segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Não Há Justiça Negociando com o Mal – 2 Samuel 4



Nós vemos no quarto capitulo de 2 Samuel que, quando Is-Bosete soube que Abner havia morrido, caiu em sua fraqueza, porque apesar de Abner tê-lo abandonado em relação à sua confirmação no reino, certamente esperava, em razão do seu parentesco com ele, que fizesse com Davi uma negociação política que o preservasse quando da passagem do reino para as suas mãos.
Mas agora, com a morte de Abner, ficou desnorteado e sem esperanças, especialmente porque foi abandonado pelos israelitas, nem tanto porque quisessem de fato servir a Davi voluntariamente, mas para não serem prejudicados em seus interesses, vendo que agora, estando Abner morto, que ele tomaria as rédeas de toda a nação, e o melhor que eles fariam em sua própria causa, era apoiar o novo rei.
Assim, diante da fraqueza de Is-Bosete, dois de seus próprios servos, chamados Baaná e Recabe, que deveriam lutar em sua defesa, se sentiram incentivados pelas condições do momento, a tirar-lhe a vida, pensando com isso, agradarem a Davi, e conseguirem um lugar de destaque junto a ele, pela avaliação da sua ação ousada, como sendo digna de uma recompensa.
Quando eles levaram a cabeça de Is-Bosete a Davi, foram surpreendidos com a decisão do rei, que em vez de aprovar o assassinato deles, deu ordens para que fossem executados, por tal ato covarde contra um homem justo, no dizer de Davi, pois de fato a Bíblia não relata nenhum ato vil que tivesse sido praticado por Is-Bosete, prevalecendo-se da condição de ser rei, e o fato de ser um homem fraco não demandaria que fosse assassinado de modo tão covarde, quando estava dormindo em sua cama, à hora da sesta, em pleno calor do dia.
No verso quarto há um breve relato sobre a causa da deficiência física a que ficou sujeito o filho de Jônatas, chamado Mefibosete, como forma de introdução do que será dito dele adiante no nono capítulo, e talvez para revelar que o desespero que havia invadido a alma de Is-Bosete, quando soube da morte de Abner, era do mesmo tipo e grau do desespero que havia sentido a ama de Mefibosete quando ele tinha apenas cinco anos, e que tomou a iniciativa de fugir apressadamente para escondê-lo de um possível extermínio que os filisteus poderiam intentar contra toda a descendência de Saul, quando ela soube que este e seu filho Jônatas haviam morrido na batalha que empreenderam contra os filisteus.
Na pressa em fugir ela o deixou cair e Mefibosete ficou coxo para sempre. Este temor de ser morto por ordem de Davi deve ter se apoderado de Is-Bosete, mas ele acabou sendo morto pelos seus próprios servos.       
Quando Davi pronunciou sua sentença de morte sobre Baaná e Recabe, ele introduziu suas palavras com a expressão: “Vive o Senhor, que remiu a minha alma de toda a angústia!”, indicando com isto a eles que continuaria dependendo exclusivamente de Deus para ser posto sob o governo de todo Israel, e não precisava da ajuda de homens ímpios como eles para ser poupado de seus problemas e tribulações.
Davi pretendeu dizer que o Senhor que lhe havia livrado de muitas angústias até ali, certamente lhe continuaria livrando, e de fato foi o que ocorreu ao longo de toda a sua vida.
Davi lhes disse que assim como ele não havia poupado da morte aquele que lhe trouxera a coroa de Saul, gabando-se de tê-lo morto, muito menos pouparia aqueles que lhe trouxeram a cabeça de seu filho.
Ele agiria como o vingador do sangue daquele assassinato doloso, na condição de magistrado supremo da nação, e nenhuma intercessão em favor deles seria ouvida, porque pronunciara a sua sentença sobre eles com a introdução que fizera em nome do Deus vivo, que testemunhou aquele crime que  haviam confessado com suas próprias bocas.
Um rei justo como Davi estava capacitado a fazer uma avaliação de tal caso como lhe sendo desfavorável e completamente injusto, e não como uma ação justa que tivesse sido praticada em seu benefício.
Se tivesse se alegrado e poupado aqueles homens, cairia no descrédito de muitos israelitas, especialmente dos da tribo de Benjamim à qual pertencia Is-Bosete, e seria lançada uma suspeita sobre ele como sendo o mandante daquele assassinato covarde.
E assim, nas vidas dos servos de Deus, muitas tentações e facilidades ser-lhe-ão apresentadas pelo Inimigo de suas almas, disfarçando-se de amigo e cooperador, que poderão ser discernidas somente no Senhor, e que devem ser rejeitadas de forma decidida, porque não se pode ser bem sucedido e ser agradável a Deus a não ser somente pela prática daquilo que é justo aos Seus olhos.
E para serem expostos como um monumento da justiça, que havia no trono de Davi, foi ordenado que se cortassem as mãos e os pés daqueles assassinos para que se assinalasse qual é o destino de todos aqueles que pensem em servir os interesses do Filho de Davi por meio de práticas imorais, de violência, de fraude, roubo, ou por quaisquer outros meios que são usados por aqueles que têm procurado se estabelecer através da prática da injustiça, pensando estarem fazendo um bom serviço a Deus.              
 Davi citou neste capitulo, como vimos antes, os sofrimentos angustiosos que estava sofrendo, e isto certamente, por causa do seu amor à justiça.



“1 Quando Is-Bosete, filho de Saul, soube que Abner morrera em Hebrom, esvaíram-se-lhe as forças, e todo o Israel ficou perturbado.
2 Tinha Is-Bosete, filho de Saul, dois homens chefes de guerrilheiros; um deles se chamava Baaná, e o outro Recabe, filhos de Rimom, o beerotita, dos filhos de Benjamim (porque também Beerote era contado de Benjamim,
3 tendo os beerotitas fugido para Jitaim, onde têm peregrinado até o dia de hoje).
4 Ora, Jônatas, filho de Saul, tinha um filho aleijado dos pés. Este era da idade de cinco anos quando chegaram de Jizreel as novas a respeito de Saul e Jônatas; pelo que sua ama o tomou, e fugiu; e sucedeu que, apressando-se ela a fugir, ele caiu, e ficou coxo. O seu nome era Mefibosete.
5 Foram os filhos de Rimom, o beerotita, Recabe e Baanã, no maior calor do dia, e entraram em casa de Is-Bosete, estando ele deitado a dormir a sesta.
6 Entraram ali até o meio da casa, como que vindo apanhar trigo, e o feriram no ventre; e Recabe e Baaná, seu irmão, escaparam.
7 Porque entraram na sua casa, estando ele deitado na cama, no seu quarto de dormir, e o feriram e mataram, e cortando-lhe a cabeça, tomaram-na e andaram a noite toda pelo caminho da Arabá.
8 Assim trouxeram a cabeça de Is-Bosete a Davi em Hebrom, e disseram ao rei: Eis aqui a cabeça de Is-Bosete, filho de Saul, teu inimigo, que procurava a tua morte; assim o Senhor vingou hoje ao rei meu Senhor, de Saul e da sua descendência.
9 Mas Davi, respondendo a Recabe e a Baaná, seu irmão, filhos de Rimom, e beerotita, disse-lhes: Vive o Senhor, que remiu a minha alma de toda a angústia!
10 Se àquele que me trouxe novas, dizendo: Eis que Saul é morto, cuidando que trazia boas novas, eu logo lancei mão dele, e o matei em Ziclague, sendo essa a recompensa que lhe dei pelas novas,
11 quanto mais quando homens cruéis mataram um homem justo em sua casa, sobre a sua cama, não requererei eu o seu sangue de vossas mãos, e não vos exterminarei da terra?
12 E Davi deu ordem aos seus mancebos; e eles os mataram e, cortando-lhes as mãos e os pés, os penduraram junto ao tanque em Hebrom. Tomaram, porém, a cabeça de Is-Bosete, e a sepultaram na sepultura de Abner, em Hebrom.” (II Sm 4.1-12).

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