O povo do Senhor deve ser muito cuidadoso quanto ao modo como anda na Sua
santa presença, porque, conforme no dizer de Tiago “qualquer que guardar toda a
lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.” (Tg 2.10).
E o apóstolo não está falando aqui de salvação, mas de santificação, de
consagração.
Israel não estava adorando Baal no templo do Senhor, como haviam feito os
seus antepassados.
Eles não estavam edificando altares para provocar o Senhor à ira. Mas,
como vemos no capítulo de Esdras, estavam casando com mulheres das demais
nações, transgredindo a Lei de Deus relativa ao matrimônio das pessoas do seu
povo, que não devem se colocar em julgo desigual com os incrédulos.
Não basta sermos zelosos a várias exigências, que são feitas a nós pelo
Senhor, em Seus mandamentos, mas a todas elas.
Jesus nos disse que o cristão que violasse o menor mandamento da Lei, e
assim o ensinasse aos homens seria considerado mínimo no reino dos céus. Ele mostra
que esta pessoa pode estar no reino, ser salva, mas desagradar inteiramente a
Deus, por transgredir um só e pequeno mandamento da Lei, ainda que tenha apreço
por todos os demais.
“Qualquer, pois, que violar um
destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será
chamado o menor no reino dos céus; (Mt 5.19a).
Quando nós entendemos espiritualmente qual é o verdadeiro apreço que Deus
tem pela Sua Palavra, e pela Sua completa seriedade em exigir que guardemos
todos os Seus mandamentos, é que podemos também entender porque Esdras reagiu
da maneira que reagiu, quando soube através dos príncipes de Judá que até mesmo
sacerdotes haviam se entregue à prática de casamentos mistos (v. 1,2), pois
Esdras rasgou a sua túnica e o seu manto, e arrancou os cabelos da sua cabeça e
barba, e ficou sentado atônito no templo (v. 3).
E a causa disto é declarada no verso 4, porque se juntaram à sua tristeza
pelo pecado do povo de Judá todos aqueles “que tremiam das palavras do Deus de
Israel”.
As ameaças da Antiga Aliança eram muito sérias para a transgressão dos
mandamentos da Lei, especialmente daquele que alguns judeus estavam
transgredindo.
Esdras e aqueles que se juntaram a ele, bem conheciam a Lei, e não
somente a conheciam, como tinham um verdadeiro temor do Senhor, quanto ao modo
como Ele vela sobre a Sua Palavra para a cumprir, seja para abençoar no caso de
obediência, seja para castigar e corrigir, no caso de desobediência.
Daí se dizer que este tipo de temor de Deus é o princípio da sabedoria,
porque através dEle evitaremos a todo custo fazer aquilo que Lhe seja
desagradável.
E Esdras tendo se levantado com suas vestes rasgadas, por ocasião da
apresentação do cordeiro, que era
oferecido como holocausto à tarde, ali junto ao altar do templo, colocou-se de
joelhos e orou ao Senhor com as mãos estendidas (v. 5), com as palavras
registradas nos versos 6 a 15, confessando o pecado do povo como fosse o seu
próprio pecado, porque estava identificado com eles tanto na condição de ser da
mesma família do Senhor, quanto de ministro designado para cuidar das suas
almas.
Um bom ministro do evangelho, instruído na vontade do Senhor, não se
justificará diante do pecado do povo que foi colocado pelo Espírito debaixo da
sua autoridade, e nem os condenará, antes chorará por causa do seu pecado,
confessará o pecado deles como se ele próprio tivesse pecado.
Vale lembrar que Esdras fizera isto sem ter tido tempo de conduzir aquele
povo.
Eles não se encontravam antes debaixo da sua liderança, mas lamentou profundamente quando soube do estado de coisas que estavam
ocorrendo entre eles.
Esdras afirmou a justiça de Deus em ter deixado que Israel ficasse
reduzido a um número de pessoas tão pequeno, por causa dos seus pecados, e por
esta mesma causa seriam dignos até mesmo de serem exterminados como Sodoma e
Gomorra, mas reconhecia que era pela exclusiva graça do Senhor que Ele estava
mantendo um remanescente em Israel (v. 8), e ele reconhece no final da sua
oração que eles estavam indesculpáveis diante do Senhor (v. 15), porque em face
de tão grande misericórdia não Lhe foram fiéis, mas ao contrário, continuavam
transgredindo os Seus mandamentos.
Deste modo, todo ministro fiel afirmará a justiça do Senhor em corrigir o
Seu povo, enquanto pede humildemente a Ele que seja misericordioso para com ele e para com o seu povo, porque sem
Ele, nada podemos fazer, e de nós mesmos, por causa da fraqueza da nossa carne,
somos dados a nos desviar da Sua presença.
Mas estes mesmos ministros fiéis
jamais justificarão o pecado, jamais serão condescendentes para com o pecado, e
tal como Esdras não desconsiderarão o pecado do seu povo, usando como desculpa
que afinal a carne é fraca, e que somos dados a nos desviar de Deus.
Ao contrário, trará esta realidade sempre diante de si e sempre alertará
o seu povo quanto à necessidade de vigiar e de orar incessantemente, de modo a
não se cair em tentações e ser vencido pelo mal.
Que a santificação da vida seja real e constante.
Que o compromisso com Deus seja sério.
Que o tremor da Sua Palavra seja sempre presente e permanente.
Se pecarem, confiarão no Advogado que têm junto ao Pai, mas terão
verdadeiro horror ao pecado e lembrarão que também lhes é imposto o dever de
não viverem pecando. A oração deles será:
“Não posso escondê-lo.... pequei... confesso o meu pecado ao Senhor, mas
sei que não devo pecar mais. Sei que o pecado poderá voltar a bater à minha
porta, mas estou bem certo de que não devo voltar a lhe dar acolhida.”.
Uma verdadeira santificação demanda esta convicção e determinação em
purificar o coração e de se viver de tal maneira que não se tenha que estar
pedindo perdão a toda hora a Deus por transgressões voluntárias dos Seus
mandamentos.
Afinal, os que estão se santificando constatarão que pelo poder do
Espírito Santo, e pelo seu crescimento na graça e no conhecimento de Jesus, a
natureza terrena, ou carne, ficará cada vez mais fraca, e a nova natureza,
recebida na regeneração, ficará cada vez mais forte, de modo que um cristão
espiritual não viverá pecando e nem debaixo do domínio do pecado, como costuma
ocorrer com aqueles que não estão santificando as suas vidas.
Eles saberão que a sua santificação não consiste em perfeição moral
absoluta, enquanto estiverem neste mundo, isto é, sem qualquer pecado, mas exatamente
nesta obediência à Palavra do Senhor pelo Espírito, sabendo que um coração puro
é aquele que sente repugnância pelos pecados que possa eventualmente cometer.
Quando se perde este sentido espiritual de repugnância pelo pecado, é
necessário pedir ao Senhor um coração puro, tal como fizera Davi no
passado.
“1 Ora, logo que essas coisas foram terminadas, vieram ter comigo os
príncipes, dizendo: O povo de Israel, e os sacerdotes, e os levitas, não se têm
separado dos povos destas terras, das abominações dos cananeus, dos heteus, dos
perizeus, dos jebuseus, dos amonitas, dos moabitas, dos egípcios e dos
amorreus;
2 pois tomaram das suas filhas para si e para seus filhos; de maneira que
a raça santa se tem misturado com os povos de outras terras; e até os oficiais
e magistrados foram os primeiros nesta transgressão.
3 Ouvindo eu isto, rasguei a minha túnica e o meu manto, e arranquei os
cabelos da minha cabeça e da minha barba, e me sentei atônito.
4 Então se ajuntaram a mim todos os que tremiam das palavras do Deus de
Israel por causa da transgressão dos do cativeiro; porém eu permaneci sentado
atônito até a oblação da tarde.
5 A hora da oblação da tarde levantei-me da minha humilhação, e com a
túnica e o manto rasgados, pus-me de joelhos, estendi as mãos ao Senhor meu
Deus,
6 e disse: Ó meu Deus! Estou confuso e envergonhado, para levantar o meu
rosto a ti, meu Deus; porque as nossas iniquidades se multiplicaram sobre a
nossa cabeça, e a nossa culpa tem crescido até o céu.
7 Desde os dias de nossos pais até o dia de hoje temos estado em grande
culpa, e por causa das nossas iniquidades fomos entregues, nós, os nossos reis
e os nossos sacerdotes, na mão dos reis das terras, à espada, ao cativeiro, à
rapina e à confusão do rosto, como hoje se vê.
8 Agora, por um pequeno momento se manifestou a graça da parte do Senhor,
nosso Deus, para nos deixar um restante que escape, e para nos dar estabilidade
no seu santo lugar, a fim de que o nosso Deus nos alumie os olhos, e nos dê um
pouco de refrigério em nossa escravidão;
9 pois somos escravos; contudo o nosso Deus não nos abandonou em nossa
escravidão, mas estendeu sobre nós a sua benevolência perante os reis da
Pérsia, para nos dar a vida, a fim de levantarmos a casa do nosso Deus e
repararmos as suas assolações, e para nos dar um abrigo em Judá e em Jerusalém.
10 Agora, ó nosso Deus, que diremos depois disto? Pois temos deixado os
teus mandamentos,
11 os quais ordenaste por intermédio de teus servos, os profetas,
dizendo: A terra em que estais entrando para a possuir, é uma terra imunda
pelas imundícias dos povos das terras, pelas abominações com que, na sua
corrupção, a encheram duma extremidade à outra.
12 Por isso não deis vossas filhas a seus filhos, e não tomeis suas
filhas para vossos filhos, nem procureis jamais a sua paz ou a sua
prosperidade; para que sejais fortes e comais o bem da terra, e a deixeis por
herança a vossos filhos para sempre.
13 E depois de tudo o que nos tem sucedido por causa das nossas más
obras, e da nossa grande culpa, ainda assim tu, ó nosso Deus, nos tens
castigado menos do que merecem as nossas iniquidades, e ainda nos deixaste este
remanescente;
14 tornaremos, pois, agora a violar os teus mandamentos, e a
aparentar-nos com os povos que cometem estas abominações? Não estarias tu indignado
contra nós até de todo nos consumires, de modo que não ficasse restante, nem
quem escapasse?
15 Ó Senhor Deus de Israel, justo és, pois ficamos qual um restante que
escapou, como hoje se vê. Eis que estamos diante de ti em nossa culpa; e, por
causa disto, ninguém há que possa subsistir na tua presença.” (Ed 9.1-15).
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