Nós vemos no capítulo
sétimo de 2 Samuel, que depois de longas e sucessivas guerras com as nações
inimigas de Israel, e estando subjugados os povos inimigos dos israelitas,
principalmente os filisteus, Davi estava enfim desfrutando em sua vida de um
período da paz que ele tanto amava (Sl 120.7).
Em sua meditação sobre a
pessoa de Deus ele se sentiu constrangido por estar residindo no palácio
suntuoso que Hirão, rei de Tiro, construiu para ele, enquanto a arca ainda
permanecia na tenda que ele havia preparado para ela em Jerusalém.
Davi estava descansado de
seus inimigos em sua casa, mas não achou descanso em sua alma porque lhe pesava
esta preocupação em edificar um templo para o Senhor, e ele compartilha o peso
de sua preocupação com o profeta Natã, e
este lhe encorajou a fazer tudo quanto estava no seu coração, porque o Senhor
era com ele (v. 2,3).
Porém na noite daquele
mesmo dia, Deus se manifestou a Natã dizendo-lhe que Davi não lhe edificaria
nenhum templo (I Crôn 17.4), apesar de reconhecer que havia feito bem em ter-se
preocupado em honrar o seu Deus, ao pensar em construir um templo para Ele (I
Rs 8.18).
Natã havia portanto,
incentivado Davi a construir o templo, lhe falando como um amigo, mas não da
parte de Deus.
E estava enganado neste
particular quanto à vontade do Senhor para Davi, que teve que ser-lhe revelada
por Deus, pois Davi havia sido separado para estender e consolidar as
fronteiras de Israel, mas não para gastar a maior parte do tempo do seu reinado na construção de um
templo, que já estava assentado nos desígnios de Deus como sendo algo para ser
levado a efeito por seu filho Salomão, e é por isso que ele foi citado na mesma
palavra que o Senhor havia dado a Nata, para ser dita a Davi.
Além disso, Deus não
havia dado nenhuma autorização ou fizera qualquer pedido, desde a saída de
Israel do Egito, até então, para que fosse construído um templo, e não cabia
portanto a Davi ou a qualquer outro, tomar uma iniciativa em relação a algo que
o Senhor não havia ordenado.
Se Davi não estava
confortado em saber que a arca permanecia habitando em tendas, Deus não estava
nem um pouco desconfortável, porque qual é a habitação, por mais suntuosa que
seja, que os homens possam edificar para o Senhor, que possa ser digna e estar
à altura da Sua Majestade?
Se o próprio céu é obra
das mãos dEle, tudo o que o homem possa edificar neste mundo com ouro, prata,
pedras e madeiras preciosas e nobres, será mais do que nada para Aquele que não
habita em moradas fabricadas por homens, pois nem o céu dos céus pode contê-lo
(II Crôn 2.6).
Mas Deus mandou dizer a
Davi que o templo que ele intentava erigir seria edificado pelo seu filho (v.
13), e esta profecia se aplica tanto a Salomão, quanto a Cristo, que é o
descendente de Davi que está edificando a Igreja, para ser templo para a
habitação de Deus no Espírito.
Deus não pode habitar
naquilo que o homem edifica, mas criou o próprio homem para ser lugar da Sua
habitação.
E é dito que aquele que
edificaria o templo seria filho de Deus (isto se aplica a Salomão e a Jesus), e
a parte da profecia que afirma que se ele viesse a transgredir, seria castigado
por Ele, mas não retiraria dele a Sua misericórdia como fizera com Saul (v.
14,15) se aplica óbvia e exclusivamente a Salomão.
Isto fala da segurança da
promessa feita de que o trono de Davi seria firmado, ainda que Salomão, seu
filho, viesse a falhar, bem como os seus descendentes, porque o cetro
permaneceria na casa de Davi, e seria firmado para sempre em Cristo, que é da
sua casa.
A casa de Saul foi
rejeitada por Deus e não foi confirmada.
Mas a Davi, o Senhor
estava prometendo que a sua casa permaneceria no trono para sempre (v. 16).
Aqui está pois referido o
caráter da aliança da graça, que é feita para aqueles que participarão do reino
de Cristo pela fé nEle.
Esta promessa de que
serão firmados no reino, ainda que venham a transgredir, é garantida pelo
próprio Deus conforme revelou a Davi através do profeta Natã.
Esta é uma aliança para
sempre que o Senhor jamais revogará, porque prometeu não remover a Sua
misericórdia daqueles que fazem parte da casa de Davi.
Não da casa terrena, pois
esta promessa não alcançou Absalão e a outros que eram da sua casa, mas a casa
espiritual, daqueles que tivessem a mesma fé dele e que fossem eleitos por Deus
para a salvação.
Isto não é maravilhoso?
E temos isto confirmado
nas palavras dos profetas, dos apóstolos, e do próprio Cristo, como por exemplo
em Is 55.3; Jer 33.21,22; Ez 34.23,24; Zac 12.7,8; At 13.34; 15.16; Apo
3.7.
Com a ida de Israel para
o cativeiro, o tabernáculo (a casa) de Davi ficou caída (Amós 9.11), porque foi
interrompida a sucessão de reis em Judá, da sua descendência, mas quando Cristo
estiver reinando, o tabernáculo de Davi estará plenamente restaurado, e a
promessa que Deus lhe fez estará vigorando para sempre em toda a sua plenitude.
Diante da grandiosidade
da promessa que Deus lhe fizera quanto à casa que edificaria para ele, Davi se
retirou da presença de Natã e foi adorar e agradecer ao Senhor diante da tenda
onde se encontrava a arca (v. 18 a 29).
É importante destacar que
Deus disse que edificaria tal casa a Davi para o bem de seu povo Israel (v. 8 a
11), e é com o mesmo propósito que Cristo foi exaltado com um nome que é sobre
todo o nome, a saber, para dar descanso para o Seu povo.
“1 Ora, estando o rei
Davi em sua casa e tendo-lhe dado o Senhor descanso de todos os seus inimigos
em redor,
2 disse ele ao profeta
Natã: Eis que eu moro numa casa de cedro, enquanto que a arca de Deus dentro de
uma tenda.
3 Respondeu Natã ao rei:
Vai e faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo.
4 Mas naquela mesma noite
a palavra do Senhor veio a Natã, dizendo:
5 Vai, e dize a meu servo
Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ás tu uma casa para eu nela habitar?
6 Porque em casa nenhuma
habitei, desde o dia em que fiz subir do Egito os filhos de Israel até o dia de
hoje, mas tenho andado em tenda e em tabernáculo.
7 E em todo lugar em que
tenho andado com todos os filhos de Israel, falei porventura, alguma palavra a
qualquer das suas tribos a que mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo:
por que não me edificais uma casa de cedro?
8 Agora, pois, assim
dirás ao meu servo Davi: Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu te tomei da
malhada, de detrás das ovelhas, para que fosses príncipe sobre o meu povo,
sobre Israel;
9 e fui contigo, por onde
quer que foste, e destruí a todos os teus inimigos diante de ti; e te farei um
grande nome, como o nome dos grandes que há na terra.
10 Também designarei
lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei ali, para que ele habite no
seu lugar, e não mais seja perturbado, e nunca mais os filhos da iniquidade o
aflijam, como dantes,
11 e como desde o dia em
que ordenei que houvesse juízes sobre o meu povo Israel. A ti, porém, darei
descanso de todos os teus inimigos. Também o Senhor te declara que ele te fará
casa.
12 Quando teus dias forem
completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti
um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o
seu reino.
13 Este edificará uma
casa ao meu nome, e eu estabelecerei para sempre o trono do seu reino.
14 Eu lhe serei pai, e
ele me será filho. E, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens,
e com açoites de filhos de homens;
15 mas não retirarei dele
a minha benignidade como a retirei de Saul, a quem tirei de diante de ti.
16 A tua casa, porém, e o
teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido
para sempre.
17 Conforme todas estas
palavras, e conforme toda esta visão, assim falou Natã a Davi.
18 Então entrou o rei
Davi, e sentou-se perante o Senhor, e disse: Quem sou eu, Senhor Jeová, e que é
a minha casa, para me teres trazido até aqui?
19 E isso ainda foi pouco
aos teus olhos, Senhor Jeová, senão que também falaste da casa do teu servo
para tempos distantes; e me tens mostrado gerações futuras, ó Senhor Jeová?
20 Que mais te poderá
dizer Davi. pois tu conheces bem o teu servo, ó Senhor Jeová.
21 Por causa da tua
palavra, e segundo o teu coração, fizeste toda esta grandeza, revelando-a ao
teu servo.
22 Portanto és grandioso,
ó Senhor Jeová, porque ninguém há semelhante a ti, e não há Deus senão tu só,
segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.
23 Que outra nação na
terra é semelhante a teu povo Israel, a quem tu, ó Deus, foste resgatar para te
ser povo, para te fazeres um nome, e para fazeres a seu favor estas grandes e
terríveis coisas para a tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste para
ti do Egito, desterrando nações e seus deuses?
24 Assim estabeleceste o
teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, Senhor, te fizeste o seu Deus.
25 Agora, pois, ó Senhor
Jeová, confirma para sempre a palavra que falaste acerca do teu servo e acerca
da sua casa, e faze como tens falado,
26 para que seja
engrandecido o teu nome para sempre, e se diga: O Senhor dos exércitos é Deus
sobre Israel; e a casa do teu servo será estabelecida diante de ti.
27 Pois tu, Senhor dos
exércitos, Deus de Israel, fizeste uma revelação ao teu servo, dizendo:
Edificar-te-ei uma casa. Por isso o teu servo se animou a fazer-te esta oração.
28 Agora, pois, Senhor
Jeová, tu és Deus, e as tuas palavras são verdade, e tens prometido a teu servo
este bem.
29 Sê, pois, agora
servido de abençoar a casa do teu servo, para que subsista para sempre diante
de ti; pois tu, ó Senhor Jeová, o disseste; e com a tua bênção a casa do teu
servo será, abençoada para sempre.” (II Sm 7.1-29).
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