Quando lemos o testemunho de Davi acerca
das suas muitas tribulações, tais como temos o de Paulo, registrado no Novo
Testamento, perguntamo-nos qual era o segredo de ambos para estarem em
permanente comunhão com o Senhor, apesar das muitas aflições que sofreram,
especialmente da parte de pessoas ligadas ao ministério de ambos, e que lhes
eram muito estimadas.
O coração desfalece e a alma se abate
quando estamos diante do sofrimento de pessoas amadas.
Ainda mais quando nossa alma está ligada
à de tais pessoas, tal como a alma de Jacó estava ligada à de Raquel, José e
Benjamim.
Quando enfermidades, que são para a
morte, atingem estes amados, parece que a sentença de morte é maior em nós do
que neles, pela dor da separação previamente sentida.
A dor dos discípulos quando receberam de
Jesus a notícia de que Ele partiria e que os deixaria, foi algo insuportável,
porque Ele era todo perfeição, amor, bondade.
E neste, caso, é tão mais dura a perda,
quando as pessoas que nos abandonam se aproximam de tal caráter de nosso
Senhor.
Mas, no geral, não é este o caso. É a
luz destas reflexões que podemos entender melhor os sentimentos de Davi
expressados neste salmo.
É o lamento de uma alma justa suspirando
tal como Jesus e como o apóstolo Paulo, diante da iniquidade dos homens.
A condição da realidade do pecado que
opera na humanidade leva a alma do justo a se consagrar e a se voltar
inteiramente a Deus, e esperar pela Sua consolação, não raras vezes com as
dores dos muitos espinhos na carne, que nos foram lançados pelo diabo, contra
quem temos realmente de lutar, porque as pessoas nada mais são do que meros
instrumentos em suas mãos para afligirem os santos.
Davi diz que em paga do seu amor estava
sendo hostilizado pelas pessoas que amava.
As quais falavam dele com lábios
maldosos e fraudulentos, e mentirosos.
Derramavam palavras odiosas contra ele e
sem causa lhe faziam guerra.
E ele diz o que se limitava a fazer
nestas situações: orava.
Todo o bem que ele lhes havia feito foi
pago com o mal, e o amor com o ódio.
É assim que a humanidade em geral faz em
relação a nosso Senhor Jesus Cristo. É triste e lamentável, mas é verdade.
É possível que a pessoa que inspirou a
escrita deste Salmo tenha sido Aitofel.
Davi lançou sobre ele o mesmo anátema
que usava contra todos aqueles que se fazendo de seus amigos, buscavam na
verdade o seu mal e o da causa da justiça e da verdade.
Ele não ficava se remoendo em suas
dores, mas entregava o caso nas mãos de Deus, para que exercesse os Seus
Juízos, segundo a Sua justiça.
Davi não ficava a lamentar num canto por
esta condição quase reinante da iniqüidade nos corações das pessoas, e que se
manifesta em grande fúria contra aqueles que são devotados verdadeiramente a
Deus.
Na dispensação da graça, não devemos
usar as mesmas palavras amaldiçoadoras, porque aqui não nos é permitido pelo
Senhor amaldiçoar os nossos inimigos, mas devemos entregar-lhes em Suas mãos,
pela oração, porque é a Ele que compete julgar
com justiça, e devemos fazer isto sem
lhes desejar qualquer mal, senão o bem.
O que deve prevalecer é a atitude de
pedir ao Senhor que aja por nós, por amor do Seu nome, para que não seja
infamado, e que nos livre do mal, segundo a Sua grande misericórdia, tal como
fizera Davi, para que o nosso coração continue experimentando a paz do Senhor.
E ele declarou o motivo de estar fazendo
tal pedido a Deus: “Porque estou aflito e necessitado e, dentro de mim, sinto
ferido o coração. Vou passando, como a sombra que declina; sou atirado para
longe, como um gafanhoto. De tanto jejuar, os joelhos me vacilam, e de magreza
vai mirrando a minha carne. Tornei-me para eles objeto de opróbrio; quando me
vêem, meneiam a cabeça. Socorre, SENHOR, Deus meu! Salva-me segundo a tua
misericórdia. Para que saibam vir isso das tuas mãos; que tu, SENHOR, o
fizeste. Amaldiçoem eles, mas tu, abençoa; sejam confundidos os que contra mim
se levantam; alegre-se, porém, o teu servo. Cubram-se de ignomínia os meus
adversários, e a sua própria confusão os envolva como uma túnica. Muitas graças
darei ao SENHOR com os meus lábios; louva-lo-ei no meio da multidão; porque ele
se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe julgam a alma.”
“Ó Deus do meu louvor, não te cales! Pois contra mim
se desataram lábios maldosos e fraudulentos; com mentirosa língua falam contra
mim. Cercam-me com palavras odiosas e
sem causa me fazem guerra. Em paga do meu amor, me hostilizam; eu, porém,
oro. Pagaram-me o bem com o mal; o amor,
com ódio. Suscita contra ele um ímpio, e à sua direita esteja um acusador.
Quando o julgarem, seja condenado; e, tida como pecado, a sua oração. Os seus
dias sejam poucos, e tome outro o seu encargo. Fiquem órfãos os seus filhos, e
viúva, a sua esposa. Andem errantes os
seus filhos e mendiguem; e sejam expulsos das ruínas de suas casas. De tudo o
que tem, lance mão o usurário; do fruto do seu trabalho, esbulhem-no os
estranhos. Ninguém tenha misericórdia
dele, nem haja quem se compadeça dos seus órfãos. Desapareça a sua posteridade, e na seguinte
geração se extinga o seu nome. Na
lembrança do SENHOR, viva a iniquidade de seus pais, e não se apague o pecado
de sua mãe. Permaneçam ante os olhos do
SENHOR, para que faça desaparecer da terra a memória deles. Porquanto não se
lembrou de usar de misericórdia, mas perseguiu o aflito e o necessitado, como
também o quebrantado de coração, para os entregar à morte. Amou a maldição; ela
o apanhe; não quis a bênção; aparte-se dele. Vestiu-se de maldição como de uma
túnica: penetre, como água, no seu interior e nos seus ossos, como azeite.
Seja-lhe como a roupa que o cobre e como o cinto com que sempre se cinge. Tal
seja, da parte do SENHOR, o galardão dos meus contrários e dos que falam mal
contra a minha alma. Mas tu, SENHOR Deus, age por mim, por amor do teu nome;
livra-me, porque é grande a tua misericórdia. Porque estou aflito e necessitado
e, dentro de mim, sinto ferido o coração. Vou passando, como a sombra que
declina; sou atirado para longe, como um gafanhoto. De tanto jejuar, os joelhos
me vacilam, e de magreza vai mirrando a minha carne. Tornei-me para eles objeto
de opróbrio; quando me vêem, meneiam a cabeça. Socorre, SENHOR, Deus meu!
Salva-me segundo a tua misericórdia. Para que saibam vir isso das tuas mãos;
que tu, SENHOR, o fizeste. Amaldiçoem eles, mas tu, abençoa; sejam confundidos
os que contra mim se levantam; alegre-se, porém, o teu servo. Cubram-se de
ignomínia os meus adversários, e a sua própria confusão os envolva como uma
túnica. Muitas graças darei ao SENHOR com os meus lábios; louva-lo-ei no meio
da multidão; porque ele se põe à direita do pobre, para o livrar dos que lhe
julgam a alma.”
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