“1 O
anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos
trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse:
Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e,
quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis
os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo
que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais
espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.
4 Tendo
o anjo do Senhor falado estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo
levantou a sua voz e chorou.
5 Pelo
que chamaram àquele lugar Boquim; e ali sacrificaram ao Senhor.
6
Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um para a
sua herança, a fim de possuírem a terra.
7 O
povo serviu ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que
sobreviveram a Josué e que tinham visto toda aquela grande obra do Senhor, a
qual ele fizera a favor de Israel.
8
Morreu, porém, Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez
anos;
9 e o
sepultaram no território da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa
de Efraim, para o norte do monte Gaás.
10 Foi
também congregada toda aquela geração a seus pais, e após ela levantou-se outra
geração que não conhecia ao Senhor, nem tampouco a obra que ele fizera a
Israel.
11
Então os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, servindo
aos baalins;
12
abandonaram o Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e
foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos que havia ao redor
deles, e os adoraram; e provocaram o Senhor à ira,
13
abandonando-o, e servindo a baalins e astarotes.
14 Pelo
que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os entregou na mão dos
espoliadores, que os despojaram; e os vendeu na mão dos seus inimigos ao redor,
de modo que não puderam mais resistir diante deles.
15 Por
onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para o mal, como o Senhor
tinha dito, e como lho tinha jurado; e estavam em grande aflição.
16 Mas
o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam.
17
Contudo, não deram ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após
outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde
andaram seus pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como
eles.
18
Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão
dos seus inimigos todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia
deles em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam.
19 Mas
depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais,
andando após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma
das suas práticas, nem a sua obstinação.
20 Pelo
que se acendeu contra Israel a ira do Senhor, e ele disse: Porquanto esta nação
violou o meu pacto, que estabeleci com seus pais, não dando ouvidos à minha
voz,
21 eu
não expulsarei mais de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou quando
morreu;
22 a
fim de que, por elas, ponha a prova Israel, se há de guardar, ou não, o caminho
do Senhor, como seus pais o guardaram, para nele andar.
23
Assim o Senhor deixou ficar aquelas nações, e não as desterrou logo, nem as
entregou na mão de Josué.” (Jz 2.1-23).
Este
capítulo é uma síntese de tudo o que é narrado neste livro de Juízes.
Ele é
uma preparação para tudo o que será dito daqui em diante.
Ele
cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos
posteriores, com exceção dos cinco últimos capítulos que se referem a um
período anterior ao dos juízes.
A
narrativa se inicia com o anjo do Senhor repreendendo duramente os israelitas,
pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes foram designados por
sortes, nos dias de Josué, e pelo fato de terem se acomodado e se misturado aos
cananeus.
Nos
versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia ao
Senhor, e fez o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos cananeus e
fazendo as mesmas práticas abomináveis deles.
O que
havia ocorrido com o povo de Israel é o mesmo que ocorre com a Igreja dos
nossos dias.
A
condição de todo o período coberto pela narrativa do livro de Juízes, o qual
durou aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos
versos 14 a 23.
Nestes
versos está revelado claramente que o motivo de estarmos enfraquecidos diante
de nossos inimigos espirituais e sujeitados a sermos pisados pelos homens, como
sal que perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da
Sua Palavra.
A
comunhão com Deus, garantida por um andar no Espírito Santo, fazendo aquilo que
Ele nos tem ordenado na Bíblia e em relação à Sua vontade específica, no que se
relaciona ao viver diário, especialmente o que diz respeito às coisas
pertinentes ao ministério, que recebemos dEle para cumprir, é o modo de se ter
uma vida verdadeiramente próspera e sermos mais do que vencedores, por meio de
Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
Quando
nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da
aliança, que temos com Ele, por iniciativa e autoridade dEle próprio, que nos
deixa à mercê da opressão dos nossos inimigos, para que seja produzido em nós o
devido arrependimento.
Quando
este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, Ele se apressa
em socorrer-nos, voltando a nos conceder a Sua graça e poder, para sermos
fortalecidos e podermos voltar a andar na Sua presença.
Deus é
santo, e sem a santidade que Ele mesmo nos confere, por meio do Espírito Santo,
é impossível estar em comunhão com Ele.
Por
isso necessitamos da Sua graça, para que operando em nós, de forma a nos
conceder um coração segundo o Seu coração, possamos retornar à comunhão.
Então
nós vemos declarado na Palavra de Deus que era
Ele próprio que entregava Israel nas mãos dos seus inimigos, e que
também, por Sua própria deliberação, decidiu que não desapossaria mais aquelas
nações da presença de Israel, para que por meio delas pudesse provar a
fidelidade do Seu povo, em não se deixar levar pelas suas práticas abomináveis,
e permanecerem fiéis, na guarda dos Seus mandamentos.
Por
meio da permanência de muitas daquelas nações seria provado até que ponto
Israel buscaria uma vida autêntica de fé e obediência, de modo que se pudesse
provar através disso que estavam de fato fazendo a vontade de Deus, pois não
havia outra maneira de terem sucesso sobre os seus inimigos.
Isto
ensina claramente que não se vence o diabo com religiosidade desprovida de
verdadeira comunhão com Deus, porque é se sujeitando a Ele e à Sua vontade, que
vencemos o diabo e todas as suas hostes.
Em
outras palavras: a vitória sobre as forças do inimigo decorre de um caminhar na
presença do Senhor.
É
sujeitando-se a Deus, mediante prática da Sua Palavra, que o diabo foge de
nós.
Mas não
era isto o que se via nas sucessivas gerações de Israel.
Deus
havia formado um povo exclusivamente seu a partir de Abraão, para o propósito
de preservar a vida do homem na terra. Porque pelo modo santo com que deveriam
viver revelariam que a prática da justiça divina preserva e traz prosperidade,
mas a prática do mal, não somente destrói pessoas e nações, como também atrai
os juízos condenatórios do Senhor.
E isto
estava sendo observado de modo prático nos dias do Velho Testamento, através
das assolações que Deus estava trazendo sobre as nações pagãs, como sobre o
próprio povo de Israel, quando este também se encontrava debaixo das mesmas
práticas abomináveis daquelas nações.
Em vez de serem distintos das nações de Canaã,
pelo cumprimento de tudo que lhes foi ordenado na Lei de Moisés, se misturavam
às práticas daquelas nações, e perdiam a sua identidade distintiva de povo do
Senhor, porque quando se mistura água com vinho, o resultado é uma mistura
homogênea, e não dá mais para se distinguir quem é a água e quem é o vinho.
Mas
quando se mistura água com azeite, o azeite há de ficar por cima da água e não
se misturará a ela.
É pois
somente estando cheios do azeite que simboliza o Espírito Santo, e andando
nEle, que apesar de estarmos no mundo e termos que nos relacionar com as
pessoas que são dele, com vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por nosso
bom testemunho de vida, não nos misturaremos jamais às coisas deste mundo e ao
pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál 5.16: “Andai no Espírito e jamais
satisfareis aos desejos da carne.”.
Assim,
nós podemos concluir que a razão da repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos
israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a esta mistura com as
práticas dos povos de Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa em
combater os cananeus, para se apossarem das terras que lhes foram designadas
por sortes.
O anjo
do Senhor vinha lhes acompanhando desde a saída do Egito, e declara isto nas
palavras dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto que haviam feito
com Deus, de guardarem todos os Seus mandamentos, pois lhes estava ajudando a
cumprirem tudo que lhes havia sido ordenado, especialmente no que se referia a
prevalecerem contra os seus inimigos, mas manifestou o Seu desagrado diante do
seu recuo em fazerem a vontade de Deus,
com as seguintes palavras:
“1 O
anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos
trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse:
Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e,
quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis
os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo
que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais
espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.”.
Nós lembramos nisto, das palavras de Paulo dirigidas aos Gálatas:
“Estou
admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na
graça de Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda em Gál 5.7:
“Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?”.
A
síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes, que é feita neste segundo
capítulo, revela que o propósito principal da escrita deste livro foi o de
ensinar que a mistura do povo de Deus com as práticas abomináveis do mundo o
torna impotente para conhecer e fazer a vontade do Senhor.
Ensina
também que a falta de fé e determinação para cumprir tudo aquilo que Deus nos
tem ordenado expressamente, como no caso dos israelitas, a indiferença em
realizar a conquista total de Canaã, acaba por conduzir o povo de Deus a perder
o seu caráter único e santo, e em decorrência disto, não terá poder e
autoridade que procedem do Senhor para poder conhecer e fazer a Sua vontade,
deixando portanto, de ser bênção para as nações.
O mundo
espiritual é discernido espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este jamais se
moverá naqueles que não estiverem se movendo em direção à obediência à Palavra
de Deus, pela busca de comunhão com Ele, em vidas verdadeiramente santas.
Em
linhas gerais, foi este o propósito principal do Espírito Santo ao ter
inspirado a escrita do livro de Juízes.
Aprendemos
também neste livro de Juízes que períodos de arrependimento e de retorno à
comunhão com o Senhor, podem ser seguidos por períodos de apostasia, se não
cuidarmos diligentemente em prosseguir adiante na aplicação em nossos deveres
para com Deus e com o próximo.
Vitórias
alcançadas jamais devem ser motivo para descansarmos e não incentivarmos as
gerações seguintes à mesma fidelidade com que estivermos nos empenhando em
agradar ao Senhor.
O livro
de Juízes dá um claro testemunho e palavra de alerta à Igreja para que não
descuide em avançar na comissão que lhe foi ordenada por Jesus de ir por todo o
mundo e pregar o evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja se desvia
deste grande alvo, perdendo o ardor evangelístico e missionário, a conseqüência
natural será o apostatar dos caminhos do Senhor, porque Ele não se deixará
achar e não expulsará o Inimigo para que almas sejam conquistadas à fé, porque
Ele faz isto, concedendo graça, somente quando há uma verdadeira disposição e
empenho em se obedecer à Sua grande comissão.
A
grande repreensão do anjo do Senhor aos israelitas, exibida nas palavras do
verso 2: “Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso comigo?”,
bem demonstra a grande indignação que Jesus sente ao nos ver de braços cruzados
em relação à ordem que deu à Igreja de fazer discípulos em todas as nações.
Isto é
um dever real que impôs à Igreja até que Ele volte.
E nós
sabemos, pelo testemunho da história, quantas derrotas o povo de Deus teve que
amargar em relação aos seus inimigos espirituais, e o pouco ou quase nenhum
avanço que fez em determinadas épocas da história, pelo mesmo motivo que levou
o anjo a se indignar em relação aos israelitas no passado: falta de empenho em
cumprir a Sua ordem de avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que Ele nos
tem ordenado.
Os
israelitas choraram por causa da repreensão do anjo (v 4), mas isto não é
suficiente.
Não
basta estarmos dispostos a mudar nossas atitudes, e mesmo lamentar o nosso
estado espiritual, se isto não for acompanhado por ações de fé reais na direção
do cumprimento daquilo que Jesus nos ordenou quanto à evangelização mundial.
Planos,
reuniões, congressos, concílios, e quaisquer outras iniciativas serão de nenhum
valor se não forem acompanhados de ações concretas visando à conversão de almas
para Cristo.
Se o
Espírito Santo não for conosco, assim como o anjo acompanhava, dirigia,
instruía e fazia as conquistas para os israelitas, de modo algum poderemos pensar
que estamos agradando a Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho direcionados
à salvação dos perdidos.
Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de
evangelização é uma das principais missões de qualquer pastor, pois são
chamados de anjos das Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de Apocalipse.
Foi a
eles que se dirigiu cobrando o seu empenho em conduzir o rebanho segundo a Sua
vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro removido em caso de
descumprimento daquilo de que foram encarregados pelo Senhor da Igreja.
Estes
pastores, que são designados por anjos das Igrejas, aparecem em Apocalipse como
estrelas nas mãos de Jesus.
Isto
indica que assim como o Anjo da aliança apareceu a Josué, como príncipe do
exército de Jeová, e conduziu tanto a Moisés, quanto a Josué, e todos os
líderes verdadeiros de Israel, que foram levantados por Deus para conduzir o
seu povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na Nova Aliança, que tem toda a
primazia sobre os pastores que Ele mesmo chama e constitui sobre o Seu povo,
para que façam toda a Sua vontade.
O lugar
onde o anjo falou aos israelitas ficou sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5),
porque no hebraico, esta palavra significa chorões, porque que a palavra se
encontra no plural, indicando que foram muitos os que prantearam em razão da
repreensão do anjo do Senhor.
Quem
dera, ao menos a Igreja chorasse a sua atual condição de quase completo
desinteresse e imobilização quanto a buscar um real compromisso e consagração
ao Senhor, para que no poder do Espírito Santo se entregue à obra de
evangelização mundial.
Mas
quando tão poucos se interessam pela salvação da própria alma, como estarão
realmente interessados na salvação de outros?
Os
israelitas ao menos lamentaram e choraram pela condição de desobediência à
ordem de avançar e conquistar Canaã.
Sequer
isto se vê na maior parte das Igrejas de nossos dias, apesar de haver, certamente, uma repreensão do Senhor pelo fato de não
terem um maior empenho em prol da salvação dos perdidos em todo o mundo.
Os
países da Ásia e de grande parte do Oriente, continuam com suas portas fechadas
para o evangelho, mas importa que este seja pregado também a eles, para que
Cristo volte.
Quando
a Igreja despertará do seu sono e começará a trabalhar com todo o empenho na
direção do cumprimento do Ide de Jesus?
Jesus
disse que o evangelho será pregado em todo o mundo antes da Sua vinda, e o que
nós estamos fazendo para que isto se cumpra?
O
Senhor garantiu a posse de todo o território de Canaã aos israelitas, e o que
eles fizeram em relação a isto?
O livro
de Juízes revela o quadro, e este não é muito diferente do que tem ocorrido com
a história da Igreja ao longo destes dois mil anos, em que o evangelho tem sido
pregado no mundo.
Da
parte do Senhor, a aliança que Ele fez conosco, nunca será quebrada, porque é
fiel àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o mesmo em relação a nós.
Devemos
portanto, ser diligentes em todo o tempo e ter todo o cuidado necessário para
que não nos desviemos do alvo que devemos atingir.
Gostando
ou não, querendo ou não, temendo ou não, devemos nos lançar de corpo e alma à
missão da qual fomos encarregados, e o Senhor será conosco e nos fará prosperar
em nossos empreendimentos, porque Ele fez a promessa de não deixar e desamparar
àqueles que Lhe obedecem e Lhe são fiéis.
Deste
modo, os israelitas foram repreendidos, não somente por terem se desviado da
missão de conquistar Canaã, como também por terem se misturado aos cananeus,
que deixaram na terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar as mesmas
abominações que eles praticavam.
Não é
de se estranhar portanto, que quando deixamos de ter este interesse em dar
testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos também encontrados em disposições
de mundano proceder.
O
pecado de Israel trouxe como consequência, o fato de Deus ter determinado que
não expulsaria mais os cananeus.
De
igual modo, quando deixamos de cumprir o Ide e passamos a nos misturar com as
coisas que são do mundo, Deus também deixa de nos usar para conquistar as almas
que são preciosas para Ele.
Outros
o farão no nosso lugar, e teremos que lamentar uma vida vazia e sem frutos,
porque o Senhor não dará jamais a honra de o indolente se gloriar em ter sido
usado eficazmente por Ele.
Se não
recebemos graça da parte de Deus, para realizar o trabalho que Ele nos
designou, não teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos
deu para fazer a Sua obra.
Aqueles
que favorecem e são complacentes com as suas luxúrias e corrupções, que
deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e esta é justamente retirada
deles.
Se nós
não resistirmos ao diabo, não devemos esperar que Deus o coloque debaixo dos
nossos pés.
Por
isso, aos infiéis, em vez de promessas de bênçãos, Deus promete dificuldades,
assim como disse aos israelitas sobre o que deveriam esperar da parte daqueles
aos quais haviam se associado em suas más obras.
Seriam
como espinhos e laço para eles, e isto indicava dificuldades e opressões.
Pois em
vez de dominar as nações, Israel seria dominado por elas.
Deus os
entregaria nas mãos dos seus inimigos por causa do seu pecado.
Ele
afirmou que os venderia aos seus inimigos, assim como quem é vendido por causa
de uma grande dívida que não pode liquidar.
A
dívida dos israelitas seria cobrada na forma de opressões dos seus inimigos,
que seriam determinadas pelo próprio Deus.
Porém,
sendo benigno e misericordioso, o Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus
opressores caso se arrependessem dos seus pecados.
Ele
suscitaria libertadores para este propósito, e nós vemos esta promessa sendo
cumprida em diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes, revelando-se
assim o caráter fiel do Senhor, em cumprir as Suas promessas, e a sua infinita
misericórdia para conosco.
Entretanto,
em razão do Seu atributo de justiça, apesar de ser tardio em se irar, o Senhor
não pode ser, de modo algum, conivente com o pecado e permanecer insensível às
apostasias do Seu povo, e por isso sempre torna a exercer os Seus juízos, a par
de toda a misericórdia exibida anteriormente.
Por
causa de Sua longanimidade, pode até suportar, tolerar por muito tempo todos os
nossos pecados, mas certamente não nos deixará sem a devida correção no tempo
apropriado.
Isto
aprendemos não somente na revelação que fez no livro de Juízes, como também em
toda a Bíblia.
A
história da Igreja, tal como a narrada em Juízes, tem revelado o modo como Deus
tem levantado pessoas que qualificou e capacitou extraordinariamente, pela Sua
graça, para redirecionar o Seu povo à prática da justiça e da santidade, e isto
nos faz lembrar de Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Spurgeon, e muitos
outros, que em suas próprias épocas, foram instrumentos nas mãos do Senhor para
o referido propósito.
É
notável também, que sempre segue a um período de grande reforma e retorno à
santidade, períodos de apostasias.
Tal
como se deu com Israel, ocorre com a Igreja, e por isso, cada época
testemunhará acerca daqueles que Deus levantou e continuará levantando para
avivar o Seu povo.
Isto
indica que o ideal seria que a Igreja permanecesse permanentemente avivada e
fiel à vontade de Deus.
Mas
como o evangelho opera entre pecadores, e por serem estes dados a se desviarem
da vontade do Senhor, sempre será necessário manter uma postura de reforma, de
modo a não se experimentar apostasias, que sempre virão, sem falta, se deixamos
esfriar este espírito de manter as pessoas ocupadas em serem fiéis à vontade de
Deus.
Veja o
caso de Israel, que enquanto vivia Josué e os anciãos da sua geração, o povo
andou obedientemente cumprindo a vontade do Senhor, especialmente no que se
refere à ocupação e conquista de Canaã.
Mas
quando uma nova liderança se levantou, e que não tinha o mesmo empenho em
conduzir o povo nos caminhos de Deus, o resultado é o que encontramos no livro
de Juízes, que afirma o seguinte nos versos 16 a 19: “16 Mas o Senhor suscitou
juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam. 17 Contudo, não deram
ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os
adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde andaram seus pais em
obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles. 18 Quando o Senhor
lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus
inimigos todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em
razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam. 19 Mas depois da
morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando após
outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas
práticas, nem a sua obstinação.”.
E tal é
esta obstinação da natureza terrena, do coração carnal, que se diz que o povo
não deu ouvido aos juízes e se prostituiu após outros deuses (v. 17).
A
advertência bíblica para que nos empenhemos com toda diligência em confirmar a
nossa vocação e eleição, não é de pouca monta, porque se refere a uma luta
titânica contra um inimigo poderoso que é a nossa natureza pecaminosa, que pode
ser mortificada somente pelo Espírito Santo, mas este trabalho não poderá ser
realizado se não cooperarmos com a Sua vontade, por não nos tornarmos
verdadeiramente submissos ao Senhor, e por não crermos e não nos dispormos a
colocar em prática, todas as coisas que nos tem ordenado em Sua Palavra, e
especificamente em nossa caminhada diária.
Assim,
os cananeus não seriam expulsos por Deus, para que por meio deles, provasse a
fidelidade de Israel.
De
igual modo o diabo e todos os seus demônios permanecem no mundo, não por que
isto seja agradável ao Senhor, mas para que por meio desta presença, a nossa
fidelidade possa ser provada, de maneira a permanecermos firmes em fazer a
vontade de Deus, em meio a todas as tentações que o inferno possa
realizar.
E
parece que a missão da Igreja de ser sal e luz do mundo se deteriora cada vez
mais, permitindo que a luz do evangelho não brilhe em todo o seu fulgor e que o
sal perca o seu poder de salgar e preservar.
Isto
decorre do pecado de os cristãos em serem mundanos, ignorando a ordenança
bíblica de serem um povo distinto e de não amarem o mundo e não tomarem a forma
dele, como nos exortam especialmente os apóstolos João e Paulo,
respectivamente.
Muitos cristãos
não querem ser diferentes do mundo. Ao contrário, querem trazer para suas vidas
e para dentro da Igreja aquilo que não é de Cristo, mas do mundo.
Pensam
erroneamente, que esta será a melhor forma de trazer outros à conversão.
Estamos
empenhados numa batalha espiritual de vida ou de morte. Na qual operam
principados e potestades com toda a fúria inimaginável, para permanecerem na
posse das almas humanas, as quais, para serem resgatadas demandam que primeiro
seja amarrado o valente que as aprisiona, e este é um trabalho único e
exclusivo para o Senhor Jesus e o Espírito Santo de Deus, sob a atração
exercida por Deus Pai para trazer os pecadores em submissão a Seu Filho.
E como
isto poderá ocorrer quando os cristãos se tornam mundanos?
Deus
usaria Israel caso eles evitassem o pecado de se misturar com o pecado das
nações pagãs. E não é portanto para se admirar que tantas exortações sejam
feitas na Sua Palavra neste sentido.
E para
o propósito de desencorajar o Seu povo à mistura com as nações de Canaã, Deus
acrescentou variadas e grandes ameaças de maldições e castigos para os
israelitas no caso de serem desobedientes a tal ordenança específica.
Muitas
aflições viriam sobre eles, da parte do próprio Deus, caso se misturassem com
as práticas abomináveis daquelas nações.
O que
acontece com a Igreja de Cristo em nossos dias não é muito diferente disso.
Muitas bênçãos
não são alcançadas, e muita correção da parte do Senhor sobrevém à Igreja,
exatamente por causa deste pecado de se assumir a forma do mundo.
Se,
conforme dizer do apóstolo é necessário não se conformar ao mundo para que se
possa conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, então não é difícil
de se entender que quando se toma a forma do mundo não somente ficamos
impossibilitados de fazer a vontade de Deus, como até mesmo de conhecê-la,
conforme se afirma em Rom 12.2.
Deus
quer um povo santo, puro e separado, e este segundo capítulo de Juízes nos
revela isto de forma muito direta e clara, e este povo, é formado na
dispensação da graça, por pessoas que se convertem das trevas do mundo para a
luz de Jesus.
Tudo o
que estiver misturado com o mundo, passará debaixo do juízo ou da correção do
Senhor, porque nada que provém do mundo pode ser um canal apropriado para
trazer a nós a presença real e santa de Jesus.
Assim,
todo ministério mundano não prevalecerá, e ficará destituído da graça de Deus.
Os
pastores mundanos não terão qualquer mensagem recebida da parte de Deus para
ser pregada com poder ao Seu povo. Porque o Espírito Santo não se detém onde
mora o orgulho e disposições de mundano proceder.
Aquele
que não separa o que é vil do que é precioso, não pode ser a boca de Deus.
Deste
modo, todos os cristãos que se deixarem seduzir pelos prazeres deste mundo
estarão áridos, vazios e confusos.
Serão
como o povo de Israel, depois de ter fabricado o bezerro de ouro.
A
presença da nuvem de glória entre eles se retirará e o Senhor não caminhará
mais com eles, até que se arrependam e voltem a viver em verdadeira santidade.
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