sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Inveja Conduz à Ira e Esta ao Ódio – I Samuel 19



Nós vemos no 19º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que Saul retrocedeu na ordem que dera a Jônatas e a seus homens de matarem a Davi, porque Jônatas lhe revelou as intenções de seu pai e lhe recomendou que se escondesse, e além disso intercedeu em favor dele junto a Saul, lhe lembrando de todo o bem que Davi lhe havia feito e da grande alegria que ele lhe dera quando matou Golias, tendo colocado em risco a sua própria vida (v. 1 a 5).
Saul deu ouvido a Jônatas e jurou pelo Senhor que não mataria Davi (v. 6).
Isto deu ocasião a que Jônatas introduzisse novamente Davi à presença de seu pai e ele assistia ao rei como antes (v. 7).
Davi poderia evitar toda aquela perseguição caso se anulasse e deixasse de agir segundo o dom que havia recebido de Deus, ficando somente como escudeiro de Saul por toda a vida.
Os Sauls deste mundo são tomados de tal modo pela inveja, que não admitem que ninguém possa sequer ameaçar chegar perto da posição elevada em que se encontram.
Eles invejam muito mais a estes que estão sendo exaltados por Deus, do que propriamente aqueles que se encontram em posição superior à deles.
Mas como Davi poderia deixar de ser leal para consigo mesmo e para com o Seu Deus?
Importa antes dar ouvido a Deus do que aos homens (At 4.19).
Por conseguinte, nós o vemos mais uma vez triunfando no campo de batalha contra os filisteus, que eram inimigos de Deus e de Israel (v. 8).
Isto bastou para que a inveja de Saul fosse de novo acesa, e toda vez que isto ocorria, o espírito maligno se apoderava dele, e mais uma vez tentou matar Davi com a sua lança. E mais uma vez Davi escapou dele e fugiu (v. 9, 10).   
A inveja de Saul acendia a sua raiva e isto dava lugar para que o espírito imundo se apoderasse dele.
Mesmo cristãos autênticos são exortados por isso a não permitirem que uma ira justificada passageira se transforme num estado doentio de alma que faz com que percam o domínio próprio e sejam dirigidos pela ira que estão sentindo, motivada por inveja, ciúme ou por qualquer outro tipo de pecado.
“26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira;
27 nem deis lugar ao Diabo.” (Ef 4.26, 27).
Nós observamos nestas palavras do apóstolo Paulo que o ato de deixar o sol se por sobre a nossa ira permite que demos lugar ao Diabo, dando-lhe acesso para perturbar a nossa paz.
Paulo está dizendo que com isso nós abrimos espaço para ele e o convidamos indiretamente com o nosso procedimento irado a exercer domínio sobre nós, de modo que as ações de Satanás têm a sua origem geralmente nos próprios pecados e loucuras dos homens. 
Sabendo Saul, que Davi estava em sua casa com sua mulher Mical, enviou mensageiros para que o vigiassem e o matassem quando o dia amanhecesse.
Porém, Mical ajudou Davi a fugir por uma janela e colocou na cama, no lugar dele, uma estátua que ela cobriu com uma capa para enganar os seus perseguidores (v. 11 a 13).
Quando Saul enviou mensageiros para prenderem Davi, Mical mentiu dizendo que ele estava doente e acamado.
Saul mandou que o trouxessem com cama e tudo para que ele mesmo o matasse (v. 14, 15).
Mas quando os mensageiros viram que haviam sido enganados por Mical, e tendo Saul lhe interpelado porque havia deixado escapar o seu inimigo, ela mentiu para salvar a sua própria pele, dizendo que Davi lhe havia ameaçado de morte caso o entregasse nas mãos de Saul (v. 16, 17).
Davi tinha fugido para Ramá, onde residia o profeta Samuel. E juntamente com ele se dirigiram à casa de profetas, que no nosso texto está designada pela palavra Naiote, que como comentamos antes, significa habitação, casa, residência.
E nesta edificação havia uma congregação de profetas que profetizavam sob a presidência de Samuel (v. 18, 19).
E as coisas que são ditas nos versos 20 a 24 bem comprovam que o dom de profecia, como qualquer outro dom extraordinário do Espírito Santo, é realmente temporário e transitório, e pode ser concedido a qualquer pessoa, independentemente de serem ou não verdadeiros servos de Deus, e estes dons extraordinários são listados pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 12 a 14, com exceção do caminho sobremodo excelente do amor que não é um dom extraordinário, mas a graça comum, assim chamada, porque é a mesma que está presente em todos os verdadeiros cristãos, promovendo uma ação transformadora em seus corações, e que está ligada à sua natureza, e na qual devem crescer e amadurecer.  
Daí a surpresa de muitos que ouvirão de Cristo no dia do juízo que nunca os conheceu apesar de tudo o que profetizaram, dos demônios que expulsaram e dos milagres que  fizeram em Seu nome (Mt 7.22).   
Não podemos esquecer que Judas estava entre os apóstolos e juntamente com eles expulsou demônios, curou enfermos, e até mesmo pode ter profetizado em nome de Cristo.
Esta passagem das Escrituras referente a Saul e aos mensageiros que ele enviou à casa de profetas (Naiote), bem demonstra esta possibilidade de que pessoas que não conheçam realmente ao Senhor possam profetizar conforme lhes seja concedido pelo Espírito Santo.
É nesta categoria que se inclui o próprio Balaão, nas ocasiões que Deus falou efetivamente por meio dele, para a sua própria ruína e perdição.
Nós vamos encontrar Saul, mais uma vez, dando ocasião a Deus de acrescentar mais juízos à sua vida, porque na sua obstinada perseguição a Davi enviou mensageiros à casa de profetas, para matá-lo, mas foram impedidos, porque o Espírito Santo vinha sobre eles e fazia com que  profetizassem.
Por fim, o próprio Saul se dirigiu à casa de profetas, mas também foi impedido de matar Davi, porque ficou profetizando de tal maneira, conforme o Espírito Santo operava nele, que chegou a se despir de suas vestes e ficou caído por terra todo um dia e noite, tal foi o êxtase em que ele ficou pelo modo como o Espírito Santo o tomou, e assim, enquanto debaixo de tal influência do Espírito, ele não poderia fazer qualquer mal a Davi.
O que deu ocasião a que se reforçasse o dito popular irônico que já circulava a seu respeito: “Está também Saul entre os profetas?”  (v. 24), como um indicador da perplexidade deles quanto ao fato de como podia um homem do seu caráter profetizar pela operação do Espírito Santo?
A razão desta possibilidade já foi comentada por nós anteriormente.
Muitos têm grandes dons e ainda nenhuma graça, profetizam no nome de Cristo e ainda são desconhecidos por Ele (Mt 7.22,23).

 

“1 Falou, pois, Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos, para que matassem a Davi. Porém Jônatas, filho de Saul, estava muito afeiçoado a Davi.
2 Pelo que Jônatas o anunciou a Davi, dizendo: Saul, meu pai, procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã pela manhã, fica num lugar oculto e esconde-te;
3 eu sairei e me porei ao lado de meu pai no campo em que estiveres; falarei acerca de ti a meu pai, verei o que há, e to anunciarei.
4 Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e porque os seus feitos para contigo têm sido muito bons.
5 Porque expôs a sua vida e matou o filisteu, e o Senhor fez um grande livramento para todo o Israel. Tu mesmo o viste, e te alegraste; por que, pois, pecarias contra o sangue inocente, matando sem causa a Davi?
6 E Saul deu ouvidos à voz de Jônatas, e jurou: Como vive o Senhor, Davi não morrerá.
7 Jônatas, pois, chamou a Davi, contou-lhe todas estas palavras, e o levou a Saul; e Davi o assistia como dantes.
8 Depois tornou a haver guerra; e saindo Davi, pelejou contra os filisteus, e os feriu com grande matança, e eles fugiram diante dele.
9 Então o espírito maligno da parte do Senhor veio sobre Saul, estando ele sentado em sua casa, e tendo na mão a sua lança; e Davi estava tocando a harpa.
10 E Saul procurou encravar a Davi na parede, porém ele se desviou de diante de Saul, que fincou a lança na parede. Então Davi fugiu, e escapou naquela mesma noite.
11 Mas Saul mandou mensageiros à casa de Davi, para que o vigiassem, e o matassem pela manhã; porém Mical, mulher de Davi, o avisou, dizendo: Se não salvares a tua vida esta noite, amanhã te matarão.
12 Então Mical desceu Davi por uma janela, e ele se foi e, fugindo, escapou.
13 Mical tomou uma estátua, deitou-a na cama, pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra, e a cobriu com uma capa.
14 Quando Saul enviou mensageiros para prenderem a Davi, ela disse: Está doente.
15 Tornou Saul a enviá-los, para que vissem a Davi, dizendo-lhes: Trazei-mo na cama, para que eu o mate.
16 Vindo, pois, os mensageiros, eis que estava a estátua na cama, e a pele de cabra à sua cabeceira.
17 Então perguntou Saul a Mical: Por que assim me enganaste, e deixaste o meu inimigo ir e escapar? Respondeu Mical a Saul: Porque ele me disse: Deixa-me ir! Por que hei de matar-te?
18 Assim Davi fugiu e escapou; e indo ter com Samuel, em Ramá, contou-lhe tudo quanto Saul lhe fizera; foram, pois, ele e Samuel, e ficaram em Naiote.
19 E foi dito a Saul: Eis que Davi está em Naiote, em Ramá.
20 Então enviou Saul mensageiros para prenderem a Davi; quando eles viram a congregação de profetas profetizando, e Samuel a presidi-los, o Espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul, e também eles profetizaram.
21 Avisado disso, Saul enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram. Ainda terceira vez enviou Saul mensageiros, os quais também profetizaram.
22 Então foi ele mesmo a Rama e, chegando ao poço grande que estava em Sécu, perguntou: Onde estão Samuel e Davi? Responderam-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá.
23 Foi, pois, para Naiote, em Ramá; e o Espírito de Deus veio também sobre ele, e ele ia caminhando e profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá.
24 E despindo as suas vestes, ele também profetizou diante de Samuel; e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite. Pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?” (I Sm 19.1-24)


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