sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Os Gigantes Emocionais que Enfrentamos – I Samuel 20



Nós temos neste 20º capítulo de I Samuel, um diálogo de dois homens honrados: Davi e Jônatas.
Este último mesmo sendo incitado pelo seu pai contra Davi, sob o argumento que caso o deixasse viver, ele tomaria a coroa que lhe pertencia por direito hereditário, não se deixou mover por este espírito incitador e manteve a sua dignidade muito acima destas águas turvas e lodosas do coração de seu pai.
Ele não o fez simplesmente porque tinha firmado uma aliança com Davi no dia em que ele matou Golias, mas sobretudo porque o amava com um amor santo e verdadeiro.
Era sem dúvida o amor ágape de Deus que o movia, porque o amor que procede do Senhor não busca o que é do seu próprio interesse, e não é invejoso ou ciumento, e tudo suporta e sofre, e deste modo, as palavras de Saul não fizeram qualquer eco na alma de Jônatas.
Como o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, jamais se colocaria ao lado da causa injusta e pecaminosa de seu pai, e ficaria firme na defesa da justiça e da verdade que estavam em Davi, pois sabia que ele não havia cometido nenhum pecado contra o rei, e muito pelo contrário, somente lhe tinha feito o bem, tanto pessoalmente, quanto nos assuntos relativos ao reino.
Assim, eles renovaram a aliança que haviam feito, e Jônatas sabendo que Davi viria certamente a ser o futuro rei de Israel, se submeteu humildemente à decisão de Deus relativa ao caso, e somente pediu a Davi que usasse de benevolência para com ele e para com os seus descendentes (v. 14-16), pois ele agora tinha a convicção de que realmente seu pai intentava o mal contra ele, coisa que Saul vinha escondendo de Jônatas até aquele momento, porque sabia que ele amava a Davi como à sua própria alma.
Davi foi digno o suficiente para ocultar de Jônatas as agressões que vinha sofrendo da parte de Saul, para não colocar um filho contra seu pai.
Ele somente agora lhe declararia o fato, porque Saul estava deliberadamente procurando matá-lo.
Deus fez de Jônatas para Davi um irmão na hora da adversidade (Pv 17.17).
Para revelar a Jônatas as verdadeiras intenções de seu pai, em relação a ele, Davi usou de um estratagema, pois faltou deliberadamente ao banquete que seria oferecido durante os dois dias em que Saul jantaria publicamente, por ocasião das solenidades da lua nova, quando eram oferecidos sacrifícios adicionais, e pediu que Jônatas dissesse a seu pai, caso perguntasse por ele, que teve que se dirigir à casa de Jessé, seu pai, em Belém, e ao ouvir tais palavras Saul muito se encolerizaria, pois devia ter planejado capturá-lo, enquanto se procedia à solenidade.
Saul muito se enfureceu contra Jônatas, quando ele tentou justificar a ausência de Davi, a ponto de ameaçá-lo de morte, pois sabia que estava lhe protegendo.
Eles haviam combinado um sinal para que Davi soubesse se Saul havia sido favorável ou não a ele, pois Jônatas lançaria suas flechas na direção em que Davi deveria se encontrar no dia aprazado, e caso dissesse ao moço que iria apanhar as flechas, que elas estavam para além do lugar em que ele se encontrava, era para que Davi soubesse que deveria fugir, porque Saul determinara matá-lo, e em caso contrário, se dissesse que as flechas estavam aquém do moço, seria porque Saul havia se mostrado favorável a ele.
E tendo uma vez feito o sinal combinado Davi não se expôs senão com o devido cuidado para que a sua presença não fosse denunciada, e assim pudesse se despedir de Jônatas, porque dali para a frente ele seria um fugitivo permanente de Saul.
Davi e Jônatas em sua despedida se beijaram mutuamente com ósculo santo e choraram, e o texto destaca que Davi chorou muito mais do que ele (v. 41).
Jônatas voltaria para a segurança de sua casa, mas Davi teria que viver dali em diante despojado de tudo quanto possuía, e a ter que viver como um fugitivo sobre a terra.
O sofrer esta grande injustiça e ingratidão de Saul estava sendo uma luta muito maior para ele do que a que havia travado com o gigante Golias.
Há gigantes espirituais e emocionais que são duros de serem vencidos, e com isto nós podemos entender o profundo clamor que encontramos nos Salmos de Davi, pedindo a Deus por justiça e que o consolasse dos muitos inimigos que perseguiam a sua alma justa, procurando destruí-la por causa do Seu grande amor pelo Senhor, demonstrado em sua vida piedosa e santa.  


“1 Então fugiu Davi de Naiote, em Ramá, veio ter com Jônatas e lhe disse: Que fiz eu? qual é a minha iniquidade? e qual é o meu pecado diante de teu pai, para que procure tirar-me a vida?
2 E ele lhe disse: Longe disso! não hás de morrer. Meu pai não faz coisa alguma, nem grande nem pequena, sem que primeiro ma participe; por que, pois, meu pai me encobriria este negócio? Não é verdade.
3 Respondeu-lhe Davi, com juramento: Teu pai bem sabe que achei graça aos teus olhos; pelo que disse: Não saiba isto Jônatas, para que não se magoe. Mas, na verdade, como vive o Senhor, e como vive a tua alma, há apenas um passo entre mim e a morte.
4 Disse Jônatas a Davi: O que desejas tu que eu te faça?
5 Respondeu Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a lua nova, e eu deveria sentar-me com o rei para comer; porém deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo até a tarde do terceiro dia.
6 Se teu pai notar a minha ausência, dirás: Davi me pediu muito que o deixasse ir correndo a Belém, sua cidade, porquanto se faz lá o sacrifício anual para toda a parentela.
7 Se ele disser: Está bem; então teu servo tem paz; porém se ele muito se indignar, fica sabendo que ele já está resolvido a praticar o mal.
8 Usa, pois, de misericórdia para com o teu servo, porque o fizeste entrar contigo em aliança do Senhor; se, porém, há culpa em mim, mata-me tu mesmo; por que me levarias a teu pai?
9 Ao que respondeu Jônatas: Longe de ti tal coisa! Se eu soubesse que meu pai estava resolvido a trazer o mal sobre ti, não to descobriria eu?
10 Perguntou, pois, Davi a Jônatas: Quem me fará saber, se por acaso teu pai te responder asperamente?
11 Então disse Jônatas a Davi: Vem, e saiamos ao campo. E saíram ambos ao campo.
12 E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai amanhã a estas horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável para Davi, eu não enviarei a ti e não to farei saber?
13 O Senhor faça assim a Jônatas, e outro tanto, se, querendo meu pai fazer-te mal, eu não te fizer saber, e não te deixar partir, para ires em paz; e o Senhor seja contigo, assim como foi com meu pai.
14 E não somente usarás para comigo, enquanto viver, da benevolência do Senhor, para que não morra,
15 como também não cortarás nunca da minha casa a tua benevolência, nem ainda quando o Senhor tiver desarraigado da terra a cada um dos inimigos de Davi.
16 Assim fez Jônatas aliança com a casa de Davi, dizendo: O Senhor se vingue dos inimigos de Davi.
17 Então Jônatas fez Davi jurar de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma.
18 Disse-lhe ainda Jônatas: Amanhã é a lua nova, e notar-se-á a tua ausência, pois o teu lugar estará vazio.
19 Ao terceiro dia descerás apressadamente, e irás àquele lugar onde te escondeste no dia do negócio, e te sentarás junto à pedra de Ezel.
20 E eu atirarei três flechas para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
21 Então mandarei o moço, dizendo: Anda, busca as flechas. Se eu expressamente disser ao moço: Olha que as flechas estão para cá de ti, apanha-as; então vem, porque, como vive o Senhor, há paz para ti, e não há nada a temer.
22 Mas se eu disser ao moço assim: Olha que as flechas estão para lá de ti; vai-te embora, porque o Senhor te manda ir.
23 E quanto ao negócio de que eu e tu falamos, o Senhor é testemunha entre mim e ti para sempre.
24 Escondeu-se, pois, Davi no campo; e, sendo a lua nova, sentou-se o rei para comer.
25 E, sentando-se o rei, como de costume, no seu assento junto à parede, Jônatas sentou-se defronte dele, e Abner sentou-se ao lado de Saul; e o lugar de Davi ficou vazio.
26 Entretanto Saul não disse nada naquele dia, pois dizia consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa pela qual não está limpo; certamente não está limpo.
27 Sucedeu também no dia seguinte, o segundo da lua nova, que o lugar de Davi ficou vazio. Perguntou, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que o filho de Jessé não veio comer nem ontem nem hoje?
28 Respondeu Jônatas a Saul: Davi pediu-me encarecidamente licença para ir a Belém,
29 dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto a nossa parentela tem um sacrifício na cidade, e meu irmão ordenou que eu fosse; se, pois, agora tenho achado graça aos teus olhos, peço-te que me deixes ir, para ver a meus irmãos. Por isso não veio à mesa do rei.
30 Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não sei eu que tens escolhido ao filho de Jessé para vergonha tua, e para vergonha de tua mãe?
31 Pois por todo o tempo em que o filho de Jessé viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem o teu reino; pelo que envia agora, e traze-mo, porque ele há de morrer.
32 Ao que respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de morrer? que fez ele?
33 Então Saul levantou a lança, para o ferir; assim entendeu Jônatas que seu pai tinha determinado matar a Davi.
34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se levantou da mesa, e no segundo dia do mês não comeu; pois se magoava por causa de Davi, porque seu pai o tinha ultrajado.
35 Jônatas, pois, saiu ao campo, pela manhã, ao tempo que tinha ajustado com Davi, levando consigo um rapazinho.
36 Então disse ao moço: Corre a buscar as flechas que eu atirar. Correu, pois, o moço; e Jônatas atirou uma flecha, que fez passar além dele.
37 Quando o moço chegou ao lugar onde estava a flecha que Jônatas atirara, gritou-lhe este, dizendo: Não está porventura a flecha para lá de ti?
38 E tornou a gritar ao moço: Apressa-te, anda, não te demores! E o servo de Jônatas apanhou as flechas, e as trouxe a seu senhor.
39 O moço, porém, nada percebeu; só Jônatas e Davi sabiam do negócio.
40 Então Jônatas deu as suas armas ao moço, e lhe disse: Vai, leva-as à cidade.
41 Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou muito mais.
42 E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz, porquanto nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência perpetuamente.
43 Então Davi se levantou e partiu; e Jônatas entrou na cidade.” (I Sm 20.1-43)


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