A474 Alves, Silvio Dutra Desagravo à Santidade de Deus / Silvio Dutra Alves. 1ª edição - Rio de Janeiro, 2021. 35p; 14,8 x 21 cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. I. Título CDD 230 |
Se tudo na criação desde a dos anjos fosse uma absoluta perfeição, sem que houvesse a necessidade da intervenção de Jesus Cristo para a restauração de todas as coisas, certamente a glória de Deus não teria sido maior como ela se tornou através da história da redenção, com tantas manifestações da Sua misericórdia, perdão, longanimidade, amor etc.
Com isto não afirmamos que tenha sido o próprio Deus o autor da entrada do pecado na criação, mas, certamente, ao tudo criar, quer no céu, quer na terra, ele previu esta entrada, tendo feito uma provisão completa por meio da qual Sua glória em nada fosse diminuída ou afetada pela rebelião da criatura, antes, que servisse para ser aumentada conforme o plano que estabeleceu na Trindade, antes mesmo da fundação do mundo.
O pecado foi efetivamente uma ofensa à soberania, justiça e santidade de Deus, de forma que a punição eterna dos transgressores seria uma resposta adequada à exigência da justiça divina, conforme sucedeu no caso dos anjos rebeldes, mas no dos pecadores Deus não seria apenas glorificado na punição eterna dos impenitentes, mas proveria um meio de receber uma maior glória na suspensão da punição daqueles que se arrependessem. Mas, como veremos adiante, isto não poderia ser feito sem que houvesse uma satisfação da justiça que exige a morte eterna do pecador, uma vez que o estado de pecado é uma condição de ofensa de caráter infinito e eterno para Deus. Havia assim, também, a necessidade de um desagravo da soberania e santidade divina que foi ofendida pelo pecado, e não propriamente um desagravo da Sua glória, porque como vimos antes, esta pode ser promovida com a aplicação da punição ao transgressor.
Mas se tudo fosse feito por Deus apenas em termos de punição e condenação eternas, poderia ficar para os anjos eleitos a falsa noção de que Ele era implacável, frio, cruel, vingativo, sem dar qualquer tipo de oportunidade àqueles que pretendessem se arrepender de sua condição pecaminosa, e se converterem a Ele com o propósito de amá-lo, honrá-lo e servi-lo, mediante uma estrita obediência à Sua vontade.
Mas, não se pense que Deus se revelou longânimo, misericordioso, bondoso etc, por um mero propósito de ter um aumento de glória ao fazê-lo, mas porque tudo isto é inerente à sua natureza divina, e dela flui em benefício de suas criaturas que não pretendam permanecer nas trevas e sob o domínio dos espíritos malignos, mas que buscam andar na luz.
Ainda assim, haveria necessidade de todo um trabalho de restauração da santidade nestes que viessem a se arrepender, com a pretensão de honrarem a santidade do Senhor, por serem eles mesmos santos. E este encargo seria dado à graça de Jesus pela operação do Espírito Santo.
Sem um novo nascimento do Espírito (regeneração) não é possível se atender à primeira petição que nosso Senhor apresentou na oração do Pai Nosso: “Seja santificado o teu nome assim na terra, como no céu”, ou seja, que persigamos a santificação com vistas ao atingimento daquela perfeição absoluta de santidade, tal como ela existe no céu.
Tão vital é a nossa necessidade do Espírito Santo para a geração de uma nova criatura em nós, bem como amadurecê-la pelo processo da santificação que Jesus veio a este mundo para que por sua morte na cruz pudéssemos ser justificados por Deus quanto ao pecado, de forma que pudéssemos receber a promessa de habitação do Espírito Santo em nós.
Tudo isto é claramente ensinado nas Escrituras, para que possamos entender que temos em Jesus a expiação da nossa culpa e no Espírito Santo a formação de uma nova vida espiritual em nós.
Nosso Senhor se ofereceu como sacrifício e oferta pelo pecado para vindicar a santidade da divindade, para satisfazer a exigência da justiça divina, e para honrar a Lei de Deus que havia sido desonrada pelo pecado do homem. E somente Alguém infinito como Ele poderia oferecer tal sacrifício infinito e eterno para cobrir um mal infinito e eterno que é o pecado. Por isso, já a Abraão foi prometido que no seu descendente que é Cristo, seriam benditas todas as nações da Terra (Gál 3.16). E esta bênção seria realizada pelo derramamento do Espírito Santo como um dom sobre todos aqueles que creem. Mas, para que isto fosse feito havia necessidade que este descendente bendito consumasse a obra de expiação da culpa do pecado, e da satisfação da justiça de Deus e vindicação da Sua santidade, de modo que apesar de por meio dela ter removido o aguilhão da morte, que é a consequência imediata de se ofender com o pecado a um Deus santo, justo, bondoso, fiel, perfeito em todos os seus atributos, todavia os benefícios desta obra realizada por Jesus só podem ser aplicados naqueles que desejam ser salvos e santificados por meio da fé nele, porque não haveria qualquer sentido lógico, prático e proveitoso em que Deus justificasse a ímpios que não creem nele, não o amam, e não desejam se santificar e guardar os Seus mandamentos. Afinal, um dos principais motivos de Jesus ter vindo a este mundo não foi o de que pudéssemos receber o Espírito Santo para sermos regenerados e santificados por ele? Mas que para isto seria necessário antes, que a justiça e a santidade de Deus fossem vindicados pelo sacrifício que Jesus fez de si mesmo?
“sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça,” (Romanos 3.24,25)
Seria injusto se Deus sacrificasse o seu Filho que não tinha pecado, e que abençoasse a pecadores ímpios que são seus inimigos. Mas se não havia no próprio Jesus qualquer razão legal para que morresse, uma vez que era perfeitamente santo e justo, todavia havia essa necessidade de que a justiça e a santidade de Deus fossem de novo honradas e vindicadas, e Deus fez isto visitando todo o seu ódio contra o pecado em Seu próprio Filho, e não haveria forma mais explícita de se revelar aos anjos e a todas as criaturas debaixo do céu o quanto ele detesta o pecado, e que o pecado realmente gera a morte.
“Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado,” (Romanos 8.3)
“13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),
14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.” (Gál 3.13,14)
Assim, tendo Jesus feito a si mesmo maldição sem que fosse de fato um maldito, os que creem podem agora ser resgatados da maldição pela identificação deles com a morte de Jesus, e por esta aplicação da morte de Jesus a eles para serem beneficiados com a remoção da culpa do pecado, Deus se revela justo e justificador de todo aquele que crê em Jesus, porque com isto atribui uma razão justa e santa para aquela morte horrível na cruz, para carregar sobre si a sentença devida ao pecado de todos aqueles que viessem a crer nele. Mas, ainda que nenhum pecador viesse a ser beneficiado pela Sua morte expiatória, por causa da incredulidade, todavia, a justiça e santidade de Deus teriam sido plenamente vindicadas através da vida de Jesus tanto em sua perfeita obediência ativa aos mandamentos da Lei, quanto em sua obediência passiva, oferecendo-se como sacrifício para morrer em favor do resgate da dignidade e honra do Pai.
Através da operação da graça de Jesus em nós, pelo poder do Espírito Santo, a força do pecado é enfraquecida e o seu domínio é destruído; e a nossa luta contra cada pecado para submetê-lo a esta destruição pela graça é o que a Bíblia chama de mortificação das obras do corpo, ou do pecado propriamente dito (Rom 8.13). Mas, não se deve entender o uso desta palavra mortificação, como sendo a morte completa que leva o pecado à extinção, ou seja, que ele seja aniquilado para nunca mais se levantar contra nós, mas deve ser entendida como sendo a subjugação e enfraquecimento de nossas corrupções; pois embora o ser do pecado permaneça, ainda assim o poder de comando do pecado é retirado e quem passa a reinar no crente que se santifica é a graça.
Somente o pecado é aquilo que faz separação entre nós e Deus, e assim, o problema do pecado deve ser resolvido pela sua mortificação contínua, para que possamos permanecer em comunhão com Deus.
A mortificação do pecado é necessária porque a graça não pode viver na nossa alma, a menos que o pecado e a corrupção estejam mortos ali; antes que possa haver a vida da graça, deve haver a morte do pecado; como se vê em Rom. 6.11: “Considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus”. Se as corrupções vivem, a graça não pode viver no nosso coração, de modo que devemos levar o pecado a sério para mortificá-lo, pois sem isto não podemos ter uma vida abençoada pela graça, operando em nós alegria, amor e paz.
Como bem se diz que se o pecado não morre, o pecador deve morrer; se Deus não matar os nossos pecados, o pecado mata a nossa alma.
Podemos saber que estamos sendo impulsionados pelo Espírito Santo a mortificar os nossos pecados quando somos muito cuidadosos em evitar todas as ocasiões para a prática do pecado. Quando estamos sendo santificados ocupamo-nos desta mortificação não apenas temendo um pecado absoluto, mas também qualquer coisa que possa ser uma provocação ou entrada para um pecado específico.
Depois de muita vigilância e oração para se manter em santidade de vida, isto formará em nós um hábito de santificação que como qualquer outro hábito sempre nos manterá aplicados a este dever de mortificar todo e qualquer pecado.
A mortificação operada pelo Espírito Santo não somente nos levará a evitar o pecado como até mesmo a odiá-lo e a não lhe dar qualquer receptividade, ainda que seja na fase inicial de qualquer tentação pois o Espírito Santo sempre ativará a nossa consciência para identificar o perigo, como também a nos capacitar em graça a vencê-lo. Afinal, foi principalmente para desagravar a santidade de Deus que foi ofendida pelo pecado, que Jesus se ofereceu como sacrifício na cruz, para que a ira divina contra o pecado fosse aplacada e desviada em relação àqueles que viessem a se converter a ele.
Mas lembremos sempre que a mortificação do pecado não é um fim em si mesma, e nem responde ao propósito principal de Deus na nossa salvação, pois é somente o meio necessário para que possamos manter a nossa comunhão com Ele. Não se trata de se limpar para nenhum propósito, como por exemplo, viver para nós mesmos e por nossa própria conta, mas é para ser trabalhado ao lado de uma natureza que foi regenerada e que nos tornou coparticipantes da própria natureza divina, de modo que o sirvamos com um coração voluntário e alegre e disposto para toda a obediência à Sua vontade. Em resumo, devemos responder ao fim para o qual fomos criados que é o de sermos perfeitos em santidade, em todo o nosso ser e procedimento. Se fôssemos purificados de nossos pecados e não respondêssemos ao amor de Deus, de nada isso nos aproveitaria, assim como se expressa o apóstolo no texto de I Coríntios 13.
Aqui, devemos recordar mais uma vez a grande importância do sacrifício de Jesus e de toda a obra que ele realizou para vindicar a justiça e a santidade de Deus, bem como a honra da sua lei que foi abusada, tendo o pecador se tornado um ofensor de Deus e seu inimigo.
Tanto é assim, que desde o princípio da entrada do pecado no mundo, Adão e seus descendentes foram instruídos quanto à necessidade de apresentarem sacrifícios de animais limpos e sem defeito, para que Deus fosse propício com eles em sua condição de pecadores que eram. Ora, mas isto foi usado como uma figura e tipo daquele único sacrifício de Jesus pelo qual o pecado poderia ser removido, por mais de 4.000 anos, desde Adão, sendo que nos últimos 1.500 anos destes 4.000 anos, os sacrifícios e ofertas foram regulados através da Lei de Moisés.
Sobre a arca do testemunho que ficava no Santo dos Santos, havia uma placa de ouro chamada de propiciatório, sobre a qual o sumo-sacerdote de Israel, uma vez por ano, na data previamente designada, deveria aspergir o sangue dos animais que haviam sido sacrificados para por ele se fazer a expiação do pecado, de maneira que a ira da justiça de Deus fosse aplacada por aquele sangue, e a Sua santidade vindicada, pois todos os serviços que deveriam ser realizados naquele dia da expiação nacional, garantiriam a Israel se aproximar de Deus por mais um ano. E assim, aquela cerimônia deveria ser realizada anualmente para que se garantisse o acesso à presença de Deus por parte de todos os que nele cressem e o adorassem.
Como o problema do pecado não poderia ser resolvido definitivamente por aqueles sacrifícios tipológicos, Jesus encarnou ao vir a este mundo, para que pudesse apresentar o seu corpo, em sua morte, como o único e eterno sacrifício pelo qual Deus poderia se revelar favorável a todos os pecadores que nele cressem e que dele se aproximassem para adorá-lo.
Não foram os animais que eram sacrificados que haviam pecado e ofendido a justiça e santidade de Deus, mas o homem, e então, o único sacrifício vicário que poderia ser aceito por Deus deveria ser de um homem perfeito, sem pecado, e por isso houve necessidade de que Jesus tomasse a natureza humana, além da divina que ele possuía sempiternamente.
E nenhum outro poderia atender ao requisito necessário para aquele que deveria se apresentar como oferta e sacrifício para satisfazer a justiça de Deus. O Espírito Santo, sendo uma emanação do Pai e do Filho, deve honrar a ambos, e caso fosse ele quem encarnasse, Jesus, é quem deveria honrá-lo e isto estaria contrariando a ordem natural que há na Trindade Divina, pois é o Espírito que tudo forma tanto na criação visível inanimada, quanto animada, bem como na criação espiritual da nova criatura. É Ele que renova a face da Terra, através do controle e da formação de novos seres para ocuparem o lugar daqueles que haviam morrido. Não houvesse este trabalho de renovação na criação natural, de há muito, nenhum ser vivo haveria no mundo. Ele é quem distribuiu os serviços e dons espirituais aos crentes, e que lhes ensina todas as coisas relativas à Divindade, e quanto ao modo como devem se comportar em um procedimento santo, que é instruído e operado por ele naqueles que são de Cristo. Ele deve receber a vida que procede de Deus Filho, e operar nos locais, épocas e pessoas por Ele designados, porque é Ele quem batiza com o Espírito Santo, e o Espírito ao receber o que é do Filho o reparte como Lhe apraz para um fim proveitoso. E Deus Pai, que foi a parte ofendida pelo pecador, deve ser reconciliado ao penitente por meio da obra de mediação do Filho, para que em tudo seja glorificado e honrado.
Assim, Jesus apresentou o seu sangue imaculado no propiciatório do Santo dos Santos celestial, para que obtivéssemos uma eterna redenção, e sermos livrados para todo o sempre do pavor da morte, do diabo e do inferno. E o Espírito Santo nos foi enviado por Ele para a obra de regeneração e santificação que opera em nós segundo o Seu poder divino.
Ninguém se iluda pensando que é possível obter a salvação da alma através de conhecimento filosófico, teológico ou por qualquer outro meio que seja diferente de se estar pela fé debaixo da cobertura do sacrifício de Jesus.
Tão crucial, importante e necessário é este sacrifício de Cristo em nosso lugar, que foram exigidos por Deus, por vários séculos, antes que Ele se manifestasse ao mundo, em forma de figura, sacrifícios cruentos de animais sem qualquer tipo de enfermidade ou defeito, e que tinham que ser limpos segundo a lei cerimonial, e designados entre apenas um pequeníssimo número de espécies (cordeiros, novilhos e pombas), que ilustrassem a mansidão e pureza absolutas dAquele que viria no futuro para morrer na cruz no nosso lugar.
Assim, os mandamentos contidos no livro de Levítico foram também dados por Deus a Moisés, além das duas tábuas com os dez mandamentos, quando os israelitas se encontravam acampados no monte Sinai, depois de terem sido libertados da escravidão no Egito (Lev 27.34).
A norma dos reformadores de se estudar a lei sempre com um olho no Calvário, é muito importante em ser seguida porque, assim não se esquecerá da graça enquanto se medita especialmente nas penalidades da Lei de Moisés, que, por exemplo, por terem sido revogadas pela entrada em vigor da Nova Aliança, nem mesmo para a nação de Israel tais penalidades continuam sendo de caráter obrigatório.
Pois desde que Jesus veio e inaugurou a Nova Aliança, Ele continua realizando, através da igreja, o Seu ministério de Salvador do mundo, e não de Juiz do mundo, pois como Ele mesmo definiu a Sua missão, e disse que não veio julgar o mundo, mas salvar (João 12.47); isto se aplica ao período da dispensação da graça, e Ele somente julgará então o mundo quando vier como Juiz em Sua segunda vinda, porque o Pai constituiu o Filho Juiz de todas as coisas, como se lê em Jo 5.26-29.
Entretanto, a importância do princípio ensinado pela lei, que a fidelidade é aprovada por Deus, e o adultério sempre será uma abominação aos Seus olhos, não deve ser negligenciada.
De modo que ao termos os nossos olhos no Calvário, não venhamos a esquecer que a graça que temos alcançado através da morte de Jesus Cristo, não significa que estamos autorizados a viver de modo diferente daquilo que é exigido pela lei moral de Deus.
A Lei e a Graça não são realidades complementares, de modo que a Graça seja a soma da Lei mais alguma outra realidade espiritual.
No entanto não são realidades antagônicas, e a diferença básica entre ambas não reside na Sua procedência, pois ambas têm sua origem em Deus, mas esta diferença está basicamente em sua natureza, em sua função, pois se a lei é uma norma, a graça é um poder.
Assim, Jesus ao interferir com a graça, perdoando aquilo que a Lei não perdoa, antes condena, até mesmo sentenciando à morte, não está descumprindo a lei moral e nem mesmo incentivando o seu descumprimento, mas introduzindo outro princípio relativo à aplicação das penas da lei, também inerente à própria natureza de Deus, princípio este que não ofende a Sua justiça e nem desconsidera a Sua santidade, pois pela própria Lei tem afirmado que usará de misericórdia com quem Lhe aprouver.
Por isso há prescrições, mesmo na Antiga Aliança, que são mandamentos relativos à ministração do perdão aos transgressores da Lei, por meio da apresentação de sacrifícios.
Isto é muito importante de ser observado no livro de Levítico, pois antes de serem apresentados os vários mandamentos morais com suas penas respectivas, são listados primeiro, desde o início do livro, as normas relativas à apresentação das ofertas que tinham em vista, principalmente, o perdão de pecados.
Não podemos esquecer que Deus inspirou a escrita da Bíblia para ser o manual da nossa redenção, e não da nossa condenação.
Então nós temos o sacrifício como o ponto central na própria Lei, pois a remissão de pecados é mediante o sacrifício de Jesus, do qual os demais eram apenas figura. Todavia, mesmo aqueles sacrifícios de animais revelavam a graça e a misericórdia perdoadora de Deus em plena dispensação da Lei, uma vez satisfeita a exigência da Sua justiça de que uma vítima inocente deveria morrer no lugar do pecador para que este pudesse ser perdoado.
Mas, como seriam apresentados inúmeros sacrifícios ao longo da história de Israel, durante o período de vigência da Antiga Aliança, Deus prescreveu a forma de apresentação destes sacrifícios, para que não fossem feitos de acordo com a imaginação dos homens, de modo a não desfigurar o Seu propósito na apresentação daquelas ofertas, nas quais havia um princípio didático relativo a realidades espirituais, não apenas para o ensino deles, como também da própria igreja na dispensação da graça.
Uma consciência completamente convencida da sua culpa estaria disposta a vir diante de Deus com milhares de carneiros (Miq 5.6,7), e os ricos poderiam pensar que em ofertarem muito mais do que os pobres, estariam com isto obtendo maior favor da Sua parte.
Além do aspecto relativo à quantidade, haveria também a tentação em se pensar que não era exigido um espírito correto na apresentação das ofertas, isto é, sem arrependimento, quebrantamento e tristeza nas ofertas pelo pecado, e sem gratidão e alegria nas ofertas pacíficas e de consagração.
Eles poderiam fingir estar honrando a Deus, agindo somente para serem vistos em prol da própria honra e glória, e assim usarem e abusarem do sistema de ofertas, que sendo dado para tratar o pecado, seria corrompido pelos seus pecados.
Entretanto, antes de prosseguirmos, cabe destacar que apesar de tudo, quando se fala em termos de Lei como sendo a Antiga Aliança propriamente dita, e de Graça como sendo a Nova Aliança, aí então a diferença é marcante, porque aos aliançados do antigo pacto foi ordenado por Deus que não ultrapassassem sequer os limites demarcados ao redor do sopé do Sinai, com a intenção de subirem o monte e se aproximarem do seu cume, onde se manifestaria a Sua presença e glória, e mesmo no tabernáculo só podiam entrar os sacerdotes, e ainda assim no Lugar Santo; e no Santo dos Santos, somente o sumo sacerdote, uma única vez por ano.
Já na Nova Aliança todos os aliançados são chamados a se aproximarem do Senhor, vindo à Sua presença no Santo dos Santos celestial.
Uma pessoa de fé no Velho Testamento tinha acesso à presença do Senhor no Santo dos Santos celestial, em espírito, não em razão de alguma ordenança contida na Antiga Aliança relativa a isto, mas em razão dos benefícios da Nova Aliança no sangue de Jesus, que também os alcançou no passado.
O primeiro capítulo de Levítico descreve a lei do holocausto, isto é, dos sacrifícios cruentos que eram queimados sobre o altar; o segundo capítulo as ofertas de manjares; o terceiro os sacrifícios pacíficos; o quarto descreve o sacrifício pelos pecados por ignorância; o quinto o sacrifício pelos pecados ocultos; e o sexto e sétimo capítulos descrevem também prescrições para os diversos tipos de ofertas.
Estes capítulos não esgotam tudo o que há na lei de Moisés para regular a apresentação das ofertas, mas temos nestes sete capítulos iniciais de Levítico, as linhas gerais relativas às ofertas a serem oferecidas no tabernáculo, e no primeiro capítulo se descreve particularmente que os holocaustos deveriam ser de gado (novilho – 1.2), ou gado miúdo (carneiro ou cabrito – 1.10) ou aves (rolas ou pombos – 1.14). Os animais de gado deveriam ser machos sem defeitos (1.3;10).
Em outras porções da Palavra será descrito que estas ofertas deveriam corresponder proporcionalmente às posses dos ofertantes, de forma que um rico não oferecesse rolas ou pombos, e alguém muito pobre um novilho.
Todos os tipos de sacrifícios deveriam ser apresentados à porta do tabernáculo, para que os ofertantes fossem aceitos por Deus (1.3) e deveriam ser imolados perante o Senhor (1.5, 11), e queimados, depois de serem partidos, no altar do holocausto, como oferta queimada de aroma agradável ao Senhor (1.9, 13, 17).
Note que a referência que se repete é que aqueles sacrifícios são apresentados diante de Deus e para Ele.
Por isso o altar do holocausto ficava à frente da porta do tabernáculo, de modo que todas as ofertas fossem apresentadas diante de Deus, cuja presença estava representada na arca da aliança, que se encontrava no interior do tabernáculo.
Os sacrifícios, o sangue dos sacrifícios, o aroma da queima da sua carne, não eram para serem vistos e sentidos pelos homens, mas por Deus.
O sacerdote era um mediador entre o ofertante e o Senhor, mas tanto a oferta quanto o ofertante estavam se apresentando não diante do homem, mas de Deus. Assim, o sacrifício de Jesus foi para satisfazer à justiça e à santidade do Pai, e não para ser visto pelos homens.
Ele se deu em oferta a Deus como propiciação pelos nossos pecados, mas o Seu sacrifício não foi propriamente para satisfazer o desejo dos pecadores, senão para o benefício deles.
Isto está ensinado claramente em figura no sistema sacrificial do Antigo Testamento.
Mas, nós temos outros ensinos em figura de que o sangue de Jesus deveria ser derramado para que fôssemos livrados da maldição da Lei, que exige a morte do pecador. Nós temos isto exemplificado no sangue do cordeiro que foi imolado no Egito nos dias de Moisés, e que foi passado nas ombreiras e vergas das portas de cada residência dos israelitas, para que fossem livrados por ocasião da passagem do anjo destruidor, enviado para matar todos os primogênitos, e que ao ver o sangue, se desviaria. Assim, o sacrifício de Jesus é antes de tudo um sinal para ser visto por Deus, de forma a que não sejamos destruídos, uma vez que nos encontramos sobre a sua cobertura.
É dito diretamente que o holocausto deveria ser apresentado perante o Senhor; e o ofertante deveria colocar a sua mão sobre a cabeça do sacrifício; para que fosse aceito em seu benefício, para a sua expiação.
Veja que seria a aceitação do sacrifício que beneficiaria o ofertante, de modo a expiar a sua culpa.
Se o sacrifício de Jesus não tivesse sido aceito pelo Pai, ninguém poderia ter a culpa de seus pecados expiada.
Este ato de expiação significa aos olhos de Deus o pagamento pela culpa de nossos pecados, conforme exigido pela lei, de modo que pudéssemos ser absolvidos desta culpa.
Então, pelo ato de remissão, isto é, deste pagamento, de cumprimento da pena exigida pela lei, o que acontece com a condenação que era prescrita por esta mesma pena da Lei no Antigo Testamento?
Ela é simplesmente removida em Cristo, para aqueles que têm os seus pecados expiados, por estarem unidos a Ele, na semelhança de Sua morte e ressurreição.
Por isso se ordenava que o ofertante impusesse a mão sobre a cabeça do sacrifício, indicando-se assim esta identificação na sua morte, como sendo a sua própria morte, pois era com a mão sobre a sua cabeça que a vítima inocente era imolada.
A nossa aceitação por Deus dependeu então da aceitação do sacrifício de Jesus, como sendo a nossa própria morte para a condenação da Lei, e para o pecado.
A nossa redenção e justificação são feitas por meio do sangue que Ele derramou, e é por sermos redimidos e justificados, que somos aceitos, porque não temos um Salvador que simplesmente apaga a culpa dos nossos pecados, como também remove os nossos pecados, apresentando-nos lavados de nossas iniquidades diante de Deus.
É para sermos santificados que Ele se santificou a Si mesmo, separando-se como oferta, para morrer em nosso lugar.
O propósito eterno de Deus, que está revelado desde o livro de Gênesis, onde é citado que Adão foi criado perfeito e sem pecado, é cumprido, portanto, por meio do sacrifício de Jesus em nosso favor, de modo que aquela santidade original possa ser resgatada e aplicada às vidas dos que têm sido remidos pelo Seu sangue.
A exigência de que a oferta fosse sem defeito é uma clara alusão a Jesus, pois somente Ele é perfeitamente santo e sem defeito. Assim, os sacrifícios cruentos apontam como figura para Ele.
Se o sacrifício fazia expiação a favor do ofertante (Lev 1.4), então teria que ser obrigatoriamente uma figura de Cristo, porque em nenhum animal ou mesmo em qualquer outra pessoa, poderia ser possível se fazer expiação pelo pecado, ainda mais pelo que se depreende das condições que Deus determinou para que o animal fosse imolado, isto é, com a imposição das mãos sobre a cabeça do holocausto, imolando-o em seguida perante o Senhor.
Esta imposição de mãos, como já dissemos antes, tinha a ver com a identificação com a morte da vítima, reconhecendo como sendo a sua própria morte, e a confissão de pecados sobre ela, de modo que estaria transferindo-lhe a culpa do seu pecado.
Ora, sabemos que não seria justo fazer-se uma expiação de culpa trocando um animal por um homem.
Então, o que temos aqui é uma figura.
E, também não seria justo trocar um pecador por outro pecador, porque aquele que tem a sua própria culpa, não poderia morrer pela culpa de um outro, pois já teria sobre si a sentença de morte.
Então não há qualquer sombra de dúvida que a figura aponta para Cristo, e somente para Ele, porque nenhum outro poderia se encaixar na descrição que é feita na Palavra de Deus (Hebreus 8.1-8).
Por isso se diz que o aroma da queima da carne do holocausto seria agradável a Deus, porque agradou ao Pai que o Filho fosse consumido inteiramente no seu altar de sofrimento, em favor dos nossos pecados.
O aroma era agradável a Deus não pelo cheiro da carne, porque aqui temos uma antropopatia, pois Deus não se alimenta de carne, mas o fato de a carne estar queimando no altar significava que o pecado do ofertante seria perdoado por causa daquele grande sacrifício que seria feito no futuro, e do qual aquele que estava apresentando era figura.
Pois com o corpo do sacrifício queimado também se queimava em figura, o pecado.
Dava-se também o testemunho de uma alma se reconciliando com Deus, convertendo-se a Ele, dizendo não ao pecado, entrando em inimizade com o diabo e em amizade com Deus, buscando a santidade que havia sido perdida no Éden, e dando assim cumprimento ao propósito do Senhor na criação do homem.
Se tudo isto seria possível por causa de o pecador ter entendido que deveria confiar no sacrifício para ser aceito por Deus, conforme Ele determinou, então não seria de se esperar menos de que Ele ficasse de fato agradado com o aroma da oferta que queimava sobre o altar, indicando a eficácia de expiação do pecado através da relação entre a oferta, o ofertante e a aceitação de Deus de ambos.
Como já dissemos antes, o sacrifício de Jesus agradou inteiramente ao Pai, pois satisfez plenamente à Sua justiça, e é em decorrência disto que somos aceitos por Deus como seus filhos amados.
Outro fato que aponta para a verdade de que o sacrifício tipificava a Cristo e somente a Ele, reside em que os novilhos, cordeiros, cabritos, rolas e pombos, representam animais inofensivos, inocentes e mansos, e portanto apontavam para as virtudes que estão em Cristo.
Não se fala na lei de ser aceitável sacrifício de animais considerados imundos pela lei, peçonhentos, selvagens e com características que não apontassem para a benignidade e mansidão de nosso Senhor.
Assim, como vimos antes, é o sacrifício de Cristo que nos habilita a sermos agradáveis a Deus, de modo que uma vez sendo justificados do pecado, e sendo regenerados pelo Espírito, possamos ser reconciliados com Ele, para receber graça para amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força, e para amar o próximo como a nós mesmos, pois isto excede a todos os holocaustos e sacrifícios que poderíamos apresentar para Deus (Mc 12.33), tanto que Jesus apresentou-se a si mesmo como sumo sacerdote ao Pai por nós, e também como sacrifício, uma única vez e para sempre, não deixando para nós senão o único dever de amar, assim como Ele nos amou.
Mas quando falamos da ira de Deus que permanece sobre aqueles que não creem em Jesus, segundo aquilo que lemos em várias passagens das Escrituras, como por exemplo em João 3.36, e que há a necessidade da propiciação feita pelo sangue de Jesus, que se apresentou como um sacrifício vicário pela oferta do seu corpo, isto não deve ser entendido que Deus é um ser completamente irado que deve ter a sua ira aplacada por meio de sacrifícios, conforme se pode pensar dos muitos sacrifícios que foram oferecidos nos dias do Antigo Testamento. Mesmo aqueles sacrifícios que eram figura do de Jesus, eram uma expressão do seu amor e favor pelos pecadores, de maneira a dar-lhes a condição de serem reconciliados a Ele, e pelo motivo de tê-los amado desde antes da fundação do mundo, tendo enviado Jesus a nós, para que pudéssemos ser resgatados e restaurados por Ele.
Pelo sacrifício seria feito o desagravo à santidade de Deus, e a Sua justiça seria satisfeita, mas não se pense que fosse o desagravo em si o único propósito da exigência do sacrifício, mas porque a santidade é o pressuposto mesmo para que se possa participar da unidade em comunhão amorosa da criatura com o Seu Criador. É por esse motivo que Jesus orou em João 17 para que todos os crentes fossem santificados na verdade, ou seja, na Palavra de Deus.
Deus criou a humanidade para ter muitos filhos semelhantes a Jesus Cristo, e através dos séculos este objetivo tem sido plenamente atingido por ele com os milhões de pessoas que já salvou e que continuará salvando até que se complete o número de todos aqueles que são chamados por Ele para a vida eterna.
O seu plano de restaurar todas as coisas em Jesus Cristo, está se aproximando rapidamente à sua conclusão final com a volta do Senhor.
Quem ousaria afirmar à luz de tudo o que já foi feito pela Trindade Divina, e que ainda estará sendo feito por toda a eternidade, que a santidade de Deus encontra-se manchada por causa do pecado? Não somente a maravilhosa obra que Jesus realizou, como tudo o que tem sido santificado por meio dEle, já desagravou todo o pecado que já existiu no mundo, que ainda exista ou venha a se manifestar no futuro.
Tudo será trazido à lume por Deus no Tribunal de Cristo, quando todos deverão prestar contas de tudo o que fizeram por meio do corpo, quer para o bem, quer para o mal.
Em nada a soberania e majestade do Senhor poderia ser frustrada pela criatura, conforme Jó bem se expressou a respeito disso dizendo que chegou ao conhecimento de que Deus tudo pode e nenhum dos Seus planos pode ser frustrado, ou seja, o que Ele planejou fazer será plenamente cumprido, e Ele é poderoso para fazer com que todas as coisas contribuam para o bem daqueles que o amam.
Esta é a razão pela qual a salvação é segura e eterna para todo aquele que crê em Jesus, porque é pela fé que o justo viverá, e vencerá o mundo, assim como Jesus o venceu. Nada poderá separar o crente do amor de Deus que está em Cristo Jesus. E não há pecado pequeno ou grande (exceto a blasfêmia contra o Espírito Santo) que não possa ser perdoado por Ele, uma vez que a obra de expiação que consumou em sua morte e ressurreição é perfeita e completa quanto a satisfazer plenamente a exigência da justiça divina em relação ao pecador penitente. É disso que decorre a garantia da nossa salvação, ou seja, simplesmente por meio da fé nEle, e não por qualquer tipo de obras de nossa parte, conforme é expressado em várias passagens das Escrituras:
“1 Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado?
2 Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
3 Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?
4 Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na verdade, foram em vão.
5 Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?
6 É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça.
7 Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão.
8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos.
9 De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.
10 Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las.
11 E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
12 Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá.
13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro),
14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
15 Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa.
16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo.
17 E digo isto: uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa.
18 Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão.
19 Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador.
20 Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um.
21 É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei.
22 Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem.
23 Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se.
24 De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.
25 Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio.
26 Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus;
27 porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.
28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.
29 E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gálatas 3)
Observe que o apóstolo apresenta uma visão geral do plano de Deus desde o princípio, recuando até a Abraão, a quem foi feita promessa de serem abençoadas pessoas de todas as nações da terra, através do descendente de Abraão (Jesus), e o cumprimento desta promessa se referia ao Espírito Santo que seria derramado sobre todo aquele que viesse a crer em Cristo e se unir a ele em espírito. Estes seriam regenerados e o Espírito iniciaria neles o trabalho de santificação visando à sua restauração completa, conforme foi planejado por Deus Pai desde o princípio.
Na verdade, quando Deus disse a Satanás que no futuro viria um descendente da mulher que esmagaria a sua cabeça, ou seja, que destruiria as suas obras malignas na criação, e isto apontava certamente para Jesus Cristo, quando despojou os principados e potestades malignos e os expôs ao desprezo por sua morte na cruz.
Veja as palavras triunfantes de Jesus próximo da hora de ser crucificado, quando orou ao Pai:
“4 Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer;
5 e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” (João 17.4,5)
Ele veio ao mundo para nos resgatar, vivendo entre nós, e em meio a todas as circunstâncias que teve que viver obedientemente ao Pai desde o seu nascimento até à Sua ascensão ao céu depois da Sua ressurreição.
Tudo o que Ele fez visava exclusivamente à glória do Pai, e efetivamente o fizera em todos os seus atos enquanto esteve em corpo aqui embaixo.
O Pai foi honrado por sua humanidade, que tudo venceu, inclusive a todas as investidas do diabo e dos homens ímpios. Adão foi derrotado estando em pleno vigor, mas Jesus venceu as tentações de Satanás no deserto, depois de ter jejuado por 40 dias e noites, estando em extrema fraqueza. Ele nunca pecou em pensamentos, palavras, ações e omissões. Era o Cordeiro perfeito pelo qual o pecado seria tirado do mundo. O pecado seria condenado em sua carne por ocasião da morte na cruz, e o Seu sangue que seria derramado seria o meio da nossa expiação, pelo valor que tributamos a ele por meio da fé.
Quantas realidades maravilhosas estão envolvidas nesta obra de restauração de todas as coisas que está sendo empreendida com base na obra de Jesus. E tudo isto em meio a circunstâncias práticas e reais de nossas vidas, havendo muitos embates que somos levados a experimentar, assim como o próprio apóstolo Paulo, que a isto se referiu como temores por dentro e lutas por fora. O Cristianismo é um combate permanente contra o pecado, o diabo e o mundo de trevas, e não há tréguas nesta luta, nenhum espaço para estados de nirvana ou estoicismo. Nossas aflições são reais, assim como nossas dores e sofrimentos por amor a Cristo, mas de todas as nossas tribulações somos livrados segundo a assistência que a graça de Deus nos dá. E nisto, Deus também é glorificado no Filho, que é por meio de quem alcançamos todas estas vitórias espirituais.
Nossas melhores obras não poderiam satisfazer à justiça de Deus, nem mesmo o nosso arrependimento, como alguém se expressou muito apropriadamente quanto a isto:
“O arrependimento é uma condição de perdão, não uma satisfação da justiça Divina; isto às vezes move a bondade Divina para afastar o julgamento, mas não é nenhuma compensação à justiça Divina. Não há aquele bem no arrependimento quanto há o mal no pecado de que se arrepende, e a satisfação deve ter algo de equidade, tanto da injúria e da pessoa desonrada; a satisfação que é suficiente para uma pessoa particularmente errada não é suficiente para um príncipe justamente ofendido; pois a grandeza do mal remonta à dignidade da pessoa. Ninguém pode ser maior do que Deus, e, portanto, nenhuma ofensa pode ser tão maligna como as ofensas contra Deus; e poderiam algumas lágrimas ser suficientes aos pensamentos de alguém para lavá-los? O mal cometido contra Deus pelo pecado é de um nível mais elevado do que a ser compensado por meio de quaisquer boas obras da criatura; embora sejam da mais grandiosa elevação.
O arrependimento de qualquer alma é tão perfeito a ponto de ser capaz de responder à punição à justiça de Deus exigida na Lei?
E se a graça de Deus nos ajudasse em nosso arrependimento? Não pode ser concluído a partir disso, que o nosso perdão é formalmente adquirido pelo arrependimento, mas que somos dispostos por ele a receber e valorizar um perdão. Não é congruente com a sabedoria e justiça de Deus a concessão de perdões a obstinados rebeldes. O arrependimento não é em nenhum lugar citado como expiatório do pecado; um coração quebrantado é chamado de um sacrifício (Salmos 51:17), mas não é um propiciatório. O pecado de Davi foi expiado antes que ele escrevesse esse Salmo (2 Samuel 12:13). Embora um homem possa chorar muitas lágrimas como as gotas de água contidas no oceano, enviar o maior número de rajadas de orações como se houvesse gemidos emitidos de cada criatura desde a fundação do mundo; embora ele fosse capaz de sangrar tantas gotas de seu coração como se tivessem sido derramadas de veias de sacrifícios de animais, tanto na Judeia e de todas as partes do mundo; embora ele fosse capaz, e verdadeiramente aplicasse à caridade todos os metais das minas do Peru; ainda assim isto não poderia absolvê-lo da menor culpa, nem limpá-lo da menor impureza, nem conceder o perdão do menor crime por meio de qualquer valor intrínseco nos atos em si mesmos; os próprios atos bem como as pessoas podem falhar sob a censura da justiça ardente. Somente a morte de Cristo nos concede a vida. Somente o sangue de Cristo sacia aquele justo fogo que o pecado acendeu no coração de Deus contra nós. Indicar qualquer outro meio de apaziguamento de Deus, além da morte de Cristo, é fazer com que a cruz de Cristo não tenha nenhum efeito. Nós devemos aprender isso a partir de “não convinha que o Cristo padecesse?”
Somente Jesus poderia ser uma satisfação para a justiça de Deus, pois a honra de Deus requer também o contentamento de Sua justiça, e ninguém além de Jesus poderia dar tal honra perfeita a Deus e à Sua Lei, por uma perfeita obediência.
Por isso Deus Pai confere ao Filho uma honra elevada que não é concedida a nenhum outro, dando-lhe um nome que é sobre todo nome, pois nenhum outro poderia honrá-lo na mesma proporção e dignidade com que o Filho o tem honrado.
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