sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

EZEQUIEL 3


Talvez não haja capítulo que tenha servido à formulação de uma falsa doutrina sobre justificação na própria Igreja de Cristo, do que este, em conjunto com o que se afirma no capitulo 18, por causa da sua incorreta interpretação.
Antes de tudo, devemos ter em perspectiva permanentemente no estudo destas passagens, que Ezequiel fora enviado aos israelitas e a nenhum outro povo, conforme o próprio Deus afirma neste texto (v. 5 e 6).
E tão endurecidos eles estavam no pecado, especialmente de idolatria, que foram conduzidos ao cativeiro. Este endurecimento aqui referido pelo Senhor no livro de Ezequiel, pode ser visto em todos os seus detalhes e nuances no livro do profeta Jeremias. 
Então o próprio Ezequiel fora feito enrijecido (não quanto ao pecado, mas quanto à coragem e firmeza) pelo Senhor, para poder suportar a dureza dos israelitas, a qual ele teria que enfrentar.
Assim, os ímpios que deveriam ser admoestados pelo profeta, seriam os próprios israelitas, o próprio povo de Deus na Antiga Aliança, que apesar de estarem aliançados com Ele, em decorrência daquela aliança que foi feita com todos os descendentes de Jacó, a grande maioria deles não tinha o Seu temor e não O conhecia, apesar de ter se revelado a eles, e lhes escolhido, dentre todas as nações da terra, para ser o Seu povo particular.
E justamente eles haviam se endurecido totalmente contra Ele, aos quais se encontrava aliançado, tanto que o Senhor afirma que caso tivesse enviado Ezequiel a qualquer outra nação da terra, ele seria ouvido por eles, mas Israel se recusaria a ouvi-lo (v. 6).
Ezequiel não falaria por si mesmo, e nem mecanicamente sendo um mero repetidor de palavras que Deus lhe dissesse, mas o faria pelo testemunho do Espírito Santo que o tomara (v. 12 e 14), tendo as suas entranhas cheias da Palavra de Deus (v. 1 a 3), o efeito disso foi que ele pôde experimentar, conduzido pelo Espírito, e cheio da Palavra de Deus, a amargura e a indignação de Deus contra o pecado do Seu povo, em seu próprio espírito. E Ezequiel se sentiu inteiramente tomado pelo poder de Deus (v. 14).     
Logo, o que será dito por Deus adiante, depois de ter dado tal experiência ao profeta, não seriam conceitos teológicos sobre o modo da salvação da alma, especialmente do modo da justificação dos ímpios, mas um toque de trombeta poderoso nos ouvidos rebeldes da própria nação judaica que estava no cativeiro, para que nenhum deles viesse a ser destruído pelo juízo do Senhor, mesmo já se encontrando debaixo de um juízo que viera da Sua parte, de terem que viver numa terra estranha por setenta anos.
Aqueles que dessem ouvidos a Ezequiel preparariam um bom caminho diante do Senhor para o retorno de Babilônia, quando fossem libertados por Ciro, mas os que se endurecessem e permanecessem na prática da idolatria, receberiam os juízos descritos neste livro, em continuação a tudo que lhes havia sido sucedido, e conforme fora profetizado especialmente por Jeremias, com morte pela espada, pela peste e pela fome. 
Assim, Ezequiel foi conduzido pelo Espírito a viver no meio do povo que estava cativo, na região em que eles estavam morando junto ao rio Quebar, e ainda se encontrava pasmado no meio deles por causa das revelações que lhe haviam sido feitas (v. 15) e pela dureza da missão que ele teria que cumprir junto a eles. 
Passados os sete dias de pasmo, o Senhor tornou a falar a Ezequiel dizendo que lhe havia constituído por atalaia (vigia, sentinela) sobre os judeus, e como sentinela de Deus, seu dever seria alertá-los sobre tudo o que lhe dissesse, especialmente, quanto aos perigos que estavam correndo, por permanecerem na prática da impiedade.
Então Ezequiel seria posto no ofício profético para o próprio bem deles, assim como a sentinela que guarda a cidade para avisá-la do perigo da destruição que se aproxima, de maneira que seus habitantes possam se defender a tempo. 
Deus estava em guerra com os ímpios do Seu povo, mas lhes deu um sentinela para avisá-los, antes de submetê-los a um juízo de destruição (v. 17).
Então, para o cumprimento fiel da sua missão, Deus impôs a Ezequiel o jugo da responsabilidade de não deixar de avisar a todos os ímpios de Israel sobre a condição deles perante Ele, sob pena, de o Senhor demandar das próprias mãos do profeta, a destruição de morte que traria sobre tais rebeldes que não fossem avisados por Ezequiel.
Eles deveriam morrer pelos juízos do Senhor, mas era da vontade do Senhor que lhes fosse dada antes a oportunidade para se arrependerem, de modo que desviaria tal juízo daqueles que se arrependessem.
O mesmo sucede com o evangelho na dispensação da graça, porque tem sido imposto aos cristãos o dever de serem os atalaias de Deus em todo o mundo, de forma, que aqueles que não têm desempenhado a sua função de protestarem contra o pecado, e alertarem as pessoas sobre o juízo que lhes aguarda, caso não se arrependam de seus pecados e creiam em Cristo, elas serão condenadas, mas o Senhor requererá dos cristãos negligentes o sangue delas, ou seja a condenação a um juízo de morte eterna aos quais teve que submetê-las por não conhecerem o terrível juízo que lhes aguardava por causa do pecado não perdoado.   
Por isso o apóstolo Paulo se esforçava sobremaneira para que não fosse achado culpado de tal pecado de  negligência.
“26 Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos.
27 Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus.” (Atos 20.26,27)
Não se está falando portanto de condenação eterna do atalaia infiel, nem mesmo de salvação pelas obras da lei.
Porque a grande ênfase do Senhor no proferimento desta palavra dada a Ezequiel recaía sobretudo no livramento da morte física, em razão de aplicação de maldições previstas na Antiga Aliança, sobre o povo daquela aliança, a saber, os judeus.   
 Então, não seria pelo simples fato de Ezequiel proclamar a Palavra do Senhor aos judeus, que todos eles se converteriam a Ele, mas todos seriam avisados sobre o que lhes sucederia caso não se arrependessem. 
É importante lembrar que o justo citado no verso 20, não é o justificado pela fé, mas o justo da Antiga Aliança que guardava os mandamentos de Deus.
Caso tal judeu deixasse de praticar a justiça e começasse a praticar a iniquidade, então o Senhor colocaria diante dele um tropeço, que era uma das maldições da Antiga Aliança, e mataria o tal judeu que deixou de perseverar na obediência aos mandamentos da aliança, especialmente por retornar à prática da idolatria.
Mas mesmo este, deveria ser avisado por Ezequiel que a justiça que ele havia praticado antes de voltar ao pecado, não seria levada em consideração por Deus, para remover o juízo que viria sobre ele, por causa da sua atual iniquidade.
Então, não se trata de possibilidade de perda de salvação de justificados pela fé, mas de perda dos benefícios das bênçãos prometidas da Antiga Aliança, por se colocar numa condição que em vez de bênção, deveria receber a promessa da maldição constante da lei, especialmente a que diz que “Maldito é aquele que não confirmar as palavras desta lei, para as cumprir.” (Dt 27.26).
Para o justificado pela fé, na Nova Aliança, Cristo se fez maldição em seu lugar na cruz, de modo que já não há nenhuma condenação para quem está de fato em Cristo, unido a Ele pela fé.
Porque em Cristo está morto para Lei, e consequentemente para a maldição da Lei, que Deus estaria aplicando aos judeus, e por isso chamou Ezequiel para alertá-los, porque aqueles eram dias em que vigorava a Antiga Aliança em toda a sua plenitude, e vigoraria ainda, por cerca de seiscentos anos mais, até que Jesus morresse na Cruz, e inaugurasse uma Nova Aliança no Seu sangue, que revogaria e substituiria a Antiga.
Então, Deus havia descrito a Ezequiel qual seria a sua missão, e depois disto fez com que ele visse a Sua glória, quando saiu ao vale, igual à que tinha visto junto ao rio Quebar, e que ele descreveu no primeiro capítulo, e isto fez com que caísse com o rosto em terra em atitude de adoração e reverência para com Deus.           
Ele ficara portanto na condição necessária para ser tomado pelo Espírito Santo, e foi quando o Espírito entrou nele e lhe colocou em pé, e lhe falou dizendo que deveria entrar no interior da sua casa (v. 24), e ser amarrado com cordas, e não sair de casa, e o Espírito faria com que a língua do profeta ficasse presa ao seu palato, de modo que não poderia falar palavra alguma, como um sinal para os judeus de que não lhes serviria receberem um repreendedor, porque não o ouviriam por causa da rebeldia deles (v. 25,26). 
Todavia, quando o Senhor votasse a falar ao profeta, Ele lhe abriria a boca, e então deveria proclamar aos judeus o seguinte:
 “Assim diz o Senhor Deus: Quem ouvir, ouça, e quem deixar de ouvir, deixe; pois casa rebelde são eles.” (v. 27)
De tudo isto o que se aprende é que aqueles que se mantiverem rebeldes contra Deus, não se convertendo a Ele pela fé em Cristo, e comprovando tal conversão por um andar no Espírito em santificação, podem estar certos, alertados por esta palavra, que o que lhes aguarda é um juízo de morte eterna.




“1 Depois me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, e vai, fala à casa de Israel.
2 Então abri a minha boca, e ele me deu a comer o rolo.
3 E disse-me: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre, e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Então o comi, e era na minha boca doce como o mel.
4 Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel, e dize-lhe as minhas palavras.
5 Pois tu não és enviado a um povo de estranha fala, nem de língua difícil, mas à casa de Israel;
6 nem a muitos povos de estranha fala, e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviara, certamente te dariam ouvidos.
7 Mas a casa de Israel não te quererá ouvir; pois eles não me querem escutar a mim; porque toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração.
8 Eis que fiz duro o teu rosto contra os seus rostos, e dura a tua fronte contra a sua fronte.
9 Fiz como esmeril a tua fronte, mais dura do que a pederneira. Não os temas pois, nem te assustes com os seus semblantes, ainda que são casa rebelde.
10 Disse-me mais: Filho do homem, recebe no teu coração todas as minhas palavras que te hei de dizer; e ouve-as com os teus ouvidos.
11 E vai ter com os do cativeiro, com os filhos do teu povo, e lhes falarás, e tu dirás: Assim diz o Senhor Deus; quer ouçam quer deixem de ouvir.
12 Então o Espírito me levantou, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória do Senhor, desde o seu lugar.
13 E ouvi o ruído das asas dos seres viventes, ao tocarem umas nas outras, e o barulho das rodas ao lado deles, e o sonido dum grande estrondo.
14 Então o Espírito me levantou, e me levou; e eu me fui, amargurado, na excitação do meu espírito; e a mão do Senhor era forte sobre mim.
15 E vim ter com os do cativeiro, a Tel-Abibe, que moravam junto ao rio Quebar, e eu morava onde eles moravam; e por sete dias sentei-me ali, pasmado no meio deles.
16 Ao fim de sete dias, veio a palavra do Senhor a mim, dizendo:
17 Filho do homem, eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; quando ouvires uma palavra da minha boca, avisa-los-ás da minha parte.
18 Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; se não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, a fim de salvares a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade; mas o seu sangue, da tua mão o requererei:
19 Contudo se tu avisares o ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniquidade; mas tu livraste a tua alma.
20 Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e praticar a iniquidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá; porque não o avisaste, no seu pecado morrerá e não serão lembradas as suas ações de justiça que tiver praticado; mas o seu sangue, da tua mão o requererei.
21 Mas se tu avisares o justo, para que o justo não peque, e ele não pecar, certamente viverá, porque recebeu o aviso; e tu livraste a tua alma.
22 E a mão do Senhor estava sobre mim ali, e ele me disse: Levanta-te, e sai ao vale, e ali falarei contigo.
23 Então me levantei, e saí ao vale; e eis que a glória do Senhor estava ali, como a glória que vi junto ao rio Quebar; e caí com o rosto em terra.
24 Então entrou em mim o Espírito, e me pôs em pé; e falou comigo, e me disse: Entra, encerra-te dentro da tua casa.
25 E quanto a ti, ó filho do homem, eis que porão cordas sobre ti, e te ligarão com elas, e tu não sairás por entre eles.
26 E eu farei que a tua língua se pegue ao teu paladar, e ficarás mudo, e não lhes servirás de repreendedor; pois casa rebelde são eles.
27 Mas quando eu falar contigo, abrirei a tua boca, e lhes dirás: Assim diz o Senhor Deus: Quem ouvir, ouça, e quem deixar de ouvir, deixe; pois casa rebelde são eles.” (Ezequiel 3)

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