Nós vemos no segundo
capítulo de 2 Samuel, que tendo Saul morrido, Davi perguntou ao Senhor se
deveria retornar de Ziclague para alguma das cidades de Judá. E o Senhor
respondeu afirmativamente.
No entanto, Davi não se
aventurou, por tudo que havia aprendido, a escolher a cidade para a qual
deveria retornar por sua própria conta, e nem entregaria esta decisão à
deliberação dos anciãos das diversas cidades de Judá.
Melhor do que qualquer
pessoa somente o Senhor sabia qual seria a cidade que lhe seria mais propícia
ao seu retorno, e por isso voltou a consultar ao Senhor pedindo-lhe que
dissesse para qual cidade ele deveria ir. E como resposta o Senhor lhe apontou
a cidade de Hebrom, que era uma cidade de refúgio e sacerdotal, e como todas as
cidades de refúgio, ficava localizada numa região montanhosa.
Quando foi para Hebrom,
Davi levou consigo suas duas esposas, Ainoã e Abigail (v.2), e na ocasião não
tinha filhos.
No período de sete anos e
seis meses, que permaneceu em Hebrom, tomaria mais quatro mulheres por esposas,
e com estas e com Ainoã e Abigail gerou seis filhos, sendo um de cada uma destas seis mulheres, cujos nomes, e dos
respectivos filhos, são citados no início do capítulo seguinte.
Quando chegou a Hebrom os
homens de Judá ungiram Davi rei sobre toda a casa de Judá, enquanto as demais
tribos permaneceram seguindo a casa de Saul, porque Abner, seu tio, e general
do seu exército, agiu rapidamente para constituir Is-Bosete, filho de Saul,
como rei sobre Israel, inclusive sobre as tribos de Rúben, Gade e Manassés, na
Transjordânia.
Davi havia se
congratulado com os gileaditas, quando soube o bem que eles haviam feito à
honra de Saul e Jônatas, resgatando os seus corpos do território dos filisteus,
para serem sepultados em Gileade.
E antes que tomassem
qualquer iniciativa no sentido de se aliarem a Davi, Abner se apressou em lhes
apresentar Is-Bosete, que escapara da morte, por não ter subido à guerra contra
os filisteus, e certamente sob a alegação
de que era o legítimo herdeiro do trono, por ser filho de Saul, e por isso se
diz que Abner fez passar Is-Bosete por Maanaim, uma das principais regiões da
Transjordânia, constituindo-o rei sobre Gileade.
Foi também para Maanaim
que Davi se dirigiu, quando fugiu de Absalão, e onde permaneceu um longo
período, até que a rebelião de seu filho fosse completamente dissolvida.
Maanaim ficava ao Sul do
rio Jaboque, e na fronteira das tribos de Gade e Manassés, e pertencia à tribo
de Gade.
Judá havia se acostumado
a agir separadamente, e nós vemos esta tribo sendo numerada à parte para a
guerra, desde os dias de Saul (I Sm 15.4).
A divisão de Israel em
Reino do Norte, e do Sul, depois de Salomão, já vinha deitando raízes desde há
muito, e era pela Providência divina que ela não se consumara antes da época
determinada.
Mas esta divisão de
reinos prevaleceu nos sete anos e meio que Davi reinou sobre Judá em Hebrom,
período em que houve guerra entre Judá e as demais tribos de Israel, que
estavam debaixo do governo de Is-Bosete, e mais propriamente do general Abner,
que era o homem forte do reino, pois este Is-Bosete era fraco, conforme o
demonstra o relato bíblico, e não é de se estranhar portanto, que não tivesse
subido à guerra contra os filisteus com seu pai e seus dois irmãos, que haviam
morrido em batalha.
Abner se opôs ao reinado
de Davi, provavelmente em seu zelo pela sucessão linear em que a coroa tem que
passar de pai para filho, e também por motivo de afeto à sua própria família,
porque era tio avô de Is-Bosete, e ainda, porque ele sabia que dificilmente
seria nomeado por Davi general de todo o seu exército, honra que até aquele
momento fora dada aos sobrinhos de Davi, Joabe, Abisai e Asael, filhos de
Zeruia, que era irmã de Davi (I Crôn 2.15,16).
Os quais eram homens
poderosos e influentes em Judá.
Não podemos esquecer que
a família de Jessé era descendente do primeiro príncipe e general do exército
de Judá, nos dias de Moisés, chamado Naassom (I Crôn 2.10-12), e assim a
família de Jessé desfrutava de um grande prestígio na tribo de Judá.
Provavelmente, Is-Bosete
jamais protestaria qualquer direito à coroa, fraco que era, caso o orgulho de Abner não lhe tivesse levado a agir para a consecução dos
seus próprios objetivos.
Todavia, Deus permitiu
tudo isto para que a fé de Davi fosse provada na paciência e luta que teria que
travar para que a promessa de que seria rei sobre todo Israel fosse cumprida.
Nisto há um grande
exemplo para a Igreja de Cristo, porque ainda que seja fiel a promessa de que
reinaremos com Ele, entretanto esta promessa é alcançada mediante o nosso
esforço e fé, sofrendo com Ele neste mundo, para que sejamos achados dignos de
também reinar com Ele quando todas as coisas Lhe estiverem sujeitas.
Foi através de graus que
o reino de Davi se estabeleceu, e nisto, vem a ser tipo do reino do próprio
Cristo, que está sendo também estabelecido em graus, pois ainda não se veem
ainda todas as coisas a Ele sujeitas (Hb 2.8).
Mas é garantido e certo
que Ele reinará sobre todos bem como todos os que estiverem com Ele, tal como
se deu com Davi, que apesar de ter sido ungido por Deus para ser o sucessor de
Saul, teve que lutar contra todos os poderes que se levantaram contra ele, até
que se cumprisse cabalmente a promessa do Senhor, que de nenhum modo poderia
falhar, pois tudo o que a boca do Senhor tem dito, cumprir-se-á.
E o primeiro confronto
entre os homens de Davi e os de Abner se deu junto ao açude de Gibeão, estando
as tropas separadas pelas margens opostas do referido açude.
E Abner desafiou as
forças de Judá, propondo a Joabe que os valentes de ambos os lados se
enfrentassem, para que através daquele jogo militar ficasse demonstrado quem de
fato estava melhor preparado para a guerra.
Sendo escolhidos doze
homens valorosos de ambos os lados, lutou cada um com o seu oponente, e o
resultado foi que se mataram simultaneamente, não saindo vencedor nenhum dos
lados. É bem provável que isto foi permitido por Deus, para que Abner soubesse
que aquela guerra civil deveria ser evitada e deveria reconhecer que Davi fora
ungido para ser o rei de todo Israel.
Contudo, a luta
prosseguiu e os homens de Abner foram derrotados, tendo morrido vinte da parte
de Davi (v. 30), e trezentos e sessenta da parte de Abner (v. 31).
Não poderia haver um
recado mais claro da parte de Deus para as tribos de Israel de que Ele era com
Davi e não com Is-Bosete, e seu tio Abner.
Nesta batalha foi morto o
sobrinho de Davi, Asael, irmão de Joabe e de Abisai, que obstinadamente se
colocou em perseguição a Abner com o intuito de pôr logo um fim àquela guerra.
De fato, se lograsse
atingir o seu objetivo, matando Abner, Is-Bosete não teria força suficiente
para reter os israelitas, e estes teriam seguido a Davi. Mas, como isto se deu
logo no início do reinado de Davi em Hebrom, sete anos estavam determinados
para que Davi viesse finalmente triunfar, e importava que Abner permanecesse em
vida neste período, para que Israel aprendesse que é inútil lutar contra aquilo
que foi determinado por Deus, mesmo quando se tem ao nosso lado um general
experiente e valoroso como Abner e uma superioridade numérica, como tinham as
demais tribos de Israel, em relação a Judá.
Tal era a supremacia das
forças de Davi sobre as de Abner, que a destruição teria sido muito maior caso
o próprio Abner não tivesse rogado a Joabe por uma trégua, para que não
houvesse um grande enfraquecimento das forças de Israel pela espada dos seus
próprios irmãos (v. 26,27).
Depois desta batalha Abner retornou a Maanaim
onde Is-Bosete fora entronizado, e Joabe e seus homens voltaram a Hebrom.
“1 Sucedeu depois disto
que Davi consultou ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá?
Respondeu-lhe o Senhor: Sobe. Ainda perguntou Davi: Para onde subirei?
Respondeu o Senhor: Para Hebrom.
2 Subiu, pois, Davi para
lá, e também as suas duas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora
mulher de Nabal, e carmelita.
3 Davi fez subir também
os homens que estavam com ele, cada um com sua família; e habitaram nas cidades
de Hebrom.
4 Então vieram os homens
de Judá, e ali ungiram Davi rei sobre a casa de Judá. Depois informaram a Davi,
dizendo: Foram os homens de Jabes-Gileade que sepultaram a Saul.
5 Pelo que Davi enviou
mensageiros aos homens de Jabes-Gileade, a dizer-lhes: Benditos do Senhor
sejais vós, que fizestes tal benevolência, sepultando a Saul, vosso senhor!
6 Agora, pois, o Senhor
use convosco de benevolência e fidelidade; e eu também vos retribuirei esse bem
que fizestes.
7 Esforcem-se, pois,
agora as vossas mãos, e sede homens valorosos; porque Saul, vosso senhor, é
morto, e a casa de Judá me ungiu por seu rei.
8 Ora, Abner, filho de
Ner, chefe do exército de Saul, tomou a Is-Bosete, filho de Saul, e o fez
passar a Maanaim,
9 e o constituiu rei
sobre Gileade, sobre os asuritas, sobre Jizreel, sobre Efraim, sobre Benjamim e
sobre todo o Israel.
10 Quarenta anos tinha
Is-Bosete, filho de Saul, quando começou a reinar sobre Israel, e reinou dois
anos, A casa de Judá, porém, seguia a Davi.
11 E foi o tempo que Davi
reinou em Hebrom, sobre a casa de Judá, sete anos e seis meses.
12 Depois Abner, filho de
Ner, com os servos de Is-Bosete, filho de Saul, saiu de Maanaim para Gibeão.
13 Saíram também Joabe,
filho de Zeruia, e os servos de Davi, e se encontraram com eles perto do tanque
de Gibeão; e pararam uns de um lado do tanque, e os outros do outro lado.
14 Então disse Abner a
Joabe: Levantem-se os mancebos, e se batam diante de nós. Respondeu Joabe:
Levantem-se.
15 Levantaram-se, pois, e
passaram, em número de doze por Benjamim e por Is-Bosete, filho de Saul, e doze
dos servos de Davi.
16 E cada um lançou mão
da cabeça de seu contendor, e meteu-lhe a espada pela ilharga; assim caíram
juntos; pelo que se chamou àquele lugar, que está junto a Gibeão,
Helcate-Hazurim.
17 Seguiu-se naquele dia
uma crua peleja; e Abner e os homens de Israel foram derrotados diante dos
servos de Davi.
18 Ora, estavam ali os
três filhos de Zeruia: Joabe, Abisai, e Asael; e Asael era ligeiro de pés, como
as gazelas do campo.
19 Perseguiu, pois, Asael
a Abner, seguindo-o sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda.
20 Nisso Abner, olhando
para trás, perguntou: És tu Asael? Respondeu ele: Sou eu.
21 Ao que lhe disse
Abner: Desvia-te para a direita, ou para a esquerda, e lança mão de um dos
mancebos, e toma os seus despojos. Asael, porém, não quis desviar-se de
seguí-lo.
22 Então Abner tornou a
dizer a Asael: Desvia-te de detrás de mim; porque hei de ferir-te e dar contigo
em terra? e como levantaria eu o meu rosto diante de Joabe, teu irmão?
23 Todavia ele recusou
desviar-se; pelo que Abner o feriu com o conto da lança pelo ventre, de modo
que a lança lhe saiu por detrás; e ele caiu ali, e morreu naquele mesmo lugar.
E sucedeu que, todos os que chegavam ao lugar onde Asael caíra morto, paravam.
24 Mas Joabe e Abisai
perseguiram a Abner; e pôs-se o sol ao chegarem eles ao outeiro de Amá, que
está diante de Giá, junto ao caminho do deserto de Gibeão.
25 E os filhos de
Benjamim se ajuntaram atrás de Abner e, formando-se num batalhão, puseram-se no
cume dum outeiro.
26 Então Abner gritou a
Joabe, e disse: Devorará a espada para sempre? não sabes que por fim haverá
amargura? até quando te demorarás em ordenar ao povo que deixe de perseguir a
seus irmãos?
27 Respondeu Joabe: Vive
Deus, que, se não tivesses falado, só amanhã cedo teria o povo cessado, cada
um, de perseguir a seu irmão.
28 Então Joabe tocou a
buzina, e todo o povo parou; e não perseguiram mais a Israel, e tampouco
pelejaram mais.
29 E caminharam Abner e
os seus homens toda aquela noite pela Arabá; e, passando o Jordão, caminharam
por todo o Bitrom, e vieram a Maanaim.
30 Voltou, pois, Joabe de
seguir a Abner; e quando ajuntou todo o povo, faltavam dos servos de Davi
dezenove homens, e Asael.
31 Mas os servos de Davi
tinham ferido dentre os de Benjamim, e dentre os homens de Abner, a trezentos e
sessenta homens, de tal maneira que morreram.
32 E levantaram a Asael,
e o sepultaram no sepulcro de seu pai, que estava em Belém. E Joabe e seus
homens caminharam toda aquela noite, e amanheceu-lhes o dia em Hebrom.” (II Sm
2.1-32).
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