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cênesis (Cap 24 a 35)


Gênesis 24

“1 Ora, Abraão era já velho e de idade avançada; e em tudo o Senhor o havia abençoado.
2 E disse Abraão ao seu servo, o mais antigo da casa, que tinha o governo sobre tudo o que possuía: Põe a tua mão debaixo da minha coxa,
3 para que eu te faça jurar pelo Senhor, Deus do céu e da terra, que não tomarás para meu filho mulher dentre as filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito;
4 mas que irás à minha terra e à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Isaque.
5 Perguntou-lhe o servo: Se porventura a mulher não quiser seguir-me a esta terra, farei, então, tornar teu filho à terra donde saíste?
6 Respondeu-lhe Abraão: Guarda-te de fazeres tornar para lá meu filho.
7 O Senhor, Deus do céu, que me tirou da casa de meu pai e da terra da minha parentela, e que me falou, e que me jurou, dizendo: À tua o semente darei esta terra; ele enviará o seu anjo diante de si, para que tomes de lá mulher para meu filho.
8 Se a mulher, porém, não quiser seguir-te, serás livre deste meu juramento; somente não farás meu filho tornar para lá.
9 Então pôs o servo a sua mão debaixo da coxa de Abraão seu senhor, e jurou-lhe sobre este negócio.
10 Tomou, pois, o servo dez dos camelos do seu senhor, porquanto todos os bens de seu senhor estavam em sua mão; e, partindo, foi para a Mesopotâmia, à cidade de Naor.
11 Fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto ao poço de água, pela tarde, à hora em que as mulheres saíam a tirar água.
12 E disse: Ó Senhor, Deus de meu senhor Abraão, dá-me hoje, peço-te, bom êxito, e usa de benevolência para com o meu senhor Abraão.
13 Eis que eu estou em pé junto à fonte, e as filhas dos homens desta cidade vêm saindo para tirar água;
14 faze, pois, que a donzela a quem eu disser: Abaixa o teu cântaro, peço-te, para que eu beba; e ela responder: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; seja aquela que designaste para o teu servo Isaque. Assim conhecerei que usaste de benevolência para com o meu senhor.
15 Antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, filha de Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de Abraão, saía com o seu cântaro sobre o ombro.
16 A donzela era muito formosa à vista, virgem, a quem varão não havia conhecido; ela desceu à fonte, encheu o seu cântaro e subiu.
17 Então o servo correu-lhe ao encontro, e disse: Deixa-me beber, peço-te, um pouco de água do teu cântaro.
18 Respondeu ela: Bebe, meu senhor. Então com presteza abaixou o seu cântaro sobre a mão e deu-lhe de beber.
19 E quando acabou de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber.
20 Também com presteza despejou o seu cântaro no bebedouro e, correndo outra vez ao poço, tirou água para todos os camelos dele.
21 E o homem a contemplava atentamente, em silêncio, para saber se o Senhor havia tornado próspera a sua jornada, ou não.
22 Depois que os camelos acabaram de beber, tomou o homem um pendente de ouro, de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as mãos dela, do peso de dez siclos de ouro;
23 e perguntou: De quem és filha? dize-mo, peço-te. Há lugar em casa de teu pai para nós pousarmos?
24 Ela lhe respondeu: Eu sou filha de Betuel, filho de Milca, o qual ela deu a Naor.
25 Disse-lhe mais: Temos palha e forragem bastante, e lugar para pousar.
26 Então inclinou-se o homem e adorou ao Senhor;
27 e disse: Bendito seja o Senhor Deus de meu senhor Abraão, que não retirou do meu senhor a sua benevolência e a sua verdade; quanto a mim, o Senhor me guiou no caminho à casa dos irmãos de meu senhor.
28 A donzela correu, e relatou estas coisas aos da casa de sua mãe.
29 Ora, Rebeca tinha um irmão, cujo nome era Labão, o qual saiu correndo ao encontro daquele homem até a fonte;
30 porquanto tinha visto o pendente, e as pulseiras sobre as mãos de sua irmã, e ouvido as palavras de sua irmã Rebeca, que dizia: Assim me falou aquele homem; e foi ter com o homem, que estava em pé junto aos camelos ao lado da fonte.
31 E disse: Entra, bendito do Senhor; por que estás aqui fora? pois eu já preparei a casa, e lugar para os camelos.
32 Então veio o homem à casa, e desarreou os camelos; deram palha e forragem para os camelos e água para lavar os pés dele e dos homens que estavam com ele.
33 Depois puseram comida diante dele. Ele, porém, disse: Não comerei, até que tenha exposto a minha incumbência. Respondeu-lhe Labão: Fala.
34 Então disse: Eu sou o servo de Abraão.
35 O Senhor tem abençoado muito ao meu senhor, o qual se tem engrandecido; deu-lhe rebanhos e gado, prata e ouro, escravos e escravas, camelos e jumentos.
36 E Sara, a mulher do meu senhor, mesmo depois, de velha deu um filho a meu senhor; e o pai lhe deu todos os seus bens.
37 Ora, o meu senhor me fez jurar, dizendo: Não tomarás mulher para meu filho das filhas dos cananeus, em cuja terra habito;
38 irás, porém, à casa de meu pai, e à minha parentela, e tomarás mulher para meu filho.
39 Então respondi ao meu senhor: Porventura não me seguirá a mulher.
40 Ao que ele me disse: O Senhor, em cuja presença tenho andado, enviará o seu anjo contigo, e prosperará o teu caminho; e da minha parentela e da casa de meu pai tomarás mulher para meu filho;
41 então serás livre do meu juramento, quando chegares à minha parentela; e se não te derem, livre serás do meu juramento.
42 E hoje cheguei à fonte, e disse: Senhor, Deus de meu senhor Abraão, se é que agora prosperas o meu caminho, o qual venho seguindo,
43 eis que estou junto à fonte; faze, pois, que a donzela que sair para tirar água, a quem eu disser: Dá-me, peço-te, de beber um pouco de água do teu cântaro,
44 e ela me responder: Bebe tu, e também tirarei água para os teus camelos; seja a mulher que o Senhor designou para o filho de meu senhor.
45 Ora, antes que eu acabasse de falar no meu coração, eis que Rebeca saía com o seu cântaro sobre o ombro, desceu à fonte e tirou água; e eu lhe disse: Dá-me de beber, peço-te.
46 E ela, com presteza, abaixou o seu cântaro do ombro, e disse: Bebe, e também darei de beber aos teus camelos; assim bebi, e ela deu também de beber aos camelos.
47 Então lhe perguntei: De quem és filha? E ela disse: Filha de Betuel, filho de Naor, que Milca lhe deu. Então eu lhe pus o pendente no nariz e as pulseiras sobre as mãos;
48 e, inclinando-me, adorei e bendisse ao Senhor, Deus do meu senhor Abraão, que me havia conduzido pelo caminho direito para tomar para seu filho a filha do irmão do meu senhor.
49 Agora, pois, se vós haveis de usar de benevolência e de verdade para com o meu senhor, declarai-mo; e se não, também mo declarai, para que eu vá ou para a direita ou para a esquerda.
50 Então responderam Labão e Betuel: Do Senhor procede este negócio; nós não podemos falar-te mal ou bem.
51 Eis que Rebeca está diante de ti, toma-a e vai-te; seja ela a mulher do filho de teu senhor, como tem dito o Senhor.
52 Quando o servo de Abraão ouviu as palavras deles, prostrou-se em terra diante do Senhor:
53 e tirou o servo jóias de prata, e jóias de ouro, e vestidos, e deu-os a Rebeca; também deu coisas preciosas a seu irmão e a sua mãe.
54 Então comeram e beberam, ele e os homens que com ele estavam, e passaram a noite. Quando se levantaram de manhã, disse o servo: Deixai-me ir a meu senhor.
55 Disseram o irmão e a mãe da donzela: Fique ela conosco alguns dias, pelo menos dez dias; e depois irá.
56 Ele, porém, lhes respondeu: Não me detenhas, visto que o Senhor me tem prosperado o caminho; deixai-me partir, para que eu volte a meu senhor.
57 Disseram-lhe: chamaremos a donzela, e perguntaremos a ela mesma.
58 Chamaram, pois, a Rebeca, e lhe perguntaram: Irás tu com este homem; Respondeu ela: Irei.
59 Então despediram a Rebeca, sua irmã, e à sua ama e ao servo de Abraão e a seus homens;
60 e abençoaram a Rebeca, e disseram-lhe: Irmã nossa, sê tu a mãe de milhares de miríades, e possua a tua descendência a porta de seus aborrecedores!
61 Assim Rebeca se levantou com as suas moças e, montando nos camelos, seguiram o homem; e o servo, tomando a Rebeca, partiu.
62 Ora, Isaque tinha vindo do caminho de Beer-Laai-Rói; pois habitava na terra do Negebe.
63 Saíra Isaque ao campo à tarde, para meditar; e levantando os olhos, viu, e eis que vinham camelos.
64 Rebeca também levantou os olhos e, vendo a Isaque, saltou do camelo
65 e perguntou ao servo: Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? respondeu o servo: É meu senhor. Então ela tomou o véu e se cobriu.
66 Depois o servo contou a Isaque tudo o que fizera.
67 Isaque, pois, trouxe Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe; tomou-a e ela lhe foi por mulher; e ele a amou. Assim Isaque foi consolado depois da morte de sua mãe.”

Abraão teve o cuidado de preservar a sua consagração ao Senhor, também na família que seria formada pelo seu filho Isaque. Ele conhecia o poder que uma má influência teria para corromper, especialmente nesta área do matrimônio. 
E sabia quanto os cananeus estavam progredindo na iniquidade, e sabia também por revelação divina, que haveria um juízo do Senhor sobre eles no futuro, em razão da multiplicação desta iniquidade.
Ele tem também o cuidado de evitar que Isaque fosse pessoalmente para a sua parentela na Mesopotâmia, e se corrompesse com a idolatria de seus familiares.
Ele sabia, que sendo trazida uma moça do meio dos seus parentes, para junto de Isaque, ela poderia estar debaixo da boa influência da sua casa, que andava nos caminhos de Deus.
Tal era a importância de se preservar em santidade a descendência que trazia consigo a promessa feita por Deus a Abraão, que o Senhor determinou revelar em minúcias a Moisés todos os detalhes que envolveram a escolha de uma esposa para Isaque, certamente para que fosse seguido não necessariamente, o critério, mas a preocupação de que os descendentes de Abraão, que carregavam consigo a promessa divina, não se casassem em jugo desigual, de modo que não viessem a desfazer o caráter que Deus pretendia imprimir na nação que formaria com eles.
Isaque contava com cerca de quarenta anos e não havia ainda casado, provavelmente porque não havia se interessado por nenhuma das moças nascidas na casa de seu pai.
Havia certamente o desígnio de Deus nisto tudo, que buscava salvar a outras pessoas da família de Abraão, primeiro, com Rebeca que viria de lá para se casar com Isaque, e posteriormente com a ida para lá de Jacó, filho de Isaque com Rebeca, que se casaria com as filhas de Labão, Lia e Raquel, e deixaria uma boa influência entre eles, sobre a sua fé no Deus vivo, e sobre os seus preceitos, especialmente contra a idolatria.
Abraão estava certo do sucesso do empreendimento porque ele andava com Deus e sabia que o Senhor o assistiria naquela empresa, porque era do interesse do Senhor preservar a sua descendência em santidade, de modo que pudesse vir a formar um povo santo que O servisse. 
É inegável que há nesta porção das Escrituras todo um procedimento que é muito semelhante ao trabalho do Espírito Santo e dos próprios ministros de Deus, no trabalho de buscar uma noiva para Cristo.
O Noivo é muito rico, e herdeiro de tudo o que é de Seu Pai, e seus servos trabalham oferecendo dons à noiva para convencê-la da excelência do noivo, de modo que ela se sinta atraída a se unir a Ele em matrimônio.
Tudo isto está sendo feito pela vontade do Pai do Noivo. A noiva deve ser retirada do mundo de pecado em que vive para que possa se unir ao noivo, para habitar com ele num outro país.
O Noivo se alegrará com a noiva quando esta lhe for trazida pelos seus servos, e ela se alegrará no Noivo.
Inegavelmente há toda esta ilustração relativa a Cristo e a igreja na história do matrimônio de Isaque e Rebeca.
É importante destacar que o servo de Abraão apesar de ter recebido a certeza da parte do seu senhor que era profeta e homem versado nos caminhos de Deus, de que este lhe daria sucesso no empreendimento, ele não se confiou à fé do próprio Abraão, mas exercitou a sua própria fé orando ao Senhor e lhe pedindo que o fizesse prosperar na incumbência que lhe fora dada, e não somente orou, como se sentiu fortalecido na fé o suficiente para estipular um sinal confirmatório quanto àquela que seria a escolhida de Deus para Isaque, pois lhe pediria água, e se ela dissesse que lhe daria água não somente a ele, como também a seus camelos, esta seria a escolhida do Senhor.
Tendo Rebeca feito exatamente como ele havia pedido a Deus, o servo de Abraão se inclinou e o adorou.
Quando contou o sucedido a Betuel, pai de Rebeca, e Labão, seu irmão, estes reconheceram que Deus estava em tudo aquilo e consentiram em dar a Isaque a mão de Rebeca.
Nesta história o Senhor nos revela o quão é importante buscar a orientação dEle em todos os nossos empreendimentos, especialmente naqueles que dizem respeito aos interesses do Seu Reino, pois Ele não somente nos guiará a fazer o que é o correto, como confirmará a outros por Sua ação sobrenatural que estamos de fato debaixo da Sua direção e cuidado.       
Rebeca era uma mulher formosa, mas o servo de Abraão não foi buscá-la entre as mulheres desocupadas, ou em lugares de fama duvidosa, mas entre aquelas que estavam trabalhando dura e honestamente.
O melhor critério para se procurar uma jovem com a qual se pretenda casar é portanto dentre aquelas que são mulheres que tenham um testemunho de serem responsáveis, trabalhadoras, dedicadas, porque se não forem isso, apesar de toda a beleza que possuam, aqueles que com elas se casarem, terão que amargar muitas tristezas e decepções, que poderiam ter sido facilmente evitadas, caso tivessem se valido dos critérios estabelecidos por Deus para uma boa esposa, e não daqueles que são ditados pelos meros sentidos. 
Quando o Senhor está se encarregando do nosso matrimônio assim como se encarregou do de Isaque com Rebeca, ela dirigirá os nossos passos e corações, tal como fizera com Isaque e Rebeca.
Ela decidiu seguir imediatamente de Pada-Harã para o Neguebe, em Canaã, onde Isaque residia. Apesar de seu pai e irmão terem pedido que ela ficasse ainda dez dias com eles, ela foi decidida em não permanecer e ir encontrar-se logo com Isaque. Certamente ela foi inspirada pelo Senhor a fazê-lo.
Quando ela chegou a Canaã, Isaque tinha saído ao campo para meditar.
Ele deveria estar orando também a Deus para que o Senhor mesmo escolhesse aquela à qual ele uniria a sua vida até que a morte os separasse.
De fato ele não teria escolhido tão bem como Deus o fizera, e ele amou Rebeca logo que a viu, e ela também amou Isaque, porque a boa mão do Senhor estivera em tudo aquilo desde que inspirou Abraão a mandar o seu servo buscar uma esposa para seu filho entre os seus parentes na Mesopotâmia.
E certamente foi o próprio Senhor que providenciou para que o servo de Abraão encontrasse Rebeca.
 É sempre assim quando se ora com confiança, e temos a fé que o Seu interesse é muito maior do que o nosso de que façamos aquilo que é segundo a Sua santa, boa e agradável vontade.  



Gênesis 25

“1 Ora, Abraão tomou outra mulher, que se chamava Quetura.
2 Ela lhe deu à luz a Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Suá.
3 Jocsã gerou a Seba e Dedã. Os filhos de Dedã foram Assurim, Letusim e Leumim.
4 Os filhos de Midiã foram Efá, Efer, Hanoque, Abidá e Eldá; todos estes foram filhos de Quetura.
5 Abraão, porém, deu tudo quanto possuía a Isaque;
6 no entanto aos filhos das concubinas que Abraão tinha, deu ele dádivas; e, ainda em vida, os separou de seu filho Isaque, enviando-os ao Oriente, para a terra oriental.
7 Estes, pois, são os dias dos anos da vida de Abraão, que ele viveu: cento e setenta e cinco anos.
8 E Abraão expirou, morrendo em boa velhice, velho e cheio de dias; e foi congregado ao seu povo.
9 Então Isaque e Ismael, seus filhos, o sepultaram na cova de Macpela, no campo de Efrom, filho de Zoar, o heteu, que estava em frente de Manre,
10 o campo que Abraão comprara aos filhos de Hete. Ali foi sepultado Abraão, e Sara, sua mulher.
11 Depois da morte de Abraão, Deus abençoou a Isaque, seu filho; e habitava Isaque junto a Beer-Laai-Rói.
12 Estas são as gerações de Ismael, filho de Abraão, que Agar, a egípcia, serva de Sara, lhe deu;
13 e estes são os nomes dos filhos de Ismael pela sua ordem, segundo as suas gerações: o primogênito de Ismael era Nebaiote, depois Quedar, Abdeel, Mibsão,
14 Misma, Dumá, Massá,
15 Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá.
16 Estes são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas vilas e pelos seus acampamentos: doze príncipes segundo as suas tribos.
17 E estes são os anos da vida de Ismael, cento e trinta e sete anos; e ele expirou e, morrendo, foi congregado ao seu povo.
18 Eles então habitaram desde Havilá até Sur, que está em frente do Egito, como quem vai em direção da Assíria; assim Ismael se estabeleceu diante da face de todos os seus irmãos.
19 E estas são as gerações de Isaque, filho de Abraão: Abraão gerou a Isaque;
20 e Isaque tinha quarenta anos quando tomou por mulher a Rebeca, filha de Betuel, arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, arameu.
21 Ora, Isaque orou insistentemente ao Senhor por sua mulher, porquanto ela era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu.
22 E os filhos lutavam no ventre dela; então ela disse: Por que estou eu assim? E foi consultar ao Senhor.
23 Respondeu-lhe o Senhor: Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas estranhas, e um povo será mais forte do que o outro povo, e o mais velho servirá ao mais moço.
24 Cumpridos que foram os dias para ela dar à luz, eis que havia gêmeos no seu ventre.
25 Saiu o primeiro, ruivo, todo ele como um vestido de pelo; e chamaram-lhe Esaú.
26 Depois saiu o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú; pelo que foi chamado Jacó. E Isaque tinha sessenta anos quando Rebeca os deu à luz.
27 Cresceram os meninos; e Esaú tornou-se perito caçador, homem do campo; mas Jacó, homem sossegado, que habitava em tendas.
28 Isaque amava a Esaú, porque comia da sua caça; mas Rebeca amava a Jacó.
29 Jacó havia feito um guisado, quando Esaú chegou do campo, muito cansado;
30 e disse Esaú a Jacó: Deixa-me, peço-te, comer desse guisado vermelho, porque estou muito cansado. Por isso se chamou Edom.
31 Respondeu Jacó: Vende-me primeiro o teu direito de primogenitura.
32 Então replicou Esaú: Eis que estou a ponto de morrer; logo, para que me servirá o direito de primogenitura?
33 Ao que disse Jacó: Jura-me primeiro. Jurou-lhe, pois; e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó.
34 Jacó deu a Esaú pão e o guisado e lentilhas; e ele comeu e bebeu; e, levantando-se, seguiu seu caminho. Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura.”

Abraão viveu trinta e cinco anos, depois do matrimônio de Isaque, tendo morrido aos cento e setenta e cinco anos.
Foi sepultado por Isaque e Ismael, no mesmo lugar em que Sara havia sido sepultada. 
Depois da morte de Sara, Abraão se casou com Quetura, com quem teve outros seis filhos.
Assim a promessa de Deus de que o faria fecundo extraordinariamente se cumpriu de modo cabal mesmo na sua velhice.
Ismael lhe dera doze netos, que viriam a ser doze príncipes em suas respectivas tribos.
Ainda acrescidos a estes temos o relato dos filhos de Isaque, a saber, Esaú e Jacó, tendo Deus revelado a Rebeca que o maior serviria ao menor, conforme o Seu desígnio e onisciência.
A primeira parte deste capítulo fecha, portanto a história de Abraão, revelando a fidelidade de Deus em ter cumprido a promessa de torná-lo fecundo e pai de numerosas nações, uma vez que já era avançado em idade quando teve um filho com Hagar a egípcia, e mais ainda quando teve Isaque de Sara, e muito mais ainda quando teve filhos através de Quetura.   
Abraão teve o cuidado de confirmar Isaque como seu herdeiro escolhido por Deus, para que Ele se provesse de um povo que seria de Sua propriedade, a partir da sua descendência, não em ambos seus filhos, mas a contar do mais moço, Jacó, do qual descenderiam as tribos de Israel.
Abraão morreu em boa e ditosa velhice, como Deus lhe havia prometido quando lhe deu a visão do que sucederia à sua descendência na terra de servidão (Egito).      
Imediatamente depois da narrativa da morte de Abraão, Moisés começou a escrever a história de Isaque.
E está registrado que ele orou insistentemente para que Rebeca concebesse, pois era estéril.
Ele havia casado aos quarenta anos, e ela gerou os gêmeos Esaú e Jacó quando Isaque tinha sessenta anos. Ele orou por vinte anos para que Deus lhe desse filhos.
De certo modo, se repete aqui a história de Abraão com Sara para o nascimento de Isaque.
Certamente não se tratava de um capricho de Deus, mas de uma revelação de que aquela nação santa estava sendo formada não pela vontade e pelo poder do homem, mas por Sua vontade e pelo Seu poder sobrenatural, porque se Ele não tivesse intervindo sobrenaturalmente, não teria havido nenhum Isaque e nenhum Jacó.
Eles Lhe pertenciam, de um modo especial, e deveriam então lhe consagrar inteiramente as suas vidas.
E foi exatamente isto o que eles fizeram, dando cumprimento ao Seu propósito.
Também aprendemos disto, que embora Deus tivesse prometido multiplicar a família de Isaque, ele orou para o seu aumento; porque as promessas de Deus não devem substituir, mas encorajar, nossas orações, e devem servir como o alicerce para a nossa fé.
É um erro cruzar os braços e não orar sob a alegação de que Deus cumprirá o que tem prometido.
Isto é aplicável a tudo em nossas vidas, especialmente no que diz respeito à salvação de almas.
O Senhor tem prometido salvar a muitos, mas é nosso dever orar perseverantemente para que vidas sejam salvas.
Não podemos e não devemos cruzar os braços sob a alegação de que o Senhor é fiel em cumprir o que tem prometido, porque apesar disto ser verdadeiro, é também outra verdade de que Ele tem determinado fazer todas as coisas em conformidade com a nossa fé. Por isso ela é colocada à prova tal como fizera com Isaque.
Deus permitiu que Rebeca percebesse a luta que havia entre Esaú e Jacó, desde o ventre.
Os descendentes de Esaú viriam a formar uma nação impiedosa, os edomitas que foram por muito tempo inimigos de Israel; que foi a nação santa formada por Deus a partir de Jacó, cujo nome fora mudado pelo Senhor para Israel.    
Os temperamentos extremamente opostos de ambos contribuíram para que Rebeca se afeiçoasse ao pacato Jacó, e Isaque ao irrequieto e destemido Esaú.
Isto só contribuiu para agravar o relacionamento dos meninos em família.
Entretanto, aos olhos de Deus, os dons de desbravador e de caçador de Esaú, não o qualificaram à eleição, para ser incluído na descendência santa, mas exatamente o seu vacilante e tímido irmão.
 A graça procura em quem possa trabalhar e que lhe dê boa acolhida.
É dela todo o mérito no forjar caracteres aprovados para Deus.
Ela é o poder transformador que dá coragem, santidade, poder e tudo o que é necessário para nos habilitar ao serviço de Deus.
Enquanto, isto, o mais dotado dos homens, sem o trabalho da graça, sem que lhe permita uma livre operação em sua vida, não poderá ter qualquer serventia no serviço sagrado do Senhor.
Assim, Jacó não foi escolhido por qualquer qualificação especial que havia nele, mas por aquilo que o Senhor viria a operar em Sua vida.
O que o qualificou foi sua fé em Deus, assim como acontece com todos os verdadeiros servos do Senhor.        
Esaú era forte, mas Deus escolhe as coisas fracas e desprezadas, para que lhes imprima a Sua própria força e poder.
Aquele que serve ao Senhor não deve se gloriar na sua força mas na sua fraqueza, assim como o fazia o grande apóstolo dos gentios.   
Entretanto, os homens mais fortes deste mundo, quando não têm o seu caráter modelado por Deus, podem revelar uma fraqueza moral das mais acentuadas, assim como Esaú que desprezou o seu direito de primogenitura, trocando-o por um prato de comida.
Deus havia determinado que o direito aos privilégios da primogenitura seria de Jacó e não de Esaú, e não havia portanto necessidade de que Jacó tivesse agido com oportunismo para arrancar tal direito de seu irmão, pois que lhe fora dado por mandado divino, entretanto, o caso serviu para revelar qual era o caráter do seu irmão, e para demonstrar porque tal direito não lhe fora dado por Deus.    
Àquela altura, com a idade que já tinham; ambos devem ter sido devidamente esclarecidos quanto às promessas de Deus relativas à descendência de Abraão e de Isaque, seu pai. E o que fez Esaú? Tendo desprezado sua primogenitura, estava na verdade desprezando a promessa de Deus relativa à descendência abençoada de Abraão, e por aquele ato, ele comprovou que de fato deveria ser excluído dela.
 Aqueles que não dão o devido valor às coisas de Deus, aqueles que não O honram, não podem de fato ser também honrados por Ele. Por isso tem prometido honrar apenas àqueles que O honrarem.
Todos os atos dos servos de Deus devem ser feitos com diligência, amor e fervor. Se os nossos maiores e melhores esforços na Sua obra são mais do que a obra de servos inúteis, quanto mais não serão tidos na conta de nada, aqueles que o servirem negligentemente?  




Gênesis 26

“1 Sobreveio à terra uma fome, além da primeira, que ocorreu nos dias de Abraão. Por isso foi Isaque a Abimeleque, rei dos filisteus, em Gerar.
2 E apareceu-lhe o Senhor e disse: Não desças ao Egito; habita na terra que eu te disser;
3 peregrina nesta terra, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti, e aos que descenderem de ti, darei todas estas terras, e confirmarei o juramento que fiz a Abraão teu pai;
4 e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu, e lhe darei todas estas terras; e por meio dela serão benditas todas as nações da terra;
5 porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.
6 Assim habitou Isaque em Gerar.
7 Então os homens do lugar perguntaram-lhe acerca de sua mulher, e ele respondeu: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher; para que porventura, dizia ele, não me matassem os homens daquele lugar por amor de Rebeca; porque era ela formosa à vista.
8 Ora, depois que ele se demorara ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher.
9 Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher; como pois disseste: E minha irmã? Respondeu-lhe Isaque: Porque eu dizia: Para que eu porventura não morra por sua causa.
10 Replicou Abimeleque: Que é isso que nos fizeste? Facilmente se teria deitado alguém deste povo com tua mulher, e tu terias trazido culpa sobre nós.
11 E Abimeleque ordenou a todo o povo, dizendo: Qualquer que tocar neste homem ou em sua mulher, certamente morrerá.
12 Isaque semeou naquela terra, e no mesmo ano colheu o cêntuplo; e o Senhor o abençoou.
13 E engrandeceu-se o homem; e foi-se enriquecendo até que se tornou mui poderoso;
14 e tinha possessões de rebanhos e de gado, e muita gente de serviço; de modo que os filisteus o invejavam.
15 Ora, todos os poços, que os servos de seu pai tinham cavado nos dias de seu pai Abraão, os filisteus entulharam e encheram de terra.
16 E Abimeleque disse a Isaque: Aparta-te de nós; porque muito mais poderoso te tens feito do que nós.
17 Então Isaque partiu dali e, acampando no vale de Gerar, lá habitou.
18 E Isaque tornou a cavar os poços que se haviam cavado nos dias de Abraão seu pai, pois os filisteus os haviam entulhado depois da morte de Abraão; e deu-lhes os nomes que seu pai lhes dera.
19 Cavaram, pois, os servos de Isaque naquele vale, e acharam ali um poço de águas vivas.
20 E os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. E ele chamou ao poço Eseque, porque contenderam com ele.
21 Então cavaram outro poço, pelo qual também contenderam; por isso chamou-lhe Sitna.
22 E partiu dali, e cavou ainda outro poço; por este não contenderam; pelo que chamou-lhe Reobote, dizendo: Pois agora o Senhor nos deu largueza, e havemos de crescer na terra.
23 Depois subiu dali a Beer-Seba.
24 E apareceu-lhe o Senhor na mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu pai; não temas, porque eu sou contigo, e te abençoarei e multiplicarei a tua descendência por amor do meu servo Abraão.
25 Isaque, pois, edificou ali um altar e invocou o nome do Senhor; então armou ali a sua tenda, e os seus servos cavaram um poço.
26 Então Abimeleque veio a ele de Gerar, com Aüzate, seu amigo, e Ficol, o chefe do seu exército.
27 E perguntou-lhes Isaque: Por que viestes ter comigo, visto que me odiais, e me repelistes de vós?
28 Responderam eles: Temos visto claramente que o Senhor é contigo, pelo que dissemos: Haja agora juramento entre nós, entre nós e ti; e façamos um pacto contigo,
29 que não nos farás mal, assim como nós não te havemos tocado, e te fizemos somente o bem, e te deixamos ir em paz. Agora tu és o bendito do Senhor.
30 Então Isaque lhes deu um banquete, e comeram e beberam.
31 E levantaram-se de manhã cedo e juraram de parte a parte; depois Isaque os despediu, e eles se despediram dele em paz.
32 Nesse mesmo dia vieram os servos de Isaque e deram-lhe notícias acerca do poço que haviam cavado, dizendo-lhe: Temos achado água.
33 E ele chamou o poço Seba; por isso é o nome da cidade Beer-Seba até o dia de hoje.
34 Ora, quando Esaú tinha quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de Beeri, o heteu e a Basemate, filha de Elom, o heteu.
35 E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito.”

Nós vimos no capítulo anterior que Isaque residia no Neguebe, em Canaã, e agora, logo no início deste capítulo é dito que houve uma grande fome na terra de Canaã, tal como nos dias de Abraão, e certamente, isto devia ser resultante dos juízos de Deus, não dando chuvas e fartura aos cananeus, em razão da sua crescente iniquidade.
Por isso Isaque se deslocou para a terra dos filisteus, em Gerar, onde seu pai havia habitado no passado, e onde havia feito uma aliança com Abimeleque.
E, movido pelo mesmo temor que havia estado em Abraão, ele pediu a Rebeca que dissesse que era sua irmã, e não sua esposa.
Só que, para sua surpresa, ele viu o temor que havia entre os filisteus em não tocar nas mulheres casadas da linhagem de Abraão, certamente pelo conhecimento de como Deus havia agido no passado em relação a eles, quando Abimeleque havia tomado Sara para si, e foi impedido por Deus de tocar nela, e como havia fechado a madre de todas as mulheres de Gerar, ficando a volta da fertilidade delas dependente da intercessão de Abraão.
Este temor do Senhor havia permanecido entre eles desde os dias de Abraão, conforme se pode verificar neste capítulo.
Mas antes da narrativa deste fato, nós lemos o testemunho que Deus havia dado acerca de Abraão, dizendo que  confirmaria o juramento que lhe havia feito, de multiplicar a sua descendência como as estrelas do céu, e lhe dar todas aquelas terras; e que por meio da sua descendência seriam benditas todas as nações da terra; porquanto Abraão havia obedecido à sua voz, e guardado o seu mandado, os seus preceitos, os seus estatutos e as suas leis.
Observe que a promessa seria cumprida não somente porque Deus estava compromissado com a fidelidade à Sua Palavra, mas porque Abraão havia correspondido à sua vocação fazendo a Sua vontade.
A confirmação da bênção do Senhor na vida dos seus filhos é dependente desta obediência. O cumprimento das promessas de Deus é visto naqueles que andam em conformidade com a Sua vontade, tal como fizera Abraão, e agora também o faria o próprio Isaque.
O cristão está debaixo da graça e das boas promessas do Senhor, mas deve cooperar com o trabalho da graça na sua vida, se quiser ver dias felizes e amar a vida.     
Assim, Deus estava recomendando a Isaque o bom exemplo de obediência do seu pai Abraão.
A aliança seria confirmada e a promessa cumprida, mas dependeria da obediência de Isaque e dos seus filhos, depois dele.
Tendo Isaque se determinado em seguir os passos da obediência de seu pai, ele foi grandemente abençoado por Deus.
Ele foi agricultor em Gerar, e se diz que ele colhia a cem por um.
Isto é indicativo de que havia uma bênção especial de Deus sobre tudo o que ele fazia.
O Senhor o enriqueceu e o fortaleceu com o aumento do número dos seus servos, tal como havia feito com Abraão.
Havia necessidade no caso específico deles, que viriam a formar uma nação no meio de outras nações, que fossem assim fortalecidos e enriquecidos com bens e servos por parte de Deus, para que pudessem sobreviver em meio às condições difíceis em que tinham que viver, sendo estrangeiros no meio de uma gente estranha.
Como Isaque havia prosperado imensamente na terra dos filisteus, eles o invejaram, e temendo que viesse a se tornar mais poderoso do que eles, expulsaram-no do seu meio, e ele foi habitar no vale de Gerar onde reabriu os poços que haviam sido cavados nos dias de Abraão, e que os filisteus haviam entulhado.
Tendo achado água, houve contenda entre os pastores filisteus com os seus pastores, pois aqueles protestaram que o direito àquela água lhes pertencia.  
O que fez Isaque, que era um homem pacífico?
Ele partiu dali e foi cavar poços em outro lugar, onde também encontrou água.
Veio posteriormente a residir em Berseba, e a bênção do Senhor permanecia sobre ele.
Vendo os filisteus que o ato da expulsão não o havia enfraquecido, antes Deus o tinha fortalecido, vieram a ter com ele em Berseba, e propuseram ali fazer uma aliança de paz. 
O testemunho que partiu da própria boca dos filisteus foi o seguinte:
“Temos visto claramente que o Senhor é contigo.”
Isaque sabia que o Senhor era com ele, e portanto não viveria a contender com o homem, e não desanimaria diante das aparentes derrotas que pudesse sofrer da parte das investidas de seus inimigos.
Ele poderia ter lutado pela posse do poço que havia aberto, mas não, ele o deixou para os filisteus e foi buscar a bênção do Senhor noutro lugar. Isto não é covardia, mas sabedoria. É não aceitar a provocação do diabo. É guardar o coração em paz e incontaminado do mal. É vencer o mal com o bem.
Se Deus é por nós quem será contra nós?
Quem poderá impedir de recebermos a bênção do Senhor?
Se o inimigo fechar uma porta, o Senhor abrirá outra maior e melhor para nós.
Isto é uma grande certeza para todos quantos têm caminhado com Deus e provado a Sua fidelidade.    
As mesmas pessoas que haviam expulsado Isaque viriam a honrá-lo posteriormente, reconhecendo que a bênção de Deus estava sobre a vida daquele homem.
Somos honrados por causa do testemunho do Senhor sobre as nossas vidas, e não por causa de nossos méritos pessoais.  
Isaque teve a sabedoria de usar os poços de seus ancestrais, e isto, é uma poderosa figura para que não rejeitemos e desprezemos o acúmulo de sabedoria acerca das coisas de Deus que nos legaram os seus servos fiéis do passado.
Mas Isaque também abriu novos poços, e isto nos aponta para a necessidade de não nos acomodarmos à luz recebida de épocas anteriores, mas continuar construindo sobre esse bom e firme fundamento, de maneira que este conhecimento possa ser aumentado.    
A oposição que Isaque encontrou ao cavar os poços para achar água, que é essencial à manutenção da vida, tipifica também toda a perseguição e resistência que teremos que enfrentar quando nos dispomos a cavar fundo para abrir as fontes da verdade. Os dois primeiros poços que eles cavaram foram nomeados Esek, que significa contenção; e Sitnah, que significa ódio. A oposição da carne e do mundo à verdade se fará notória, mas como Isaque, devemos continuar cavando os nossos poços para que a água da vida flua deles, e dessedentem a muitos, que têm sede da verdade e da justiça.  
Assim, aqueles que se empenham pela paz, cedo ou tarde, acharão a paz, tal como Isaque, que depois de muitas lutas veio a descansar em Berseba, onde  Deus lhe apareceu e renovou com ele a aliança que tinha feito com Abraão.
Isaque edificou um altar e invocou o nome do Senhor.  
Isaque continuou mantendo comunhão com Deus, mesmo quando havia sido expulso e pressionado pelos filisteus.
É especialmente nestas ocasiões que devemos intensificar nossa comunhão com o Senhor, em vez de interrompê-la, aguardando por dias melhores.
Deus deve ser adorado e servido em toda e qualquer circunstância, e não devemos alterar o nosso procedimento e testemunho em razão das coisas que nos sobrevenham, quer sejam agradáveis ou difíceis.  
A narrativa deste capítulo é encerrada com o casamento de Esaú com duas mulheres do povo heteu, das quais se diz que foram uma amargura de espírito para Isaque e Rebeca, certamente muito mais pelos falsos deuses que adoravam, e seus valores contrários aos valores revelados de Deus, do que propriamente em razão de seus temperamentos.   


Gênesis 27

“1 Quando Isaque já estava velho, e se lhe enfraqueciam os olhos, de maneira que não podia ver, chamou a Esaú, seu filho mais velho, e disse-lhe: Meu filho! Ele lhe respondeu: Eis-me aqui!
2 Disse-lhe o pai: Eis que agora estou velho, e não sei o dia da minha morte;
3 toma, pois, as tuas armas, a tua aljava e o teu arco; e sai ao campo, e apanha para mim alguma caça;
4 e faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para que eu coma; a fim de que a minha alma te abençoe, antes que morra.
5 Ora, Rebeca estava escutando quando Isaque falou a Esaú, seu filho. Saiu, pois, Esaú ao campo para apanhar caça e trazê-la.
6 Disse então Rebeca a Jacó, seu filho: Eis que ouvi teu pai falar com Esaú, teu irmão, dizendo:
7 Traze-me caça, e faze-me um guisado saboroso, para que eu coma, e te abençoe diante do Senhor, antes da minha morte.
8 Agora, pois, filho meu, ouve a minha voz naquilo que eu te ordeno:
9 Vai ao rebanho, e traze-me de lá das cabras dois bons cabritos; e eu farei um guisado saboroso para teu pai, como ele gosta;
10 e levá-lo-ás a teu pai, para que o coma, a fim de te abençoar antes da sua morte.
11 Respondeu, porém, Jacó a Rebeca, sua mãe: Eis que Esaú, meu irmão, é peludo, e eu sou liso.
12 Porventura meu pai me apalpará e serei a seus olhos como enganador; assim trarei sobre mim uma maldição, e não uma bênção.
13 Respondeu-lhe sua mãe: Meu filho, sobre mim caia essa maldição; somente obedece à minha voz, e vai trazer-mos.
14 Então ele foi, tomou-os e os trouxe a sua mãe, que fez um guisado saboroso como seu pai gostava.
15 Depois Rebeca tomou as melhores vestes de Esaú, seu filho mais velho, que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho mais moço;
16 com as peles dos cabritos cobriu-lhe as mãos e a lisura do pescoço;
17 e pôs o guisado saboroso e o pão que tinha preparado, na mão de Jacó, seu filho.
18 E veio Jacó a seu pai, e chamou: Meu pai! E ele disse:
Eis-me aqui; quem és tu, meu filho?
19 Respondeu Jacó a seu pai: Eu sou Esaú, teu primogênito; tenho feito como me disseste; levanta-te, pois, senta-te e come da minha caça, para que a tua alma me abençoe.
20 Perguntou Isaque a seu filho: Como é que tão depressa a achaste, filho meu? Respondeu ele: Porque o Senhor, teu Deus, a mandou ao meu encontro.
21 Então disse Isaque a Jacó: Chega-te, pois, para que eu te apalpe e veja se és meu filho Esaú mesmo, ou não.
22 chegou-se Jacó a Isaque, seu pai, que o apalpou, e disse: A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as mãos de Esaú.
23 E não o reconheceu, porquanto as suas mãos estavam peludas, como as de Esaú seu irmão; e abençoou-o.
24 No entanto perguntou: Tu és mesmo meu filho Esaú? E ele declarou: Eu o sou.
25 Disse-lhe então seu pai: Traze-mo, e comerei da caça de meu filho, para que a minha alma te abençoe: E Jacó lho trouxe, e ele comeu; trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu.
26 Disse-lhe mais Isaque, seu pai: Aproxima-te agora, e beija-me, meu filho.
27 E ele se aproximou e o beijou; e seu pai, sentindo-lhe o cheiro das vestes o abençoou, e disse: Eis que o cheiro de meu filho é como o cheiro de um campo que o Senhor abençoou.
28 Que Deus te dê do orvalho do céu, e dos lugares férteis da terra, e abundância de trigo e de mosto;
29 sirvam-te povos, e nações se encurvem a ti; sê senhor de teus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti; sejam malditos os que te amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem.
30 Tão logo Isaque acabara de abençoar a Jacó, e este saíra da presença de seu pai, chegou da caça Esaú, seu irmão;
31 e fez também ele um guisado saboroso e, trazendo-o a seu pai, disse-lhe: Levanta-te, meu pai, e come da caça de teu filho, para que a tua alma me abençoe.
32 Perguntou-lhe Isaque, seu pai: Quem és tu? Respondeu ele: Eu sou teu filho, o teu primogênito, Esaú.
33 Então estremeceu Isaque de um estremecimento muito grande e disse: Quem, pois, é aquele que apanhou caça e ma trouxe? Eu comi de tudo, antes que tu viesses, e abençoei-o, e ele será bendito.
34 Esaú, ao ouvir as palavras de seu pai, bradou com grande e mui amargo brado, e disse a seu pai: Abençoa-me também a mim, meu pai!
35 Respondeu Isaque: Veio teu irmão e com sutileza tomou a tua bênção.
36 Disse Esaú: Não se chama ele com razão Jacó, visto que já por duas vezes me enganou? tirou-me o direito de primogenitura, e eis que agora me tirou a bênção. E perguntou: Não reservaste uma bênção para mim?
37 Respondeu Isaque a Esaú: Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os seus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido. Que, pois, poderei eu fazer por ti, meu filho?
38 Disse Esaú a seu pai: Porventura tens uma única bênção, meu pai? Abençoa-me também a mim, meu pai. E levantou Esaú a voz, e chorou.
39 Respondeu-lhe Isaque, seu pai: Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, longe do orvalho do alto céu;
40 pela tua espada viverás, e a teu irmão, servirás; mas quando te tornares impaciente, então sacudirás o seu jugo do teu pescoço.
41 Esaú, pois, odiava a Jacó por causa da bênção com que seu pai o tinha abençoado, e disse consigo: Vêm chegando os dias de luto por meu pai; então hei de matar Jacó, meu irmão.
42 Ora, foram denunciadas a Rebeca estas palavras de Esaú, seu filho mais velho; pelo que ela mandou chamar Jacó, seu filho mais moço, e lhe disse: Eis que Esaú teu irmão se consola a teu respeito, propondo matar-te.
43 Agora, pois, meu filho, ouve a minha voz; levanta-te, refugia-te na casa de Labão, meu irmão, em Harã,
44 e demora-te com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão;
45 até que se desvie de ti a ira de teu irmão, e ele se esqueça do que lhe fizeste; então mandarei trazer-te de lá; por que seria eu desfilhada de vós ambos num só dia?
46 E disse Rebeca a Isaque: Enfadada estou da minha vida, por causa das filhas de Hete; se Jacó tomar mulher dentre as filhas de Hete, tais como estas, dentre as filhas desta terra, para que viverei?”

Na verdade, não foi por causa da fraude de Jacó que Esaú perdeu os privilégios da sua primogenitura.
Ele os perdeu porque ele mesmo os havia desprezado.
Assim se dá com todo aquele que despreza os dons de Deus, pois acabará ficando privado dos privilégios que lhes seriam concedidos pelo Senhor se os tivesse honrado e usado para a glória de Deus.
O pouco valor que lhes dermos será a causa de sermos também desprezados pelo Senhor.
Nossas lágrimas e lamúrias na hora em que constatarmos que nos falta o poder espiritual que gostaríamos de ter, não nos farão justiça e nem mesmo nos trarão de volta aquilo que nós mesmos jogamos fora.
Por isso a Palavra nos recomenda que sejamos diligentes, vigilantes e operosos na obra do Senhor, desenvolvendo com temor e tremor a nossa salvação diante dEle.   
Assim, quando Esaú foi abençoado por seu pai, Deus não estava assinando embaixo a mentira de Rebeca e de seu filho Jacó, pois ambos viriam a sofrer a devida e justa correção de Deus no curso de suas vidas atribuladas, não somente por este pecado, como por todas as suas faltas.
A bênção já havia sido determinada pelo Senhor quando Esaú e Jacó ainda estavam no ventre de Rebeca e seria cumprida.
A disciplina da fraude seria realizada como um ato separado da bênção que seria concedida a Jacó.
É importante sabermos que o perdão de nossos pecados por Deus, em razão do sacrifício de Jesus, não nos isenta de um andar em santidade na sua presença, e certamente colheremos os frutos de nossos maus pensamentos e ações, embora tenhamos sido reconciliados com Deus por meio da fé em Jesus, e de termos recebido por causa dEle o perdão de todos os nossos pecados, para efeito de não mais sermos condenados eternamente.
Ele nos ama e jamais nos deixará ou desampará, mas também é certo que não deixará de nos corrigir como filhos amados.      
Isaque disse que ele abençoaria a Esaú com a sua alma, antes que morresse. Há algo muito importante nestas palavras, porque uma bênção verdadeira não é apenas de palavra, mas deve proceder do coração, da alma, conforme o dizer de Isaque. A bênção não chegará ao coração do abençoado se não vier do coração de quem abençoa.
A alma de Isaque não seria movida pelo Espírito Santo para proferir a Esaú a bênção que ele proferiu a Jacó, ainda que sendo enganado, porque os termos daquela bênção se aplicavam a Jacó e não a Esaú, conforme a determinação de Deus.
Não sabemos dizer o que teria ocorrido caso Esaú viesse com a caça até Isaque, antes de Jacó, mas, uma coisa sabemos: Deus não teria permitido que ele fosse abençoado com a bênção que havia destinado a Jacó e não a Ele, e o Senhor não precisaria de nenhuma ajuda para cumprir o Seu propósito.
Assim, esta parte da revelação das Escrituras não foi registrada por Moisés por ordem de Deus, para nos ensinar a usar de fraudes para obter as bênçãos que Ele destinou a nós, ou que devemos ajudá-lo no cumprimento delas. Nós já vimos o que aconteceu a Abraão e Sara quando tentaram cooperar com a promessa da geração de um filho, no caso Hagar.
O que esta passagem quer ensinar é exatamente o oposto disto, a saber, que o Senhor não necessita ser ajudado por nós para cumprir os Seus propósitos, e muito menos por meio de processos fraudulentos.
Assim evidencia-se mais uma vez a misericórdia e a graça de Deus para abençoar a vida de seus servos e trazer as suas bênçãos sobre eles, pois a Escritura mostra de modo muito claro o pecado de Jacó e de sua mãe, mesmo no assunto relativo à bênção da primogenitura.
Assim, o cumprimento da promessa nunca é pelo mérito do homem, que é pecador, mas sempre pela graça e misericórdia de Deus.
Isaque era mais afeiçoado a Esaú do que a Jacó, e certamente devia ter determinado que a bênção seria de Esaú a todo o custo, ainda que conhecesse o que Deus havia dito a respeito de ter escolhido a Jacó e não Esaú.
Afinal, no ponto de vista de Isaque, Esaú era o primogênito, e não seria correto abençoar o mais moço com a bênção que era normalmente reservada ao mais velho.
Entretanto o que aprendemos daí é que o que está determinado por Deus para nossos filhos se cumprirá independente dos nossos sentimentos e preferências relativos a eles.  
Assim, quando Isaque percebeu que a vontade de Deus era contrária à sua vontade, ele se submeteu a ela, e abençoou a Jacó e a Esaú, pela fé, porque não o fez segundo a carne, mas no poder do Espírito Santo (Heb 11.20).
Esaú em vez de se arrepender da sua própria insensatez, e por ser profano e fornicador, limitou-se a reprovar e a condenar o seu irmão.
E, instou com seu pai que o abençoasse com qualquer bênção que tivesse restado para ele, sem levar em conta que as bênçãos de Deus nos são concedidas para vivermos à altura da nossa vocação, de modo inteiramente responsável perante Ele.
Jacó sabia disto, tanto quanto Isaque e Abraão, antes dele. Mas isto estava oculto aos olhos de Esaú que não pensava em termos de viver de modo agradável a Deus, mas simplesmente de ver satisfeitos os seus desejos egoístas.
Apesar de ter desprezado e rejeitado a aliança de Deus, não vindo, portanto a ter qualquer parte nela, Deus reservou uma bênção para Esaú: “Longe dos lugares férteis da terra será a tua habitação, e sem orvalho que cai do alto. Viverás da tua espada, e servirás a teu irmão; quando, porém, te libertares, sacudirás o seu jugo da tua cerviz.” 
O jugo seria sacudido da cerviz não por causa da bondade dos edomitas, os descendentes de Esaú, mas por causa da impiedade que estaria sendo vivida por Israel, os descendentes de Jacó, que assim, estariam sendo submetidos a um juízo corretivo da parte de Deus. Isto ocorreu quando os edomitas se revoltaram nos dias do rei Jeorão (II Reis 8.20-22).  
Esaú passou a odiar a Jacó e planejou um momento próprio para assassiná-lo depois da morte de seu pai.
Ele havia entrado assim pelo caminho de Caim que havia matado Abel por causa de ter sido rejeitado por Deus.
O motivo foi o ciúme do irmão, e nem tanto pelo que o irmão havia feito.
Ele odiou Jacó porque o seu pai o abençoou e Deus o amou.
Tendo Rebeca conhecido as intenções de Esaú, preveniu Jacó aconselhando-o a que fugisse para a casa de seu irmão em Harã, de onde ela viera para se casar com Isaque, e para justificar a ida de Jacó para lá, Rebeca argumentou junto a Isaque que estava se prevenindo com isso de que Jacó viesse a se casar com mulheres hetéias, tal como havia feito Esaú.  


Gênesis 28

“1 Isaque, pois, chamou Jacó, e o abençoou, e ordenou-lhe, dizendo: Não tomes mulher dentre as filhas de Canaã.
2 Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher dentre as filhas de Labão, irmão de tua mãe.
3 Deus Todo-Poderoso te abençoe, te faça frutificar e te multiplique, para que venhas a ser uma multidão de povos;
4 e te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua descendência contigo, para que herdes a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão.
5 Assim despediu Isaque a Jacó, o qual foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú.
6 Ora, viu Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar de lá mulher para si, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher dentre as filhas de Canaã,
7 e que Jacó, obedecendo a seu pai e a sua mãe, fora a Padã-Arã;
8 vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque seu pai,
9 foi-se Esaú a Ismael e, além das mulheres que já tinha, tomou por mulher a Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote.
10 Partiu, pois, Jacó de Beer-Seba e se foi em direção a Harã;
11 e chegou a um lugar onde passou a noite, porque o sol já se havia posto; e, tomando uma das pedras do lugar e pondo-a debaixo da cabeça, deitou-se ali para dormir.
12 Então sonhou: estava posta sobre a terra uma escada, cujo topo chegava ao céu; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;
13 por cima dela estava o Senhor, que disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra em que estás deitado, eu a darei a ti e à tua descendência;
14 e a tua descendência será como o pó da terra; dilatar-te-ás para o ocidente, para o oriente, para o norte e para o sul; por meio de ti e da tua descendência serão benditas todas as famílias da terra.
15 Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; pois não te deixarei até que haja cumprido aquilo de que te tenho falado.
16 Ao acordar Jacó do seu sono, disse: Realmente o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia.
17 E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus.
18 Jacó levantou-se de manhã cedo, tomou a pedra que pusera debaixo da cabeça, e a pôs como coluna; e derramou-lhe azeite em cima.
19 E chamou aquele lugar Betel; porém o nome da cidade antes era Luz.
20 Fez também Jacó um voto, dizendo: Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou seguindo, e me der pão para comer e vestes para vestir,
21 de modo que eu volte em paz à casa de meu pai, e se o Senhor for o meu Deus,
22 então esta pedra que tenho posto como coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.”

É aqui logo no início deste capítulo que vemos o reconhecimento e a confirmação da bênção de Abraão sobre a vida de Jacó, da parte de seu pai Isaque.
Ele havia afinal reconhecido que a vontade de Deus havia prevalecido, e que de fato a descendência abençoada seria contada em Jacó e não em Esaú.
Assim despediu seu filho para que ele partisse para Pada-Harã para que se casasse com alguém daquela terra e não com qualquer mulher de Canaã.
A Palavra destaca que em face da obediência de Jacó, Esaú, para contrariar seus pais, além das esposas que tinha tomado entre os cananeus, veio a se casar com uma filha de Ismael chamada Maalate.
Com isto, a Palavra deixou bem marcado qual era o caráter de Esaú, como que a confirmar o motivo da sua rejeição por Deus. Ele não honrava aos seus pais, e não honrava o Senhor, e assim não poderia ser honrado por Ele.
Tendo partido de Berseba para Harã, Jacó teve um sonho no lugar que ele viria a chamar de Betel, que significa casa de Deus, porque teve uma visão do céu e de uma escada que o ligava à terra, e pela qual os anjos subiam e desciam.
O Senhor lhe fez a promessa de lhe dar e à sua descendência por herança, a terra onde se encontrava e declarou que o propósito daquela promessa visava a que todas as famílias da terra fossem abençoadas.
O Senhor afirmou que estava com Jacó e que o guardaria por onde quer que ele fosse, e que o faria voltar àquela terra, depois de ter estado em Harã, porque não o desampararia, porque cumpriria o que lhe havia prometido
Jacó fez um voto ao Senhor, de que caso Ele cumprisse o que lhe havia prometido, Ele seria o seu Deus, e Betel seria a casa de Deus, e daria ao Senhor o dízimo de tudo quanto Ele lhe concedesse.
Na solidão de sua jornada, e quando fez de uma pedra o seu travesseiro, foi que Jacó teve o melhor sonho de sua vida, com a visão da escada que ligava a terra ao céu.
Quando estamos em jornada neste mundo por força da nossa devoção ao Senhor, para buscar fazer a Sua vontade num mundo ímpio, e isto nos priva de determinados confortos, certamente as consolações do Senhor superabundarão porque assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo (II Cor 1.5).  
A visão da escada nos ensina que pela providência de Deus há uma correspondência constante que é mantida entre o céu e a terra.
As deliberações do céu são executadas na terra, e as ações e negócios desta terra são totalmente conhecidos no céu.
Muitas destas deliberações contam com o trabalho dos anjos de Deus, que são ministros que servem aqueles que herdam a salvação.
Esta visão fortaleceu e encorajou Jacó a prosseguir na sua viagem, sabendo que não estava sozinho na sua jornada.
O ensino que tiramos daí é suficiente para nos encorajar na nossa caminhada enquanto fazemos a obra do Senhor, por sabermos que há uma plena assistência do mundo espiritual para que possamos realizá-la a contento. 



Gênesis 29

1 Então pôs-se Jacó a caminho e chegou à terra dos filhos do Oriente.
2 E olhando, viu ali um poço no campo, e três rebanhos de ovelhas deitadas junto dele; pois desse poço se dava de beber aos rebanhos; e havia uma grande pedra sobre a boca do poço.
3 Ajuntavam-se ali todos os rebanhos; os pastores removiam a pedra da boca do poço, davam de beber às ovelhas e tornavam a pôr a pedra no seu lugar sobre a boca do poço.
4 Perguntou-lhes Jacó: Meus irmãos, donde sois? Responderam eles: Somos de Harã.
5 Perguntou-lhes mais: Conheceis a Labão, filho de Naor; Responderam: Conhecemos.
6 Perguntou-lhes ainda: vai ele bem? Responderam: Vai bem; e eis ali Raquel, sua filha, que vem chegando com as ovelhas.
7 Disse ele: Eis que ainda vai alto o dia; não é hora de se ajuntar o gado; dai de beber às ovelhas, e ide apascentá-las.
8 Responderam: Não podemos, até que todos os rebanhos se ajuntem, e seja removida a pedra da boca do poço; assim é que damos de beber às ovelhas.
9 Enquanto Jacó ainda lhes falava, chegou Raquel com as ovelhas de seu pai; porquanto era ela quem as apascentava.
10 Quando Jacó viu a Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe, chegou-se, revolveu a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe.
11 Então Jacó beijou a Raquel e, levantando a voz, chorou.
12 E Jacó anunciou a Raquel que ele era irmão de seu pai, e que era filho de Rebeca. Raquel, pois foi correndo para anunciá-lo a, seu pai.
13 Quando Labão ouviu essas novas de Jacó, filho de sua irmã, correu-lhe ao encontro, abraçou-o, beijou-o e o levou à sua casa. E Jacó relatou a Labão todas essas, coisas.
14 Disse-lhe Labão: Verdadeiramente tu és meu osso e minha carne. E Jacó ficou com ele um mês inteiro.
15 Depois perguntou Labão a Jacó: Por seres meu irmão hás de servir-me de graça? Declara-me, qual será o teu salário?
16 Ora, Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Léia, e o da mais moça Raquel.
17 Léia tinha os olhos enfermos, enquanto que Raquel era formosa de porte e de semblante.
18 Jacó, porquanto amava a Raquel, disse: Sete anos te servirei para ter a Raquel, tua filha mais moça.
19 Respondeu Labão: Melhor é que eu a dê a ti do que a outro; fica comigo.
20 Assim serviu Jacó sete anos por causa de Raquel; e estes lhe pareciam como poucos dias, pelo muito que a amava.
21 Então Jacó disse a Labão: Dá-me minha mulher, porque o tempo já está cumprido; para que eu a tome por mulher.
22 Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e fez um banquete.
23 À tarde tomou a Léia, sua filha e a trouxe a Jacó, que esteve com ela.
24 E Labão deu sua serva Zilpa por serva a Léia, sua filha.
25 Quando amanheceu, eis que era Léia; pelo que perguntou Jacó a Labão: Que é isto que me fizeste? Porventura não te servi em troca de Raquel? Por que, então, me enganaste?
26 Respondeu Labão: Não se faz assim em nossa terra; não se dá a menor antes da primogênita.
27 Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo trabalho de outros sete anos que ainda me servirás.
28 Assim fez Jacó, e cumpriu a semana de Léia; depois Labão lhe deu por mulher sua filha Raquel.
29 E Labão deu sua serva Bila por serva a Raquel, sua filha.
30 Então Jacó esteve também com Raquel; e amou a Raquel muito mais do que a Léia; e serviu com Labão ainda outros sete anos.
31 Viu, pois, o Senhor que Léia era desprezada e tornou-lhe fecunda a madre; Raquel, porém, era estéril.
32 E Léia concebeu e deu à luz um filho, a quem chamou Rúben; pois disse: Porque o Senhor atendeu à minha aflição; agora me amará meu marido.
33 Concebeu outra vez, e deu à luz um filho; e disse: Porquanto o Senhor ouviu que eu era desprezada, deu-me também este. E lhe chamou Simeão.
34 Concebeu ainda outra vez e deu à luz um filho e disse: Agora esta vez se unirá meu marido a mim, porque três filhos lhe tenho dado. Portanto lhe chamou Levi.
35 De novo concebeu e deu à luz um filho; e disse: Esta vez louvarei ao Senhor. Por isso lhe chamou Judá. E cessou de ter filhos.

Reanimado com a visão que Deus lhe dera em Betel, Jacó pôs-se a caminho de Harã.
No original está escrito no que foi traduzido por “pôs-se a caminho”, a expressão “ergueu-se sobre os seus pés”.  Isto indica então que ele foi livre dos seus temores, com bom ânimo, com alegria, revigorado que foi pelo Senhor.
É desta forma que um filho de Deus deve correr a carreira que lhe está proposta. Não com joelhos trôpegos e mãos descaídas. Mas em firme inteireza de fé, olhando sempre para o autor e consumador da sua fé, Jesus.
A providência de Deus fez com que Jacó se encontrasse com pessoas, próximo de um poço, as quais vinham de Harã para darem de beber a seus rebanhos naquele poço.
Perguntando-lhes se conheciam a Labão, disseram que sim, e lhe apontaram Raquel que vinha chegando com as ovelhas de seu pai, para dar-lhes de beber.
Raquel era uma pastora de ovelhas, e o seu próprio nome, Raquel, significa ovelha.
Com o seu trabalho, ela demonstrava a sua humildade e simplicidade característica de uma ovelha.
A tarefa que bem poderia estar sendo realizada pelas servas de seu pai, estava sendo feita por ela.
Jacó teve um primeiro contato com ela em que demonstrou todo o seu afeto e emoção por encontrá-la. Tendo certamente sido correspondido no mesmo interesse.
Mas, Raquel não se permitiu demorar mais tempo com ele, sem que o levasse a seu pai. Ainda que viessem a estar juntos, ela não o faria sem a aprovação do seu pai.
O Senhor trouxera Rebeca ao servo de Abraão para que esta se casasse com Isaque, e agora estava trazendo Raquel ao encontro de Jacó.
Certamente era a mão do Senhor que estava nisto, porque assim como Sara e Rebeca, Raquel era também estéril. Deus escolheu mulheres estéreis para trazer uma descendência numerosa ao mundo.
O amor de Jacó por Raquel era de tal grandeza que ele se dispôs a trabalhar sete anos gratuitamente para Labão, para obter a sua mão em casamento.
E ele viria a sofrer na pele a decepção de ser enganado, assim como ele havia feito com seu pai, passando-se por seu irmão Esaú, pois Labão o enganou, dando-lhe por esposa, em vez de Raquel, a Léia, sua filha mais velha.
Apesar de ter-lhe dado também Raquel por esposa, uma semana depois, usou de chantagem com ele, pois exigiu que trabalhasse mais sete anos de graça pela mão de Raquel.
Assim, Jacó, por meio de uma ação enganosa foi conduzido a uma vida familiar tumultuada que lhe traria muitos dissabores.
Ele teria que viver com conflitos e ciúmes debaixo do seu teto, não por uma escolha voluntária que ele próprio fizesse, mas como consequência do engano e decisões de Labão.
Evidentemente que a sua responsabilidade não pode ser de toda excluída, pois poderia ter tido somente a Léia, por esposa, mas o seu coração estava ligado ao de Raquel, desde o primeiro dia que a avistara.
Ele consentiu em viver poligamicamente, violando, por conseguinte o mandado do Senhor de que o homem seja marido de uma só esposa, e desta forma, não poderia ter uma vida sossegada e feliz.
Ele viria a se enredar ainda mais neste pecado, por influência e sugestão das próprias esposas, pois como Sara fizera com Abraão em relação a Hagar, elas o levaram a gerar filhos para si através das suas próprias servas, Bila e Zilpa, como veremos no capítulo trigésimo, seguinte a este. 
Neste capítulo é apenas relatado que Raquel era estéril e que o Senhor fizera a Léia fecunda porque era desprezada pelo marido, de modo que poderia receber alguma atenção dele e agrado pelo fato de lhe ter dado quatro filhos: Rúben, Simeão, Levi e Judá.
Foi tal o seu reconhecimento e gratidão a Deus, por tê-la consolado, que ao ter o quarto filho, pôs-lhe o nome de Judá, que significa louvor, pois disse que louvaria o Senhor por aquele benefício que lhe fizera.
É importante destacar que Deus determinou trazer Jesus ao mundo, pela linhagem de Jacó com Léia, a desprezada, e não através de Raquel que era a sua favorita e amada.
Nem tanto para dar honra a Léia, mas para provavelmente destacar que Jesus viria de fato ao mundo para dar alegria aos contritos e desprezados, e eles teriam motivo de louvar a Deus.
Ele é o Salvador dos humildes e quebrantados de coração. Ele abate ao que se exalta, mas dá graça ao que se humilha.
Assim, o Espírito tomou a Jacó quando deu as bênçãos proféticas às tribos de Israel, antes de morrer no Egito, e profetizou que o cetro jamais se afastaria de Judá, numa referência clara ao governo eterno de nosso Senhor Jesus Cristo.
A própria Jerusalém que será a sede do governo do Senhor na terra, durante o período do milênio, e que será a morada eterna dos santos, estava situada no território que foi ocupado pela tribo de Judá, quando da distribuição da terra de Canaã, pelas doze tribos, nos dias de Josué.    



Gênesis 30

“1 Vendo Raquel que não dava filhos a Jacó, teve inveja de sua irmã, e disse a Jacó: Dá-me filhos, senão eu morro.
2 Então se acendeu a ira de Jacó contra Raquel; e disse: Porventura estou eu no lugar de Deus que te impediu o fruto do ventre?
3 Respondeu ela: Eis aqui minha serva Bila; recebe-a por mulher, para que ela dê à luz sobre os meus joelhos, e eu deste modo tenha filhos por ela.
4 Assim lhe deu a Bila, sua serva, por mulher; e Jacó a conheceu.
5 Bila concebeu e deu à luz um filho a Jacó.
6 Então disse Raquel: Julgou-me Deus; ouviu a minha voz e me deu um filho; pelo que lhe chamou Dã.
7 E Bila, serva de Raquel, concebeu outra vez e deu à luz um segundo filho a Jacó.
8 Então disse Raquel: Com grandes lutas tenho lutado com minha irmã, e tenho vencido; e chamou-lhe Naftali.
9 Também Léia, vendo que cessara de ter filhos, tomou a Zilpa, sua serva, e a deu a Jacó por mulher.
10 E Zilpa, serva de Léia, deu à luz um filho a Jacó.
11 Então disse Léia: Afortunada! e chamou-lhe Gade.
12 Depois Zilpa, serva de Léia, deu à luz um segundo filho a Jacó.
13 Então disse Léia: Feliz sou eu! porque as filhas me chamarão feliz; e chamou-lhe Aser.
14 Ora, saiu Rúben nos dias da ceifa do trigo e achou mandrágoras no campo, e as trouxe a Léia, sua mãe. Então disse Raquel a Léia: Dá-me, peço, das mandrágoras de teu filho.
15 Ao que lhe respondeu Léia: É já pouco que me hajas tirado meu marido? queres tirar também as mandrágoras de meu filho? Prosseguiu Raquel: Por isso ele se deitará contigo esta noite pelas mandrágoras de teu filho.
16 Quando, pois, Jacó veio à tarde do campo, saiu-lhe Léia ao encontro e disse: Hás de estar comigo, porque certamente te aluguei pelas mandrágoras de meu filho. E com ela deitou-se Jacó aquela noite.
17 E ouviu Deus a Léia, e ela concebeu e deu a Jacó um quinto filho.
18 Então disse Léia: Deus me tem dado o meu galardão, porquanto dei minha serva a meu marido. E chamou ao filho Issacar.
19 Concebendo Léia outra vez, deu a Jacó um sexto filho;
20 e disse: Deus me deu um excelente dote; agora morará comigo meu marido, porque lhe tenho dado seis filhos. E chamou-lhe Zebulom.
21 Depois. disto deu à luz uma filha, e chamou-lhe Diná.
22 Também lembrou-se Deus de Raquel, ouviu-a e a tornou fecunda.
23 De modo que ela concebeu e deu à luz um filho, e disse: Tirou-me Deus o opróbrio.
24 E chamou-lhe José, dizendo: Acrescente-me o Senhor ainda outro filho.
25 Depois que Raquel deu à luz a José, disse Jacó a Labão: Despede-me a fim de que eu vá para meu lugar e para minha terra.
26 Dá-me as minhas mulheres, e os meus filhos, pelas quais te tenho servido, e deixa-me ir; pois tu sabes o serviço que te prestei.
27 Labão lhe respondeu: Se tenho achado graça aos teus olhos, fica comigo; pois tenho percebido que o Senhor me abençoou por amor de ti.
28 E disse mais: Determina-me o teu salário, que to darei.
29 Ao que lhe respondeu Jacó: Tu sabes como te hei servido, e como tem passado o teu gado comigo.
30 Porque o pouco que tinhas antes da minha vinda tem se multiplicado abundantemente; e o Senhor te tem abençoado por onde quer que eu fui. Agora, pois, quando hei de trabalhar também por minha casa?
31 Insistiu Labão: Que te darei? Então respondeu Jacó: Não me darás nada; tornarei a apascentar e a guardar o teu rebanho se me fizeres isto:
32 Passarei hoje por todo o teu rebanho, separando dele todos os salpicados e malhados, e todos os escuros entre as ovelhas, e os malhados e salpicados entre as cabras; e isto será o meu salário.
33 De modo que responderá por mim a minha justiça no dia de amanhã, quando vieres ver o meu salário assim exposto diante de ti: tudo o que não for salpicado e malhado entre as cabras e escuro entre as ovelhas, esse, se for achado comigo, será tido por furtado.
34 Concordou Labão, dizendo: Seja conforme a tua palavra.
35 E separou naquele mesmo dia os bodes listrados e malhados e todas as cabras salpicadas e malhadas, tudo em que havia algum branco, e todos os escuros entre os cordeiros e os deu nas mãos de seus filhos;
36 e pôs três dias de caminho entre si e Jacó; e Jacó apascentava o restante dos rebanhos de Labão.
37 Então tomou Jacó varas verdes de estoraque, de amendoeira e de plátano e, descascando nelas riscas brancas, descobriu o branco que nelas havia;
38 e as varas que descascara pôs em frente dos rebanhos, nos cochos, isto é, nos bebedouros, onde os rebanhos bebiam; e conceberam quando vinham beber.
39 Os rebanhos concebiam diante das varas, e as ovelhas davam crias listradas, salpicadas e malhadas.
40 Então separou Jacó os cordeiros, e fez os rebanhos olhar para os listrados e para todos os escuros no rebanho de Labão; e pôs seu rebanho à parte, e não pôs com o rebanho de Labão.
41 e todas as vezes que concebiam as ovelhas fortes, punha Jacó as varas nos bebedouros, diante dos olhos do rebanho, para que concebessem diante das varas;
42 mas quando era fraco o rebanho, ele não as punha. Assim as fracas eram de Labão, e as fortes de Jacó.
43 E o homem se enriqueceu sobremaneira, e teve grandes rebanhos, servas e servos, camelos e jumentos.”

Neste capítulo nós temos o registro do aumento da família de Jacó, com oito filhos ao todo: Dã e Naftali, gerados com Bila, a serva de Raquel; Gade e Aser, gerados com Zilpa, a serva de Léia; Issacar, Zebulon e Diná, através de Léia, e José, através de Raquel.
Há vários detalhes descrevendo as circunstâncias em que estes filhos de Jacó foram gerados, não para imitação, mas para advertência.
As Escrituras não foram produzidas por Deus para instruir cientistas, nem mesmo governantes e estadistas sobre os princípios de política, mas para todas as pessoas, até mesmo as piores, para dirigirem suas vidas e famílias, e delas aprendemos que mesmo na vida daqueles que trazem as promessas de bênçãos de Deus, é possível passar por sérios entraves e dificuldades, especialmente quando suas vidas não são governadas pelos princípios estabelecidos por Ele.
Aqui nós temos o registro da família de um homem, que não seguiu os passos de seu pai, e que ficou envolvido pelas circunstâncias, apesar de a bondade e misericórdia de Deus estarem sobre a sua vida, e de vir a formar a partir daqueles seus filhos gerados em condições tão conturbadas, a nação de Israel.
Jacó amava Raquel, mas a sagacidade de Labão o deixou compromissado com Léia, e o seu relacionamento com Raquel recebeu um duro golpe, pois mesmo vindo a se casarem havia aquela estranha situação que eles teriam que enfrentar, aquela dura realidade de que ele havia se casado primeiro com Léia, ainda que não voluntariamente, mas por ter sido enganado por Labão.
Como ele desprezava Léia em favor de Raquel, Deus em sua misericórdia para com Léia, compadecido pela situação em que a havia jogado o próprio pai, fez com que ela fosse fecunda, enquanto sua irmã permanecia estéril.
Aí, Raquel passou a invejar sua irmã, e a sua infelicidade e discórdia com ela, não era tanto pela sua própria esterilidade, quanto era pela fertilidade de sua irmã.
Como Léia vinha gerando filhos, Raquel não conseguia viver pacificamente com Jacó.
Raquel não estava considerando que era Deus quem estava fazendo a diferença. Neste caso a sua irmã estava sendo preferida antes dela, contudo em outras coisas ela tinha vantagem.
Deus é bom para qualquer um dos nossos semelhantes. Mas Raquel não conseguia enxergar, por causa da cegueira da inveja, que também era alvo da bondade de Deus, e assim, ela passou a sentir que o não ter filhos era o mesmo que estar morta. Ela havia fixado o seu coração inteiramente no desejo de ter filhos.   
A inveja amargurada do coração de Raquel chegou a tal ponto, que ela se determinou ter filhos de Jacó através de sua serva Bila, e a prova dessa contenção com Léia está nos nomes que ela deu aos dois meninos que nasceram de Bila, o primeiro ela chamou de Dã, que significa julgamento, porque  entendia que Deus havia julgado a sua causa (v 6), e o segundo ela chamou de Naftali, que significa luta, pois entendia que havia lutado com sua irmã e havia prevalecido (v  8).
Assim, havia contenda na casa de Jacó, e nós vemos o tipo de relacionamento que havia entre aqueles irmãos, a ponto de terem vendido José como escravo aos midianitas.
Houve muitas lutas e disputas internas entre as tribos, mesmo depois de estabelecidas, cada uma em seu território em Canaã, não se podendo dizer delas que chegaram a formar uma unidade federativa harmoniosa, nem entre si, nem como unidade teocrática diante de Deus.
Eles chegaram a guerrear entre si em algumas ocasiões, quer nos dias dos Juízes, quer nos dias dos reis, quando houve guerra entre o reino do Norte e o do Sul.
No final, acabou praticamente restando a tribo de Judá, porque as demais tribos foram dissolvidas pelas nações depois do cativeiro assírio, e não chegaram a guardar a sua identidade nacional, pois acabaram assimilando os costumes das nações para as quais haviam sido espalhadas.
Toda esta semente, de contendas, de discórdias começou a ser plantada nos dias do próprio Jacó, pela forma como constituiu e dirigiu a sua família.
Ele lhes ensinou os preceitos do Senhor, mas não podia ter paz em casa pelas razões anteriormente apontadas. 
  Léia esteve efetivamente em contenda com Raquel, porque lutou com as mesmas armas de sua irmã, pois determinou dar também sua serva Zilpa a Jacó para se prover de outros filhos por meio dela, já que não conseguia mais engravidar, e não queria que Raquel ficasse em vantagem.
Relações extraconjugais, casamentos em jugo desigual, poligamia e tudo o mais que fuja do padrão sábio divino de que o homem tenha uma só mulher e que lhe seja fiel por toda a vida, não poderá permitir que haja aquela paz a que Deus nos tem chamado (I Cor 7.15).
Sem isto é impossível ter paz no lar. É impossível ter a edificação da casa pelo Senhor, porque isto só é possível dentro dos limites que Ele próprio estabeleceu.  
Quando Zilpa concebeu de Jacó a Gade e a Aser, Léia deu a este último este nome de Aser, porque significa feliz, por ter ela julgado que seus vizinhos a chamariam de abençoada.
Ora, isto não passa de um orgulho carnal que não se sustenta diante daquela verdadeira alegria, que está não em posses, conquistas, filhos, mas numa vida reta diante do Senhor.
Os caprichos de vaidade daquela contenda chegaram a tal ponto que Raquel cedeu a sua vez de coabitar com Jacó a Léia, por uma simples troca deste direito pelas mandrágoras que havia cobiçado de Rúben, filho de Léia. 
Deste encontro, nasceu a Léia, Issacar. Ela concebeu ainda de Jacó outro filho e lhe deu o nome de Zebulon, e finalmente uma filha a quem deu o nome de Diná.  
De todo este mal, Deus tirou o bem, porque foi com estas pessoas que ele veio a formar a nação de Israel.
Quando o Senhor tornou Raquel fecunda, ela veio a gerar aquele que seria grande diante de Deus e dos homens, a saber, José.
Se ela não teve muitos filhos, ela concebeu um que valia por muitos.
Tal como sucedeu com Ana, que era estéril; e o Senhor fizera com que ela gerasse a Samuel, que foi de uma importância extrema na história de Israel, numa hora crítica vivida pela nação.  
Tendo sido formada a família de Jacó em Harã, em quase sua totalidade, pois ele viria ainda a ser pai de Benjamin, filho de Raquel, Deus começou a movê-lo para retornar a Canaã, como lhe havia prometido em Betel, que depois de ter estado em Harã o traria de volta para a terra das peregrinações de seus pais, que Ele daria à sua descendência por herança. Jacó não seria para sempre empregado de Labão.
Ele trabalharia para a prosperidade da sua própria casa, e não mais para a de terceiros, assim como Labão havia reconhecido que Deus lhe havia feito prosperar por amor de Jacó.
Ele queria retê-lo por simples interesse egoísta, não que estivesse interessado no bem e prosperidade de Jacó, mas nos seus próprios.
E assim, ele tentou pressioná-lo a continuar a seu serviço, sendo explorado por ele, como estava sendo todos aqueles anos.
O reconhecimento da bênção de Deus por parte de Labão se referia apenas às coisas materiais, pois ele continuava sendo idólatra como haviam sido todos os seus ancestrais antes dele.
Ele não havia considerado que havia uma bênção superior e melhor sobre a vida de Jacó, e não se deixara persuadir por ela, em razão do seu coração mundano, e envolvido apenas com as coisas desta vida.
Toda aquela sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo Jesus não chegou a ser do conhecimento de Labão, e na verdade, ele sequer estava interessado nelas. 
Tal era a ganância de Labão que quando Jacó lhe propôs que os animais salpicados e malhados do rebanho lhes fossem dados como salário, o que fez Labão?
Ele os deu a seus filhos e fez com que fossem com tais animais bem para longe, de modo que seriam necessários três dias de jornada para alcançá-los. 
Confiando inteiramente na providência de Deus, Jacó usou de um expediente para se prover de animais malhados e salpicados, como também saudáveis.
Ele pegou varas verdes e fez riscos na casca de maneira que a polpa branca ficasse exposta, e colocava estas varas diante dos animais, que quando davam crias olhando para estas varas, estas saiam listradas, salpicadas e malhadas. Certamente isto era operado por um milagre de Deus e não pelo poder daquelas varas. 
Assim Jacó veio a ter um grande rebanho, a ponto de ter se tornado rico, e poderia agora sustentar a sua grande família em Canaã, por sua própria conta, conforme lhe havia capacitado a providência divina.



Gênesis 31

“1 Jacó, entretanto, ouviu as palavras dos filhos de Labão, que diziam: Jacó tem levado tudo o que era de nosso pai, e do que era de nosso pai adquiriu ele todas estas, riquezas.
2 Viu também Jacó o rosto de Labão, e eis que não era para com ele como dantes.
3 Disse o Senhor, então, a Jacó: Volta para a terra de teus pais e para a tua parentela; e eu serei contigo.
4 Pelo que Jacó mandou chamar a Raquel e a Léia ao campo, onde estava o seu rebanho,
5 e lhes disse: vejo que o rosto de vosso pai para comigo não é como anteriormente; porém o Deus de meu pai tem estado comigo.
6 Ora, vós mesmas sabeis que com todas as minhas forças tenho servido a vosso pai.
7 Mas vosso pai me tem enganado, e dez vezes mudou o meu salário; Deus, porém, não lhe permitiu que me fizesse mal.
8 Quando ele dizia assim: Os salpicados serão o teu salário; então todo o rebanho dava salpicados. E quando ele dizia assim: Os listrados serão o teu salário, então todo o rebanho dava listrados.
9 De modo que Deus tem tirado o gado de vosso pai, e mo tem dado a mim.
10 Pois sucedeu que, ao tempo em que o rebanho concebia, levantei os olhos e num sonho vi que os bodes que cobriam o rebanho eram listrados, salpicados e malhados.
11 Disse-me o anjo de Deus no sonho: Jacó! Eu respondi: Eis-me aqui.
12 Prosseguiu o anjo: Levanta os teus olhos e vê que todos os bodes que cobrem o rebanho são listrados, salpicados e malhados; porque tenho visto tudo o que Labão te vem fazendo.
13 Eu sou o Deus de Betel, onde ungiste uma coluna, onde me fizeste um voto; levanta-te, pois, sai-te desta terra e volta para a terra da tua parentela.
14 Então lhe responderam Raquel e Léia: Temos nós ainda parte ou herança na casa de nosso pai?
15 Não somos tidas por ele como estrangeiras? pois nos vendeu, e consumiu todo o nosso preço.
16 Toda a riqueza que Deus tirou de nosso pai é nossa e de nossos filhos; portanto, faze tudo o que Deus te mandou.
17 Levantou-se, pois, Jacó e fez montar seus filhos e suas mulheres sobre os camelos;
18 e levou todo o seu gado, e toda a sua fazenda, que havia adquirido, o gado que possuía, que havia adquirido em Padã-Arã, a fim de ir ter com Isaque, seu pai, à terra de Canaã.
19 Ora, tendo Labão ido tosquiar as suas ovelhas, Raquel furtou os ídolos que pertenciam a seu pai.
20 Jacó iludiu a Labão, o arameu, não lhe fazendo saber que fugia;
21 e fugiu com tudo o que era seu; e, levantando-se, passou o Rio, e foi em direção à montanha de Gileade.
22 Ao terceiro dia foi Labão avisado de que Jacó havia fugido.
23 Então, tomando consigo seus irmãos, seguiu atrás de Jacó jornada de sete dias; e alcançou-o na montanha de Gileade.
24 Mas Deus apareceu de noite em sonho a Labão, o arameu, e disse-lhe: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal.
25 Alcançou, pois, Labão a Jacó. Ora, Jacó tinha armado a sua tenda na montanha; armou também Labão com os seus irmãos a sua tenda na montanha de Gileade.
26 Então disse Labão a Jacó: Que fizeste, que me iludiste e levaste minhas filhas como cativas da espada?
27 Por que fizeste ocultamente, e me iludiste e não mo fizeste saber, para que eu te enviasse com alegria e com cânticos, ao som de tambores e de harpas;
28 Por que não me permitiste beijar meus filhos e minhas filhas? Ora, assim procedeste nesciamente.
29 Está no poder da minha mão fazer-vos o mal, mas o Deus de vosso pai falou-me ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales a Jacó nem bem nem mal.
30 Mas ainda que quiseste ir embora, porquanto tinhas saudades da casa de teu pai, por que furtaste os meus deuses?
31 Respondeu-lhe Jacó: Porque tive medo; pois dizia comigo que tu me arrebatarias as tuas filhas.
32 Com quem achares os teus deuses, porém, esse não viverá; diante de nossos irmãos descobre o que é teu do que está comigo, e leva-o contigo. Pois Jacó não sabia que Raquel os tinha furtado.
33 Entrou, pois, Labão na tenda de Jacó, na tenda de Léia e na tenda das duas servas, e não os achou; e, saindo da tenda de Léia, entrou na tenda de Raquel.
34 Ora, Raquel havia tomado os ídolos e os havia metido na albarda do camelo, e se assentara em cima deles. Labão apalpou toda a tenda, mas não os achou.
35 E ela disse a seu pai: Não se acenda a ira nos olhos de meu senhor, por eu não me poder levantar na tua presença, pois estou com o incômodo das mulheres. Assim ele procurou, mas não achou os ídolos.
36 Então irou-se Jacó e contendeu com Labão, dizendo: Qual é a minha transgressão? qual é o meu pecado, que tão furiosamente me tens perseguido?
37 Depois de teres apalpado todos os meus móveis, que achaste de todos os móveis da tua casa. Põe-no aqui diante de meus irmãos e de teus irmãos, para que eles julguem entre nós ambos.
38 Estes vinte anos estive eu contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho.
39 Não te trouxe eu o despedaçado; eu sofri o dano; da minha mão requerias tanto o furtado de dia como o furtado de noite.
40 Assim andava eu; de dia me consumia o calor, e de noite a geada; e o sono me fugia dos olhos.
41 Estive vinte anos em tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; dez vezes mudaste o meu salário.
42 Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o Temor de Isaque não fora por mim, certamente hoje me mandarias embora vazio. Mas Deus tem visto a minha aflição e o trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite.
43 Respondeu-lhe Labão: Estas filhas são minhas filhas, e estes filhos são meus filhos, e este rebanho é meu rebanho, e tudo o que vês é meu; e que farei hoje a estas minhas filhas, ou aos filhos que elas tiveram?
44 Agora pois vem, e façamos um pacto, eu e tu; e sirva ele de testemunha entre mim e ti.
45 Então tomou Jacó uma pedra, e a erigiu como coluna.
46 E disse a seus irmãos: Ajuntai pedras. Tomaram, pois, pedras e fizeram um montão, e ali junto ao montão comeram.
47 Labão lhe chamou Jegar-Saaduta, e Jacó chamou-lhe Galeede.
48 Disse, pois, Labão: Este montão é hoje testemunha entre mim e ti. Por isso foi chamado Galeede;
49 e também Mizpá, porquanto disse: Vigie o Senhor entre mim e ti, quando estivermos apartados um do outro.
50 Se afligires as minhas filhas, e se tomares outras mulheres além das minhas filhas, embora ninguém esteja conosco, lembra-te de que Deus é testemunha entre mim e ti.
51 Disse ainda Labão a Jacó: Eis aqui este montão, e eis aqui a coluna que levantei entre mim e ti.
52 Seja este montão testemunha, e seja esta coluna testemunha de que, para mal, nem passarei eu deste montão a ti, nem passarás tu deste montão e desta coluna a mim.
53 O Deus de Abraão e o Deus de Naor, o Deus do pai deles, julgue entre nós. E jurou Jacó pelo Temor de seu pai Isaque.
54 Então Jacó ofereceu um sacrifício na montanha, e convidou seus irmãos para comerem pão; e, tendo comido, passaram a noite na montanha.
55 Levantou-se Labão de manhã cedo, beijou seus filhos e suas filhas e os abençoou; e, partindo, voltou para o seu lugar.”

Jacó era um homem bom, pacato, muito honesto, um homem de grande devoção e integridade, contudo ele teve mais dificuldades do que quaisquer dos demais patriarcas, especialmente por causa de seu sogro Labão.
Muitas destas dificuldades que ele teve em Harã, ajudaram-no a tomar a deliberação de não se fixar naquelas terras e retornar a Canaã, conforme era da vontade de Deus.
Assim também quando aflições nos atingem de modo muito persistente e duro, é porque geralmente Deus tem outros planos para nós, e espera que sejamos achados no centro da Sua vontade, premidos que fomos por tais dificuldades.
Isto nem sempre será uma regra geral, mas ver-se-á aqui e acolá cooperando para o plano que Deus tiver fixado para nós.
Veja o caso da igreja primitiva que só saiu para pregar o evangelho em todo mundo, depois de sofrer uma dura perseguição na Judéia.
Neste capítulo, está revelado que, a forma pela qual Jacó se proveu de animais salpicados, listrados e malhados, foi por meio de instrução divina que lhe foi dada através de um sonho, e em razão de o Senhor estar lhe compensando de toda a injustiça que ele havia sofrido da parte de Labão. 
O desejo de se livrar de Labão alcançou suas próprias filhas que consentiram imediatamente em fugir para Canaã com Jacó, e provavelmente por temer que o seu pai consultasse os seus ídolos do lar, e descobrisse o paradeiro deles em Canaã, Raquel os furtou, de modo que ele ficasse impossibilitado de consultar os seus oráculos, como de costume.  
Quando Labão soube que Jacó havia ido embora ele saiu com seus filhos no seu encalço, e certamente não tinha as melhores intenções, tanto que o Senhor lhe advertiu em sonhos que não fizesse nada a Jacó e que nem mesmo lhe falasse qualquer coisa, fosse para mal fosse para bem, isto é, no sentido de argumentar com ele para que voltasse, fosse pelo uso de argumentos ameaçadores, fosse por promessas falsas de lhe fazer o bem, como era bem do seu feitio. 



Gênesis 32

“1 Jacó também seguiu o seu caminho; e encontraram-no os anjos de Deus.
2 Quando Jacó os viu, disse: Este é o exército de Deus. E chamou àquele lugar Maanaim.
3 Então enviou Jacó mensageiros diante de si a Esaú, seu irmão, à terra de Seir, o território de Edom,
4 tendo-lhes ordenado: Deste modo falareis a meu senhor Esaú: Assim diz Jacó, teu servo: Como peregrino morei com Labão, e com ele fiquei até agora;
5 e tenho bois e jumentos, rebanhos, servos e servas; e mando comunicar isso a meu senhor, para achar graça aos teus olhos.
6 Depois os mensageiros voltaram a Jacó, dizendo: Fomos ter com teu irmão Esaú; e, em verdade, vem ele para encontrar-te, e quatrocentos homens com ele.
7 Jacó teve muito medo e ficou aflito; dividiu em dois bandos o povo que estava com ele, bem como os rebanhos, os bois e os camelos;
8 pois dizia: Se Esaú vier a um bando e o ferir, o outro bando escapará.
9 Disse mais Jacó: o Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaque, ó Senhor, que me disseste: Volta para a tua terra, e para a tua parentela, e eu te farei bem!
10 Não sou digno da menor de todas as tuas beneficências e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo; porque com o meu cajado passei este Jordão, e agora volto em dois bandos.
11 Livra-me, peço-te, da mão de meu irmão, da mão de Esaú, porque eu o temo; acaso não venha ele matar-me, e a mãe com os filhos.
12 Pois tu mesmo disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a areia do mar, que pela multidão não se pode contar.
13 Passou ali aquela noite; e do que tinha tomou um presente para seu irmão Esaú:
14 duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros,
15 trinta camelas de leite com suas crias, quarenta vacas e dez touros, vinte jumentas e dez jumentinhos.
16 Então os entregou nas mãos dos seus servos, cada manada em separado; e disse a seus servos: Passai adiante de mim e ponde espaço entre manada e manada.
17 E ordenou ao primeiro, dizendo: Quando Esaú, meu irmão, te encontrar e te perguntar: De quem és, e para onde vais, e de quem são estes diante de ti?
18 Então responderás: São de teu servo Jacó, presente que envia a meu senhor, a Esaú, e eis que ele vem também atrás de nós.
19 Ordenou igualmente ao segundo, e ao terceiro, e a todos os que vinham atrás das manadas, dizendo: Desta maneira falareis a Esaú quando o achardes.
20 E direis também: Eis que o teu servo Jacó vem atrás de nós. Porque dizia: Aplacá-lo-ei com o presente, que vai adiante de mim, e depois verei a sua face; porventura ele me aceitará.
21 Foi, pois, o presente adiante dele; ele, porém, passou aquela noite no arraial.
22 Naquela mesma noite levantou-se e, tomando suas duas mulheres, suas duas servas e seus onze filhos, passou o vau de Jaboque.
23 Tomou-os, e fê-los passar o ribeiro, e fez passar tudo o que tinha.
24 Jacó, porém, ficou só; e lutava com ele um homem até o romper do dia.
25 Quando este viu que não prevalecia contra ele, tocou-lhe a juntura da coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, enquanto lutava com ele.
26 Disse o homem: Deixa-me ir, porque já vem rompendo o dia. Jacó, porém, respondeu: Não te deixarei ir, se me não abençoares.
27 Perguntou-lhe, pois: Qual é o teu nome? E ele respondeu: Jacó.
28 Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; porque tens lutado com Deus e com os homens e tens prevalecido.
29 Perguntou-lhe Jacó: Dize-me, peço-te, o teu nome. Respondeu o homem: Por que perguntas pelo meu nome? E ali o abençoou.
30 Pelo que Jacó chamou ao lugar Peniel, dizendo: Porque tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada.
31 E nascia o sol, quando ele passou de Peniel; e coxeava de uma perna.
32 Por isso os filhos de Israel não comem até o dia de hoje o nervo do quadril, que está sobre a juntura da coxa, porquanto o homem tocou a juntura da coxa de Jacó no nervo do quadril.”

Quando Deus permite que pessoas do Seu povo passem por provações extraordinárias, ele lhes dá também confortos extraordinários.
Nós deveríamos pensar que aqueles anjos que vieram como que saudar a Jacó quando este rumava para Canaã, teriam aparecido a ele quando estava vivendo suas perplexidades com Labão, mas foi naquele momento quieto e calmo, quando ele estava em paz, que Deus manifestou a ele as realidades espirituais que o guardavam, quer nas perplexidades, quer nas horas tranquilas, só que aqui lhe foi permitido ver tal realidade. Uma verdadeira milícia do céu o seguia.
É assim que acontece com a igreja triunfante da glória celeste e a igreja itinerante que ainda caminha neste mundo. Ambas estão relacionadas. E apesar da passageira humilhação que a terrena deve sofrer, o seu destino é a glória celestial da qual a triunfante já participa para sempre. Isto está bem exemplificado no encontro de Jacó com os anjos.
Não necessitamos tanto que as visões dos anjos que nos auxiliam sejam reveladas continuamente enquanto travamos as batalhas espirituais neste mundo, porque andamos por fé e não por vista.
Sabemos, pelo Espírito, que somos assistidos em todas as nossas tribulações e lutas contra os principados e potestades espirituais da maldade.
Somos fortalecidos pela graça em nossa fraqueza e recebemos força e poder do Senhor para vencer a toda e qualquer força do inimigo.
É exatamente isto o que vai acontecer com Jacó na sua caminhada: Deus lhe revestirá de forças em seu espírito para vencer o temor de seu irmão Esaú, bem como para ser um verdadeiro líder no meio do seu povo, de forma a que aprendesse a depositar toda a sua confiança no Deus que o fortalecia, e a não confiar na sua própria capacidade e poder.
Assim ele tem primeiro uma visão do exército de anjos que lhe apareceram na sua caminhada, quando voltava para Canaã. Ele o estava fazendo em obediência a Deus, e assim, ele pode contar então com a Sua poderosa assistência.
Assim se dá com todos aqueles que estão a serviço de Deus, trilhando o caminho não escolhido por eles, mas pelo próprio Deus.
Eles podem estar seguros de contarem com a sua assistência nas muitas provas que terão que enfrentar na jornada, porque não estão trilhando o seu próprio caminho, mas aquele que lhes foi apontado pelo Senhor.
Animado por aquela visão Jacó enviou mensageiros a ter com seu irmão Esaú, mas quando estes retornaram com a notícia de que Esaú vinha ao seu encontro com quatrocentos homens, ele teve muito medo.
Tomou providências preventivas para evitar que todos os que estavam com ele fossem exterminados, dividindo-os em grupos que seguiriam rumos diferentes; e preparou um presente em grande quantidade de animais (580) do seu rebanho para dar a Esaú, pensando talvez apaziguá-lo.
Então aquela primeira visão em Maanaim não foi suficiente para a sua fé de que Deus o protegeria. Por isso, quando atravessava o vau de Jaboque lhe apareceu um ser celestial em forma de homem que lutou com ele durante toda a noite até o romper da aurora. Vale destacar o que diz a Palavra a respeito:
“Quando este viu que não prevalecia contra ele, tocou-lhe a juntura da coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, enquanto lutava com ele. Disse o homem: Deixa-me ir, porque já vem rompendo o dia. Jacó, porém, respondeu: Não te deixarei ir, se me não abençoares. Perguntou-lhe, pois: Qual é o teu nome? E ele respondeu: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; porque tens lutado com Deus e com os homens e tens prevalecido.”
A mensagem passada a Jacó naquele combate era a de que Deus poderia torná-lo tão destemido e forte como aqueles  anjos que ele havia visto em Maanaim. Assim, com a força do céu, reanimado pelo Senhor, ele venceu os seus temores terrenos.      
Ele venceu sobretudo pela fé e pela oração perseverante. Aquela foi mais uma luta espiritual do que qualquer outra coisa.
O enviado de Deus estava impedindo Jacó de prosseguir adiante ao encontro de suas esposas e filhos.
A passagem estava sendo barrada e ele então luta insistentemente para romper o caminho e seguir adiante, em cumprimento à ordem de Deus de se dirigir a Canaã.
Muitas vezes a fé do cristão é provada por Deus da mesma forma, para que ele aprenda a ser perseverante na oração.
Há muitas vezes forças que operam parecendo paralisar os projetos que Deus nos havia ordenado, e não poderemos prosseguir adiante se não lutarmos com Deus em oração, e aprendermos a sermos perseverantes e a prevalecer na nossa intercessão junto a Ele.
Estas lutas espirituais têm este principal propósito de nos tornar mais fortes na nossa fé, em que intercedendo com fervor junto a Deus, poderemos todas as coisas nAquele que nos fortalece.
O Espírito Santo intercede por nós nos assistindo na nossa fraqueza (Rom 8.26). 
   Como Jacó prevaleceu na luta, ele teve o seu nome mudado por Deus de “suplantador” que é o significado da palavra Jacó, para Israel, que significa príncipe de Deus.
De fato, todos aqueles que são poderosos na oração, são príncipes de Deus, porque por meio de suas orações eles podem operar maravilhas e muitas transformações não somente em suas próprias vidas, como também nas vidas de muitos. 
Jacó havia prevalecido com Deus, e também poderia prevalecer com os homens, especialmente com seu irmão Esaú, de modo que Deus, pelas suas orações, poderia transformar totalmente as disposições e intenções do coração do seu irmão em relação a ele.
Assim, Jacó deu o nome de Peniel ao lugar onde havia lutado, e no hebraico esta palavra significa a face de Deus, porque o Senhor havia se manifestado a ele, e ele havia obtido a sua bênção.
Ele não disse presunçosa e arrogantemente: “eu lutei com Deus neste lugar e prevaleci”, repetindo o teor das palavras que lhes foram dirigidas por aquele que com ele lutava, mas disse humildemente:
“tenho visto Deus face a face, e a minha vida foi preservada.”


Gênesis 33

“1 Levantou Jacó os olhos, e olhou, e eis que vinha Esaú, e quatrocentos homens com ele. Então repartiu os filhos entre Léia, e Raquel, e as duas servas.
2 Pôs as servas e seus filhos na frente, Léia e seus filhos atrás destes, e Raquel e José por últimos.
3 Mas ele mesmo passou adiante deles, e inclinou-se em terra sete vezes, até chegar perto de seu irmão.
4 Então Esaú correu-lhe ao encontro, abraçou-o, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou; e eles choraram.
5 E levantando Esaú os olhos, viu as mulheres e os meninos, e perguntou: Quem são estes contigo? Respondeu-lhe Jacó: Os filhos que Deus bondosamente tem dado a teu servo.
6 Então chegaram-se as servas, elas e seus filhos, e inclinaram-se.
7 Chegaram-se também Léia e seus filhos, e inclinaram-se; depois chegaram-se José e Raquel e se inclinaram.
8 Perguntou Esaú: Que queres dizer com todo este bando que tenho encontrado? Respondeu Jacó: Para achar graça aos olhos de meu senhor.
9 Mas Esaú disse: Tenho bastante, meu irmão; seja teu o que tens.
10 Replicou-lhe Jacó: Não, mas se agora tenho achado graça aos teus olhos, aceita o presente da minha mão; porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus, e tu te agradaste de mim.
11 Aceita, peço-te, o meu presente, que eu te trouxe; porque Deus tem sido bondoso para comigo, e porque tenho de tudo. E insistiu com ele, e ele o aceitou.
12 Então Esaú disse: Ponhamo-nos a caminho e vamos; eu irei adiante de ti.
13 Respondeu-lhe Jacó: Meu senhor sabe que estes filhos são tenros, e que tenho comigo ovelhas e vacas de leite; se forem obrigadas a caminhar demais por um só dia, todo o rebanho morrerá.
14 Passe o meu senhor adiante de seu servo; e eu seguirei, conduzindo-os calmamente, conforme o passo do gado que está diante de mim, e conforme o passo dos meninos, até que chegue a meu senhor em Seir.
15 Ao que disse Esaú: Permite ao menos que eu deixe contigo alguns da minha gente. Replicou Jacó: Para que? Basta que eu ache graça aos olhos de meu senhor.
16 Assim tornou Esaú aquele dia pelo seu caminho em direção a Seir.
17 Jacó, porém, partiu para Sucote, e edificou para si uma casa, e fez barracas para o seu gado; por isso o lugar se chama Sucote.
18 Depois chegou Jacó em paz à cidade de Siquém, que está na terra de Canaã, quando veio de Padã-Arã; e armou a sua tenda diante da cidade.
19 E comprou a parte do campo, em que estendera a sua tenda, dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro.
20 Então levantou ali um altar, e chamou-lhe o El-Eloé-Israel.”

Neste capítulo, nós vemos o cumprimento prático da verdade revelada em Prov 16.7:
 “Sendo o caminho dos homens agradável ao Senhor, este reconcilia com eles os seus inimigos.”
Nós vemos agora Jacó se inclinando diante de Esaú, não mais em razão do temor que teria dele, mas pelo fato de dar-lhe a devida reverência como irmão mais velho.
Isto é algo muito importante para ser compreendido e vivido.
O fato de Deus nos engrandecer não significa que devamos exercer domínio sobre outros com orgulho e arrogância.
Ao contrário, isto deveria nos tornar mais humildes, reconhecendo a bondade de Deus para conosco, e nos levar a cumprir a norma bíblica de considerar os outros superiores a nós mesmos.
Quando vivemos de fato a ordenança de sermos submissos uns aos outros, então se vê melhor entre nós a manifestação do poder de Deus, pois não haverá o risco de nos desviarmos em ciúmes, vaidades, orgulhos, e outros pecados correlatos que são o oposto de um espírito manso e submisso.
Este bom exemplo é visto por nós na atitude de Jacó em relação a seu irmão.
Aquela atitude possibilitou que Esaú fosse pacificado pelo Espírito do Senhor, e fosse movido de bons sentimentos em relação a Jacó, tendo também Deus impedido qualquer operação dos espíritos das trevas naquele momento sobre a sua vida, de forma a gerar nele maus pensamentos e sentimentos.
Por isso Jacó disse que havia visto a face de seu irmão como a face de Deus, isto é, ele havia reconhecido que foi a ação de Deus sobre ele, que havia lhe dado aquela boa disposição para com ele.
Esaú era uma prova viva de que o Senhor havia ouvido e respondido favoravelmente as suas orações.  
Esaú se ofereceu para ser o guia e companheiro de Jacó em sua viagem, mas ele recusou pelo motivo de poupar o seu rebanho, e de não forçar as muitas crianças que estavam com ele. Aqui ele deixa um bom exemplo de prudência e ternura que deveria ser imitado por aqueles que têm o encargo de dirigirem jovens nas coisas de Deus. Eles não devem ser dirigidos, em princípio, com tarefas pesadas na obra do Senhor, mas conduzidos, com aquilo que possam suportar, tornando as tarefas fáceis e agradáveis para eles o quanto  possível. Cristo, o bom Pastor, procede assim (Is 40.11).



Gênesis 34

“1 Diná, filha de Léia, que esta tivera de Jacó, saiu para ver as filhas da terra.
2 Viu-a Siquém, filho de Hamor o heveu, príncipe da terra; e, tomando-a, deitou-se com ela e humilhou-a.
3 Assim se apegou a sua alma a Diná, filha de Jacó, e, amando a donzela, falou-lhe afetuosamente.
4 Então disse Siquém a Hamor seu pai: Consegue-me esta donzela por mulher.
5 Ora, Jacó ouviu que Siquém havia contaminado a Diná sua filha. Entretanto, estando seus filhos no campo com o gado, calou-se Jacó até que viessem.
6 Hamor, pai de Siquém, saiu a fim de falar com Jacó.
7 Os filhos de Jacó, pois, vieram do campo logo que souberam do caso; e entristeceram-se e iraram-se muito, porque Siquém havia cometido uma insensatez em Israel, deitando-se com a filha de Jacó, coisa que não se devia fazer.
8 Então falou Hamor com eles, dizendo: A alma de meu filho Siquém afeiçoou-se fortemente a vossa filha; dai-lha, peço-vos, por mulher.
9 Também aparentai-vos conosco; dai-nos as vossas filhas e recebei as nossas.
10 Assim habitareis conosco; a terra estará diante de vós; habitai e negociai nela, e nela adquiri propriedades.
11 Depois disse Siquém ao pai e aos irmãos dela: Ache eu graça aos vossos olhos, e darei o que me disserdes;
12 exigi de mim o que quiserdes em dote e presentes, e darei o que me pedirdes; somente dai-me a donzela por mulher.
13 Então os filhos de Jacó, respondendo, falaram enganosamente a Siquém e a Hamor, seu pai, porque Siquém havia contaminado a Diná, sua irmã,
14 e lhes disseram: Não podemos fazer  isto, dar a nossa irmã a um homem incircunciso; porque isso seria uma vergonha para nós.
15 Sob esta única condição consentiremos; se vos tornardes como nós, circuncidando-se todo varão entre vós;
16 então vos daremos nossas filhas a vós, e receberemos vossas filhas para nós; assim habitaremos convosco e nos tornaremos um só povo.
17 Mas se não nos ouvirdes, e não vos circuncidardes, levaremos nossa filha e nos iremos embora.
18 E suas palavras agradaram a Hamor e a Siquém, seu filho.
19 Não tardou, pois, o mancebo em fazer isso, porque se agradava da filha de Jacó. Era ele o mais honrado de toda a casa de seu pai.
20 Vieram, pois, Hamor e Siquém, seu filho, à porta da sua cidade, e falaram aos homens da cidade, dizendo:
21 Estes homens são pacíficos para conosco; portanto habitem na terra e negociem nela, pois é bastante espaçosa para eles. Recebamos por mulheres as suas filhas, e lhes demos as nossas.
22 Mas sob uma única condição é que consentirão aqueles homens em habitar conosco para nos tornarmos um só povo: se todo varão entre nós se circuncidar, como eles são circuncidados.
23 O seu gado, as suas aquisições, e todos os seus animais, não serão nossos? consintamos somente com eles, e habitarão conosco.
24 E deram ouvidos a Hamor e a Siquém, seu filho, todos os que saíam da porta da cidade; e foi circuncidado todo varão, todos os que saíam pela porta da sua cidade.
25 Ao terceiro dia, quando os homens estavam doridos, dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, entraram na cidade com toda a segurança e mataram todo varão.
26 Mataram também ao fio da espada a Hamor e a Siquém, seu filho; e, tirando Diná da casa de Siquém, saíram.
27 Vieram os filhos de Jacó aos mortos e saquearam a cidade; porquanto haviam contaminado a sua irmã.
28 Tomaram-lhes os rebanhos, os bois, os jumentos, e o que havia tanto na cidade como no campo;
29 e todos os seus bens, e todos os seus pequeninos, e as suas mulheres, levaram por presa; e despojando as casas, levaram tudo o que havia nelas.
30 Então disse Jacó a Simeão e a Levi: Tendes-me perturbado, fazendo-me odioso aos habitantes da terra, aos cananeus e perizeus. Tendo eu pouca gente, eles se ajuntarão e me ferirão; e serei destruído, eu com minha casa.
31 Ao que responderam: Devia ele tratar a nossa irmã como a uma prostituta?”

Este capítulo de Gênesis revela que as aflições de Jacó com seus filhos eram muito grandes. Mas, apesar de os filhos de Jacó terem sido uma aflição para ele em muitos aspectos, ainda assim todos eles estavam aliançados com Deus, pela eleição da graça que os havia alcançado.
Quando Deus escolheu Jacó e mudou o seu nome para Israel, designando-o como príncipe do Seu povo, Ele escolheu automaticamente todos os descendentes de Jacó para estarem também aliançados com Ele.
Há aqui uma forte ilustração da condição dos cristãos em relação a Cristo. Ele é o verdadeiro Príncipe de Deus, do qual Jacó era uma figura, e assim todos os que estão unidos a Ele pela fé, também estão aliançados com Deus, porque o Pai fez uma aliança eterna com o Filho designando-o como o cabeça da igreja e que nele deveria habitar toda a plenitude (Col 1.18,19).    
Assim, então, apesar de os próprios cristãos trazerem muitas aflições ao coração de Deus por tudo o que lhes sucede e por tudo o que fazem neste mundo, ainda assim, o Senhor continua aliançado com eles por causa da aliança que fez com nosso Senhor Jesus Cristo. Nada pode desfazer esta aliança, porque Aquele que fez a promessa é fiel em cumpri-la e não pode negar-se a Si mesmo.
É exatamente isto que a revelação bíblica demonstra em suas muitas passagens, inclusive nesta, em que vemos os filhos de Jacó agindo de um modo, traiçoeiro, violento e covarde, não apropriado àqueles que trazem sobre si o nome do Altíssimo, mas como já dissemos, isto está registrado aqui, para que aprendamos a não julgar nossos irmãos em Cristo, porque apesar das muitas contradições que possam estar vivendo, eles continuam sendo filhos amados de Deus, porque Ele se aliançou com eles por meio de Jesus Cristo. 
Diná era a única filha de Jacó, e assim ela deveria se sentir solitária entre seus irmãos, e a Palavra registra que ela foi procurar companhia feminina entre os habitantes de Canaã.
Mas, na sua procura ela acabou se encontrando com Siquém, aquele de cujo pai, Jacó havia comprado a terra onde estava morando com sua família, depois de ter regressado de Pada-Arã.
Este siquém era influente no lugar, cuja cidade levava o seu nome.
Ele enamorou-se de Diná e deflorou-a.
A curiosidade dos jovens muitas vezes os traem e se lhes torna em armadilha. A sua falta de experiência e imaturidade emocional os torna muitas vezes presas fáceis das muitas tentações que os cercam.
Por isso a Palavra ordena que sejam obedientes aos seus pais, e aos pais, que os conduzam no caminho do Senhor.
Siquém, gloriando-se provavelmente de sua posição elevada, como príncipe entre seu povo, seduziu a moça, prevalecendo-se de sua grandeza.
Afinal não foi na sua mão e de seu pai, que eles haviam adquirido um lugar para morar?
Diná se expôs à sedução quando deixou o lar de seus pais e se permitiu uma liberdade imprópria para a sua época, ainda que levada pela sua curiosidade natural e juvenil.
Mesmo quando há exercício da autoridade paternal há aflições que os filhos dão aos pais, quanto mais quando há falta deste exercício.
Isto nós vemos claramente no fato de Jacó ter sido procurado por Hamor, pai de Siquém (v 11), que lhe fez e a seus filhos uma proposta, e a palavra final não foi dada por Jacó, mas por seus filhos, e o pior de tudo; eles o fizeram com dolo, pois planejaram assassinar os siquemitas quando estivessem convalescendo da circuncisão que lhes foi proposta pelos filhos de Jacó.
Como veremos logo no início do capitulo seguinte a este (35), quando Deus ordenou a Jacó que fosse para Betel e habitasse ali, para evitar uma possível represália por parte dos habitantes de Canaã, em razão da carnificina feita pelos seus filhos contra os siquemitas, Jacó ordenou que todos em sua família lançassem fora os deuses estranhos que havia com eles, e isto é bastante indicativo de que até então Jacó vinha lhes permitindo que tivessem consigo esculturas de outros deuses, ainda que o próprio Jacó não as tivesse.
Entretanto, o mandamento de Deus que fora dado desde Abraão, era o de que ele deveria ordenar a sua casa de modo que todos os seus descendentes andassem no caminho do Senhor. Isto era portanto uma responsabilidade de Jacó. Ele não deveria ordenar apenas a sua própria vida, como também a dos seus filhos, e estes a seus filhos depois dele.
Os filhos de Jacó usaram de falsidade na proposta que fizeram aos siquemitas porque eles sabiam que lhes era vedado por Deus se casarem com mulheres de Canaã.
Então eles haviam mentido quando pediram aos siquemitas que se circuncidassem para que fossem considerados um só povo juntamente com eles.
Siquém havia errado, mas estava se esforçando para reparar o seu erro, casando-se com Diná.
Mas o sentimento de honra manchada falou mais alto do que o de misericórdia e perdão, e tomados por sentimentos de vingança e ódio, Simeão e Levi, trataram de fazer justiça com as próprias mãos, deixando o seu próprio pai em ignorância quanto ao que haviam planejado, e desonraram o compromisso formal que haviam feito com Hamor, pai de Siquém, e contrariando a palavra dada, agiram por puro impulso carnal. 
Jacó temeu pela maneira como seriam olhados dali por diante.
Eles seriam considerados as pessoas mais bárbaras do mundo.
O comportamento impróprio dos filhos e as suas ações más são a vergonha e aflição dos seus pais, quando estes pais são devotados a Deus.
Se todos os siquemitas foram destruídos pela ofensa de um, quanto mais os cananeus não destruiriam os israelitas pela ofensa de dois?
Jacó sabia que Deus havia prometido preservar e perpetuar a sua casa, mas ele temia que estas práticas vis de seus filhos viessem a quebrar o vínculo.
Quando o pecado estiver na casa, há razão para se temer a ruína à porta.
Os filhos de Jacó, em vez de cederem, reconhecendo que haviam pecado, e em vez de se humilharem ao seu bom pai, lhe implorando perdão, eles se justificaram dando-lhe uma resposta insolente, em face dos seus temores relativos a uma possível ação de retaliação dos cananeus, dizendo: “ele deveria tratar a nossa irmã como uma meretriz?”
Não, realmente não deveria. Mas deveriam também se vingar com as próprias mãos? Tentando cobrir um pecado com outro pecado?
A resposta deles trazia embutida uma condenação ao próprio pai, como se ele estivesse satisfeito de que tivessem tratado sua filha como uma meretriz.
Simeão e Levi agiram certamente debaixo de uma influência maligna que despertou neles todo aquele grande ódio.
O mandamento de perdoar setenta vezes sete tem, em determinados aspectos, exatamente o propósito de que não venhamos a ficar debaixo da fúria de Satanás contra nós, que nos leva a ficarmos também enfurecidos até mesmo contra as pessoas que nos sejam mais queridas, visando à nossa destruição e à deles.
O diabo pode despertar nos homens os sentimentos mais odiosos, enquanto os mantém debaixo do seu controle ou influência.
A cura e a prevenção contra tudo isto está, portanto em se ter sempre um coração aberto, numa atitude que tudo suporta e perdoa, porque esta é a vontade de Deus para conosco, para que tenhamos aquela mansidão que é característica de Cristo, e não o furor odioso de Satanás.      



Gênesis 35

“1 Depois disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; e faze ali um altar ao Deus que te apareceu quando fugias da face de Esaú, teu irmão.
2 Então disse Jacó à sua família, e a todos os que com ele estavam: Lançai fora os deuses estranhos que há no meio de vós, e purificai-vos e mudai as vossas vestes.
3 Levantemo-nos, e subamos a Betel; ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho por onde andei.
4 Entregaram, pois, a Jacó todos os deuses estranhos, que tinham nas mãos, e as arrecadas que pendiam das suas orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.
5 Então partiram; e o terror de Deus sobreveio às cidades que lhes estavam ao redor, de modo que não perseguiram os filhos de Jacó.
6 Assim chegou Jacó à Luz, que está na terra de Canaã (esta é Betel), ele e todo o povo que estava com ele.
7 Edificou ali um altar, e chamou ao lugar El-Betel; porque ali Deus se lhe tinha manifestado quando fugia da face de seu irmão.
8 Morreu Débora, a ama de Rebeca, e foi sepultada ao pé de Betel, debaixo do carvalho, ao qual se chamou Alom-Bacute.
9 Apareceu Deus outra vez a Jacó, quando ele voltou de Padã-Arã, e o abençoou.
10 E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. Chamou-lhe Israel.
11 Disse-lhe mais: Eu sou Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos;
12 a terra que dei a Abraão e a Isaque, a ti a darei; também à tua descendência depois de ti a darei.
13 E Deus subiu dele, do lugar onde lhe falara.
14 Então Jacó erigiu uma coluna no lugar onde Deus lhe falara, uma coluna de pedra; e sobre ela derramou uma libação e deitou-lhe também azeite;
15 e Jacó chamou Betel ao lugar onde Deus lhe falara.
16 Depois partiram de Betel; e, faltando ainda um trecho pequeno para chegar a Efrata, Raquel começou a sentir dores de parto, e custou-lhe o dar à luz.
17 Quando ela estava nas dores do parto, disse-lhe a parteira: Não temas, pois ainda terás este filho.
18 Então Raquel, ao sair-lhe a alma (porque morreu), chamou ao filho Benôni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim.
19 Assim morreu Raquel, e foi sepultada no caminho de Efrata (esta é Bete-Leém).
20 E Jacó erigiu uma coluna sobre a sua sepultura; esta é a coluna da sepultura de Raquel até o dia de hoje.
21 Então partiu Israel, e armou a sua tenda além de Migdal-Eder.
22 Quando Israel habitava naquela terra, foi Rúben e deitou-se com Bila, concubina de seu pai; e Israel o soube. Eram doze os filhos de Jacó:
23 Os filhos de Léia: Rúben o primogênito de Jacó, depois Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom;
24 os filhos de Raquel: José e Benjamim;
25 os filhos de Bila, serva de Raquel: Dã e Naftali;
26 os filhos de Zilpa, serva de Léia: Gade e Aser. Estes são os filhos de Jacó, que lhe nasceram em Padã-Arã.
27 Jacó veio a seu pai Isaque, a Manre, a Quiriate-Arba (esta é Hebrom), onde peregrinaram Abraão e Isaque.
28 Foram os dias de Isaque cento e oitenta anos;
29 e, exalando o espírito, morreu e foi congregado ao seu povo, velho e cheio de dias; e Esaú e Jacó, seus filhos, o sepultaram.”

Jacó fugiu de Siquém para Betel, pelo mandado de Deus.
Quando residia em Betel soube da morte de Débora, ama de Rebeca, sua mãe, e é provável que Jacó tenha se dirigido para lá, para o seu sepultamento, pois se diz no verso 9, que tendo vindo de Pada-Arã, outra vez Deus lhe apareceu e o abençoou, e confirmou a mudança do seu nome de Jacó para Isarel, e lhe ordenou que fosse fecundo e se multiplicasse, porque uma nação e multidão de nações procederiam dele, e foi reconfirmada também a promessa de receber, bem como a sua descendência, a terra de Canaã como herança.
Jacó chamou de Betel a este lugar em que Deus lhe falara, e erigiu uma coluna de pedra onde o Senhor lhe falara, e derramou sobre ela uma libação, e a ungiu com óleo.
Tendo partido de Betel para Efrata, que seria conhecida mais tarde por Belém, Raquel deu à luz a Benjamin, antes de chegar àquela cidade, e quando estava próximo da mesma, e veio a morrer por causa do parto. Antes de morrer ela chamou o menino de Benoni, que significa o filho da minha tristeza, mas Jacó o chamou pelo nome de Benjamin, que significa o filho que é a minha mão direita. 
Depois de ter se fixado naquela terra, além da torre de Eder, Ruben se deitou com Bila, concubina de Jacó, e isto chegou ao conhecimento do seu pai.
Este capítulo é encerrado com o relato da morte de Isaque, pai de Jacó, aos 180 anos de idade, tendo sido sepultado por Jacó e Esaú.      
Quando Jacó havia fugido para Pada-Arã por temer ser morto por Esaú, Deus lhe havia aparecido na visão da escada e lhe prometido que não o desampararia e que o faria voltar àquela terra (28.15), e Jacó havia erigido a pedra que usara como travesseiro como coluna, e havia ungido o seu topo com azeite (28.18), e naquela ocasião Jacó tez um voto a Deus, e disse que a pedra que ele havia erigido por coluna seria a casa de Deus, e que daria ao Senhor o dízimo de tudo quanto lhe fosse concedido.
Ora, mais de vinte anos se haviam passado, e é bem possível que Jacó tivesse esquecido o voto que havia feito, mas o Senhor lhe lembra daquele voto sem se referir a ele diretamente, mas o levando ao local onde fora feito.  
Assim o Senhor nos lembra dos deveres negligenciados de um modo ou de outro, através da consciência ou através de providências.
Quando nós fazemos um voto a Deus é melhor não adiar o seu cumprimento (Ec 5.4), entretanto é melhor tarde do que nunca.
Assim Deus não fez Jacó lembrar expressamente do seu voto, mas da sua ocasião, quando fugia de Esaú.
Por isso disse a Jacó que fosse para Betel e ali erigisse um altar ao Deus que lhe havia aparecido quando ele fugia da presença de Esaú (35.1). 
Diante desta ordenança solene de preparar um altar para adorar a Deus com sua família, Jacó lembrou da necessidade de santidade na adoração ao Senhor por parte de todos aqueles que estavam com ele, e assim lhes ordenou que se livrassem dos falsos deuses e que se purificassem (35.2).   A bondade deve ser precedida pela justiça e pela santidade.
A bondade de Jacó estava permitindo concessões a seus filhos, de modo que eles estavam até mesmo guardando consigo falsos deuses.
Mas, despertado agora pela renovação da aliança do Senhor com ele, e sendo lembrado do seu voto em que disse que o Senhor somente seria o seu Deus, ele toma a iniciativa de juntar a justiça e a santidade à bondade, e teve a coragem necessária para confrontar toda a sua família.
Deus lhe honrou trazendo-lhes o devido temor e respeito por seu pai, e eles o obedeceram.
Não somente trouxe este santo temor aos filhos de Jacó, como também a todos os cananeus que viviam nas cidades vizinhas trouxe o Senhor o que se relata em 35.5: “E, tendo eles partido, o terror de Deus invadiu as cidades que lhes eram circunvizinhas, e não perseguiram aos filhos de Jacó.”
 Com isto Jacó pôde chegar a Betel em segurança, pela proteção que lhe fora dada e à sua família pelo Senhor.     
Quando nós estivermos a serviço de Deus, nós estaremos debaixo da Sua proteção especial. Deus estará conosco, enquanto nós estivermos com ele; e, se ele é por nós, quem poderá ser contra nós?