Este salmo revela de modo muito claro que apesar de Deus continuar
sendo bom para com aqueles cujos corações foram purificados pela fé nele, todavia,
é possível que haja no meio deles alguém que, como o salmista, possa ser achado
eventualmente não tão firmado na convicção desta bondade divina, de forma que
pode se sentir invejoso da prosperidade que têm muitos daqueles que não amam a
Deus, e que não são afligidos tanto quanto são os justos.
Este é um fato inegável, que tal prosperidade dos ímpios, produz
inveja e incomoda a muitos que não estão firmados na fé, e no Seu amor pelo
Senhor, por não terem aprendido a se gloriarem como Paulo em todas as
circunstâncias, até mesmo a sentir prazer nas injúrias, nas necessidades e nas
perseguições, por amor de Cristo.
No entanto, não há nenhum motivo para se invejar os arrogantes e
perversos, quanto à prosperidade mundana que eles possuem, e não pe necessário
atinar com o fim que eles terão no dia do Juízo, tal como ocorreu ao salmista
posteriormente, para que se possa ser livrado do sentimento invejoso em relação
a eles, porque, apesar de não serem afligidos como os demais homens, e terem
abundantes riquezas, fama e poder, no entanto são exatamente estas coisas nas
quais colocam a sua confiança, que se tornam num laço de perdição eterna para
eles, porque as idolatram, e estão tão apegados a elas, que se recusam a deixar
qualquer espaço em seus corações para se devotarem a Deus.
Deste modo, as coisas que possuem não lhes dão qualquer vantagem
diante dos demais homens, antes, os coloca em grande desvantagem, porque não
podem atinar com a condição de perigo espiritual tanto presente, quanto eterno,
na qual se encontram.
Eles são mais tentados que os demais a se tornarem presas da
soberba, em razão da sua grande prosperidade mundana.
E da soberba tendem a serem arrogantes e violentos, por causa do
falso sentimento de superioridade que sentem em relação às demais pessoas.
Não será nenhuma maravilha ou surpresa ver a falta de quase total
temor a Deus que têm tais pessoas, e isto pode ser visto pela sua conversação
maliciosa, e do seu falar altivo e opressivo.
Eles falam mal das coisas espirituais, celestiais e divinas,
porque julgam que isto é coisa para pobre e para pessoas sem personalidade ou
imaginação.
Como Deus não apressa o juízo sobre eles, por ser longânimo, chegam à conclusão que Deus não chega a tomar
conhecimento de seus projeto iníquos, mas serão apanhados repentinamente pelo
Seu juízo, quanto menos esperarem.
Como aumentam suas riquezas sem experimentar as tribulações dos
justos, são uma grande fonte de tentação para estes, tal como foram para o
salmista, que pensava que de nada lhe valeu conservar puro o coração e
permanecer na prática do bem.
Deus corrige diariamente a Seus filhos visitando-os com aflições,
mas os ímpios não são participantes destas correções porque não O amam e não
conhecem o seu caráter justo e santo.
Até ter uma melhor revelação sobre o destino eterno dos ímpios,
que é totalmente diferente do destino dos santos, o salmista achava uma tarefa
muito pesada o só refletir sobre as razões de Deus afligir os justos, e
permitir que os ímpios tenham uma prosperidade tranquila neste mundo.
Então o salmista reconhece finalmente que foi por causa da sua
ignorância e embrutecimento, que havia ficado com o coração amargurado e com as
entranhas abaladas.
Com isto, estava agindo de maneira irracional diante de Deus,
apesar de estar sempre em comunhão com Ele, se sentindo sustentado pela sua
destra.
Deus instrui Seus filhos até conduzi-los à glória do porvir, mas
os ímpios não têm qualquer participação nisto.
Deus crucifica o ego dos Seus filhos com as aflições,
especialmente para que possam ter uma maior participação da Sua santidade, e
por conseguinte uma maior comunicação e comunhão com Ele, conforme é do Seu
desejo.
Afinal é Ele próprio todo o motivo de alegria de Seus filhos na
terra, e a porção deles no céu.
O salmista havia aprendido finalmente esta grande lição de que não
importa que o nosso coração e a nossa carne desfaleçam por causa das aflições,
porque Deus é a fortaleza do nosso coração e herança eterna.
Quando somos fracos, então Ele tem a oportunidade de nos mover
segundo a Sua própria força e poder.
As tribulações sofridas com paciência têm esta faculdade de nos
aproximarem mais e mais de Deus, e nos tornar semelhantes a Ele quanto à
paciência, longanimidade e misericórdia.
“Com
efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo.
Quanto a
mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os
meus passos.
Pois eu
invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.
Para eles
não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio.
Não
partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens.
Daí, a
soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto.
Os olhos
saltam-lhes da gordura; do coração brotam-lhes fantasias.
Motejam e
falam maliciosamente; da opressão falam com altivez.
Contra os
céus desandam a boca, e a sua língua percorre a terra.
Por isso,
o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos
sorvos.
E diz:
Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?
Eis que
são estes os ímpios; e, sempre tranquilos, aumentam suas riquezas.
Com
efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência.
Pois de
contínuo sou afligido e cada manhã, castigado.
Se eu
pensara em falar tais palavras, já aí teria traído a geração de teus
filhos.
Em só
refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei
com o fim deles.
Tu
certamente os pões em lugares escorregadios e os fazes cair na destruição.
Como
ficam de súbito assolados, totalmente aniquilados de terror!
Como ao
sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, ao despertares, desprezarás a imagem
deles.
Quando o
coração se me amargou e as entranhas se me comoveram, eu estava embrutecido e
ignorante; era como um irracional à tua presença.
Todavia,
estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita.
Tu me
guias com o teu conselho e depois me recebes na glória.
Quem mais
tenho eu no céu?
Não há
outro em quem eu me compraza na terra.
Ainda que
a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a
minha herança para sempre.
Os que se
afastam de ti, eis que perecem; tu destróis todos os que são infiéis para
contigo.
Quanto a
mim, bom é estar junto a Deus; no SENHOR Deus ponho o meu refúgio, para
proclamar todos os seus feitos.”
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