terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Ao Sofredor Deve se Mostrar Misericórdia – Jó 6



Nós vemos no sexto capitulo do livro de Jó, que depois de ter sido acusado por Elifaz Jó se defendeu sem atribuir injustiça a Deus, quando disse que era o próprio Deus quem estava cravando nele as Suas flechas de aflição, em cujas pontas havia veneno para fazer definhar o espírito, pois estava aterrorizado pelos terrores que o Senhor havia lançado contra o seu espírito (v. 4).
Por isso a sua mágoa e calamidade eram mais pesadas para ele do que a areia dos mares, e era por causa daquela grande e terrível angústia que havia falado do modo temerário (precipitadamente) que levou Elifaz a julgá-lo incorretamente, como um pecador murmurador impenitente; quando na verdade estava dando vazão a toda a grande angústia que havia se apoderado da sua alma.  
Ele estava se queixando porque lhe foi retirado todo o amparo e tudo aquilo em que encontrava alento e segurança.
Por isso disse, para que fosse entendido, que um asno não zurrará enquanto tiver capim diante de si para ser alimentado, e nem o boi mugirá enquanto houver pasto. O seu capim, se podemos assim dizer, e o seu pasto lhe haviam sido tirados, e ele estava lamentando pela falta do que era necessário à sua subsistência e paz de espírito. 
Que sabor ele poderia achar na vida naquelas condições? Era como uma comida sem sal ou como uma clara de ovo que não tem qualquer sabor.
Todavia, como Deus não atendia ao clamor do seu espírito por libertação daquela condição angustiosa, melhor seria se fosse do Seu agrado, que o esmagasse logo e desse cabo da sua vida, para ser livrado daquela terrível angústia que lhe parecia que somente seria agravada e não mais teria fim. Qual seria pois, segundo Jó pensava, o proveito em que fosse prolongada?
Se Deus desse cabo da sua vida, aquilo seria para ele uma grande misericórdia e consolação, e poderia ter até mesmo alguma alegria no meio de toda aquela dor, que não lhe dava tréguas, porque sabia que compareceria em espírito aprovado diante de Deus, porque nunca havia negado as palavras do Santo, uma vez que havia vivido em verdadeira justiça e santidade de vida.     
Ele estava convicto disto, porque a sua consciência em nada lhe acusava, quanto era sincero o seu empenho e diligência em se apresentar aprovado diante do Senhor, por praticar somente aquilo que Lhe era agradável.
Jó mostrou a seus amigos, especialmente a Elifaz, que lhe havia acusado diretamente, que não havia dolo nele, pelo simples fato de ter derramado a sua queixa perante Deus, lamentando a sua existência por ter sido entregue a um tão grande sofrimento.
Suas forças lhe haviam abandonado completamente. Afinal ele não era da constituição da pedra ou do bronze, mas da fraca carne que enferma e enfraquece.
Seu espírito havia definhado a tal ponto que não havia nele próprio qualquer esperança para achar bom ânimo com suas próprias forças.
Portanto, era de se esperar que este conforto e socorro lhe viesse da parte dos seus amigos.
Contudo, o que eles estavam fazendo não poderia lhe dar qualquer consolo, porque em vez de lhe mostrarem compaixão, estavam lhe acusando duramente de ter pecado contra Deus.
Jó sabia por experiência, em seus aconselhamentos que fazia, antes da sua provação, que até mesmo ao que abandona o temor do Todo-Poderoso, deve-se mostrar compaixão (v. 14), e ele fazia isto, por exemplo, em relação a seus filhos, enquanto viviam, pois apresentava sacrifícios para expiação da culpa e do pecado por eles, como sacerdote de sua casa, para que fossem perdoados por Deus, de algum pecado que pudessem ter cometido contra Ele.
Ele confiava no valor do sangue para a expiação da culpa e do pecado, conforme o Senhor havia ensinado a Seus servos, desde os dias de Adão.
O que Jó fazia era portanto um ato de fé na promessa de Deus, de que se mostraria misericordioso a todo aquele que confiasse nEle e no meio que estabelecera para o perdão dos pecados, a saber, a apresentação de sacrifícios que ensinavam em figura que a expiação dos nossos pecados é feita pelo sacrifício de Jesus.      
No entanto, seus amigos, a quem ele chamou de “meus irmãos” (v. 15) haviam agido aleivosamente, como as torrentes de um rio que passa, e que uma vez que tenham passado por nós, já não podem ser de qualquer serventia, porque não poderemos usar estas águas que passaram.
Eles foram para ele como as caravanas que se perdiam de seus cursos no deserto, e que não podiam mais atingir o objetivo para onde levariam os seus víveres, porque pereceriam no deserto.
E todos aqueles que pusessem neles a sua esperança viriam por fim a ficarem frustrados porque seriam impedidos de serem ajudados. 
Seus amigos haviam se desviado do curso, porque vieram consolá-lo, e no entanto, estavam somente lhe acusando de pecados que não havia cometido.
Eles haviam de fato perdido o seu rumo, e não poderiam portanto, serem de qualquer serventia para ele, quanto a ser consolado.
Jó não lhes havia pedido qualquer consolo, ou presente, ou oferta dos seus bens, para suprir a sua presente carência. Nem lhes havia pedido que o livrassem das mãos do adversário que o oprimia.
No entanto, eles estavam reprovando as palavras que haviam sido proferidas por um desesperado na sua grande angústia.
Que grandes consoladores eles eram, para não dizer o contrário, porque se mostravam incapazes de mostrar verdadeiramente misericórdia pela condição terrível em que ele se encontrava.   
Se houvesse um verdadeiro ensino e entendimento no que eles falavam, Jó diz que se calaria, e aceitaria corrigir-se naquilo em que estivesse errado (v. 24).
Mas eles diagnosticaram o seu estado meramente pelas palavras de desabafo que havia proferido.
Não estavam portanto em condições de lhe ensinarem nada segundo a reta justiça.
Então ele lhes rogou que mudassem de parecer para que não continuassem naquele caminho de injustiça, porque a causa de Jó era justa, e eles lhe haviam condenado como se fosse injusto aos olhos de Deus, coisa que ele não era de modo algum.
Ele queria poupá-los de um possível juízo de Deus, por estarem sendo injustos com ele, e por isso lhes rogou que mudassem de parecer em relação a ele.


“1 Então Jó, respondendo, disse:
2 Quem dera de fato se pesasse a minha mágoa, e juntamente na balança se pusesse a minha calamidade!
3 Pois, na verdade, seria mais pesada do que a areia dos mares; por isso é que as minhas palavras têm sido temerárias.
4 Porque as flechas do Todo-Poderoso se cravaram em mim, e o meu espírito suga o veneno delas; os terrores de Deus se arregimentam contra mim.
5 Zurrará o asno montês quando tiver erva? Ou mugirá o boi junto ao seu pasto?
6 Pode se comer sem sal o que é insípido? Ou há gosto na clara do ovo?
7 Nessas coisas a minha alma recusa tocar, pois são para mim qual comida repugnante.
8 Quem dera que se cumprisse o meu rogo, e que Deus me desse o que anelo!
9 que fosse do agrado de Deus esmagar-me; que soltasse a sua mão, e me exterminasse!
10 Isto ainda seria a minha consolação, e exultaria na dor que não me poupa; porque não tenho negado as palavras do Santo.
11 Qual é a minha força, para que eu espere? Ou qual é o meu fim, para que me porte com paciência?
12 É a minha força a força da pedra? Ou é de bronze a minha carne?
13 Na verdade não há em mim socorro nenhum. Não me desamparou todo o auxílio eficaz?
14 Ao que desfalece devia o amigo mostrar compaixão; mesmo ao que abandona o temor do Todo-Poderoso.
15 Meus irmãos houveram-se aleivosamente, como um ribeiro, como a torrente dos ribeiros que passam,
16 os quais se turvam com o gelo, e neles se esconde a neve;
17 no tempo do calor vão minguando; e quando o calor vem, desaparecem do seu lugar.
18 As caravanas se desviam do seu curso; sobem ao deserto, e perecem.
19 As caravanas de Tema olham; os viandantes de Sabá por eles esperam.
20 Ficam envergonhados por terem confiado; e, chegando ali, se confundem.
21 Agora, pois, tais vos tornastes para mim; vedes a minha calamidade e temeis.
22 Acaso disse eu: Dai-me um presente? Ou: Fazei-me uma oferta de vossos bens?
23 Ou: Livrai-me das mãos do adversário? Ou: Resgatai-me das mãos dos opressores ?
24 Ensinai-me, e eu me calarei; e fazei-me entender em que errei.
25 Quão poderosas são as palavras da boa razão! Mas que é o que a vossa arguição reprova?
26 Acaso pretendeis reprovar palavras, embora sejam as razões do desesperado como vento?
27 Até quereis lançar sortes sobre o órfão, e fazer mercadoria do vosso amigo.
28 Agora, pois, por favor, olhai para, mim; porque de certo à vossa face não mentirei.
29 Mudai de parecer, peço-vos, não haja injustiça; sim, mudai de parecer, que a minha causa é justa.
30 Há iniquidade na minha língua? Ou não poderia o meu paladar discernir coisas perversas?” (Jó 6)

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