quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O Pendor do Espírito








Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e
Editado por Silvio Dutra




Set/2019









 
















           J27
              James, John Angell – 1785 -1859
                   O pendor do Espírito / John Angell James.  
                         Tradução,  adaptação e   edição por Silvio Dutra
             Rio de Janeiro,  2019.
                   39p.; 14,8 x 21cm
              
                 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé.     
              Silvio Dutra I. Título
                                                                     CDD 230





 

"Pois ter uma mente carnal é a morte; mas ter uma mente espiritual é vida e paz." (Romanos 8: 6).
Meus queridos amigos,
O assunto deste discurso é "Espiritualidade da mente" - uma condição muito abençoada da alma, muito comentada nas conversas e nos sermões; discutido frequentemente nos livros; frequentemente orava por isto; ainda pouco entendido, e muito raramente, pelo menos em alto grau, possuído. É um ramo da santidade, mas refere-se antes ao estado da mente, como a expressão importa, do que à conduta. "Ter uma mente espiritual", diz o apóstolo, "é vida e paz". Romanos 8: 6. Ou, como as palavras podem ser traduzidas, "a mente do Espírito", isto é, as coisas do Espírito "são vida e paz". No versículo anterior, diz-se: "aqueles que se inclinam ao Espírito se importam com as coisas do Espírito". A palavra traduzida como "eles se importam" expressa principalmente o exercício do intelecto, eles prestam atenção, empregam seus pensamentos; mas secundariamente, e por implicação, o exercício dos afetos. Portanto, em Col 3: 2, é assim traduzido: "Coloque suas afeições nas coisas de cima". Espiritualidade da mente, então, significa o emprego habitual e piedoso dos pensamentos e afetos em assuntos divinos. É algo mais do que moralidade de conduta, por mais pura e exemplar; mais do que comparecimento aos meios da graça, ainda que pontuais; mais do que liberalidade, por mais difusa que seja; mais que zelo, por mais ativo - significa, além de tudo isso, um estado mental devocional habitual.             
É o mesmo estado de espírito para com Deus e Cristo, e as coisas divinas em geral, como um marido e pai afetuoso têm para com sua esposa e filhos, que, não apenas no todo, realmente os consideram e evitam o que é grosseiramente inconsistente para tal profissão, mas cujo coração, quando ele está ausente deles, instintivamente, espontaneamente e habitualmente, se voltam para eles; quem não precisa de alguém para lembrá-lo deles; cujos pensamentos não se limitam a tempo ou lugar, e sempre que ocorrem, e isso é perpetuamente, acendem seus afetos e fazem com que ele goste de falar deles e anseie por estar com eles. Aqui é mais do que a conduta decorosa, aqui é descrito um cuidado. 
Algo assim é espiritualidade da mente, apenas o objeto é divino, e não humano. É uma maneira de pensar nas coisas espirituais que surge de um forte interesse e deleite nelas; uma propensão a meditar sobre elas, como é produzido por um forte apego a elas. A verdadeira indicação desse estado mental, portanto, pode ser encontrada no caráter e na tez predominantes dos pensamentos. "Como um homem pensa em seu coração", diz o Provérbio, "ele assim é". Os pensamentos são as fontes do sentimento, os elementos da ação e do caráter. O objetivo de nossos pensamentos nesse estado mental não é meramente a glória futura, pois caracterizamos a mente celestial; não é um mero olhar para o céu, um desejo em meio às tristezas da vida, pela imortalidade e repouso eterno, mas uma reflexão devota e habitual sobre toda a gama da verdade divina; o caráter glorioso de Deus; a pessoa e ofícios de Cristo; o cuidado sábio e gracioso de uma providência superintendente; a aliança da graça; as grandes e preciosas promessas da palavra divina; o estado milenar do mundo; e a segunda vinda de Cristo, com todas as outras variedades de assuntos espirituais.     
Agora, se houver uma mente espiritual, nossos pensamentos sobre esses assuntos serão voluntários e espontâneos; eles surgirão na alma, não apenas quando for apelada por sermões, livros e eventos, que de certa forma a obrigam a pensar, mas na ausência do ministro; quando a uma distância do santuário; e quando nem o volume nem a dispensação da providência nos falam. No retiro, na solidão, nas viagens, nas horas insones da noite e durante os intervalos dos negócios, nos voltaremos para algum tópico de piedade, para a glória de Deus, a obra de Cristo ou os privilégios dos crentes, e encontraremos nosso conforto e alegria em tais meditações. Buscaremos até que o fogo queime dentro de nós. Providenciaremos tais épocas de santa reflexão e nos esforçaremos para prolongá-las quando ocorrerem.  
Tais pensamentos serão frequentes e habituais. Eles ocorrerão não apenas a longos intervalos, nem serão vistos, quando ocorrem, como estranhos entrando na mente, surpreendendo-a por sua novidade e quase alarmante, como a visão de um anjo fez aos judeus, supondo que eles são o prenúncio da morte; mas eles são os residentes declarados da mente, necessariamente indo para o exterior para vários propósitos, mas ainda voltando para casa, assim que esse negócio é concluído, para morar lá. Eles são os ocupantes diários, quase de hora em hora da alma.   
Esses pensamentos são tão agradáveis à mente quanto habituais. O cristão gosta de pensar nas coisas divinas; eles se adaptam ao seu gosto, são agradáveis ​​aos seus desejos e são produtivos da sua felicidade. São tão bem-vindos quanto amigos queridos, recebidos com alegria, entretidos com prazer e separados com relutância.   
Pensamentos divinos são prontamente sugeridos pelas ocorrências da vida ao cristão com mente espiritual. Seus confortos o levam a pensar na bondade de Deus; suas aflições de sua fonte divina. Em julgamentos públicos, sua mente é levada ao governador supremo; em misericórdias nacionais, ao autor de épocas frutíferas e tranquilidade pública. Onde outros falam de natureza, ele pensa em Deus; e onde eles falam de fortuna, ele mora na Providência. Recordando as belas imagens das Escrituras, que associaram os ofícios, o trabalho e os benefícios de Cristo a todos os objetos da natureza; ele vê figurativamente as glórias do Salvador expostas diante dele no esplendor do sol, no brilho da estrela da manhã, na videira repleta de cachos, no milho ondulado, no terno pastor e no afetuoso noivo. Sem permitir que sua espiritualidade se degenerasse em uma piedade alegórica ou mística - ele gosta de seguir a trilha dos escritores sagrados e ler o nome de seu Salvador naqueles objetos nos quais eles o imprimiram. 
E posso observar que, entre todos os objetos para os quais os pensamentos e as afeições das pessoas espirituais são direcionadas, a pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo se destaca. Eles não param na contemplação de Deus, na Providência e no céu - mas contemplam tudo em Cristo, e Cristo em tudo. Sua divindade, expiação e intercessão; sua perfeita justiça para justificação, e seu exemplo impecável como a regra de sua santificação; seus ofícios de profeta, sacerdote e rei - são todos temas que têm atração irresistível para seus pensamentos. Nada mais decididamente indica espiritualidade do que essa tendência habitual dos pensamentos a Cristo. Não é o céu, meramente, nem principalmente, repito, que essa disposição leva o crente a habitar, mas a Cristo; pois o que é o céu senão a presença de Cristo? Desde que ele pudesse ver a glória e sentir a graça do Salvador, tudo é um para o homem de fé forte, o cristão avançado, esteja ele no céu ou na terra, ou de qualquer forma, seu desejo de partir é fundado na esperança e desejo de uma visão e gozo mais perfeitos de Cristo. O grau em que nossos pensamentos e sentimentos são atraídos para o Redentor é a quantidade exata que possuímos da verdadeira espiritualidade da mente. Pode haver, e sem dúvida existe, um reflexo muito sério de certo tipo, compelido pela tristeza, ou produzido por uma mentalidade sentimental, em várias generalidades da religião, e especialmente na Providência e no céu, mesmo onde não há piedade evangélica. Mas para aqueles que acreditam, Cristo é precioso! Jesus é o objeto específico e o centro de suas reflexões devocionais. 
Os pensamentos das pessoas verdadeiramente espirituais sempre acendem afetos religiosos e levam a ações correspondentes.
Espiritualidade da mente não é mera contemplação silenciosa, sentimentalismo inativo, quietismo sem paixão. Não! é pensamento habitual e agradável, produzindo sentimento habitual e agradável e terminando em ações santas habituais. "É de pouca importância quais sejam as nossas reflexões, meditações, sentimentos emocionantes e pensamentos elevados; a menos que haja relação com todas essas emoções, qual é a única prova legítima de sua genuinidade e sinceridade, conformidade com a vontade de Deus, e a verdadeira aptidão para o céu, em nosso temperamento, disposição e caráter." É uma espiritualidade espúria, e um dos artifícios pelos quais Satanás engana e destrói almas incautas - entregar-se a pensamentos divinos e exaltar sentimentos devocionais, enquanto o temperamento não é subjugado, as corrupções do coração não são mortificadas e as ações da vida estão em pouca conformidade com a palavra de Deus.         
Essa é a espiritualidade da mente; não uma mera conversação religiosa, que se restringe a um conjunto de frases atuais, e que está sempre à frente para levá-las a todas as pessoas e em todas as ocasiões; com fingido semblante piedoso e religiosidade bajuladora; nada do tipo. É verdade que a pessoa que desfruta desse santo estado de alma estará sempre disposta, pronta para conversar com os outros, com a mesma opinião, sobre os assuntos mais próximos e mais queridos de seus corações, e essa é uma das marcas de seus caráter solicitar como companheiros e associar-se habitualmente àqueles que são qualificados por sua experiência e preparados por sua disposição, a se envolver em discursos que sejam adequados aos remidos do Senhor e aos viajantes à imortalidade. Desprezando o espírito mundano, o político e o polêmico, eles se unirão com aqueles que temem ao Senhor e conversam frequentemente um com o outro sobre sua salvação comum; mas eles não se entregam ao que pode ser denominado "mero canto religioso" - palavras que não provêm de nenhuma convicção ou emoção e que terminam em nenhuma ação.
Este, meu querido rebanho, é o estado de espírito que estou ansioso para promover em você e para lhe dar um exemplo disso em mim. Não basta que sejamos externamente corretos em nossa conduta e que mantenhamos todas as formas de piedade; mas devemos procurar manter a vitalidade de tudo isso no estado de nossas mentes e corações.
A verdadeira espiritualidade é um princípio vivo na alma; sim, uma vida divina, um sabor santo, cujo assento e centro estão na mente. A conduta é apenas o corpo do caráter, por mais simétrica que seja, e por mais justa que seja vista - são pensamentos e sentimentos piedosos que lhe conferem intelecto e coração e constituem sua alma, sem a qual há apenas a figura ou a estátua. - mas não o cristão vivo. 
O objetivo do presente discurso é promover o exercício de tais pensamentos e afetos, como se supõe que residam em uma alma renovada pelo Espírito de Deus, santificada pela verdade, que ama a Deus supremamente e está sob a restrição. influência do amor de Cristo; e está esperando e se preparando para a glória eterna. E meus queridos amigos, reflitam sobre que pensamentos espontâneos, numerosos, deliciosos e práticos esse estado de alma deve suscitar. Pode uma alma ser redimida, regenerada e ter a glória eterna, e não pensar muito, sentir muito e falar muito sobre isso? Podem tais perspectivas estar diante de nós, tais esperanças em nós, tal brilho radiante em cima de nós, e ainda assim não haja habitual cuidado de tais assuntos?   
Pode ser útil mencionar algumas PROVAS DE FALTA DE ESPIRITUALIDADE, para que aqueles que são desprovidos dela possam receber um aviso e procurar suprir o defeito. Quando não há disposição ou tendência a se entregar a pensamentos sagrados, mas todo o caráter e a tez da mente são mundanos - quando há uma falta de vontade de comparecer aos cultos da igreja nos dias úteis - quando os deveres domésticos e privados de devoção são pouco melhores do que formas sem coração - quando o gosto pelos sermões é mais pelo talento e pela elegância do que pela verdadeira verdade evangélica - quando a sociedade dos homens mundanos e políticos é preferida à companhia dos piedosos, e seu discurso é mais apreciado do que o dos eminentemente piedosos - quando a alegria degenera em leviandade, e não há prazer na conversa espiritual - quando há uma disposição de julgar como "hipocrisia" todo gosto e conversa espirituais - em todos esses casos, há uma triste indicação de falta daquela espiritualidade da mente, que é o objetivo deste discurso promover.
Mas agora vou enumerar alguns dos principais meio pelo qual a espiritualidade da mente pode ser promovida. Não crescerá na alma sem cultura; nem nos chega com o aceno descuidado do desejo indolente. "Essa casta não ocorre, senão por jejum e oração."  
Devemos colocar nossos corações sobre isso, ou nunca o teremos, e considerá-lo como um rico privilégio a ser desfrutado e um dever histórico a ser cumprido. 
Os meios mais diretos e certos de obtê-lo são: um claro conhecimento bíblico da verdade divina e uma forte fé em suas realidades gloriosas e eternas. Não podemos esperar pensamentos e afeições espirituais de verdades que são apenas imperfeitamente compreendidas ou duvidosas e fracamente cridas. Quão fervorosamente devemos orar por isso, com que ardência devemos almejá-la, com que esforço devemos procurá-la, com que confiança esperamos e com que perseverança e paciência esperamos por ela. A oração de fé e fervor deve subir ao tesouro do céu - e buscar a bênção dos inesgotáveis ​​estoques da graça divina! É no quarto da devoção privada, onde comungamos em segredo com nosso Pai, que esse estado de espírito divino deve ser cultivado e muito tempo para a oração ser resgatado do mundo, para obtê-lo. Se você nem sempre ora e não desmaia; se você não se entregar à oração, se não prestar atenção à oração, não poderá alcançar esse delicioso estado de alma. É o dom mais rico do Espírito, que ele concede apenas à alma que se apega à sua força e parece dizer: "Não deixarei você ir, a menos que me abençoe".      
Então deve haver muita leitura devota das Escrituras Sagradas. Não basta não apenas negligenciar a Bíblia pelo jornal, mas não deve ser substituída por livros piedosos e sem inspiração. Os melhores livros dos homens não podem substituir o livro de Deus. Nenhum combustível é tão adequado para alimentar a chama da devoção quanto as promessas, preceitos e consolações da palavra de Deus - um único texto às vezes o mantém ardendo com intenso brilho por horas, e fornece uma fonte de pensamentos sagrados para todos os que não têm sono, noite ou dia ansioso.  
A meditação é de grande poder para promover esse quadro devoto. Devemos fazer uma pausa e pensar na palavra de Deus até que suas verdades se expandam diante de nós e sintamos seu poder sobre o coração. Algumas de suas belezas mais minuciosas, escondidas do leitor apressado e superficial, surgem na mente admiradora daquele que a procura atentamente. Seria bom fixar uma passagem das Escrituras pela manhã e torná-la objeto de meditação, preencher os intervalos de negócios durante o dia e ser um tópico sempre à mão para a mente recorrer em momentos de lazer e, portanto, que deveriam reunir-se para um propósito sagrado, esses fragmentos de tempo que seriam desperdiçados em insignificantes gastos em algo pior.  
Quando os cristãos se reúnem, eles devem procurar introduzir algum tópico de conversa de natureza sagrada e de interesse comum, e não permitir que o tempo se perca, ou que a influência deles sobre o outro seja, no máximo, negativa. Grupos grandes são hostis a isso, pois é impossível ou difícil manter uma conversa nessas circunstâncias, em que todos devem participar. As festas até dos cristãos nem sempre são favoráveis ​​à mente espiritual. Onde o tempo é gasto em música, canto ou fofocas, é pouco calculado para promover a espiritualidade da mente.  
Autoexame e autoinspeção devem ser adicionados. Devemos olhar em nossas mentes e manter um olho constante no estado de nossa alma - quanto aos pensamentos e sentimentos que habitualmente habitam ali, ou mesmo chegam como visitantes. Os maus pensamentos impedem os bons; e até os mundanos podem encher a mente de maneira a não deixar espaço para melhores reflexões. Às vezes, seria bom, no final do dia, quando estivesse sozinho em nosso quarto, fazer a pergunta: "No que estou pensando hoje? Quantos pensamentos tenho dado a Cristo e ao céu?"
Deve ser uma questão de especial importância para nós, não apenas ser regular e diligente no atendimento das ordenanças da religião, mas ser espiritual no uso delas. Nada tende mais a atrapalhar o sentimento devocional, do que uma participação ininterrupta em exercícios religiosos. 
A oração curta e espontânea, mantida ao longo do dia, tem um efeito abençoado. Manteria o coração em temperamento doce e santo durante todo o dia e exerceria uma excelente influência em todas as nossas ações e deveres comuns. Isso seria "andar com Deus", de fato, segurar continuamente pela mão de nosso Pai; considerando que, sem isso, nossas orações matutinas e vespertinas não passam de uma "visita formal", não se deleitando com o diálogo constante, que ainda é nossa felicidade e honra, e torna todas as condições agradáveis, todos os lugares sagrados e todos ocupações rentáveis. "Isso nos refrescaria no trabalho mais árduo, pois aqueles que levam as especiarias da Arábia são refrescados pelo cheiro delas em sua jornada, e alguns observam que elas mantêm sua força e os impede de desmaiar".
E como devemos ser menos mundanos em nossos assuntos espirituais - também devemos ser mais espirituais em nossos assuntos mundanos. "Não apenas se esforçar", diz o divino Leighton, "para manter sua mente espiritual em si mesma, mas também colocar um selo espiritual mesmo em seus empregos temporais; e assim você viverá para Deus, não apenas sem prejudicar seu emprego, mas também em conversar com Deus em sua loja, no campo ou em sua jornada - fazendo tudo em obediência a ele e oferecendo tudo e a si mesmo com isso, como sacrifício a ele - você ainda está com ele, e ele ainda com você, em todos. Isso é viver de acordo com a vontade de Deus, seguir sua direção e pretender sua glória em tudo. Assim, a esposa na própria supervisão de sua casa e o marido em seus negócios no exterior podem viver para Deus, elevando seus baixos empregos a uma alta qualidade de espiritualidade dessa maneira!" "Senhor, mesmo este trabalho mundano que faço por você, cumprindo sua vontade, que me colocou nesta posição e me deu essa tarefa. Senhor, eu ofereço até mesmo esse trabalho a você. Aceite-me e meu desejo de lhe obedecer em tudo."  
E como em seu trabalho, assim como em seus refrigérios e descanso, os cristãos fazem tudo por ele. "Quer você coma ou beba", diz o apóstolo, 1 Coríntios. 10:31, "ou o que você fizer, faça tudo para a glória de Deus"; fazendo tudo por esse motivo, porque é sua vontade e para esse fim que ele tenha glória; dobrando o uso de toda a nossa força e todas as suas misericórdias dessa maneira; estabelecendo este alvo em todos os nossos projetos. Isto para a glória do meu Deus, e mais para a sua glória, e assim de uma coisa para outra durante toda a nossa vida. Essa é a arte de manter o coração espiritual em todos os assuntos; sim, espiritualizando os próprios assuntos em seu uso, que em si são terrenos. Este é o elixir que transforma metal vil em ouro, as ações comuns desta vida, nas mãos de um cristão, em obediência e ofertas sagradas a Deus. 
Quantos MOTIVOS o incentivam a cultivar esse temperamento divino. Algum grau disso é essencialmente necessário para a própria existência da religião pessoal. "Ser carnal é a morte, mas ser espiritual é vida e paz." A alma que não tem grau desse santo temperamento celestial, está morta em ofensas e pecados. Nenhuma tendência a pensamentos e afetos piedosos é a característica de uma alma, na qual nenhuma centelha da vida divina ainda está acesa. Mas agora não estou insistindo na necessidade de regeneração - mas em graus mais elevados de santificação e em uma medida maior de espiritualidade, como parte essencial dela.   
Pense na felicidade que acompanha uma grande parte da espiritualidade. "Ter mente espiritual é vida e paz." Isto é - uma paz viva; uma vida pacífica. É a vida; tanto quanto temos disso e não mais, temos da vida de Deus, do céu, da santidade em nossas almas. Toda vida em seres sensíveis é agradável em proporção ao seu vigor e saúde; as sensações da vida física são agradáveis; os exercícios da vida intelectual ainda mais; mas os atos e aspirações da vida espiritual são a felicidade mais sublime que a alma humana pode conhecer! Esta é a vida dos espíritos aperfeiçoados - dos anjos abençoados; do nosso Senhor Jesus Cristo; e do próprio grande Deus, que é puro espírito.         
Nos exercícios desta vida, portanto, temos comunhão com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Esta é a vida cuja fonte está oculta com Cristo em Deus. Vamos subir mais alto, meus queridos amigos, a esta existência elevada e santa. Como criaturas racionais, é um emprego digno usar nossas faculdades nobres na contemplação das obras da criação; mas, como seres espirituais, é ainda mais digno usá-las na contemplação e no desfrute das coisas que estão no alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. É de fato paz, uma palavra que significa não apenas tranquilidade e repouso da mente, mas todos os tipos e partes de felicidade substancial. Não existe felicidade real fora da região das realidades divinas, e é a espiritualidade cristã que nos leva a esse círculo sagrado e nos permite beber as águas cristalinas dessas fontes abençoadas!
Se você gosta de religião, então, ou de qualquer forma, se você tem um prazer rico e poderoso dela, deve atingir altos graus desse temperamento devoto de mente espiritual. Pense na felicidade que uma corrente de pensamentos sagrados fluindo através da alma e direcionando seu curso sempre a Deus, a Cristo e ao céu - deve trazer consigo. Quão ricamente esse fluxo deve ser impregnado de todos os elementos de uma vida paradisíaca. Como esse estado de espírito aliviaria suas preocupações, aliviaria suas tristezas, adoçaria seus confortos, santificaria suas provações, elevaria suas devoções e anteciparia o céu! Quantas cenas desanimadoras isso animaria e quantas estações sombrias irradiaria! Que fonte de deleite perene abriria, onde tudo o mais ao lado é um deserto da alma. Estado abençoado, dia e noite, para familiarizar-se com pensamentos santos, celestiais e pacíficos. 
Talvez alguns de vocês não tenham perdido essa espiritualidade, porque nunca alcançaram altos graus dela. "Qual é a fonte de seus arrependimentos mais pungentes - o que mais desperta poderosamente os sentimentos amargos de autocensura - torna os meios da graça improdutivos de alegria e os expõe às invasões mais perigosas de seus inimigos espirituais? Não é quando você estão cuidando das coisas da carne e não 'cuidando das coisas do Espírito? É a falta de espiritualidade que obscurece suas perspectivas - faz com que trevas, dúvidas e medo cerquem seu caminho - obscureça as evidências de seu interesse salvador no favor divino - dá poder aos seus inimigos invisíveis e leva à experiência de desânimo doloroso e mórbido, ou à sensação mais perigosa de presunção profana". ("On Spirituality of Mind", de Fletcher. Um admirável companheiro de bolso que eu sinceramente recomendo aos meus amigos.)
Pense na importância da espiritualidade mental para dar vida, beleza e força atraente ao seu exemplo. É isso que, quando adicionado à consistência externa da conduta, apresenta a religião ao mundo como realmente é - uma coisa divina e celestial na terra! Pois, embora o fundamento da piedade esteja na alma, ainda pela intensidade e brilho de uma chama interior, envia um brilho a todo o caráter e exibe as belezas da santidade em um estado de iluminação. Ou, para mudar a metáfora, embora o princípio da vida esteja dentro, ele apresenta o homem exterior da piedade como uma realidade vital - e não como uma forma morta. 
Você pode ser útil, admito, sem muito ou mesmo sem nenhuma espiritualidade; pois Deus pode se glorificar pela instrumentalidade de homens não convertidos; mas quão mais útil você pode ser se todas as ofertas da sua liberalidade forem salgadas com essa graça, e a chama do seu zelo for alimentada com o óleo dessa piedade pessoal! Que prevalência isso dará às suas orações, que impulso à sua liberalidade e que constância e firmeza às suas energias e esforços.        
E não é assim que você deve se tornar apto a ser participante da herança dos santos na luz? Sim! Não é o começo do céu na terra? O que é o céu, senão a ausência de tudo que é carnal, e a presença e perfeição de tudo que é espiritual? É pela recorrência habitual dos pensamentos santos que os lineamentos de um caráter celestial são impressos na alma, e pelo ardor das afeições santas, que eles adquirem uma beleza e uma forma duradouras!
"Pois ter uma mente carnal é a morte; mas ter uma mente espiritual é vida e paz." (Romanos 8: 6).
Nota do Tradutor:
O Evangelho que nos Leva a Obter a Salvação
Há somente um evangelho pelo qual podemos ser verdadeiramente salvos. Ele se encontra revelado na Bíblia, e especialmente nas páginas do Novo Testamento. Mas, por interpretações incorretas é possível até mesmo transformá-lo em um meio de perdição e não de salvação, conforme tem ocorrido especialmente em nossos dias, em que as verdades fundamentais do evangelho de Jesus Cristo têm sido adulteradas ou omitidas.
Isto nos levou a tomar a iniciativa de apresentar a seguir, de forma resumida, em que consiste de fato o evangelho da nossa salvação.
Em primeiro lugar, antes de tudo, é preciso entender que somos salvos exclusivamente com base na aliança de graça que foi feita entre Deus Pai e Deus Filho, antes mesmo da criação do mundo, para que nas diversas gerações de pessoas que seriam trazidas por eles à existência sobre a Terra, houvesse um chamado invisível, sobrenatural, espiritual, para serem perdoadas de seus pecados, justificadas, regeneradas (novo nascimento espiritual), santificadas e glorificadas. E o autor destas operações transformadoras seria o Espírito Santo, a terceira pessoa da trindade divina.
Estes que seriam chamados à conversão, o seriam pelo meio de atração que seria feita por Deus Pai, trazendo-os a Deus Filho, de modo que pela simples fé em Jesus Cristo, pudessem receber a graça necessária que os redimiria e os transportaria das trevas para a luz, do poder de Satanás para o de Deus, e que lhes transformaria em filhos amados e aceitos por Deus.
Como estes que foram redimidos se encontravam debaixo de uma sentença de maldição e condenação eternas, em razão de terem transgredido a lei de Deus, com os seus pecados, para que fossem redimidos seria necessário que houvesse uma quitação da dívida deles para com a justiça divina, cuja sentença sobre eles era a de morte física e espiritual eternas. 
Havia a necessidade de um sacrifício, de alguém idôneo que pudesse se colocar no lugar do homem, trazendo sobre si os seus pecados e culpa, e morrendo com o derramamento do seu sangue, porque a lei determina que não pode haver expiação sem que haja um sacrifício sangrento substitutivo.
Importava também que este Substituto de pecadores, assumisse a responsabilidade de cobrir tudo o que fosse necessário em relação à dívida de pecados deles, não apenas a anterior à sua conversão, como a que seria contraída também no presente e no futuro, durante a sua jornada terrena.
Este Substituto deveria ser perfeito, sem pecado, eterno, infinito, porque a ofensa do pecador é eterna e infinita. Então deveria ser alguém divino para realizar tal obra.
Jesus, sendo Deus, se apresentou na aliança da graça feita com o Pai, para ser este Salvador, Fiador, Garantia, Sacrifício, Sacerdote, para realizar a obra de redenção.
O homem é fraco, dado a se desviar, mas a sua chamada é para uma santificação e perfeição eternas. Como poderia responder por si mesmo para garantir a eternidade da segurança da salvação?
Havia necessidade que Jesus assumisse ao lado da natureza divina que sempre possuiu, a natureza humana, e para tanto ele foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria.
Ele deveria ter um corpo para ser oferecido em sacrifício. O sangue da nossa redenção deveria ser o de alguém que fosse humano, mas também divino, de modo que se pode até mesmo dizer que fomos redimidos pelo sangue do próprio Deus.
Este é o fundamento da nossa salvação. A morte de Jesus em nosso lugar, de modo a nos abrir o caminho para a vida eterna e o céu.
Para que nunca nos esquecêssemos desta grande e importante verdade do evangelho de que Jesus se tornou da parte de Deus para nós, o nosso tudo, e que sem Ele nada somos ou podemos fazer para agradar a Deus, Jesus fixou a Ceia que deve ser regularmente observada pelos crentes, para que se lembrem de que o Seu corpo foi rasgado, assim como o pão que partimos na Ceia, e o Seu sangue foi derramado em profusão, conforme representado pelo vinho, para que tenhamos vida eterna por meio de nos alimentarmos dEle. Por isso somos ordenados a comer o pão, que representa o corpo de Jesus, que é verdadeiro alimento para o nosso espírito, e a beber o sangue de Jesus, que é verdadeira bebida para nos refrigerar e manter a Sua vida em nós.
Quando Ele disse que é o caminho e a verdade e a vida. Que a porta que conduz à vida eterna é estreita, e que o caminho é apertado. Tudo isto se aplica ao fato de que não há outra verdade, outro caminho, outra vida, senão a que existe somente por meio da fé nEle. A porta é estreita porque não admite uma entrada para vários caminhos e atalhos, que sendo diferentes dEle, conduzem à perdição. É estreito e apertado para que nunca nos desviemos dEle, o autor e consumador da nossa salvação.
Então o plano de salvação, na aliança de graça que foi feita, nada exige do homem, além da fé, pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser transformado e firmado na graça, será realizado pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.
Tanto é assim, que para que tenhamos a plena convicção desta verdade, mesmo depois de sermos justificados, regenerados e santificados, percebemos, enquanto neste mundo, que há em nós resquícios do pecado, que são o resultado do que se chama de pecado residente, que ainda subsiste no velho homem, que apesar de ter sido crucificado juntamente com Cristo, ainda permanece em condições de operar em nós, ao lado da nova natureza espiritual e santa que recebemos na conversão.
Qual é a razão disso, senão a de que o Senhor pretende nos ensinar a enxergar que a nossa salvação é inteiramente por graça e mediante a fé? Que é Ele somente que nos garante a vida eterna e o céu. Se não fosse assim, não poderíamos ser salvos e recebidos por Deus porque sabemos que ainda que salvos, o pecado ainda opera em nossas vidas de diversas formas.
Isto pode ser visto claramente em várias passagens bíblicas e especialmente no texto de Romanos 7.
À luz desta verdade, percebemos que mesmo as enfermidades que atuam em nossos corpos físicos, e outras em nossa alma, são o resultado da imperfeição em que ainda nos encontramos aqui embaixo, pois Deus poderia dar saúde perfeita a todos os crentes, sem qualquer doença, até o dia da morte deles, mas Ele não o faz para que aprendamos que a nossa salvação está inteiramente colocada sobre a responsabilidade de Jesus, que é aquele que responde por nós perante Ele, para nos manter seguros na plena garantia da salvação que obtivemos mediante a fé, conforme o próprio Deus havia determinado justificar-nos somente por fé, do mesmo modo como fizera com Abraão e com muitos outros mesmo nos dias do Velho Testamento.
Nenhum crente deve portanto julgar-se sem fé porque não consegue vencer determinadas fraquezas ou pecados, porque enquanto se esforça para ser curado deles, e ainda que não o consiga neste mundo, não perderá a sua condição de filho amado de Deus, que pode usar tudo isto em forma de repreensão e disciplina, mas que jamais deixará ou abandonará a qualquer que tenha recebido por filho, por causa da aliança que fez com Jesus e na qual se interpôs com um juramento que jamais a anularia por causa de nossas imperfeições e transgressões.
Um crente verdadeiro odeia o pecado e ama a Jesus, mas sempre lamentará que não o ame tanto quanto deveria, e por não ter o mesmo caráter e virtudes que há em Cristo. Mas de uma coisa ele pode ter certeza: não foi por mérito, virtude ou boas obras que lhes foram exigidos a apresentar a Deus que ele foi salvo, mas simplesmente por meio do arrependimento e da fé nAquele que tudo fez e tem feito que é necessário para a segurança eterna da sua salvação.
É possível que alguém leia tudo o que foi dito nestes sete últimos parágrafos e não tenha percebido a grande verdade central relativa ao evangelho, que está sendo comentada neles, e que foi citada de forma resumida no primeiro deles, a saber:
“Então o plano de salvação, na aliança de graça que foi feita, nada exige do homem, além da fé, pois tudo o que tiver que ser feito nele para ser transformado e firmado na graça, será realizado pelo autor da sua salvação, a saber, Jesus Cristo.”
Nós temos na Palavra de Deus a confirmação desta verdade, que tudo é de fato devido à graça de Jesus, na nossa salvação, e que esta graça é suficiente para nos garantir uma salvação eterna, em razão do pacto feito entre Deus Pai e Deus Filho, que nos escolheram para esta salvação segura e eterna, antes mesmo da fundação do mundo, no qual Jesus e Sua obra são a causa dessa segurança eterna, pois é nEle que somos aceitos por Deus, nos termos da aliança firmada, em que o Pai e o Filho são os agentes da aliança, e os crentes apenas os beneficiários.
O pacto foi feito unilateralmente pelo Pai e o Filho, sem a consulta da vontade dos beneficiários, uma vez que eles nem sequer ainda existiam, e quando aderem agora pela fé aos termos da aliança, eles são convocados a fazê-lo voluntariamente e para o principal propósito de serem salvos para serem santificados e glorificados, sendo instruídos pelo evangelho que tudo o que era necessário para a sua salvação foi perfeitamente consumado pelo Fiador deles, nosso Senhor Jesus Cristo.
Então, preste atenção neste ponto muito importante, de que tanto é assim, que não é pelo fato de os crentes continuarem sujeitos ao pecado, mesmo depois de convertidos, que eles correm o risco de perderem a salvação deles, uma vez que a aliança não foi feita diretamente com eles, e consistindo na obediência perfeita deles a toda a vontade de Deus, mas foi feita com Jesus Cristo, para não somente expiar a culpa deles, como para garantir o aperfeiçoamento deles na santidade e na justiça, ainda que isto venha a ser somente completado integralmente no por vir, quando adentrarem a glória celestial.
A salvação é por graça porque alguém pagou inteiramente o preço devido para que fôssemos salvos – nosso Senhor Jesus Cristo.
E para que soubéssemos disso, Jesus não nos foi dado somente como Sacrifício e Sacerdote, mas também como Profeta e Rei.
Ele não somente é quem nos anuncia o evangelho pelo poder do Espírito Santo, e quem tudo revelou acerca dele nas páginas da Bíblia, para que não errássemos o alvo por causa da incredulidade, que sendo o oposto da fé, é a única coisa que pode nos afastar da possibilidade da salvação.
Em sua obra como Rei, Jesus governa os nossos corações, e nos submete à Sua vontade de forma voluntária e amorosa, capacitando-nos, pelo Seu próprio poder, a viver de modo agradável a Deus.
Agora, nada disso é possível sem que haja arrependimento. Ainda que não seja ele a causa da nossa salvação, pois, como temos visto esta causa é o amor, a misericórdia e a graça de Deus, manifestados em Jesus em nosso favor, todavia, o arrependimento é necessário, porque toda esta salvação é para uma vida santa, uma vida que lute contra o pecado, e que busque se revestir do caráter e virtudes de Jesus.
Então, não há salvação pela fé onde o coração permanece apegado ao pecado, e sem manifestar qualquer desejo de viver de modo santo para a glória de Deus.
Desde que haja arrependimento não há qualquer impossibilidade para que Deus nos salve, nem mesmo os grosseiros pecados da geração atual, que corre desenfreadamente à busca de prazeres terrenos, e completamente avessa aos valores eternos e celestiais.
Ainda que possa parecer um paradoxo, haveria até mais facilidade para Deus salvar a estes que vivem na iniquidade porque a vida deles no pecado é flagrante, e pouco se importam em demonstrar por um viver hipócrita, que são pessoas justas e puras, pois não estão interessadas em demonstrar a justiça própria do fariseu da parábola de Jesus, para que através de sua falsa religiosidade, e autoengano, pudessem alcançar algum favor da parte de Deus.
Assim, quando algum deles recebe a revelação da luz que há em Jesus, e das grandes trevas que dominam seu coração, o trabalho de convencimento do Espírito Santo é facilitado, e eles lamentam por seus pecados e fogem para Jesus para obterem a luz da salvação. E ele os receberá, e a nenhum deles lançará fora, conforme a Sua promessa, porque o ajuste feito para a sua salvação exige somente o arrependimento e a fé, para a recepção da graça que os salvará.
Deus mesmo é quem provê todos os meios necessários para que permaneçamos firmes na graça que nos salvou, de maneira que jamais venhamos a nos separar dele definitivamente.
Ele nos fez coparticipantes da Sua natureza divina, no novo nascimento operado pelo Espírito Santo, de modo que uma vez que uma natureza é atingida, ela jamais pode ser desfeita. Nós viveremos pela nova criatura, ainda que a velha venha a se dissolver totalmente, assim como está ordenado que tudo o que herdamos de Adão e com o pecado deverá passar, pois tudo é feito novo em Jesus, em quem temos recebido este nosso novo ser que se inclina em amor para Deus e para todas as coisas de Deus.
Ainda que haja o pecado residente no crente, ele se encontra destronado, pois quem reina agora é a graça de Jesus em seu coração, e não mais o pecado. Ainda que algum pecado o vença isto será temporariamente, do mesmo modo que uma doença que se instala no corpo é expulsa dele pelas defesas naturais ou por algum medicamento potente. O sangue de Jesus é o remédio pelo qual somos sarados de todas as nossas enfermidades. E ainda que alguma delas prevaleça neste mundo ela será totalmente extinta quando partirmos para a glória, onde tudo será perfeito.
Temos este penhor da perfeição futura da salvação dado a nós pela habitação do Espírito Santo, que testifica juntamente com o nosso espírito que somos agora filhos de Deus, não apenas por ato declarativo desta condição, mas de fato e de verdade pelo novo nascimento espiritual que nos foi dado por meio da nossa fé em Jesus.
Toda esta vida que temos agora é obtida por meio da fé no Filho de Deus que nos amou e se entregou por nós, para que vivamos por meio da Sua própria vida. Ele é o criador e o sustentador de toda a criação, inclusive desta nova criação que está realizando desde o princípio, por meio da geração de novas criaturas espirituais para Deus por meio da fé nEle.
Ele pode fazê-lo porque é espírito vivificante, ou seja, pode fazer com que nova vida espiritual seja gerada em quem Ele assim o quiser. Ele sabe perfeitamente quais são aqueles que atenderão ao chamado da salvação, e é a estes que Ele se revela em espírito para que creiam nEle, e assim sejam salvos.
Bem-aventurados portanto são:
Os humildes de espírito que reconhecem que nada possuem em si mesmos para agradarem a Deus.
Os mansos que se submetem à vontade de Deus e que se dispõem a cumprir os Seus mandamentos.
Os que choram por causa de seus pecados e todo o pecado que há no mundo, que é uma rebelião contra o Criador.
Os misericordiosos, porque dão por si mesmos o testemunho de que todos necessitam da misericórdia de Deus para serem perdoados.
Os pacificadores, e não propriamente pacifistas que costumam anular a verdade em prol da paz mundial, mas os que anunciam pela palavra e suas próprias vidas que há paz de reconciliação com Deus somente por meio da fé em Jesus.
Os que têm fome e sede de justiça, da justiça do reino de Deus que não é comida, nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
Os que são perseguidos por causa do evangelho, porque sendo odiados sem causa, perseveram em dar testemunho do Nome e da Palavra de Jesus Cristo.
Vemos assim que ser salvo pela graça não significa: de qualquer modo, de maneira descuidada, sem qualquer valor ou preço envolvido na salvação. Jesus pagou um preço altíssimo e de valor inestimável para que pudéssemos ser redimidos. Os termos da aliança por meio da qual somos salvos são todos bem ordenados e planejados para que a salvação seja segura e efetiva. Há poderes sobrenaturais, celestiais, espirituais envolvidos em todo o processo da salvação.        
É de uma preciosidade tão grande este plano e aliança que eles devem ser eficazes mesmo quando não há naqueles que são salvos um conhecimento adequado de todas estas verdades, pois está determinado que aquele que crê no seu coração e confessar com os lábios que Jesus é o Senhor e Salvador, é tudo quanto que é necessário para um pecador ser transformado em santo e recebido como filho adotivo por Deus.
O crescimento na graça e no conhecimento de Jesus são necessários para o nossos aperfeiçoamento espiritual em progresso da nossa santificação, mas não para a nossa justificação e regeneração (novo nascimento) que são instantâneos e recebidos simultaneamente no dia mesmo em que nos convertemos a Cristo. Quando fomos a Ele como nos encontrávamos na ocasião, totalmente perdidos  e mortos em transgressões e pecados.
E fomos recebidos porque a palavra da promessa da aliança é que todo aquele que crê será salvo, e nada mais é acrescentado a ela como condição para a salvação.
É assim porque foi este o ajuste que foi feito entre o Pai e o Filho na aliança que fizeram entre si para que fôssemos salvos por graça e mediante a fé.
Jesus é pedra de esquina eleita e preciosa, que o Pai escolheu para ser o autor e o consumador da nossa salvação. Ele foi eleito para a aliança da graça, e nós somos eleitos para recebermos os benefícios desta aliança por meio da fé nAquele a quem foram feitas as promessas de ter um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras.
Então quando somos chamados de eleitos na Bíblia, isto não significa que Deus fez uma aliança exclusiva e diretamente com cada um daqueles que creem, uma vez que uma aliança com Deus para a vida eterna demanda uma perfeita justiça e perfeita obediência a Ele, sem qualquer falha, e de nós mesmos, jamais seríamos competentes para atender a tal exigência, de modo que a aliança poderia ter sido feita somente com Jesus.
Somos aceitos pelo Pai porque estamos em Jesus, e assim é por causa do Filho Unigênito que somos também recebidos. Jamais poderíamos fazê-lo diretamente sem ter a Jesus como nosso Sumo Sacerdote e Sacrifício. Isto é tipificado claramente na Lei, em que nenhum ofertante ou oferta seriam aceitos por Deus sem serem apresentados pelo sacerdote escolhido por Deus para tal propósito. Nenhum outro Sumo Sacerdote foi designado pelo Pai para que pudéssemos receber uma redenção e aproximação eternas, senão somente nosso Senhor Jesus Cristo, aquele que Ele escolheu para este ofício.


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