quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Débora, um Exemplo de Grande Fé – Parte 1 – Juízes 4



Este quarto capítulo de Juízes é introduzido com a citação de que os israelitas haviam retornado a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde. Não se diz depois da morte de Sangar, e daí podemos inferir que este agira contra os filisteus em seu próprio território, nos dias em que Eúde julgava a Israel, e deste modo, é citado em apenas um versículo do terceiro capitulo de Juízes (v. 31). 
Esta nova apostasia de Israel produziu uma nova opressão que veio sobre os israelitas e que durou vinte anos, e se diz que foram oprimidos cruelmente neste período pelo rei Jabim de Canaã, cujo general do seu exército se chamava Sísera, e que tinha sob o seu comando novecentos carros de ferro, que foram o motivo alegado pelos israelitas desde os dias de Josué, para não empreenderem guerra contra os cananeus do vale, por temerem aqueles carros.
Mas, tendo os israelitas clamado mais uma vez ao Senhor, depois de terem sido devidamente instruídos por Débora quanto ao modo como deviam caminhar diante de Deus, obedecendo os seus mandamentos, pois além de profetiza ela os julgava apontando-lhes qual era a vontade de Deus, e qual era o motivo daquela opressão que perdurava por vários anos. E isto certamente contribuiu grandemente para o arrependimento deles que trouxe como consequência uma promessa de livramento da parte do Senhor, que veio a Débora, apontando-lhe qual a estratégia de guerra que seria usada por Ele para prevalecer sobre o exército de Jabim e seus carros de ferro. A profecia afirmava que o Senhor atrairia o exército de Sísera ao ribeiro Quisom, com a intenção de destruir o exército de Israel que estaria sob o comando de Baraque. O texto deste capítulo não revela o modo como Deus inutilizou os carros de ferro dos cananeus, mas se pode inferir pelas palavras do cântico de vitória de Débora, do capítulo seguinte a este (quinto), que Deus fez desabar uma grande tempestade que fez com que o ribeiro Quisom transbordasse, tornando deste modo todos aqueles carros de ferro inúteis para as ações de guerra. Ao contrário, eles se transformaram num peso para os cananeus e serviram para abalar a confiança deles que era em grande parte depositada naquelas máquinas de guerra.   
Destacamos a seguir trechos do quinto capítulo que denotam o uso desta estratégia de Deus para paralisar os carros de Sísera:
“Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando caminhaste desde o campo de Edom, a terra estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.” (v 4).
Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera.” (v. 20).
O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma, calcaste aos pés a força.” (v. 21)
Então os cascos dos cavalos feriram a terra na fuga precipitada dos seus valentes.” (v. 22).
Israel havia sido desobediente ao mandado de Deus quanto a expulsar os cananeus, sem qualquer piedade, e agora estava pagando o preço da sua desobediência. De igual modo os cristãos quando se deixam arrastar por seus sentimentos e pelas razões do seu próprio coração, para estar em jugo desigual com os incrédulos, ainda que sabendo que está agindo contra a vontade de Deus, o preço a ser pago no final será caro. Há leis espirituais que sempre entrarão em ação para os cristãos, que necessariamente não atuam no caso dos incrédulos, isto em decorrência de os cristãos estarem aliançados com o Senhor e por isso as correções e disciplina da aliança sobrevirão sobre eles toda vez que desobedecerem expressamente o mandado de Deus, porque são filhos amados e já não serão mais condenados eternamente. No caso do ímpio, este poderá ter o seu caminho ainda mais alargado, quando pratica a iniquidade, porque não é filho, não está debaixo da aliança e do compromisso com o Senhor, e sofrerá um maior juízo, porque em vista da abundância de bens e de toda a longanimidade de Deus para com ele, em vez de se arrepender de seus pecados e emendar o seu caminho, isto serviu somente para que se afastasse ainda mais do Senhor. Por isso não se deve invejar a prosperidade do ímpio, enquanto pratica a iniquidade, porque sofrerá um maior juízo e estará sujeito a uma condenação eterna. Veja o caso do próprio Israel que foi vendido  a seus inimigos, quando deixou de caminhar com o Senhor e se voltou para os ídolos! A prosperidade deles serviu apenas para afastá-los de Deus, e que prosperidade é esta que nos leva a ficar debaixo da opressão dos nossos inimigos? Por isso se diz que uma grande fonte de lucro é a piedade, com contentamento (I Tim 6.6), e não as riquezas deste mundo que são incertas e passageiras. Todo aquele que quiser fazer do dinheiro a sua segurança estará construindo sobre a areia e mais cedo ou mais tarde sofrerá as consequências de ter colocado as suas esperanças no poder que o dinheiro dá, e não em um viver reto na presença do Senhor, fazendo dEle, em todo o tempo e circunstância, a verdadeira segurança da sua vida.   
Enquanto os israelitas confiavam em si mesmos e sofriam uma dura opressão dos cananeus, uma mulher chamada Débora colocava toda a sua confiança no Deus de Israel e recebeu bênçãos da parte dEle não apenas para si mesma mas para todo o povo de Israel porque foi o instrumento usado pelo Senhor para trazer libertação a eles. O seu nome Débora significa, no hebraico, abelha, e o caráter dela fazia jus ao seu nome, porque ela produziu doçura para os seus amigos, e foi um ferrão doloroso para os seus inimigos. Ela tinha intimidade com Deus e era usada como Sua boca por ser uma profetiza, e era dotada do dom de conhecimento e de sabedoria, de modo que atingiu um reconhecimento admirável por parte dos israelitas que vinham serem julgados por ela (v. 5), certamente não em questões de demandas pessoais contra o próximo, mas para saberem o caminho e a vontade do Senhor para suas vidas. E ela os concitava a retornarem ao Senhor e abandonar a sua idolatria, que estava sendo a causa da dura opressão que toda a nação estava recebendo da parte dos cananeus por causa da sua desobediência a Deus. É dito que ela os julgava no lugar onde havia  uma palmeira, que ficou sendo conhecida como a palmeira de Débora, e disto se dá testemunho na Palavra porque a palmeira era símbolo da justiça.
Os julgamentos de Débora deviam reformar a muitos e encorajar os magistrados de Israel a colocarem em uso as leis que foram dadas por Deus através de Moisés.   
Por ser uma mulher, ela não estava em condições de comandar um exército pessoalmente, e por isso nomeou Baraque, da tribo de Naftali, seguindo a direção e instrução do Espírito Santo, porque através da grande fé de Débora, Baraque seria encorajado a confiar que de fato seria possível, sob a provisão de Deus, vencer os novecentos carros de ferro dos cananeus. Deus havia associado então para aquela empresa a cabeça de Débora às mãos de Baraque, de forma que ela não poderia fazer nada sem as mãos de Baraque, e este nada poderia fazer sem a cabeça de Débora.  Isto é ilustrativo da cooperação que deve haver entre os membros do corpo de Cristo, no qual o maior e melhor nunca é auto-suficiente, pois Deus fez com que os membros do corpo necessitem um do outro, para o trabalho que devem realizar para Ele.
Débora afiançou a Baraque que ele poderia estar confiante, de acordo com a palavra dela, e a palavra de Débora, era de fato uma palavra de autoridade, porque Deus era com ela em tudo o que havia profetizado em nome dele, de modo que alcançou renome em Israel ao ponto de muitos virem ter com ela para serem julgados. Um ministério confirmado pelo Senhor é uma fonte de bênção para muitos porque é legitimado pelo próprio Deus pelos resultados que o acompanham, e tal era o caso de Débora.
  O que ela dizia era digno de confiança, de modo que todo um exército de dez mil homens sob o comando de Baraque, se colocou em ordem de batalha porque sabia que a palavra que aquela mulher proferia da parte de Deus era digna de inteiro crédito.
Em Amós 3.7 nós lemos o seguinte: “Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.”. Se diz aqui de uma certeza de que Deus nada fará sem que antes o revele aos seus profetas, e isto tem a ver com o fato de que suas grandes ações devem ser preditas para que Ele possa receber a glória, o louvor e as ações de graças que Lhe são devidos, de modo que suas bênçãos não sejam consideradas como sendo obra do acaso. Daí a importância de que haja profetas que sejam reconhecidamente pessoas que são a boca de Deus, na Sua igreja, de modo que as operações da Sua graça e Seus grandes feitos possam ser preditos antes que se cumpram, para que se saiba que foi a Sua poderosa mão e não a força do homem que o fez.
Um profeta verdadeiro não profetiza para alcançar renome, e tendo o verdadeiro temor do Senhor, e sabendo a grande responsabilidade que é afirmar aquilo que Deus tem realmente dito, falará sempre debaixo deste temor, e não ousará proferir aquilo que Deus não lhe mandou dizer. E este caráter essencial que identifica um verdadeiro profeta de Deus é algo muito precioso e raro, porque não são poucos os que são governados pela sua própria imaginação e desejo de falarem coisas da parte do Senhor, e não é de se estranhar portanto que muito se ouça debaixo do nome de Deus, coisas que Ele não falou realmente.
Mas, no caso de Débora temos uma verdadeira profetiza, cuidadosa e criteriosa em todo o seu caminhar, e isto foi comprovado no fato de ter sido o instrumento escolhido por Deus para trazer a promessa de livramento de Israel depois de vinte longos anos debaixo da opressão dos cananeus.
Se a palavra do Senhor não tivesse sido realmente soado através de Débora, dez mil homens de Israel teriam sido horrivelmente massacrados pelos novecentos carros de ferro dos cananeus. Quão grande responsabilidade havia naquela palavra que foi proferida para os israelitas se juntarem em ordem de batalha contra os cananeus. E Baraque sabia disto, de modo que não se dispôs a subir ao campo de batalha sem que Débora estivesse presente com eles. A fé de Baraque não era tão grande ao ponto de receber ele próprio tal instrução diretamente da parte de Deus. E ele se moveu baseado não numa fé que descobrisse por si mesma qual seria a ação de Deus naquela guerra. A fé que descobriu e revelou a vontade de Deu não foi a de Baraque que estava se apoiando na palavra proferida por Débora. Uma fé forte descobre as coisas relativas à verdade que está em Cristo e se apropria tenazmente delas, e jamais se abala ou teme, porque sabe que tudo aquilo que a boca do Senhor proferiu terá cumprimento cabal. E tal era a fé de Débora.      

 Como a fé de Baraque não era tão forte como a de Débora, ela lhe disse que a honra da vitória seria atribuída a ela e não a ele, e isto não foi proferido por motivo de vanglória, mas por revelação de Deus, pois a mesma Débora disse em complementação a tal afirmação que isto se deveria ao fato de o Senhor ter vendido Sísera nas mãos de uma mulher (v. 9), como que a dizer que o mérito não era sequer propriamente dela, mas de Deus que lhe revelara o que iria fazer e a usou com sua grande fé para não somente encorajar o exército de Israel, como o seu próprio general, Baraque. Uma grande fé sempre será honrada por Deus, de modo que a Baraque não foi dada a honra de se gloriar naquela vitória, porque não tinha uma fé da qualidade da de Débora por meio da qual pudesse não apenas conhecer a vontade de Deus, como também ficar firme, sem vacilar até o cumprimento do que lhe foi revelado.

Tanto foi do propósito de Deus que Baraque não fosse honrado, apesar de ter dirigido o exército de Israel naquela batalha, que Sísera, general do exército dos cananeus foi morto pelas mãos de uma outra mulher, Jael, fazendo assim o Senhor uso do vaso mais fraco para que toda glória Lhe fosse tributada, como de fato convinha que o fosse.

Jael matou a Sísera depois de ter este fugido para onde um dos descendentes do sogro de Moisés havia se instalado com sua família, dando início a um povoado, e Jael fazia parte desta família. A narrativa do verso 11, aparentemente está solta e deslocada, mas, na verdade, foi feita a título de introdução e entendimento das ações de Jael que são narradas nos últimos versículos deste capítulo. No verso 17 se diz que havia paz entre o rei de Canaã, Jabim, e os queneus, de cujo povo Jael fazia parte. E foi por isso que Sísera fugiu para lá julgando que seria escondido por eles, de Baraque que saiu em sua perseguição.

Exausto que estava da batalha, e tendo sobrado somente ele dos dez mil homens do seu exército, que foram todos mortos pelos israelitas, pediu água a Jael, mas esta lhe deu leite a beber, contando certamente que isto ajudaria para que ele caísse num sono profundo, como de fato ocorreu, e ela pegando uma estaca de barraca cravou-a na cabeça de Sísera, pregando-a ao chão.    

E uma vez morto o general do exército dos cananeus e a quase totalidade do seu exército, e tendo sido destruídos os carros de ferro, o rei de Canaã foi enfraquecido de maneira que se afirma que ele veio a ser destruído pelos israelitas, e ao que parece, eles baniram aquele reino da face da terra, de maneira que daqui em diante não se ouve mais falar em reis de Canaã. 
 

JUÍZES 4

“1 Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde.
2 E o Senhor os vendeu na mão de Jabim, rei de Canaã, que reinava em Hazor; o chefe do seu exército era Sísera, o qual habitava em Harosete dos Gentios.
3 Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, porquanto Jabim tinha novecentos carros de ferro, e por vinte anos oprimia cruelmente os filhos de Israel.
4 Ora, Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo.
5 Ela se assentava debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ter com ela para julgamento.
6 Mandou ela chamar a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes-Naftali, e disse-lhe: Porventura o Senhor Deus de Israel não te ordena, dizendo: Vai, e atrai gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom;
7 e atrairei a ti, para o ribeiro de Quisom, Sísera, chefe do exército de Jabim; juntamente com os seus carros e com as suas tropas, e to entregarei na mão?
8 Disse-lhe Baraque: Se fores comigo, irei; porém se não fores, não irei.
9 Respondeu ela: Certamente irei contigo; porém não será tua a honra desta expedição, pois à mão de uma mulher o Senhor venderá a Sísera. Levantou-se, pois, Débora, e foi com Baraque a Quedes.
10 Então Baraque convocou a Zebulom e a Naftali em Quedes, e subiram dez mil homens após ele; também Débora subiu com ele.
11 Ora, Heber, um queneu, se tinha apartado dos queneus, dos filhos de Hobabe, sogro de Moisés, e tinha estendido as suas tendas até o carvalho de Zaananim, que está junto a Quedes.
12 Anunciaram a Sísera que Baraque, filho de Abinoão, tinha subido ao monte Tabor.
13 Sísera, pois, ajuntou todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todo o povo que estava com ele, desde Harosete dos Gentios até o ribeiro de Quisom.
14 Então disse Débora a Baraque: Levanta-te, porque este é o dia em que o Senhor entregou Sísera na tua mão; porventura o Senhor não saiu adiante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens após ele.
15 E o Senhor desbaratou a Sísera, com todos os seus carros e todo o seu exército, ao fio da espada, diante de Baraque; e Sísera, descendo do seu carro, fugiu a pé.
16 Mas Baraque perseguiu os carros e o exército, até Harosete dos Gentios; e todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada; não restou um só homem.
17 Entretanto Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Heber, o queneu, porquanto havia paz entre Jabim, rei de Hazor, e a casa de Heber, o queneu.
18 Saindo Jael ao encontro de Sísera, disse-lhe: Entra, senhor meu, entra aqui; não temas. Ele entrou na sua tenda; e ela o cobriu com uma coberta.
19 Então ele lhe disse: Peço-te que me dês a beber um pouco d'água, porque tenho sede. Então ela abriu um odre de leite, e deu-lhe de beber, e o cobriu.
20 Disse-lhe ele mais: Põe-te à porta da tenda; e se alguém vier e te perguntar: Está aqui algum homem? responderás: Não.
21 Então Jael, mulher de Heber, tomou uma estaca da tenda e, levando um martelo, chegou-se de mansinho a ele e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra; pois ele estava num profundo sono e mui cansado. E assim morreu.
22 E eis que, seguindo Baraque a Sísera, Jael lhe saiu ao encontro e disse-lhe: Vem, e mostrar-te-ei o homem a quem procuras. Entrou ele na tenda; e eis que Sísera jazia morto, com a estaca na fonte.
23 Assim Deus naquele dia humilhou a Jabim, rei de Canaã, diante dos filhos de Israel.
24 E a mão dos filhos de Israel prevalecia cada vez mais contra Jabim, rei de Canaã, até que o destruíram.” (Jz 4.1-24).

Débora, um Exemplo de Grande Fé – Parte 2 – Juízes 5



O quinto capítulo de Juízes contém a canção triunfal que foi composta e cantada, na ocasião da vitória gloriosa que Israel obteve sobre as forças do rei Jabim de Canaã, e as consequências felizes daquela vitória.
Toda vez que é realmente o Senhor quem nos conduz em vitória sobre o inimigo, e quando podemos, pelo Seu poder e graça que nos são concedidos, quando clamamos a Ele por socorro e livramento, esmagar a cabeça da serpente, então a consequência disto sempre será sermos movidos pelo Espírito Santo a entoarmos cânticos de louvor e gratidão a Deus com grande alegria espiritual em nossos corações. 
Esta é uma lei do mundo espiritual que nunca falha, porque nisto o Senhor é muito exaltado e glorificado, e Ele sempre o fará para testificação espiritual que foi o Seu forte braço que nos trouxe livramento, fazendo-nos triunfar sobre as forças do inimigo, que dantes nos oprimiam e amedrontavam, e que agora, pelo poderoso livramento operado por Deus se tornam como poderes inteiramente subjugados aos nossos pés. E isto traz descanso, paz e regozijo à alma. E a graça de Jesus se torna para nós como o fruto mais doce e valioso que nos satisfaz completamente, ao ponto de não necessitarmos de coisa alguma. E foi exatamente isto que os israelitas experimentaram depois de o Senhor ter subjugado as forças do inimigo diante deles, ao mesmo tempo que se tornava de novo favorável a Seu povo restaurando a comunhão com Ele e de uns com os outros.
Não pode haver sossego e paz num espírito verdadeiramente temente a Deus enquanto a força do inimigo prevalece sobre o seu povo, e será sempre pelo clamor por misericórdia e livramento destes, e pela tristeza e pesar em seus espíritos por não estarem vendo os planos de Deus prosperando por meio da igreja, que a mão do Senhor se moverá para restaurar todas as coisas, pelo derramar do Seu Espírito e da Sua graça sobre o Seu povo. E o cristão não pode respirar espiritualmente e experimentar a verdadeira vida celestial sem ter a aprovação e aceitação de Deus. Se a presença do Senhor não vai conosco o resultado imediato disto é que ficaremos à mercê dos nossos inimigos espirituais, e estaremos enfraquecidos diante deles e temeremos a sua força intimidadora, tal como os israelitas se sentiam diante dos carros de ferro dos cananeus. Mas uma vez retornando ao favor do Senhor, a situação se inverte, e nos tornamos fortes pela graça e podemos contemplar espiritualmente quão fracos e impotentes os nossos inimigos se tornam na presença de Deus quando Ele está pelejando por nós. Vale ou não a pena, portanto, sempre clamar e se arrepender do pecado para que possamos ter Deus agindo como nosso amigo e repreendendo todos aqueles que se levantam contra nós? Qual é o sentido que há na vida quando a presença do Senhor já não segue conosco por causa dos nossos pecados?
Quando entenderemos que é um dever orar pelos nossos líderes para que o Senhor os guarde do mal e da desgraça de não honrarem a Deus se aliançando com as coisas que são do mundo? A nossa bênção passa por eles porque somos de fato um só corpo. E o diabo sempre procurará neutralizá-los, para que em vez de prevalecermos sobre ele, ele possa prevalecer sobre nós. Josué enquanto vivia conduzia Israel nos caminhos do Senhor e o  resultado é que todos eram abençoados. Mas tendo morrido Josué, necessário se fazia que se levantassem outros líderes que honrassem ao Senhor como ele o fizera, tal como Otniel, Eúde, Débora e outros, para que conduzindo o povo pelo caminho de Deus, e levando-os ao arrependimento e à decisão de não se misturarem com os incrédulos praticando as suas obras, pudessem de novo experimentar as bênçãos do Senhor. O mesmo ocorre com a igreja, porque importa que aqueles que têm sido levantados por Deus para liderarem o Seu povo, sejam achados honrando-O e à Sua Palavra para que todo o povo sobre o qual foram constituídos pela vontade do Senhor possa ser de fato abençoado por Ele.        
Débora havia julgado os israelitas a caminharem na presença de Deus guardando os Seus mandamentos, e o resultado dela ter  honrado ao Senhor de tal maneira foi o estarem experimentando a grande bênção da vitória sobre todos os seus inimigos, e sentirem a grande alegria que os levou a entoar este cântico triunfal de louvor que encontramos registrado neste capítulo.   
“Está aflito alguém entre vós? Ore. Está alguém contente? Cante louvores.” (Tg 5.13). Se está havendo aflição devemos orar com fé pedindo a bênção do Senhor. E quando esta vier e nos alegrar, devemos cantar louvores, e não o faremos certamente somente porque somos obrigados a isto, mas porque o Espírito Santo se moverá em nós conduzindo-nos neste sentido.
A própria Débora, inspirada pelo Espírito Santo, compôs esta canção, conforme se pode inferir do verso 7.
O propósito da canção é dar glória a Deus e louvá-lo pela vitória sobre os Seus inimigos, vingando Israel dos seus opressores cruéis e orgulhosos.
Mas o cântico não generaliza os louvores a todas as tribos de Israel, pois aqueles que subiram à batalha, os que clamaram a Deus por livramento e que choraram a condição em que o povo de Deus se encontrava debaixo da opressão dos seus inimigos são os que são convocados a se alegrarem no Senhor e a louvá-lo pelos seus grandes feitos, quer grandes ou pequenos, conforme apresentados no cântico como aqueles que cavalgavam sobre jumentas brancas, que se assentavam sobre ricos tapetes - grandes; e aqueles que andavam pelo caminho.- pequenos (v. 10).
De igual modo todos os que estão compromissados com Deus e que não fogem da batalha que têm que travar contra os poderes das trevas para que a causa de Cristo triunfe sobre a terra, sejam grandes ou pequenos, são chamados a louvar ao Senhor pelos seus grandes livramentos, porque eles têm efetivamente participação nisto, porque foi pelo esforço deles em oração e pela contrição de seus espíritos e empenho no serviço do Senhor que a Sua boa mão se mostrou favorável para com eles. Mas de fato, todos aqueles que preferem o conforto pelo temor da dificuldade e que ficam impedidos de cumprir o seu dever para com Deus, e que não se preocupam com a Sua honra, que direito têm de participar dos seus louvores, e que sinceridade haveria nisto se o fizessem? Seus espíritos egoístas e estreitos não se preocupam com os interesses da igreja do Senhor, e assim eles não têm outro interesse senão no dinheiro e naquilo que é do próprio interesse deles (Fp 2.21). E nisto são diferentes das tribos de Naftali e Zebulom, que nos dias de Débora foram os que efetivamente participaram da batalha contra os cananeus (v. 18). Rúben não fez mais do que se entregar a muitas cogitações, especialmente entre os seus príncipes que se dividiram ao considerar as vantagens e desvantagens em se empenharem na batalha, e prevaleceu a decisão final de não colaborarem, e isto trouxe muita tristeza àqueles que eram de opinião contrária (v. 15b,16). Divisões no corpo de Cristo sempre conduzirão a um impedimento de se servir a Deus, porque o Espírito não opera num corpo onde não haja unidade. 
Então Deus dá prosseguimento à Sua obra usando aqueles que têm real compromisso com ele, e deixa entregue às muitas resoluções da própria cabeça àqueles que ficam na igreja cuidando apenas de fazer planos e avaliações estratégicas de como alcançar os perdidos e que são incapazes de produzir um só ato prático neste sentido.   
Dã e Aser seguiram o exemplo de Rúben (v. 17). Dã se desculpou porque tinha que cuidar dos seus portos e navios e de manter suas relações comerciais em andamento, e não prejudicar os seus negócios com os riscos de uma guerra. E nada sabiam de que Deus mesmo pelejaria por Israel e destruiria o exército dos cananeus. A ordem foi clara e direta para que de Naftali e Zebulom se recrutassem dez mil homens e que eles deveriam subir o monte Tabor porque o exército de Sísera seria atraído pelo Senhor para junto do rio Quisom, onde ele os subjugaria numa grande inundação. Não há portanto nenhuma desculpa para que não nos empenhemos nas guerras do Senhor, porque quando nos dispomos a isto é sempre Ele quem pelejará por nós.  
Os merozitas, habitantes de Meroz, possivelmente uma das cidades israelitas que ficavam próximas do front de batalha, não quiseram se envolver e por isso foram amaldiçoados por Deus, porque não vieram em socorro do Senhor e dos seus valentes (v. 23). Rúben, Gade, Gileade e Aser não se envolveram,  porém não foram amaldiçoados como Meroz! O Senhor não precisava da ajuda deles, e fez o Seu trabalho sem eles, mas marcou Meroz com uma maldição porque decidiram certamente se manter neutros para não contrariarem tanto os israelitas, quanto aos cananeus sob cuja dominação se encontravam. Temendo sofrer represálias futuras da parte deles caso os cananeus saíssem vencedores na guerra, decidiram por aquilo que parece ser indubitável e politicamente o mais seguro e correto, a saber a neutralidade. Só que Deus nunca admitirá neutralidade, especialmente da parte do Seu povo, no que tange a fazer a Sua vontade. Então eles fizeram a pior opção que poderiam fazer porque isto lhes trouxe uma maldição da parte de Deus que foi proferida pelo anjo da aliança, a saber, pelo príncipe do exército do Senhor que vinha acompanhando Israel desde a saída deles do Egito. E tal foi o cumprimento da maldição sobre os israelitas daquela cidade que desejando segurança acabaram por encontrar a sua própria destruição, porque deste ponto em diante nunca mais se ouviu falar na cidade de Meroz como sendo uma das cidades israelitas. Tal como a figueira que Jesus amaldiçoou e secou, eles também secaram com a maldição que o Senhor pronunciou contra eles.
E assim são descritas no cântico de Débora as manifestações de regozijo e congratulações com aqueles que se dispuseram a se empenhar na batalha contra os cananeus, e uma nota de lamento e tristeza e até mesmo de maldição contra aqueles que se recusaram a ajudar as tribos que lutaram. Isto que ocorreu com Israel também se dá em relação à igreja, porque o Israel de Deus é um só corpo formado por muitos membros, e com eles sucede o que está registrado em I Cor 12.24-26: “Mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela, para que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele.”. E onde destacamos o que se afirma no verso 26 que o padecimento de um membro é na verdade o padecimento de todos, e o mesmo se dá em relação à alegria. Isto decorre do fato de o Espírito Santo se mover em nós fazendo-nos sentir como de fato somos, parte integrantes de um só corpo espiritual. E assim o fracasso de um membro, especialmente em razão do pecado é como se fosse o fracasso de toda a igreja, em razão desta vinculação de uns com os outros que foi estabelecida por Deus, e o sucesso de um membro que traz honra e glória para o nome de Deus produz realmente alegria, pelo Espírito, no coração de todos os cristãos, porque aquele triunfo é tido como sendo o triunfo de toda a igreja. É por isso que é ordenado aos cristãos que se exortem mutuamente, em face desta responsabilidade mútua de uns para com os outros. Este evangelho de mídia, sem uma igreja definida, sem compromisso mútuo entre os seus membros, desfigura e depõe totalmente contra o desígnio de Deus para a sua igreja.       


“1 Então cantaram Débora e Baraque, filho de Abinoão, naquele dia, dizendo:
2 Porquanto os chefes se puseram à frente em Israel, porquanto o povo se ofereceu voluntariamente, louvai ao Senhor.
3 Ouvi, ó reis; dai ouvidos, ó príncipes! eu cantarei ao Senhor, salmodiarei ao Senhor Deus de Israel.
4 Ó Senhor, quando saíste de Seir, quando caminhaste desde o campo de Edom, a terra estremeceu, os céus gotejaram, sim, as nuvens gotejaram águas.
5 Os montes se abalaram diante do Senhor, e até Sinai, diante do Senhor Deus de Israel.
6 Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, cessaram as caravanas; e os que viajavam iam por atalhos desviados.
7 Cessaram as aldeias em Israel, cessaram; até que eu Débora, me levantei, até que eu me levantei por mãe em Israel.
8 Escolheram deuses novos; logo a guerra estava às portas; via-se porventura escudo ou lança entre quarenta mil em Israel?
9 Meu coração inclina-se para os guias de Israel, que voluntariamente se ofereceram entre o povo. Bendizei ao Senhor.
10 Louvai-o vós, os que cavalgais sobre jumentas brancas, que vos assentais sobre ricos tapetes; e vós, que andais pelo caminho.
11 Onde se ouve o estrondo dos flecheiros, entre os lugares onde se tiram águas, ali falarão das justiças do Senhor, das justiças que fez às suas aldeias em Israel; então o povo do Senhor descia às portas.
12 Desperta, desperta, Débora; desperta, desperta, entoa um cântico; levanta-te, Baraque, e leva em cativeiro os teus prisioneiros, tu, filho de Abinoão.
13 Então desceu o restante dos nobres e do povo; desceu o Senhor por mim contra os poderosos.
14 De Efraim desceram os que tinham a sua raiz em Amaleque, após ti, Benjamim, entre os teus povos; de Maquir desceram os guias, e de Zebulom os que levam o báculo do inspetor de tropas.
15 Também os príncipes de Issacar estavam com Débora; e como Issacar, assim também Baraque; ao vale precipitaram-se em suas pegadas. Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções do coração.
16 Por que ficastes entre os currais a escutar os balidos dos rebanhos? Junto aos ribeiros de Rúben grandes foram as resoluções do coração.
17 Gileade ficou da banda dalém do Jordão; e Dã, por que se deteve com seus navios? Aser se assentou na costa do mar e ficou junto aos seus portos.
18 Zebulom é um povo que se expôs à morte, como também Naftali, nas alturas do campo.
19 Vieram reis e pelejaram; pelejaram os reis de Canaã, em Taanaque junto às águas de Megido; não tomaram despojo de prata.
20 Desde os céus pelejaram as estrelas; desde as suas órbitas pelejaram contra Sísera.
21 O ribeiro de Quisom os arrastou, aquele antigo ribeiro, o ribeiro de Quisom. Ó minha alma, calcaste aos pés a força.
22 Então os cascos dos cavalos feriram a terra na fuga precipitada dos seus valentes.
23 Amaldiçoai a Meroz, diz o anjo do Senhor, amaldiçoai acremente aos seus habitantes; porquanto não vieram em socorro do Senhor, em socorro do Senhor, entre os valentes.
24 Bendita entre todas as mulheres será Jael, mulher de Heber, o queneu; bendita será entre as mulheres nômades.
25 Água pediu ele, leite lhe deu ela; em taça de príncipes lhe ofereceu coalhada.
26 À estaca estendeu a mão esquerda, e ao martelo dos trabalhadores a direita, e matou a Sísera, rachando-lhe a cabeça; furou e traspassou-lhe as fontes.
27 Aos pés dela ele se encurvou, caiu, ficou estirado; aos pés dela se encurvou, caiu; onde se encurvou, ali caiu morto.
28 A mãe de Sísera olhando pela janela, através da grade exclamava: Por que tarda em vir o seu carro? por que se demora o rumor das suas carruagens?
29 As mais sábias das suas damas responderam, e ela respondia a si mesma:
30 Não estão, porventura, achando e repartindo os despojos? uma ou duas donzelas a cada homem? para Sísera despojos de estofos tintos, despojos de estofos tintos bordados, bordados de várias cores, para o meu pescoço?
31 Assim ó Senhor, pereçam todos os teus inimigos! Sejam, porém, os que te amam, como o sol quando se levanta na sua força.
32 E a terra teve sossego por quarenta anos.” (Jz 5.1-32).

Gideão – Parte 1 – Juízes 6



Nós vemos no final do capítulo anterior (5º do livro de Juizes), que depois da libertação operada por Deus através de Débora e Baraque, houve paz em Israel por quarenta anos. Mas depois deste período os israelitas voltaram a ser sujeitados pelo Senhor a uma nova opressão, agora da parte dos midianitas, que durou sete anos.
Das experiências vividas por Israel, reveladas na Palavra, o salmista havia aprendido o que afirma no Sl 18.25-27: “25 Para com o benigno te mostras benigno, e para com o homem perfeito te mostras perfeito. 26 Para com o puro te mostras puro, e para com o perverso te mostras contrário. 27 Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos altivos tu os abates.”. E estas opressões e livramentos sucessivos que ocorreram no período de Juízes bem ilustram esta verdade, que se aplica inclusive às pessoas do próprio povo de Deus.  
E, então em Juízes 6, nós vemos que o Senhor entregou Israel a um povo ignorante, inculto, uma turba que não possuía qualquer rei ou general regulares, e foram tais pessoas que sujeitaram Israel como uma turba indisciplinada, tornando ainda maior a vergonha e o opróbrio dos israelitas, que sendo um povo vocacionado para conquistar e dominar, estava sendo sujeitado por um bando de vândalos que não eram uma força organizada, e por isso se diz deles o que lemos no versos 4 e 5 : “4 e, acampando-se contra ele, destruíam o produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas; vinham em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam na terra, para a destruir.”.
E aproveitando-se da fragilidade de Israel os amalequitas (v. 3) sempre se coligavam aos seus opressores, pois era um povo que desde a saída do Egito, agia covardemente contra os israelitas, razão pela qual Deus mandou que se registrasse no livro da Lei que Ele destruiria os amalequitas totalmente, no tempo certo e determinado, quando estivesse completada a medida da iniquidade deles, e isto foi feito nos dias do rei Saul. 
Tal era a carnificina e pilhagem que os midianitas faziam em Israel que o povo tinha que fazer covas, cavernas e fortalezas nos montes para se proteger dos ataques dos seus inimigos. Quando o povo do Senhor anda contrariamente com ele fica de tal modo enfraquecido, intimidado e acovardado, que diante das investidas dos espíritos das trevas não tem outra alternativa senão a de viver acuado, até que se arrependa dos seus pecados e volte a ter o braço forte do Senhor amarrando o valente e  pelejando por eles as batalhas espirituais que têm que empreender continuamente contra os poderes das trevas.            
O que os israelitas juntaram e as riquezas que acumularam vieram a se tornar espólio para os seus inimigos. O que eles haviam obtido no seu obstinado desejo de enriquecer, negligenciando totalmente o tempo que deveriam dedicar a Deus, serviu somente para o empobrecimento deles e enriquecimento daqueles que os pilhavam.
Aquilo que o homem juntar, enriquecendo, à custa de se empobrecer para com Deus na graça que deveria estar recebendo dele, ouro fino para enriquecer e colírio para que veja, e vestes dignas para cobrir a sua nudez espiritual, acabará por fim sendo também perdido porque nada levaremos deste mundo conosco na nossa morte. E o que juntamos, para quem será? Não importa para quem seja, porque certamente para nós mesmos não será de modo nenhum. Então aquilo que entesouramos para nós mesmos não será de qualquer valor para nós e em nada poderá nos recomendar a Deus, porque estas coisas não têm qualquer valor para Ele, se não forem empregadas nos interesses do Seu reino.
O que os israelitas semeavam eles não chegavam a colher e a desfrutar, porque os midianitas vinham e furtavam. Eles não honraram a Deus com as primícias de suas colheitas, e procurando tudo reter para si, acabaram ficando com nada. A justiça de Deus estava castigando o pecado deles, porque estavam oferecendo suas ofertas a Baal, e da parte de Baal não poderiam esperar receber qualquer bênção. Quando eles perceberam que a adoração a Baal estava lhes arruinando, e que Baal jamais os ajudaria, eles clamaram ao Senhor (v. 6).     
Antes de o anjo do Senhor vir ter com os israelitas, em resposta ao clamor que fizeram, foi enviado um profeta para reprovar o pecado deles e conduzi-los ao arrependimento (v. 8).   
Não é dito qual foi o efeito da repreensão de Deus pela boca do profeta, mas certamente teve um bom resultado porque é citado imediatamente o anúncio da libertação deles pela chamada de Gideão (v. 11). E esta foi feita pelo anjo do Senhor, o mesmo anjo da aliança que apareceu a Josué e vinha conduzindo Israel desde o Egito, e como vimos antes, tratava-se do próprio Jesus numa teofania, porque é afirmado a respeito dele, que era Jeová (v. 14, 16).
Foi quando Gideão estava só que o anjo lhe falou. A solidão ajuda nossa comunhão com Deus, porque é comum que Ele nos fale quando estamos longe do barulho e pressa deste mundo. 
O anjo o chamou de homem valoroso e disse que Deus era com ele. Se a presença do Senhor é conosco, esta é a garantia de que seremos bem sucedidos contra os nossos inimigos e nos confirmará no nosso trabalho. Deus estaria com Gideão para o fortalecer, instruir, animar e apoiar (v. 3). Se Deus é por nós, quem será contra nós, conforme afirma o apóstolo Paulo? Gideão era um homem valoroso mas nada poderia fazer sem a presença de Deus, e assim como ele, qualquer um de nós que estivermos empenhados por Ele no Seu serviço.
Gideão deu uma resposta melancólica ao anjo: “Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.”. Gideão era valoroso, mas quão pequena era ainda a fé dele e o seu conhecimento da justiça e santidade de Deus. Ele tinha a fé de que Deus agira no passado, mas não considerava que as maravilhas de Deus estão associadas à santidade que lhe é devida. Ele esperava que os israelitas fossem continuamente abençoados pelo simples fato de serem israelitas. E assim também muitos cristãos que não conhecem ao Senhor e à Sua justiça, santidade e vontade, pensam que Deus está obrigado a abençoá-los continuamente pelo simples fato de serem cristãos, sem levar em conta o testemunho de vida deles. A intimidade do Senhor é para aqueles que conhecem a Sua vontade. A plenitude de Cristo é para aqueles que guardam a Sua Palavra e que têm real compromisso com Ele. Esta é a bênção principal que Deus almeja para todos os seus filhos, a saber, que sejam participantes da Sua santidade, e é em razão disso que os disciplina.
Aqueles que se submetem à disciplina do Senhor conhecerão a plenitude da Sua graça, porque isto está reservado somente para aqueles que conhecem a Sua vontade e a obedecem. Muitos cristãos, em sua ignorância dos caminhos e vontade de Deus, e mesmo, muitas vezes em seu comportamento desordenado, pelo desconhecimento do Deus deles e da Sua vontade, são alvo da misericórdia, bondade e longanimidade do Senhor, que está trabalhando pacientemente neles, procurando levá-los ao conhecimento da profundidade da graça e do amor de Cristo, mas isto não pode ser considerado como participação deles da plenitude que está reservada para aqueles que têm suas faculdades exercitadas para discernir tanto o bem quanto o mal. Por isso se ordena a todos os cristãos que tenham completa diligência em prosseguirem no conhecimento do Senhor e no desenvolvimento da sua salvação, para que não sejam meninos em Cristo, mas varões amadurecidos e prontos para toda boa obra.    
E para provar a Gideão que Deus estava de fato agindo em favor do seu povo, o anjo lhe deu a comissão de libertar Israel dos midianitas e lhe assegurou completo sucesso (v. 14), e para fortalecer o espírito de Gideão deu-lhe a missão de confrontar o erro e a causa da miséria de Israel, determinando que ele derrubasse o altar de Baal que havia sido construído pelo seu pai. Ele estava sendo movido a provar que o seu amor a Deus era maior que ao seu pai, e a expor a sua própria vida pela causa da verdade, contendendo contra os inimigos de Deus que se encontravam no meio do seu próprio povo. Ele protestaria com aquele gesto contra a idolatria de toda a nação, simbolizando o rompimento dos israelitas com Baal, para que pudessem retornar ao Senhor e serem aceitos por Ele.
E Gideão seguiu as ordens e instruções do anjo e executou fielmente tudo o que lhe foi ordenado, e como era de se esperar houve uma grande reação da parte dos adoradores de Baal, que pediram a seu pai que lhe entregassem a Gideão para que o matassem (v. 30).
Mas o sentimento paterno falou mais alto, e o pai de Gideão lhes disse que se Baal era de fato deus ele contenderia por si mesmo contra Gideão. E por isso aqueles homens desistiram do seu intento, e permanecendo em sua fé cega num falso deus, a confirmaram apelidando a Gideão de Jerubaal, que significa Baal contenderá, na expectativa de que Baal se vingaria do que havia sido feito contra ele. 
Ainda que fazendo o serviço que lhe fora designado à noite, por temer fazê-lo durante o dia, Gideão passou na prova de obediência às ordens que recebeu da parte do Senhor, e tendo os midianitas mais uma vez se coligado aos amalequitas e a outros habitantes daquela região, ajuntarem-se em ordem de batalha contra Israel, mas o Espírito do Senhor veio sobre Gideão e o fortaleceu e o animou a convocar os israelitas para pelejarem contra eles, tendo sido convocadas as tribos de Aser, Naftali e Zebulom, que se juntaram aos homens de Manassés.
Mas Gideão queria ter a plena certeza de que o Senhor seria com ele naquela ocasião e fez o famoso teste do velo de lã, para saber que o Deus dos milagres e maravilhas estaria de fato pelejando por eles conforme havia prometido. De fato somente um milagre divino poderia realizar o que Gideão havia proposto, pois sabemos que o orvalho que cai  num ponto determinado, nunca  deixa de cair neste mesmo ponto enquanto cai ao redor, pois cai homogênea e simultaneamente sobre todas as partes de uma área considerável. Assim se a lã molhasse enquanto ao seu redor tudo permanecesse seco, e depois, se somente a lã ficasse seca e tudo ao seu redor ficasse molhado, não haveria qualquer sombra de dúvida que fora a mão do Senhor que o fizera.
Gideão já havia tido antes a prova de que a comissão que recebera lhe fora dada por um ser celestial, porque o sacrifício que apresentara ao anjo foi consumido por um fogo sobrenatural quando ele tocou com o seu cajado no mesmo, e isto foi reconhecido por Gideão que de fato quem lhe falara era um anjo do céu.  Além disso, com a consumação do sacrifício que ele ofereceu por meio do fogo divino, ficava atestada a sua aceitação por Deus para ser o libertador do seu povo, uma vez que havia aceito o sacrifício que ele lhe apresentara.   
A Gideão foi ordenado que erigisse um altar ao Senhor e que nele apresentasse em holocausto, um dos dois bois que seriam usados para derrubar o altar de Baal, e a madeira da Aserá que estava debaixo do altar de Baal deveria ser usada para queimar o sacrifício. Assim, antes de fazer guerra aos midianitas, primeiro deveria ser celebrada a comunhão e paz com Deus. Não podemos prevalecer contra o diabo se não estivermos em paz com o Senhor e se não tivermos por conseguinte a Sua presença conosco.
Como um tipo de Cristo Gideão teria que primeiro salvar o seu povo do próprio pecado deles, para que então pudessem prevalecer contra os seus inimigos. Daí ter recebido tais instruções da parte do Senhor, antes de se colocar em ordem de batalha contra os midianitas.


“1 Mas os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, e o Senhor os entregou na mão de Midiã por sete anos.
2 Prevalecia, pois, a mão de Midiã sobre Israel e, por causa de Midiã, fizeram os filhos de Israel para si as covas que estão nos montes, as cavernas e as fortalezas.
3 Porque sucedia que, havendo Israel semeado, subiam contra ele os midianitas, os amalequitas e os filhos do oriente;
4 e, acampando-se contra ele, destruíam o produto da terra até chegarem a Gaza, e não deixavam mantimento em Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos.
5 Porque subiam com os seus rebanhos e tendas; vinham em multidão, como gafanhotos; tanto eles como os seus camelos eram inumeráveis; e entravam na terra, para a destruir.
6 Assim Israel se enfraqueceu muito por causa dos midianitas; então os filhos de Israel clamaram ao Senhor.
7 E sucedeu que, clamando eles ao Senhor por causa dos midianitas,
8 enviou-lhes o Senhor um profeta, que lhes disse: Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Do Egito eu vos fiz subir, e vos tirei da casa da servidão;
9 livrei-vos da mão dos egípcios, e da mão de todos quantos vos oprimiam, e os expulsei de diante de vós, e a vós vos dei a sua terra.
10 Também eu vos disse: Eu sou o Senhor vosso Deus; não temais aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais. Mas não destes ouvidos à minha voz.
11 Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se debaixo do carvalho que estava em Ofra e que pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar para o esconder dos midianitas.
12 Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso.
13 Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.
14 Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu?
15 Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com que livrarei a Israel? eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.
16 Tornou-lhe o Senhor: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás aos midianitas como a um só homem.
17 Prosseguiu Gideão: Se agora tenho achado graça aos teus olhos, dá-me um sinal de que és tu que falas comigo.
18 Rogo-te que não te apartes daqui até que eu volte trazendo do meu presente e o ponha diante de ti. Respondeu ele: Esperarei até que voltes.
19 Entrou, pois, Gideão, preparou um cabrito e fez, com uma efa de farinha, bolos ázimos; pôs a carne num cesto e o caldo numa panela e, trazendo para debaixo do carvalho, lho apresentou.
20 Mas o anjo de Deus lhe disse: Toma a carne e os bolos ázimos, e põe-nos sobre esta rocha e derrama-lhes por cima o caldo. E ele assim fez.
21 E o anjo do Senhor estendeu a ponta do cajado que tinha na mão, e tocou a carne e os bolos ázimos; então subiu fogo da rocha, e consumiu a carne e os bolos ázimos; e o anjo do Senhor desapareceu-lhe da vista.
22 Vendo Gideão que era o anjo do Senhor, disse: Ai de mim, Senhor Deus! pois eu vi o anjo do Senhor face a face.
23 Porém o Senhor lhe disse: Paz seja contigo, não temas; não morrerás.
24 Então Gideão edificou ali um altar ao Senhor, e lhe chamou Jeová-Shalom; e ainda até o dia de hoje está o altar em Ofra dos abiezritas.
25 Naquela mesma noite, disse o Senhor a Gideão: Toma um dos bois de teu pai, a saber, o segundo boi de sete anos, e derriba o altar de Baal, que é de teu pai, e corta a asera que está ao pé dele.
26 Edifica ao Senhor teu Deus um altar no cume deste lugar forte, na forma devida; toma o segundo boi, e o oferece em holocausto, com a lenha da asera que cortares
27 Então Gideão tomou dez homens dentre os seus servos, e fez como o Senhor lhe dissera; porém, temendo ele a casa de seu pai e os homens daquela cidade, não o fez de dia, mas de noite.
28 Levantando-se, pois, os homens daquela cidade, de madrugada, eis que estava o altar de Baal derribado, cortada a asera que estivera ao pé dele, e o segundo boi oferecido no altar que fora edificado.
29 Pelo que disseram uns aos outros: Quem fez isto? E, depois de investigarem e inquirirem, disseram: Gideão, filho de Joás, é quem fez isto.
30 Então os homens daquela cidade disseram a Joás: Tira para fora teu filho, para que morra, porque derribou o altar de Baal e cortou a asera que estava ao pé dele.
31 Joás, porém, disse a todos os que se puseram contra ele: Contendereis vós por Baal? livrá-lo-eis vós? Qualquer que por ele contender, ainda esta manhã será morto; se ele é deus, por si mesmo contenda, pois foi derribado o seu altar.
32 Pelo que naquele dia chamaram a Gideão Jerubaal, dizendo: Baal contenda contra ele, pois derribou o seu altar.
33 Então todos os midianitas, os amalequitas e os filhos do oriente se ajuntaram e, passando o Jordão, acamparam no vale de Jizreel.
34 Mas o Espírito do Senhor apoderou-se de Gideão; e tocando ele a trombeta, os abiezritas se ajuntaram após ele.
35 E enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, que também se ajuntou após ele; e ainda enviou mensageiros a Aser, a Zebulom e a Naftali, que lhe saíram ao encontro.
36 Disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste,
37 eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar enxuta, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste.
38 E assim foi; pois, levantando-se de madrugada no dia seguinte, pegou o velo, e espremeu dele o orvalho, que encheu uma taça.
39 Disse mais Gideão a Deus: Não se acenda contra mim a tua ira se ainda falar só esta vez. Permite que só mais esta vez eu faça prova com o velo; rogo-te que só o velo fique enxuto, e em toda a terra haja orvalho.
40 E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo estava enxuto, e sobre toda a terra havia orvalho.” (Jz 6.1-40).

Gideão – Parte 2 – Juízes 7



Estando convicto de que Deus se encarregaria de conduzir a bom termo a guerra de Israel contra os midianitas, Gideão se dispôs a convocar os israelitas para a batalha.
Quando Deus vai adiante de nós, é então também nosso dever nos movermos e realizar as ações necessárias para que se cumpra tudo O que Ele prometeu (II Sm 5.24,25).
E, nós vemos no 7º capitulo de Juízes, que se juntaram a Gideão 32.000 homens, e este era um exército pequeno comparado com o dos midianitas.
É provável que Gideão tenha pensado portanto que eram muito poucos homens para combater o grande exército inimigo, mas Deus lhe disse que eles eram muitos (v. 2), sendo a maioria inútil, desnecessária e que iria até mesmo atrapalhar os Seus planos, conforme seria demonstrado a Gideão, pois tendo lhe ordenado que enviasse de volta para casa os homens medrosos e tímidos, vinte e dois mil deles se apresentaram tendo ficado apenas dez mil homens. Eram vinte e dois mil que não confiavam no Senhor, que não tinham fé no que Ele havia prometido, pois temeram ser derrotados pelos midianitas e por isso voltaram de bom grado para suas casas. E caso o Senhor tivesse derrotado o inimigo com tais homens, pela falta de fé deles, certamente não tributariam a honra e a glória devidas a Deus pela vitória alcançada, posto que não criam nEle com uma genuína fé que é viva e operante, e que por conseguinte se traduz em obras. 
E conhecendo o orgulho que está no coração dos homens, Ele sempre conduzirá aqueles que O servem à humildade, revelando-lhes que se quisesse poderia dispensá-los e fazer toda a Sua vontade sem o auxílio deles. E para que todo aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor, e toda boca permaneça calada diante dEle, reconhecendo que a Sua Obra  somente Ele próprio pode realizar, sendo nós apenas seus cooperadores. De fato quem pode por si mesmo justificar, regenerar, santificar, glorificar, resgatar das mãos do diabo, livrar da condenação e da maldição da lei, uma só alma que seja? Do que nos gloriaremos então em nós mesmos quando pessoas são convertidas das trevas para luz, e do poder de Satanás para Deus?  
Assim aqueles vinte e dois mil que não tinham o verdadeiro temor do Senhor jamais tributariam a vitória à força do Seu poderoso braço, senão à própria força deles. Ainda que isto seja paradoxal é a mais pura realidade, que o fraco e medroso glorie-se nos seus próprios feitos quando é bem sucedido em algo. O sábio e verdadeiramente forte, instruído pelo Espírito Santo, gloriar-se-á sempre no Senhor, pois sabe que é somente pelo poder da graça de Jesus, mediante operação do Espírito Santo, que podemos ser capacitados a enfrentar a morte de frente, com paz em nossa alma, enquanto a encaramos cara a cara. Tal como se lê em Apocalipse 12.11:” E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte.”.    
A terça parte que ficara do exército de Gideão seria também reduzida pelo Senhor em proporções consideráveis, porque daqueles dez mil homens corajosos e que criam na promessa de Deus, apenas trezentos seriam considerados aptos para a batalha, de modo que Deus fosse glorificado por meio deles, pela sua estrita obediência a tudo que lhes fosse ordenado. Assim não é apenas a coragem e a boa disposição em desejar fazer a obra de Deus que nos qualifica para ela. É preciso mais do que isto, conforme seria feito por Deus com aqueles homens através de Gideão. É possível ter coragem e desejo de se fazer a obra de Deus, mas não a devida renúncia a si mesmo, aos interesses pessoais, e por se estar mais interessado no próprio conforto e descanso do que em se gastar nas muitas dificuldades que teriam que ser enfrentadas ao fazer a obra de Deus. Pessoas que podem suportar longas e continuadas fadigas e sofrimentos por amor a Cristo, sem reclamar de sede, fome, cansaço, são aquelas que têm melhores condições de serem bem sucedidas no serviço de Deus. E é bem provável que através do teste do modo como aqueles dez mil beberiam água, Deus estivesse se provendo de pessoas com as características apontadas, e apenas trezentos foram achado qualificados. Não é sem razão que são exigidas várias qualificações aos candidatos ao ministério, quer sejam aqueles que aspiram ao diaconato ou ao episcopado, conforme se vê sobretudo nas epístolas Pastorais. E é bem notório que nem todos os cristãos possuem as habilidades necessárias para o desempenho de tais ofícios, especialmente pela falta desta disponibilidade real e efetiva em servir sob quaisquer circunstâncias.     
E certamente grande era a fé de Gideão e dos seus trezentos homens, porque se dispor a enfrentar milhares de midianitas com apenas aquele tão pequeno exército exigia uma confiança total e firme em Deus e em Sua promessa de que lhes daria a vitória.
 E de fato o Senhor interviu em favor do seu povo, pois deu um sonho a um dos midianitas para que fosse contado e espalhado entre eles. E o sonho era aterrorizante, porque prenunciava a derrota deles por meio do exército de Gideão. E o fato de terem sabido que Gideão havia destruído o altar de Baal e que nada lhe havia acontecido deve ter aumentado ainda mais o temor deles, porque viram nisto que o Deus de Israel estava voltando a ser favorável a seu povo e a lutar miraculosamente por eles, tal como fizera tantas vezes no passado. E eles muito temeram ao ponto de entrarem em grande conturbação de mente e de espírito, ferindo-se mutuamente, enquanto fugiam atemorizados diante do toque de trombetas dos trezentos de Gideão, do grito deles: “A espada  do Senhor e de Gideão”, dando assim cumprimento à interpretação que foi dada ao sonho do midianita de que era a espada de Gideão que os destruiria, ao mesmo tempo que quebravam os cântaros no interior dos quais haviam tochas acesas, dando a impressão de um ataque inesperado, com o surgimento de toda aquela luz na escuridão, porque Gideão havia divido os trezentos em três companhias de cem homens cada, isto pareceu aos midianitas um exército inumerável que avançava sobre eles.  
Com isto a glória do Senhor seria estabelecida e todos os descristãos de Israel teriam que se dobrar à evidência do que Deus havia feito, e os israelitas vacilantes recobrariam a fé e a confiança no Seu Deus e muitos deles se disporiam a pelejar contra os midianitas. Mesmo assim, como veremos no capitulo seguinte, houve duas cidades que não creram nas operações de Deus e que este pelejava por Israel por meio de Gideão, e se recusaram a dar alimento aos homens que estavam empenhados na perseguição aos midianitas, afirmando que não o fariam porque não estavam vendo nenhum midianita submetido nas mãos de Gideão. As cidades de Cafarnaum, Betsaida e Corazim também não creram em Jesus apesar dos muitos milagres que Ele vinha operando em todo o território de Israel, e seus habitantes foram por isso, duramente repreendidos pelo Senhor.       
E aderiram à perseguição aos midianitas tanto as tribos de Aser, Naftali e Efraim (v.23,24). 
E os efraimitas mataram a Orebe e a Zeebe, dois príncipes midianitas, cujas cabeças levaram a Gideão, e nós veremos logo no início do capitulo seguinte, que nesta ocasião em vez de se congratularem com Gideão, eles o repreenderam com amargor de espírito sob a alegação de que não lhes havia chamado para guerrear juntamente com ele, quando foram iniciadas as ações de guerra contra os midianitas. A tribo de Efraim, juntamente com a de Manassés, à qual pertencia Gideão, compunham a casa de José, pois eram formadas de pessoas que eram descendentes deste patriarca, e segundo a profecia de Jacó, Efraim seria maior do que Manassés, apesar deste último ser o primogênito de José, e assim é possível que eles tivessem sido movidos na ocasião por um sentimento de superioridade carnal, pelo fato de em tendo a primazia, a tribo de Manassés, representada na pessoa de Gideão e seus trezentos, tomou-lhe a dianteira sem lhe consultar na guerra que travariam contra os midianitas. Mas Gideão contornou a situação como se pode ver nos versos 2 e 3 do capitulo oitavo, falando-lhes com humildade, o que lhes apaziguou, por satisfazer a vaidade e sentimento de superioridade deles.   

“1 Então Jerubaal, que é Gideão, e todo o povo que estava com ele, levantando-se de madrugada acamparam junto à fonte de Harode; e o arraial de Midiã estava da banda do norte, perto do outeiro de Moré, no vale.
2 Disse o Senhor a Gideão: O povo que está contigo é demais para eu entregar os midianitas em sua mão; não seja caso que Israel se glorie contra mim, dizendo: Foi a minha própria mão que me livrou.
3 Agora, pois, apregoa aos ouvidos do povo, dizendo: Quem for medroso e tímido volte, e retire-se do monte Gileade. Então voltaram do povo vinte e dois mil, e dez mil ficaram.
4 Disse mais o Senhor a Gideão: Ainda são muitos. Faze-os descer às águas, e ali os provarei; e será que, aquele de que eu te disser: Este irá contigo, esse contigo irá; porém todo aquele de que eu te disser: Este não irá contigo, esse não irá.
5 E Gideão fez descer o povo às águas. Então o Senhor lhe disse: Qualquer que lamber as águas com a língua, como faz o cão, a esse porás de um lado; e a todo aquele que se ajoelhar para beber, porás do outro.
6 E foi o número dos que lamberam a água, levando a mão à boca, trezentos homens; mas todo o resto do povo se ajoelhou para beber.
7 Disse ainda o Senhor a Gideão: Com estes trezentos homens que lamberam a água vos livrarei, e entregarei os midianitas na tua mão; mas, quanto ao resto do povo, volte cada um ao seu lugar.
8 E o povo tomou na sua mão as provisões e as suas trombetas, e Gideão enviou todos os outros homens de Israel cada um à sua tenda, porém reteve os trezentos. O arraial de Midiã estava embaixo no vale.
9 Naquela mesma noite disse o Senhor a Gideão: Levanta-te, e desce contra o arraial, porque eu o entreguei na tua mão.
10 Mas se tens medo de descer, vai com o teu moço, Purá, ao arraial;
11 ouvirás o que dizem, e serão fortalecidas as tuas mãos para desceres contra o arraial. Então desceu ele com o seu moço, Purá, até o posto avançado das sentinelas do arraial.
12 Os midianitas, os amalequitas, e todos os filhos do oriente jaziam no vale, como gafanhotos em multidão; e os seus camelos eram inumeráveis, como a areia na praia do mar.
13 No momento em que Gideão chegou, um homem estava contando ao seu companheiro um sonho, e dizia: Eu tive um sonho; eis que um pão de cevada vinha rolando sobre o arraial dos midianitas e, chegando a uma tenda, bateu nela de sorte a fazê-la cair, e a virou de cima para baixo, e ela ficou estendida por terra.
14 Ao que respondeu o seu companheiro, dizendo: Isso não é outra coisa senão a espada de Gideão, filho de Joás, varão israelita. Na sua mão Deus entregou Midiã e todo este arraial.
15 Quando Gideão ouviu a narração do sonho e a sua interpretação, adorou a Deus; e voltando ao arraial de Israel, disse: Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o arraial de Midiã.
16 Então dividiu os trezentos homens em três companhias, pôs nas mãos de cada um deles trombetas, e cântaros vazios contendo tochas acesas,
17 e disse-lhes: Olhai para mim, e fazei como eu fizer; e eis que chegando eu à extremidade do arraial, como eu fizer, assim fareis vós.
18 Quando eu tocar a trombeta, eu e todos os que comigo estiverem, tocai também vós as trombetas ao redor de todo o arraial, e dizei: Pelo Senhor e por Gideão!
19 Gideão, pois, e os cem homens que estavam com ele chegaram à extremidade do arraial, ao princípio da vigília do meio, havendo sido de pouco colocadas as guardas; então tocaram as trombetas e despedaçaram os cântaros que tinham nas mãos.
20 Assim tocaram as três companhias as trombetas, despedaçaram os cântaros, segurando com as mãos esquerdas as tochas e com as direitas as trombetas para as tocarem, e clamaram: A espada do Senhor e de Gideão!
21 E conservou-se cada um no seu lugar ao redor do arraial; então todo o exército deitou a correr e, gritando, fugiu.
22 Pois, ao tocarem os trezentos as trombetas, o Senhor tornou a espada de um contra o outro, e isto em todo o arraial, e fugiram até Bete-Sita, em direção de Zererá, até os limites de Abel-Meolá, junto a Tabate.
23 Então os homens de Israel, das tribos de Naftali, de Aser e de todo o Manassés, foram convocados e perseguiram a Midiã.
24 Também Gideão enviou mensageiros por toda a região montanhosa de Efraim, dizendo: Descei ao encontro de Midiã, e ocupai-lhe as águas até Bete-Bara, e também o Jordão. Convocados, pois todos os homens de Efraim, tomaram-lhe as águas até Bete-Bara, e também o Jordão;
25 e prenderam dois príncipes de Midiã, Orebe e Zeebe; e mataram Orebe na penha de Orebe, e Zeebe mataram no lagar de Zeebe, e perseguiram a Midiã; e trouxeram as cabeças de Orebe e de Zeebe a Gideão, além do Jordão.”. (Jz 7.1-25)