Nós vemos no
3º capítulo de Esdras, que depois de terem se instalado em suas respectivas
cidades, quando retornaram do cativeiro em Babilônia, os judeus se juntaram em
Jerusalém no sétimo mês para as celebrações relativas àquele mês e dentre as
quais se incluía a Festa dos Tabernáculos.
Aproveitaram
a oportunidade para edificarem o altar dos holocaustos, provavelmente, no mesmo
local em que estivera instalado o altar do templo de Salomão.
Ali, desde o primeiro
dia do sétimo mês, do primeiro ano, na sua própria terra, começaram a oferecer
holocaustos ao Senhor, ainda que nem sequer tivessem lançado os alicerces do
templo.
Estes
sacrifícios passaram a ser oferecidos continuamente, conforme era exigido pela Lei, sem sofrer a
interrupção de um só dia (v. 3, 5).
Os dois
cordeiros que deveriam ser oferecidos, contínua e diariamente, pela manhã e à
tarde, como holocausto ao Senhor, tipificavam não somente a cobertura do
sacrifício de Jesus, que é a causa de podermos expiar diariamente as nossas
culpas e purificar nossos pecados e injustiças no sangue que Ele derramou por
nós, como também falam em figura da nossa própria consagração pessoal a Deus,
que deve ser contínua, sem interrupções e durante todos os minutos dos nossos
dias.
Afirma-se no
verso 1 que os judeus haviam se reunido como um só homem em Jerusalém, e isto é
indicativo da unidade que havia entre eles.
O temor que
tiveram das nações ao redor (Esdras 3.3), contribuiu para que acelerassem a
edificação do altar para poderem cultuar ao Senhor.
Assim, era
exigido pela Lei, de maneira a contarem com o cumprimento das promessas de
bênçãos previstas para a obediência aos Seus mandamentos.
Eles deveriam
ter o cuidado de não fazerem conforme haviam feito os seus pais, que muito
provocaram o Senhor à ira, com a transgressão voluntária dos Seus preceitos.
Numa terra
estranha, entregue totalmente às práticas pagãs e idolátricas, eles puderam
aprender, ainda que de um modo difícil, o quão grosseiras e irracionais eram
aquelas práticas, quando contrastadas com a religião revelada, que o Senhor lhes
dera através de Moisés.
Naquela
ocasião, tomaram providências para a futura construção do templo, encomendando
madeira aos de Tiro e de Sidom (v. 7).
No segundo
mês do segundo ano, isto é, cerca de sete meses depois, os israelitas que
haviam retornado de Babilônia, deram início à obra de reconstrução do templo,
tendo sido lançados os seus alicerces (v. 10).
Não havia
nenhuma disputa entre os judeus que voltaram de Babilônia, quanto ao fato se
deveriam ou não reconstruir o templo.
Eles haviam
aprendido do erro de seus pais, quão dura coisa é não servir ao Deus vivo,
segundo os termos que Ele tem estabelecido na Sua Palavra.
A Antiga
Aliança prescrevia o sacrifício de
animais num único local escolhido pelo Senhor e na presença de sacerdotes
consagrados para tal ofício. Daí a necessidade da construção de um templo.
Eles se
lançaram à tarefa de reativar tudo o que era exigido pela Lei, para o culto de
adoração ao Senhor.
O Novo
Testamento não libera os cristãos deste mesmo dever, ainda que não estejam mais
obrigados na dispensação da graça, a cumprirem os mandamentos cerimoniais da
Lei de Moisés, que apontavam em figura para as realidades que se cumpriram em
Cristo.
É dito aos
que compõem a Igreja do Senhor, que eles devem ter uma justiça que exceda em
muito a dos escribas e fariseus.
Esta justiça,
certamente diz respeito a se viver em plenitude tudo aquilo que era ensinado no
cerimonial da Lei, já não mais atendendo às exigências relativas a ordenanças
materiais e visíveis, mas às realidades espirituais para as quais apontavam em figura.
Como exemplo,
vemos a citação anterior sobre o dever da santificação e consagração diária e
contínua que têm os cristãos na Nova Aliança, que estava representada na
obrigação do oferecimento de dois cordeiros, de manhã, e à tarde, todos os
dias, conforme se exigia no antigo pacto.
Esta justiça
maior que é exigida do cristão na Nova Aliança, em relação à justiça dos
escribas e fariseus, não contradiz o ensino da lei e dos profetas da Antiga
Aliança, porém é muito diferente da justiça deles.
O motivo da
vinda do Senhor foi o de nos capacitar a viver com um padrão de vida espiritual
em santificação e justiça muito maiores do
que aquele que é exigido pela Lei de Moisés.
Por isso
Jesus afirmou que não veio revogar e nem suavizar, as exigências da Lei.
Ele disse que
aquele que quebrar o menor mandamento da Lei e assim ensiná-lo incorretamente
aos homens, será pequeno no reino dos céus, mas que qualquer que guarde os
mandamentos da Lei e os ensine, será chamado grande no reino dos céus.
Isto
demonstra que até mesmo aqueles mandamentos da Lei, que nos parecem menos
significativos, são muito importantes para Deus, porque foram proferidos a nós
pela Sua boca como sendo a expressão exata da Sua santa vontade.
Sabemos que a
Lei por si só não poderia jamais nos
santificar, porque isto é um trabalho para a graça e mediante a fé, mas devemos dar a devida importância ao que se aprende acerca
da vontade de Deus, mediante o que se
encontra revelado na Lei.
A santidade é
algo que se pratica na vida diária. É um habito.
Isto
significa que não devemos buscar através das obras da Lei a nossa justificação,
e podemos até mesmo dizer que não devemos buscar nelas a nossa santificação,
mas um andar verdadeiramente no Espírito demanda, quanto à santificação, a
prática da Palavra de Deus.
Lembremos
sempre que a santificação, somente pode ocorrer naqueles que foram
verdadeiramente regenerados (nascidos de novo do Espírito).
Não seremos
salvos pela graça porque guardamos perfeitamente todos os mandamentos, mas
porque recebemos esta graça para podermos ser aperfeiçoados no seu cumprimento,
de maneira que poderemos crescer não somente nisto diariamente, como também,
pela promessa do Senhor, seremos perfeitos assim como Ele é perfeito, no
porvir, por causa da Sua justiça que nos foi imputada, em razão da nossa união
espiritual com Ele.
De forma que
todo aquele que é justificado, também é nascido de novo e recebe de Deus um
novo coração.
Pelo que nós
observamos da narrativa deste terceiro capítulo do livro de Esdras, os judeus
que haviam lançado os alicerces do templo de Jerusalém, depois da volta do
cativeiro em Babilônia, não haviam ainda, naquela ocasião, sido fermentados com
este fermento que havia em abundância na vida dos escribas e fariseus dos dias
de Jesus, porque se diz deles que tudo fizeram para a glória de Deus, e que se
encontravam em unidade a ponto de terem se alegrado muito e louvado a Deus pelo
privilégio que lhes dera de retornarem à sua terra, e ali poderem cumprir as
exigências da Lei de Moisés, relativas ao culto devido a Ele, conforme
prescrito naquela antiga aliança.
Os judeus que
tinham visto a suntuosidade do templo de Salomão, antes de irem para o
cativeiro em Babilônia, choraram quando os alicerces do novo templo foram
lançados, talvez por lhes pesar o fato da lembrança de que toda a glória antiga
da nação havia sido reduzida até o ponto de terem que recomeçar a construção de
um templo, que segundo as condições presentes deles, jamais poderia ter toda a
riqueza que havia no templo de Salomão.
Na verdade,
aquele era um momento para alegria e não para tristezas sentimentais.
Eles não
deveriam ter chorado pela diminuição da glória terrena a que foram reduzidos,
mas pelos pecados dos seus pais, que haviam dado causa àquela necessidade de
reconstruírem toda a religião de Israel, no tocante às exigências cerimoniais
da Lei, a partir do alicerce.
Na verdade,
deveriam ser gratos a Deus por não ter dado a eles o mesmo destino que havia
dado aos israelitas do Reino do Norte, permitindo que fossem dissolvidos, por
terem sido espalhados por todas as nações, pelos assírios, que separaram pais
de filhos, esposos de esposas, de modo que perdessem a sua identidade cultural
e nacional.
Eles
alcançaram misericórdia para poderem reiniciar as suas vidas debaixo da aliança
que Deus havia feito com eles através de Moisés.
Então não
deveria haver a mínima manifestação de tristeza, senão de alegria; a mínima
demonstração de insatisfação, mas de grande contentamento.
Nós somos ordenados pela Palavra a não
desprezarmos os humildes começos quando a Providência assim o quer.
Aqueles
sacerdotes estavam transgredindo este mandamento, com o lamento que eles
levantaram em meio à grande alegria e louvor que os demais sacerdotes e levitas
estavam apresentando diante de Deus.
Não sabemos o
quanto estes sacerdotes podem ter influenciado os demais sacerdotes e levitas,
quanto a não se empenharem na obra, em razão dos possíveis argumentos deles de
que não valeria a pena se entregar a uma construção, que nem sequer passaria de
perto da glória que havia no templo de Salomão, que havia sido destruído por
Nabucodonosor.
Se por
influência deles ou não, havia aqueles que dentre os israelitas estavam
desprezando aqueles humildes começos, e
por isso receberam o devido estímulo do Senhor da parte dos profetas
Ageu e Zacarias, para que reiniciassem a obra de reedificação do templo, depois
destas terem sido paralisadas por cerca de dezesseis anos.
Como veremos
adiante, em razão da perseguição dos samaritanos, eles não avançaram, ao que
parece do lançamento do alicerce, que é referido neste capítulo, e assim, é
possível que não tivessem prosseguido adiante, vencendo toda oposição, por
motivo de julgarem que era muito pouco pelo que lutar.
Então, o
Senhor se interpôs com a promessa de fazer algo grande e maravilhoso, pela
palavra que pôs na boca do profeta Zacarias, de modo que aqueles que não
estavam sendo fiéis nos dias de escassez, viriam a se alegrar quando vissem o
prumo na mão de Zorobabel.
“Pois quem despreza o dia dos humildes começos, esse
alegrar-se-á vendo o prumo na mão de Zorobabel. Aqueles sete olhos são os olhos
do Senhor, que percorrem toda a terra.” (Zac 4.10).
Eles estavam
errados pensando no templo como um mero projeto de realização material.
Eles não
entendiam a necessidade de que fosse reconstruído para o cumprimento dos
propósitos espirituais de Deus, que teriam o seu auge num futuro ainda
distante, que eles desconheciam, mas que dependia da obediência deles, porque
importava que o Messias chegasse na nação que Deus havia formado através de
Abraão, Isaque e Jacó.
Esta
nação deveria estar sustentando o
testemunho que havia recebido de Deus para ser guardado desde os dias dos
patriarcas, especialmente desde que Ele entrara em aliança com eles através de
Moisés.
Como poderiam
os planos eternos de Deus serem frustrados?
O que estava
em jogo não era a mera construção de um edifício, mas a restauração da vida
religiosa daquela nação eleita desde a antiguidade, para que através dela fosse
manifestada a Sua salvação para todas as nações do mundo.
Assim como se
deu em relação a eles, também se dá em relação aos que são da Igreja de Cristo.
O que importa não é propriamente o interesse pessoal dos cristãos, mas os
elevados e eternos interesses de Deus, aos quais farão bem em atentar para
atendê-los.
Não admira
portanto, que a exortação do profeta Zacarias àqueles judeus que estavam
desprezando os humildes começos, quanto a que se alegrariam com o fato de
Zorobabel concluir a construção do templo, que havia sido paralisada, tenha
sido expedida num contexto eminentemente espiritual, conforme podemos ver em
todo o capítulo quarto do referido profeta.
Ali, o que está
em foco é o testemunho da Palavra de Deus, não pelo poder do homem, mas pelo
Espírito Santo (4.6).
Era por este
motivo que as mãos de Zorobabel deveriam terminar a construção do templo, assim
como elas haviam lançado os seus alicerces. O Senhor havia determinado em Sua
soberania que o templo seria reedificado ainda nos dias de Zorobabel, e isto
não poderia ser frustrado por nenhum poder terreno ou espiritual (v. 9).
Toda
edificação material na obra de Deus serve apenas para atender aos propósitos
espirituais fixados pelo Senhor, desde toda a eternidade.
O templo que
seria construído em Jerusalém não era uma exceção a isto.
Ele não tinha
por alvo servir a propósitos terrenos e muito menos comerciais.
O azorrague
de Jesus que o diga, quando expulsou os vendilhões do templo.
Se a razão da
nossa alegria como filhos de Deus está nas nossas realizações materiais, ainda
que digam respeito às edificações e bens que temos adquirido para a casa de
Deus, nós estaremos errando grosseiramente o alvo, porque corremos o risco de
ouvir o que Jesus disse aos apóstolos quando se gloriavam diante dEle por
motivo da suntuosidade do templo de Herodes: “não ficará aí pedra sobre pedra”.
Naquele caso,
isto se daria por motivo de juízo, e em
razão de já não haver mais razão para um
templo em Israel, porque seria inaugurada uma nova aliança no sangue do Senhor
Jesus, na qual os próprios cristãos são
o templo do Espírito Santo.
“1 Quando
chegou o sétimo mês, estando já os filhos de Israel nas suas cidades,
ajuntou-se o povo, como um só homem, em Jerusalém.
2 Então se
levantou Josué, filho de Jozadaque, com seus irmãos, os sacerdotes, e
Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus irmãos; e edificaram o altar do Deus de
Israel, para oferecerem sobre ele holocaustos, como está escrito na lei de
Moisés, homem de Deus.
3 Colocaram o
altar sobre a sua base, e ainda que estavam sob o terror dos povos de outras
terras, ofereceram sobre ele holocaustos ao Senhor, holocaustos pela manhã e à
tarde.
4 E
celebraram a festa dos tabernáculos como está escrito, e ofereceram holocaustos
diários segundo o número ordenado para cada dia,
5 e em
seguida o holocausto contínuo, e os das luas novas e de todas as festas fixas
do Senhor, como também os de qualquer que fazia oferta voluntária ao Senhor.
6 Desde o
primeiro dia do sétimo mês começaram a oferecer holocaustos ao Senhor; porém
ainda não haviam sido lançados os alicerces do templo do Senhor.
7 Deram
dinheiro aos pedreiros e aos carpinteiros; como também comida e bebida, e
azeite aos sidônios, e aos tírios, para trazerem do Líbano madeira de cedro ao
mar, para Jope, segundo a concessão que lhes tinha feito Ciro, rei da Pérsia.
8 Ora, no
segundo ano da sua vinda à casa de Deus em Jerusalém, no segundo mês,
Zorobabel, filho de Sealtiel, e Josué, filho de Jozadaque, e os outros seus
irmãos, os sacerdotes e os levitas, e todos os que vieram do cativeiro para
Jerusalém, deram início à obra e constituíram os levitas da idade de vinte anos
para cima, para superintenderem a obra da casa do Senhor.
9 Então se
levantaram Josué com seus filhos e seus irmãos, Cadmiel e seus filhos, os
filhos de Judá, como um só homem, para superintenderem os que faziam a obra na
casa de Deus; como também os filhos de Henadade, com seus filhos e seus irmãos,
os levitas.
10 Quando os
edificadores lançaram os alicerces do templo do Senhor, os sacerdotes trajando
suas vestes, apresentaram-se com trombetas, e os levitas, filhos de Asafe, com
címbalos, para louvarem ao Senhor, segundo a ordem de Davi, rei de Israel.
11 E cantavam
alternadamente, louvando ao Senhor e dando-lhe graças com estas palavras:
Porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre sobre Israel. E
todo o povo levantou grande brado, quando louvaram ao Senhor, por se terem
lançado os alicerces da casa do Senhor.
12 Muitos,
porém, dos sacerdotes e dos levitas, e dos chefes das casas paternas, os idosos
que tinham visto a primeira casa, choraram em altas vozes quando, a sua vista,
foi lançado o fundamento desta casa; também muitos gritaram de júbilo;
13 de maneira
que não podia o povo distinguir as vozes do júbilo das vozes do choro do povo;
porque o povo bradava em tão altas vozes que o som se ouvia de mui longe.” (Ed
3.1-13).
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