Entre a narrativa deste capítulo sétimo de Esdras, que estaremos
comentando, e do anterior, nós temos um período de cerca de 58 anos,
correspondente à data aproximada em que Esdras veio de Babilônia para Jerusalém
(458 a.C.), e a da conclusão da construção do templo nos dias de Zorobabel (516
a.C.).
Judá se encontrava debaixo de uma nova liderança, e nós vemos a
providência de Deus atuando para que o Seu povo fosse preservado do erro, e que
continuasse no caminho da prática da Sua Palavra, porque de Esdras se dá o
seguinte testemunho: “Esdras, o sacerdote, o escriba instruído nas palavras dos
mandamentos do Senhor e dos seus estatutos para Israel:” (v. 11).
Esdras era sacerdote, da linhagem de Eleazar, filho de Arão, conforme se
vê nos primeiros cinco versículos deste sétimo capítulo.
Ele não detinha apenas a condição de dirigir o povo de Judá nas coisas
relativas à Lei de Deus, por ser sacerdote, como também era efetivamente
aplicado e instruído na Palavra do Senhor.
Certamente, o próprio Deus o vocacionara e dispusera o seu coração para
isto, de maneira que havia nele o zelo pelo Senhor e pela verdade, e todos
aqueles que conhecem isto sabem muito bem que é impossível deixar de se viver e
morrer em defesa da Palavra de Deus, conforme a impulsão que é recebida
diretamente dEle para tal propósito.
Este é o segredo por detrás da grandeza de todos aqueles que serviram
efetivamente ao Senhor, na defesa do depósito da fé.
Assim, nós lemos no verso 10:
“Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar e cumprir a lei
do Senhor, e para ensinar em Israel os seus estatutos e as suas ordenanças.”.
Isto comprova que era o Senhor que estava operando em Esdras o querer e o
efetuar.
Ela havia sido preparado como bom guerreiro de Deus, e agora entraria
definitivamente no bom combate da fé, lutando contra o erro e contra tudo o que
se opõe ao conhecimento verdadeiro de Deus, quando se dispôs a se dirigir de
Babilônia para Judá, para ensinar ao povo do Senhor a guardar a Sua Palavra.
Ele não iria para lá com o propósito de lhes ensinar como deveriam viver
debaixo da obediência aos mandamentos do Senhor.
E isto não foi mudado por Jesus em relação à Igreja. Nós vemos o quão
somos insistentemente ordenados por Ele e pelos apóstolos a não sermos meros
ouvintes da Palavra, mas praticantes.
Para isto é preciso ter grande apreço e amor pela Palavra, um grande
desejo de honrá-la, para que Deus possa ser honrado e santificado através da
Sua aplicação em nossas vidas.
Todavia, como guardaremos aquilo que não conhecemos?
Daí a necessidade de estudarmos a Palavra e de nos submetermos
humildemente a aprendê-la daqueles que viveram e morreram dando um firme
testemunho de terem-na vivido, pregado e ensinado a outros, bem como daqueles
que o Senhor tem levantado em nosso meio, tal como Esdras, para nos instruírem
no conhecimento da verdade revelada.
De Esdras pode-se dizer o mesmo que Jesus disse dos ministros que são
instruídos e fiéis às coisas relativas ao reino dos céus: “E ele disse-lhes:
Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um
pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mt 13.52).
Eles possuem um tesouro que o Senhor lhes confiou, que é a Sua Palavra, e
é dali que tiram o alimento espiritual com o qual alimentam a família de Deus,
quer no que tange às coisas antigas que conheciam, quer no que tange aos novos
e frescos conhecimentos da verdade revelada, conforme são capacitados a
entender, por iluminação do Espírito.
Isto não se refere a uma nova verdade, mas a um recente conhecimento das
verdades contidas no tesouro doutrinário da Bíblia, que vão aprendendo mais e
mais, conforme lhes capacita o Espírito, no seu aprofundamento em seu estudo e
meditação da Palavra e dos comentários, estudos, sermões e artigos bíblicos que
foram escritos por homens fiéis à verdade e também idôneos para ensiná-la a
outros.
É de tal importância manter o ensino correto da Palavra, especialmente no
que tange à sua exposição e interpretação, porque sendo isto feito de modo
incorreto, haverá grande prejuízo para a santificação dos cristãos, porque
sendo esta Palavra espírito e vida, quando compartilhada no culto ou nas
conversações dos cristãos, ou ainda na meditação deles, quer diretamente na
Bíblia, quer em sermões escritos ou comentários em que a verdade é apresentada
com a sua própria roupagem, então esta Palavra se transforma em graça nos
corações dos cristãos e lhes santifica, e eles são cheios do Espírito Santo,
conforme o apóstolo Paulo fala a este respeito, e como o próprio Deus nos
ordena a fazer, para que possamos estar efetivamente ligados com as coisas
espirituais, celestiais e divinas, tendo-as não somente ocupando os nossos
pensamentos, como também na transformação das nossas vidas.
Não podemos esquecer que a rainha Ester está situada na cronologia com
apenas 20 anos antes de Esdras, porque a sua intervenção em favor do livramento
dos judeus do extermínio pretendido por Hamã, é datada em 478 a.C., e Esdras
veio para Judá em 458 a. C.
Deste modo, o bom testemunho e a atuação de Ester junto ao rei da Pérsia,
com o qual se casara, pode ter sido um dos fatores contribuintes para que nós
vejamos Artaxerxes, usando de toda a benevolência para com os judeus não
somente lhes enviando Esdras, como também dando a liberdade de que todos os
sacerdotes e levitas que desejassem acompanhá-lo a Jerusalém, pudessem ir com
ele (v. 13), e lhe dando prata e ouro do
próprio tesouro real persa (v. 15), assim como o ouro e prata que foram levantados
como ofertas voluntárias em toda a província de Babilônia (v. 16).
Com este dinheiro, Esdras deveria comprar animais e cereais para serem
ofertados no altar dos holocaustos do templo de Jerusalém (v. 17).
E o que sobrasse do dinheiro ficaria à disposição do uso de Esdras e dos
sacerdotes, para o que fosse necessário comprar conforme a vontade de Deus (v.
18).
Além disso foram dados pelo rei vasos para o serviço do templo, e o que
mais fosse necessário para o referido serviço, e Esdras o compraria com o
dinheiro dos tesouros da casa do rei da Pérsia (v. 20).
Foi ordenado também a todos os tesoureiros da província da Palestina que
deveriam dar prontamente a Esdras, tudo o que lhes fosse exigido até o limite
de cem talentos de prata, cem coros de trigo, cem batos de vinho, cem batos de
azeite, e sal à vontade (v. 21, 22). E tudo o que fosse ordenado pelo Deus do
céu, deveria ser feito com a precisão exigida, de maneira que a ira do Senhor
não fosse despertada contra a Pérsia (v. 23).
E como se tudo isto ainda não bastasse, o rei persa ordenou que os
sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e todos os servidores do templo, não
deveriam pagar nem tributo, nem imposto, nem pedágio (v. 24).
E autorizou Esdras a nomear e designar os juízes e magistrados para todos
os judeus naquele lado do rio (v. 25, 26).
Esdras reconheceu que toda esta benevolência de Artaxerxes havia sido
colocada no seu coração pelo próprio Deus (v. 27).
Por esta benevolência, Esdras bendisse ao Senhor (v. 27) e afirmou que tendo
sido encorajado pela mão de Deus, a qual estava sobre ele, ajuntou alguns dos
principais líderes de Israel para que subissem com ele a Judá (v. 28).
Além desta autoridade que Ele havia recebido do Senhor, que na verdade
era quem lhe estava comissionando para aquela tarefa, Esdras recebeu poder e
autoridade do rei da Pérsia, de modo que todo aquele que não observasse a lei
de Deus e a lei do rei, deveria ser justiçado com todo o zelo pelos magistrados
no sentido de receber ou a pena de morte, ou desterro, ou confiscação de bens,
ou prisão (v.26).
Israel estava então tendo, desde o cativeiro, a oportunidade de aprender
a estar em submissão à autoridade civil, alheia à autoridade que havia na sua
própria nação.
É plano de Deus, enquanto somos peregrinos neste mundo, aprendermos a ser
obedientes e submissos a toda forma de autoridade que Ele tem constituído, de
maneira que possamos ter a oportunidade de aprender o exercício da submissão,
tão necessária aos filhos decaídos de Adão, que se desviaram do centro da
vontade de Deus por causa da rebelião.
É absolutamente essencial aprender na prática a estar sujeito à
autoridade, porque quando estivermos livres de todo jugo terreno, continuaremos
sujeitos à autoridade de Deus, e jamais nos desviaremos da obediência que Lhe é
devida.
“1 Ora, depois destas coisas, no reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia,
Esdras, filho de Seraías, filho de Azarias, filho de Hilquias,
2 filho de Salum, filho de Zadoque, filho de Aitube,
3 filho de Amarias, filho de Azarias, filho de Meraiote,
4 filho de Zeraías, filho de Uzi, filho de Buqui,
5 filho de Abisua, filho de Fineias, filho de Eleazar, filho de Arão, o
sumo sacerdote,
6 este Esdras subiu de Babilônia. E ele era escriba hábil na lei de
Moisés, que o Senhor Deus de Israel tinha dado; e segundo a mão de Senhor seu
Deus, que estava sobre ele, o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira.
7 Também subiram a Jerusalém alguns dos filhos de Israel, dos sacerdotes,
dos levitas, dos cantores, dos porteiros e dos servidores do templo, no sétimo
ano do rei Artaxerxes.
8 No quinto mês Esdras chegou a Jerusalém, no sétimo ano deste rei.
9 Pois no primeiro dia do primeiro mês ele partiu de Babilônia e no
primeiro dia do quinto mês chegou a Jerusalém, graças à mão benéfica do seu
Deus sobre ele.
10 Porque Esdras tinha preparado o seu coração para buscar e cumprir a
lei do Senhor, e para ensinar em Israel os seus estatutos e as suas ordenanças.
11 Esta é, pois, a cópia da carta que o rei Artaxerxes deu a Esdras, o
sacerdote, o escriba instruído nas palavras dos mandamentos do Senhor e dos
seus estatutos para Israel:
12 Artaxerxes, rei dos reis, ao sacerdote Esdras, escriba da lei do Deus
do céu: Saudações.
13 Por mim se decreta que no meu reino todo aquele do povo de Israel, e
dos seus sacerdotes e levitas, que quiser ir a Jerusalém, vá contigo.
14 Porquanto és enviado da parte do rei e dos seus sete conselheiros para
indagares a respeito de Judá e de Jerusalém, conforme a lei do teu Deus, a qual
está na tua mão;
15 e para levares a prata e o ouro que o rei e os seus conselheiros
voluntariamente deram ao Deus de Israel cuja habitação está em Jerusalém,
16 com toda a prata e o ouro que achares em toda a província de
Babilônia, e com as ofertas voluntárias do povo e dos sacerdotes, que
voluntariamente as oferecerem para a casa do seu Deus, que está em Jerusalém;
17 portanto com toda a diligência comprarás com este dinheiro novilhos,
carneiros, e cordeiros, com as suas ofertas de cereais e as suas ofertas de
libações, e os oferecerás sobre o altar da casa do vosso Deus, que está em
Jerusalém.
18 Também o que a ti e a teus irmãos parecer bem fazerdes do resto da
prata e do ouro, o fareis conforme a vontade do vosso Deus.
19 Os vasos que te foram dados para o serviço da casa do teu Deus,
entrega-os todos perante ele, o Deus de Jerusalém.
20 E tudo o mais que for necessário para a casa do teu Deus, e que te
convenha dar, o darás da casa dos tesouros do rei.
21 E eu, o rei Artaxerxes, decreto a todos os tesoureiros que estão na
província dalém do Rio, que tudo quanto vos exigir o sacerdote Esdras, escriba
da lei do Deus do céu, prontamente se lhe conceda,
22 até cem talentos de prata cem coros de trigo, cem batos de vinho, cem
batos de azeite, e sal à vontade.
23 Tudo quanto for ordenado pelo Deus do céu, isso precisamente se faça
para a casa do Deus do céu; pois, por que haveria ira sobre o reino do rei e de
seus filhos?
24 Também vos notificamos acerca de todos os sacerdotes e levitas,
cantores, porteiros, servidores do templo, e outros servos desta casa de Deus,
que não será lícito exigir-lhes nem tributo, nem imposto, nem pedágio.
25 E tu, Esdras, conforme a sabedoria do teu Deus, que possuis, constitui
magistrados e juízes, que julguem todo o povo que está na província dalém do
Rio, isto é, todos os que conhecem as leis do teu Deus; e ensina-as ao que não
as conhece.
26 E todo aquele que não observar a lei do teu Deus e a lei do rei, com
zelo se lhe execute a justiça: quer seja morte, quer desterro, quer confiscação
de bens, quer prisão.
27 Bendito seja o Senhor Deus de nossos pais, que pôs no coração do rei
este desejo de ornar a casa do Senhor, que está em Jerusalém;
28 e que estendeu sobre mim a sua benevolência perante o rei e os seus
conselheiros e perante todos os príncipes poderosos do rei. Assim encorajado
pela mão do Senhor, meu Deus, que estava sobre mim, ajuntei dentre Israel
alguns dos homens principais para subirem comigo.” (Ed 7.1-28).
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