O
livro de Deuteronômio é um conjunto de sermões proferidos por Moisés aos
israelitas no último ano de sua vida.
São,
portanto recordações, palavras de exortação e advertência, profecias e prescrições
das últimas ordenanças do Senhor para Israel, pouco antes da partida de Moisés
para a glória celestial.
O
primeiro sermão começa foi proferido no primeiro dia do décimo primeiro mês do
quadragésimo ano (Deut 1.3), quando Israel estava
acampado na terra de Moabe (Deut 1.5), e se estende até o
final do quarto capítulo do livro.
No
primeiro capítulo passa em revista de forma resumida os eventos havidos desde a
chegada dos israelitas em Cades-Barneia, de
onde foram enviados os doze homens para espiar a terra de Canaã; a
nomeação de auxiliares para ajudarem Moisés; a
incredulidade do povo com o relatório pessimista de dez daqueles doze espias; o
castigo de Deus relativo àquela incredulidade; e a
derrota do povo em Hormá, por causa do seu pecado de presunção, de
guerrear sem a aprovação do Senhor (quantas vezes na vida
cristã, somos provados quanto a este pecado de presunção, porque há momentos em
que devemos somente esperar em Deus, e não insistir em atuar em assuntos
específicos, quanto aos quais percebemos que há uma direção do Espírito Santo
para ficarmos parados ou recuarmos. Nessas situações, atuar será desobediência,
e por conseguinte, derrota, por maiores e melhores que sejam nossas intenções e
a aparente urgência do caso.)
Uma nova geração de israelitas estava prestes
a entrar em Canaã, e teria que guerrear contra os cananeus, e então são
pregados estes sermões por Moisés e é ordenado o seu registro para testemunho
de todas as gerações de israelitas, que viveriam em Canaã, acerca da vontade
específica de Deus.
Não é
um discurso sobre estratégias militares de guerra, mas a descrição do seu dever
para com Deus, porque se mantivessem debaixo do Seu temor e favor, Ele lhes
afiançaria a conquista da terra.
No
caso de Israel, a sua força não repousaria no seu poderio militar, mas na força
do Espírito Santo.
No
caso da Igreja de Cristo é também o Espírito Santo a nossa força; e a arma
(espada) do nosso exército é a Palavra
de Deus, tanto quanto era para Israel.
A jornada de 40 anos no deserto foi uma espécie
de cativeiro para Israel, pelo impedimento de viver em liberdade em sua própria
terra.
Ainda
que não fossem tributários de nenhum outro reino visível, estavam sendo
tributários da sua própria incredulidade, até que se formasse entre eles uma
nova geração de israelitas, que sairia daquele cativeiro espiritual, para
experimentar a liberdade prometida para aqueles que confiam em Deus.
Todavia,
para aqueles que pertencem ao verdadeiro Israel de Deus, não há cativeiro que
dure para sempre, assim como o cativeiro babilônico durou setenta anos depois
dos dias dos reis de Israel, como ilustração de que aqueles que são do Senhor
não podem mais ser retidos pelo cativeiro da corrupção e da morte, porque são
livres, por meio da fé em Jesus Cristo, e já não podem mais ser retidos pelas
cadeias do pecado, da morte e do inferno.
Nos
versos 6-8 é descrita a ordem que foi dada por Deus aos israelitas, depois de
terem construído e erigido o tabernáculo, para que deixassem o monte Sinai rumo
à terra de Canaã.
Deste
modo, são lembrados por Deus, através de Moisés, que estavam debaixo do governo
de homens especialmente escolhidos, que
lhes vinham governando e julgando com sabedoria e justiça, sob a liderança
geral de Moisés, porque conquistariam a terra prometida, e estes líderes e
juízes os governariam e julgariam, respectivamente, em Canaã (Deut
1.9-18).
No
verso 15 Moisés declara qual foi o critério principal que norteou a escolha
daqueles líderes: homens sábios e experimentados que foram colocados por chefes
de milhares, de cem, de cinquenta, de dez e oficiais.
Eram
sábios especialmente nas coisas relativas ao conhecimento de Deus e da Sua
vontade, e experimentados quanto ao seu caráter provado e aprovado.
Não
menos se requer dos oficiais da Igreja de Cristo, que devem ser homens cheios
do Espírito e de sabedoria (At 6.3), homens que devem ser primeiro
experimentados para que seja observado que são irrepreensíveis (I Tim 3.10),
que governem bem a sua própria casa e que criem os filhos sob disciplina com todo
respeito (I Tim 3.4), homens temperantes, sóbrios, modestos, hospitaleiros,
aptos para ensinar (I Tim 3.2) dentre todas as demais qualificações exigidas
para o ministério.
Não
foram, portanto escolhidos por Moisés homens que fossem hábeis políticos, mas
homens de caráter comprovado e reconhecidamente sábios nas coisas de Deus, que
seriam fiéis à confiança neles depositada, para conduzirem o povo do Senhor
consoante a Sua santa vontade.
Daí o
conselho de Paulo a Timóteo e Tito, quanto à escolha de líderes e mestres para
as Igrejas:
“O
que de minha parte ouviste, através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite
a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” (II Tim 2.2).
Quanto
ao esforço necessário para se manter na condição exigida por Deus para a
liderança do seu povo, aconselhou-o ainda a se “aplicar
à leitura, à exortação, ao ensino” (I Tim 4.13).
Isto
nos faz ver que o obreiro aprovado é formado mediante diligência na aplicação
nos deveres ordenados por Deus.
Especialmente,
porque ainda que os ministros sejam escolhidos e ordenados pelos homens, a Sua
chamada foi originada no céu.
Não
foi propriamente o homem quem os chamou, mas o Senhor.
Nos
versos finais deste primeiro capítulo de Deuteronômio (19 a 46) são narrados
eventos relacionados à incredulidade de Cades, que culminaram com a proibição
daquela geração de israelitas de entrar em Canaã.
Em Deut
1.22,23, vemos que a ordem expedida por Deus a Moisés, para que fossem
enviados, um líder de cada tribo para espiar Canaã em Núm 13.1,2, foi na
verdade um consentimento ao pedido que os próprios israelitas fizeram neste
sentido.
Moisés,
antes disso, quando os israelitas chegaram em Cades-Barneia,
lhes deu a Palavra de ordem de Deus que subissem e conquistassem a terra (Dt
1.20,21), mas não confiaram o suficiente
para simplesmente obedecerem à ordem divina e procuraram se cercar de
garantias.
Desta
forma, a política humana se interpôs à sabedoria divina e deu o resultado que
já conhecemos.
Estratégias
políticas funcionam para o mundo, mas não para a Igreja de Deus.
Como
os israelitas não estavam seguros de que Deus iria adiante deles, pediram que
fossem enviados primeiro alguns espiões, para que vissem qual seria o risco de
obedecerem ao Senhor.
Abraão
deixou a sua terra natal pela fé e peregrinou numa terra estranha, que lhe foi
mostrada por Deus.
Fé é
isto.
É
partir e agir, sem primeiro consultar a carne e o sangue para saber o quanto se
poderá perder ou ganhar em obedecer àquilo que foi determinado pelo Senhor.
Se há
Sua palavra de ordem num determinado sentido não devemos avaliar as vantagens e
desvantagens daquela e de outras direções.
Devemos
simplesmente obedecer à direção que Ele nos deu e ponto final.
Esse
é o único caminho para o sucesso e para a vitória na obra do Senhor.
Se
conhecêssemos de antemão todo o grau de riscos e dificuldades do empreendimento
no qual nos enveredamos, pelo mandado de Deus, é bem provável que não nos
dispuséssemos a iniciá-lo.
Desta
forma, em Sua infinita sabedoria, nem a todos tem revelado tudo quanto terão
que enfrentar em sua luta contra a carne, o diabo e o mundo de
trevas.
O
Senhor os conduzirá em triunfo, em meio às batalhas que terão que empreender,
fazendo com que a cada dia baste o seu próprio mal, para que nenhum dos seus
servos seja esmagado debaixo da pressão de ansiedades, que possam asfixiar a
sua fé, antes mesmo de iniciarem as batalhas em que terão que se empenhar em
Seu serviço.
Deste
modo, o expediente de enviar espias e fosse qual fosse o seu relatório, não
teria o poder de invalidar a ordem original de Deus de entrarem na terra e
conquistá-la.
Contudo,
não pensavam desta forma, e então, Moisés destaca no verso 26 que não quiseram
subir e foram rebeldes à ordem do Senhor.
Em
vez de confiarem nEle, murmuraram e chegaram a dizer até mesmo que Deus lhes
tinha ódio (v. 27), porque na sua perspectiva, lhes havia tirado do Egito para
entregá-los nas mãos dos amorreus para serem destruídos.
Qualquer
cristão em suas tribulações pode ser tentado a fazer o
mesmo juízo errado acerca do desígnio de Deus, tal como eles fizeram.
Podem
pensar que suas provações são maiores do que a providência e os livramentos do
Senhor em seu favor.
Podem
pensar que Satanás está tendo da parte de Deus, mais liberdade do que deveria
ter, em se apoderar das almas que cabia a eles libertarem pelo poder do
evangelho e da graça do Senhor.
Não
foi propriamente a nova geração à qual Moisés estava se dirigindo que havia se
rebelado há quarenta anos atrás, mas narra aquela incredulidade havida no passado,
porque estava falando à nação de Israel, e ainda que não viessem a responder em
juízo pela incredulidade de seus pais, carregavam ainda sobre eles o opróbrio
relativo à sua incredulidade, e Moisés estava relatando as coisas que haviam
sido feitas pela nação de Israel, e que deveriam servir de advertência para
eles, para que não incorressem no mesmo erro de seus pais.
No
verso 36 se distingue a fé de Calebe e a sua perseverança em seguir ao Senhor,
como o motivo de não ter sido submetido ao juízo de não entrar em Canaã,
juntamente com os israelitas incrédulos.
Cabe
destacar que o Senhor afirma que aqueles que perseverarem até o fim é que serão
salvos.
Aqueles
que são verdadeiramente da fé têm esta evidência: perseveram em seguir ao Senhor tal como
Calebe, e não recuarão jamais diante das circunstâncias adversas, porque uma fé
autêntica vence as tribulações e persevera.
Desta
forma, a perseverança não é a causa da salvação, que é unicamente pela graça
mediante a fé, mas é a sua melhor evidência.
“1
Estas são as palavras que Moisés falou a todo Israel além do Jordão, no
deserto, na Arabá defronte de Sufe, entre Parã, Tofel, Labã, Hazerote e
Di-Zaabe.
2 São
onze dias de viagem desde Horebe, pelo caminho da montanha de Seir, até
Cades-Barneia.
3 No
ano quadragésimo, no mês undécimo, no primeiro dia do mês, Moisés falou aos
filhos de Israel, conforme tudo o que o senhor lhes mandara por seu intermédio,
4
depois que derrotou a Siom, rei dos amorreus, que habitava em Hesbom, e a Ogue,
rei de Basã, que habitava em Astarote, em Edrei.
5
Além do Jordão, na terra de Moabe, Moisés se pôs a explicar esta lei, e disse:
6 O
Senhor nosso Deus nos falou em Horebe, dizendo: Assaz vos haveis demorado neste
monte.
7
Voltai-vos, ponde-vos a caminho, e ide à região montanhosa dos amorreus, e a
todos os lugares vizinhos, na Arabá, na região montanhosa, no vale e no sul; à
beira do mar, à terra dos cananeus, e ao Líbano, até o grande rio, o rio
Eufrates.
8 Eis
que tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possuí a terra que o Senhor
prometeu com juramento dar a vossos pais, Abraão, Isaque, e Jacó, a eles e à
sua descendência depois deles.
9
Nesse mesmo tempo eu vos disse: Eu sozinho não posso levar-vos,
10 o
Senhor vosso Deus já vos tem multiplicado, e eis que hoje sois tão numerosos
como as estrelas do céu.
11 O
Senhor Deus de vossos pais vos faça mil vezes mais numerosos do que sois; e vos
abençoe, como vos prometeu.
12
Como posso eu sozinho suportar o vosso peso, as vossas cargas e as vossas
contendas?
13
Tomai-vos homens sábios, entendidos e experimentados, segundo as vossas tribos,
e eu os porei como cabeças sobre vós.
14
Então me respondestes: bom fazermos o que disseste.
15
Tomei, pois, os cabeças de vossas tribos, homens sábios e experimentados, e os
constituí por cabeças sobre vós, chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta
e chefes de dez, por oficiais, segundo as vossas tribos.
16 E
no mesmo tempo ordenei a vossos juízes, dizendo: Ouvi as causas entre vossos
irmãos, e julgai com justiça entre o homem e seu irmão, ou o estrangeiro que
está com ele.
17
Não fareis acepção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o
grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que
vos for difícil demais, a trareis a mim, e eu a ouvirei.
18
Assim naquele tempo vos ordenei todas as coisas que devíeis fazer.
19
Então partimos de Horebe, e caminhamos por todo aquele grande e terrível
deserto que vistes, pelo caminho das montanhas dos amorreus, como o Senhor
nosso Deus nos ordenara; e chegamos a Cades-Barneia.
20
Então eu vos disse: Chegados sois às montanhas dos amorreus, que o Senhor nosso
Deus nos dá.
21
Eis aqui o Senhor teu Deus tem posto esta terra diante de ti; sobe, apodera-te
dela, como te falou o Senhor Deus de teus pais; não temas, e não te assustes.
22
Então todos vós vos chegastes a mim, e dissestes: Mandemos homens adiante de
nós, para que nos espiem a terra e, de volta, nos ensinem o caminho pelo qual
devemos subir, e as cidades a que devemos ir.
23
Isto me pareceu bem; de modo que dentre vós tomei doze homens, de cada tribo um
homem;
24
foram-se eles e, subindo as montanhas, chegaram até o vale de Escol e espiaram
a terra.
25
Tomaram do fruto da terra nas mãos, e no-lo trouxeram; e nos informaram,
dizendo: Boa é a terra que nos dá o Senhor nosso Deus.
26
Todavia, vós não quisestes subir, mas fostes rebeldes ao mandado do Senhor
nosso Deus;
27 e
murmurastes nas vossas tendas, e dissestes: Porquanto o Senhor nos odeia,
tirou-nos da terra do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus, a fim de
nos destruir.
28
Para onde estamos nós subindo? nossos irmãos fizeram com que se derretesse o
nosso coração, dizendo: Maior e mais alto é o povo do que nós; as cidades são
grandes e fortificadas até o céu; e também vimos ali os filhos dos anaquins.
29
Então eu vos disse: Não vos atemorizeis, e não tenhais medo deles.
30 O
Senhor vosso Deus, que vai adiante de vós, ele pelejará por vós, conforme tudo
o que tem feito por vós diante dos vossos olhos, no Egito,
31
como também no deserto, onde vistes como o Senhor vosso Deus vos levou, como um
homem leva seu filho, por todo o caminho que andastes, até chegardes a este
lugar.
32
Mas nem ainda assim confiastes no Senhor vosso Deus,
33
que ia adiante de vós no caminho, de noite no fogo e de dia na nuvem, para vos
achar o lugar onde devíeis acampar, e para vos mostrar o caminho por onde
havíeis de andar.
34
Ouvindo, pois, o Senhor a voz das vossas palavras, indignou-se e jurou,
dizendo:
35
Nenhum dos homens desta geração perversa verá a boa terra que prometi com
juramento dar a vossos pais,
36
salvo Calebe, filho de Jefoné; ele a verá, e a terra que pisou darei a ele e a
seus filhos, porquanto perseverou em seguir ao Senhor.
37
Também contra mim o Senhor se indignou por vossa causa, dizendo: Igualmente tu
lá não entrarás.
38
Josué, filho de Num, que te serve, ele ali entrará; anima-o, porque ele fará
que Israel a receba por herança.
39 E
vossos pequeninos, dos quais dissestes que seriam por presa, e vossos filhos
que hoje não conhecem nem o bem nem o mal, esses lá entrarão, a eles a darei e
eles a possuirão.
40
Quanto a vós, porém, virai-vos, e parti para o deserto, pelo caminho do Mar
Vermelho.
41
Então respondestes, e me dissestes: Pecamos contra o Senhor; subiremos e
pelejaremos, conforme tudo o que nos ordenou o Senhor nosso Deus. Vós, pois,
vos armastes, cada um, dos vossos instrumentos de guerra, e temerariamente
propusestes subir a montanha.
42 E
disse-me o Senhor: Dize-lhes: Não subais nem pelejeis, pois não estou no meio
de vós; para que não sejais feridos diante de vossos inimigos.
43
Assim vos falei, mas não ouvistes; antes fostes rebeldes à ordem do Senhor e,
agindo presunçosamente, subistes à montanha.
44 E
os amorreus, que habitavam naquela montanha, vos saíram ao encontro e, perseguindo-vos
como fazem as abelhas, vos destroçaram desde Seir até Horma.
45
Voltastes, pois, e chorastes perante o Senhor; mas o Senhor não ouviu a vossa
voz, nem para vós inclinou os ouvidos.
46
Assim foi grande a vossa demora em Cades, pois ali vos demorastes muitos
dias.” (Dt 1.1-46).
Nenhum comentário:
Postar um comentário