“Como suspira a corça pelas correntes das águas,
assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do
Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? As minhas lágrimas
têm sido o meu alimento dia e noite, enquanto me dizem continuamente: O teu
Deus, onde está? Lembro-me destas coisas
- e dentro de mim se me derrama a alma - de como passava eu com a multidão de
povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor,
multidão em festa. Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas
dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus
meu. Sinto abatida dentro de mim a minha alma; lembro-me, portanto, de ti, nas
terras do Jordão, e no monte Hermom, e no outeiro de Mizar. Um abismo chama
outro abismo, ao fragor das tuas catadupas; todas as tuas ondas e vagas
passaram sobre mim. Contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua
misericórdia, e à noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha
vida. Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de
andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus
adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que
estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em
Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”
Comentário:
Este salmo mistura as alegrias das
visitações da presença de Deus com as tristezas produzidas pelas perseguições e
injúrias que sofremos neste mundo, por causa do nosso amor a Ele.
Esta, é na verdade, a experiência de
todos os que andam de fato na presença de Deus.
Somente andando com Deus se pode
entender porque o salmista declara ao mesmo tempo que “todas as tuas ondas e
vagas passaram sobre mim” referindo-se às provações e tribulações, e logo após
diz: “contudo, o SENHOR, durante o dia, me concede a sua misericórdia, e à
noite comigo está o seu cântico, uma oração ao Deus da minha vida”; e ainda,
imediatamente depois: “Digo a Deus, minha rocha: por que te esqueceste de mim?
Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos? Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus
adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está? Por que
estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim?”, e
finalmente, logo depois disto, numa forte e firme expressão de fé: “Espera em
Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu.”
Sem comunhão com Deus não se pode
entender isto, porque sua bênção não significa ausência de tribulações.
Ao contrário, importa que todo aquele
que crê em Cristo e que anda em Sua pegadas, entre no reino de Deus por meio de
muitas tribulações, conforme afirma o apóstolo Paulo, porque é com elas que a
alma é quebrantada, o ego é crucificado, a vida transformada à semelhança à de
Cristo, para que se possa experimentar as doces consolações da presença do
Senhor, que são tão vividamente expressadas neste salmo, e quão preciosas são estas
visitações de Deus, que não as trocaríamos por nenhuma riqueza deste mundo, nem
mesmo por todas elas.
Por isso o salmista declara no início
deste salmo que havia em sua alma um suspiro para encontrar ao Senhor, da mesma
forma que a corça sedenta procura pelas correntes das águas.
Porque a sua sede é do Deus vivo, e não
propriamente das bênçãos que Ele possa
lhe dar, porque nem mesmo estas podem saciar a sede da alma, senão somente a
Sua própria presença.
A alma não acha descanso ou sossego
quando o Senhor não manifesta a Sua presença nela.
Deste modo, o salmista sente saudades
dos momentos de alegria espiritual na comunhão dos santos, quando se dirigiam
para louvar ao Senhor na Sua casa.
Contudo, ele repreendia as tristezas da
sua alma pela ausência do Senhor, porque tinha a convicção de que haveria de
estar de novo na Sua presença, porque Ele não tem prazer em se manter ausente
daqueles que O buscam e O amam com um coração sincero, com fome e sede de
justiça, porque tem prazer em saciar aos tais, conforme tem prometido
fazer.
Muito abençoada com o salmo e a explicaçaõ
ResponderExcluirExcelentes comentarios que, com certeza abriram a minha mente para entender mrmelh os sentimentos contraditórios do Salmista.
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