segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Deus Abaterá os Que Lhe Resistem – 2 Samuel 3



É afirmado no início do terceiro capítulo de 2 Samuel, que durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi, mas havia uma diferença, pois se diz também que a casa de Davi ia se fortalecendo, mas a de Saul se enfraquecendo (v.1).
Nisto aprendemos que por mais tempo que dure a nossa luta contra a carne, o mundo e Satanás, se temos Deus por nós e ao nosso lado, a graça ficará mais forte e os nossos inimigos cada vez mais fracos.
A competição entre a graça e o pecado nos corações dos cristãos é muito longa, mas pode ser comparada ao que é dito aqui, porque a vitória final será da graça e não da corrupção, ainda que dure muito tempo a guerra entre a casa da graça e a casa do pecado.      
Nos versos 2 a 5 nós temos um relato do aumento da própria casa de Davi com os seis filhos que ele teve em Hebrom, sendo o primogênito Amnom, que era o sucessor natural à coroa, mas que viria a ser morto por Absalão, por ter abusado de Tamar, sua irmã.
O segundo foi Quileabe, que tivera de Abigail (v.2). Este nome Quileabe, no hebraico significa o retrato do seu pai, isto é, a cara do seu pai. E é possível que sendo filho da viúva de Nabal, podem ter feito mofa em Judá com o seu nome, referindo-se a Nabal, e talvez por isto tenham lhe dado o apelido de Daniel, como aparece em I Crôn 3.1, que significa Deus é meu Juiz.
O terceiro filho a nascer a Davi foi Absalão, que era neto de um rei pagão chamado Talmai (de Gesur), pois sua mãe, Maaca, era filha deste rei (v.3).
O quarto filho de Davi chamava-se Adonias, o qual foi morto por Salomão, e o quinto Sefatias (v.4), e o sexto e último que lhe nascera em Hebrom chamava-se Itreão (v.5).    
Tendo multiplicado mulheres para si, contrariamente ao que era ordenado na lei (Dt 17.17) Davi deixou um mau exemplo para os seus sucessores, e causou muitas dores a si mesmo, como veremos adiante, especialmente com três destes filhos que foram abomináveis: Amnom, Absalão e Adonias. 
Nos versos 6 a 21 nós lemos sobre o abandono de Is-Bosete por Abner, e da aliança proposta por este a Davi.
E o motivo disto foi certamente o ato de Is-Bosete ter-se enchido de inveja de Abner, seu tio, que era a pessoa que de fato governava, como se pode inferir das palavras do verso 6: “Enquanto havia guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi, Abner ia se tornando poderoso na casa de Saul.”.
Não se diz que Abner se tornava poderoso em Israel, mas na casa de Saul, isto é, ele era o homem forte do reino e não Is-Bosete.
Este tentou enfraquecer Abner sob a acusação de traição à memória de Saul, por ter se deitado com Rispa, uma concubina de Saul (v. 7).
Se a acusação era fundada não podemos saber, mas há razão para se suspeitar que  tenha sido, porque Abner não a negou expressamente. Ele somente se ressentiu da exposição pública a que foi submetido por Is-Bosete, como se fosse um animal desprezível e sem valor (v.8), e protestou contra a falta de gratidão pelos serviços que havia prestado à casa de Saul.
Nós aprendemos desta reação de Abner que os homens orgulhosos não suportam serem repreendidos, especialmente por aqueles que pensam que lhes são devedores de favores.
E se isto acontece, a saber, se são repreendidos, se julgam no direito de se vingarem, tal como fizera Abner em relação a Is-Bosete, declarando-lhe que o abandonaria e se aliaria a Davi (v. 9, 10). 
Ele sabia que o reino fora prometido por Deus a Davi e assim mesmo se opôs a isto, apoiando a casa de Saul, por causa da sua ambição, e agora ele se sujeita à ordenança de Deus, não por obediência voluntária, mas por vingança e indignação.
Is-Bosete não respondeu palavra à arrogância e insolência de  Abner (v.11), não por ter entendido que ele estava com a razão, mas por causa da sua própria fraqueza, e por temer que se era ruim ser a sombra de Abner no trono, seria muito pior ficar sem ele, que era o seu sustentáculo.
Abner enviou mensageiro a Davi em Hebrom dizendo-lhe que estava disposto a torná-lo rei sobre todo Israel, e Davi o aceitou sob a condição de que lhe devolvesse Mical, sua esposa, filha de Saul, ao mesmo tempo que enviou mensageiros a Is-Bosete, para que lha entregasse.
Foi sob a permissão de Is-Bosete que ela foi retirada por Abner de Paltiel, a quem Saul lha havia dado por esposa, em represália a Davi (v.12-16).
Mical foi a primeira esposa de Davi e era filha de um rei de Israel, e seria certamente a primeira rainha, e a sua presença no trono seria uma forma de agradar politicamente os partidários de Saul.    
Depois disto, Abner foi ter com os anciãos de Israel, para convencê-los a fazer de Davi o seu rei (v. 17). E as palavras que ele dirigiu a eles “de há muito procuráveis que Davi reinasse sobre vós”, denunciavam claramente que sabia que a sua luta contra Davi não prosperaria, porque os corações dos príncipes de Israel se inclinavam de há muito para ele, mas eram forçados a lutar contra ele, por causa da força opressiva que era mantida pelo próprio Abner.
 Ele usou como argumento a promessa de Deus relativa a Davi como sendo o rei por cujas mãos ele livraria Israel da mão dos filisteus e de todos os seus inimigos (v.18).
Certamente não fizera isto por um verdadeiro temor e obediência à vontade de Deus, que era bem conhecida dele de há muito, senão por ter visto que estava sendo enfraquecido mais e mais, enquanto o oposto se dava em relação a Davi.
A acusação de Is-Bosete contra ele, produziria de certa forma um clima de suspeita contra ele, que fatalmente o enfraqueceria no conceito do povo, e então estava procurando na verdade se poupar de uma derrota certa, e por este motivo estava se apressando em fazer uma aliança com Davi.
Como Saul e toda a sua casa eram benjamitas, ele apresentou separadamente aos líderes de Benjamim argumentos para convencê-los em favor de Davi (v.19).
Assim, Abner estava agindo politicamente, traçando os meios necessários para pôr um fim nos conflitos entre Israel e Judá, e não traiçoeiramente, conforme Joabe o acusou perante Davi, quando soube que Abner viera ter com ele em Hebrom, com uma comitiva de vinte homens, aos quais Davi havia oferecido um banquete, em sinal de celebração da aliança que havia feito com eles (v.20).        
Joabe, movido pelo simples desejo de vingar a morte de Asael, seu irmão (v. 30),  viria a agir de modo traiçoeiro, pois sem que Davi o soubesse, enviou mensageiros a Abner pedindo que retornasse a Hebrom, provavelmente, fazendo-o falsamente em nome do rei, e mal este entrara à porta daquela cidade fortificada, Joabe veio ter com ele e o feriu mortalmente no abdômen.
Quem poderá aplacar o desejo de vingança caso aquele que abriga tal desejo não permita ser tratado por Deus?
Joabe se fez culpado aos olhos de Deus pelo crime covarde que cometera, mas ao mesmo tempo o próprio Abner foi submetido a um juízo que lhe sobreveio por ter resistido à ordenança de Deus e não ter agido, como fizera agora, em relação a Davi.
Ele cometeu a loucura de se opor à vontade de Deus, e agora estava pagando por tê-lo feito. 
É interessante observar que Abner procurou uma aliança com Davi como que o sucesso deste dependesse das suas ações para conduzi-lo a reinar sobre todo Israel.
Os homens orgulhosos são iludidos em pensarem que estão de pé e que tudo e todos dependem deles, mesmo quando percebem que estão caindo. E isto se infere do que Abner disse a Davi no verso 21.
Asael, irmão de Joabe havia sido morto por Abner, por causa da sua própria obstinação, porque Abner lhe alertou para que se desviasse dele, quando o perseguia no primeiro combate empreendido entre as forças de Davi e de Is-Bosete, pois não pretendia matá-lo, por ser irmão de Joabe, e serem muito estimados a Davi.
Ele disse a Asael que caso o matasse isto o deixaria mal com seu irmão Joabe (2.22), mas Asael não lhe deu ouvido e acabou sendo morto por ele, em legítima defesa.
Não havia então nenhum sangue a ser vingado neste caso, porque não houve nenhum assassinato doloso ou crime de guerra, senão legítima defesa. Mas Joabe e seu irmão Abisai chamaram a si o dever de serem os vingadores do sangue de seu irmão Asael.
Na verdade se fingiram vingadores do sangue, porque, como vimos antes, não havia nenhuma vingança amparada pela lei, neste caso.
E o próprio Joabe e seu irmão, matando traiçoeira e friamente a Abner, se fizeram culpados de sangue, e golpearam não apenas Abner, mas o próprio Davi e o seu reino, pois havia feito uma aliança com Abner, e esta deveria ser respeitada, porque sem que se pese as verdadeiras intenções e interesses de Abner, ele havia se colocado de fato debaixo da autoridade de Davi, e não somente isto, reconheceu que era seu dever conduzir todos os líderes de Israel a estarem debaixo da autoridade que havia sido conferida a Davi pelo próprio Deus.    
Por isso, em seu funeral, Davi o pranteou (v. 32) e declarou que havia caído em Israel um príncipe e um grande homem (v. 38).
Somente pelos serviços que ele havia prestado a Israel sob Saul, já lhe caberia tal elogio.
Ainda que não se pudesse dizer dele que era um santo e um bom homem, o que ele não era na verdade, entretanto, como político em Israel ele fora um príncipe e um grande homem, porque lutava bravamente como um patriota, em  Israel, contra os inimigos da nação.
Assim, Davi lamentou não poder justiçar os assassinos porque o seu reinado havia sido inaugurado recentemente e um pequeno tremor poderia abalar profundamente o reino, com a morte de Joabe e Abisai, que eram os principais no reino depois do próprio Davi.
Assim ele transferiu o julgamento de ambos ao cuidado de Deus para que a justiça fosse feita.
Joabe tinha grande força e influência em Judá, e Davi teve que suportá-lo como auxiliar, mas não inteiramente leal e submisso a ele.
Ele não podia confiar-se inteiramente a Joabe. E isto sucede a todos que são líderes na casa de Deus. Terão que aprender a trabalhar com muitas pessoas com as quais não possam confiarem a si mesmos. E não é propósito de Deus livrar os seus servos fiéis de pessoas do mesmo caráter de um Joabe, para que possam aprender a confiar inteiramente nEle, e a serem exercitados em disciplina, justiça e paciência, como em tantas outras coisas que de outro modo não poderiam aprender, caso não tivessem que suportar aqueles que lhes são necessários e úteis, mas não sem lhes causarem muitas aflições, por conta do caráter que possuem.
Não apoiando o ato insano de Joabe, e demonstrando a sua tristeza pela morte de Abner, Davi subiu no conceito do povo, pois viram que ali estava diante deles um rei que amava a justiça e não o que era da sua conveniência pessoal.
Um homem público que não agia por caprichos, mas por meio daquilo que era bom para toda a nação.
Assim, Deus pode tirar do mal o bem, quando perseveramos na prática do bem.       



“1 Ora, houve uma longa guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi; porém Davi se fortalecia cada vez mais, enquanto a casa de Saul cada vez mais se enfraquecia.
2 Nasceram filhos a Davi em Hebrom. Seu primogênito foi Amnom, de Ainoã, a jizreelita;
3 o segundo Quileabe, de Abigail, que fôra mulher de Nabal, o carmelita; o terceiro Absalão, filho de Maacá, filha de Talmai, rei de Gesur;
4 o quarto Adonias, filho de Hagite, o quinto Sefatias, filho de Abital;
5 e o sexto Itreão, de Eglá, também mulher de Davi; estes nasceram a Davi em Hebrom.
6 Enquanto havia guerra entre a casa de Saul e a casa de Davi, Abner ia se tornando poderoso na casa de Saul:
7 Ora, Saul tivera uma concubina, cujo nome era Rispa, filha de Aías. Perguntou, pois, Is-Bosete a Abner: Por que entraste à concubina de meu pai?
8 Então Abner, irando-se muito pelas palavras de Is-Bosete, disse: Sou eu cabeça de cão, que pertença a Judá? Ainda hoje uso de benevolência para com a casa de Saul, teu pai, e para com seus irmãos e seus amigos, e não te entreguei nas mãos de Davi; contudo tu hoje queres culpar-me no tocante a essa mulher.
9 Assim faça Deus a Abner, e outro tanto, se, como o Senhor jurou a Davi, assim eu não lhe fizer,
10 transferindo o reino da casa de Saul, e estabelecendo o trono de Davi sobre Israel, e sobre Judá, desde Dã até Berseba.
11 E Is-Bosete não pôde responder a Abner mais uma palavra, porque o temia.
12 Então enviou Abner da sua parte mensageiros a Davi, dizendo: De quem é a terra? Comigo faze a tua aliança, e eis que a minha mão será contigo, para fazer tornar a ti todo o Israel.
13 Respondeu Davi: Está bem; farei aliança contigo; mas uma coisa te exijo; não verás a minha face, se primeiro não me trouxeres Mical, filha de Saul, quando vieres ver a minha face.
14 Também enviou Davi mensageiros a Is-Bosete, filho de Saul, dizendo: Entrega-me minha mulher Mical, que eu desposei por cem prepúcios de filisteus.
15 Enviou, pois, Is-Bosete, e a tirou a seu marido, a Paltiel, filho de Laís,
16 que a seguia, chorando atrás dela até Baurim. Então lhe disse Abner: Vai-te; volta! E ele voltou.
17 Falou Abner com os anciãos de Israel, dizendo: De há muito procurais fazer com que Davi reine sobre vós;
18 fazei-o, pois, agora, porque o Senhor falou de Davi, dizendo: Pela mão do meu servo Davi livrarei o meu povo da mão dos filisteus e da mão de todos os seus inimigos.
19 Do mesmo modo falou Abner a Benjamim, e foi também dizer a Davi, em Hebrom, tudo o que Israel e toda a casa de Benjamim tinham resolvido.
20 Abner foi ter com Davi, em Hebrom, com vinte homens; e Davi fez um banquete a Abner e aos homens que com ele estavam.
21 Então disse Abner a Davi: Eu me levantarei, e irei ajuntar ao rei meu senhor todo o Israel, para que faça aliança contigo; e tu reinarás sobre tudo o que desejar a sua alma: Assim despediu Davi a Abner, e ele se foi em paz.
22 Eis que os servos de Davi e Joabe voltaram de uma sortida, e traziam consigo grande despojo; mas Abner já não estava com Davi em Hebrom, porque este o tinha despedido, e ele se fora em paz.
23 Quando, pois, chegaram Joabe e todo o exército que vinha com ele, disseram-lhe: Abner, filho de Ner, veio ter com o rei; e o rei o despediu, e ele se foi em paz.
24 Então Joabe foi ao rei, e disse: Que fizeste? Eis que Abner veio ter contigo; por que, pois, o despediste, de maneira que se fosse assim livremente?
25 Bem conheces a Abner, filho de Ner; ele te veio enganar, e saber a tua saída e a tua entrada, e conhecer tudo quanto fazes.
26 E Joabe, retirando-se de Davi, enviou mensageiros atrás de Abner, que o fizeram voltar do poço de Sira, sem que Davi o soubesse.
27 Quando Abner voltou a Hebrom, Joabe o tomou à parte, à entrada da porta, para lhe falar em segredo; e ali, por causa do sangue de Asael, seu irmão, o feriu no ventre, de modo que ele morreu.
28 Depois Davi, quando o soube, disse: Inocente para sempre sou eu, e o meu reino, para com o Senhor, no tocante ao sangue de Abner, filho de Ner.
29 Caia ele sobre a cabeça de Joabe e sobre toda a casa de seu pai, e nunca falte na casa de Joabe quem tenha fluxo, ou quem seja leproso, ou quem se atenha a bordão, ou quem caia à espada, ou quem necessite de pão.
30 Joabe, pois, e Abisai, seu irmão, mataram Abner, por ter ele morto a Asael, irmão deles, na peleja em Gibeão.
31 Disse Davi a Joabe e a todo o povo que com ele estava: Rasgai as vossas vestes, cingi-vos de sacos e ide pranteando diante de Abner. E o rei Davi ia seguindo o féretro.
32 Sepultaram Abner em Hebrom; e o rei, levantando a sua voz, chorou junto da sepultura de Abner; chorou também todo o povo.
33 Pranteou o rei a Abner, dizendo: Devia Abner, porventura, morrer como morre o vilão?
34 As tuas mãos não estavam atadas, nem os teus pés carregados de grilhões; mas caíste como quem cai diante dos filhos da iniquidade. Então todo o povo tornou a chorar por ele.
35 Depois todo o povo veio fazer com que Davi comesse pão, sendo ainda dia; porém Davi jurou, dizendo: Assim Deus me faça e outro tanto, se, antes que o sol se ponha, eu provar pão ou qualquer outra coisa.
36 Todo o povo notou isso, e pareceu-lhe bem; assim como tudo quanto o rei fez pareceu bem a todo o povo.
37 Assim todo o povo e todo o Israel entenderam naquele mesmo dia que não fora a vontade do rei que matassem a Abner, filho de Ner.
38 Então disse o rei aos seus servos: Não sabeis que hoje caiu em Israel um príncipe, um grande homem?
39 E quanto a mim, hoje estou fraco, embora ungido rei; estes homens, filhos de Zeruia, são duros demais para mim. Retribua o Senhor ao malfeitor conforme a sua maldade.” (II Sm 3.1-39).


Nenhum comentário:

Postar um comentário