sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Davi Fugindo da Perseguição de Saul – I Samuel 21



Depois de ter se despedido de Jônatas, Davi foi para Nobe, uma das cidades dos sacerdotes, que eram treze ao todo (Js 21.19).
Neste capítulo 21º de I Samuel, que estaremos comentando, nós vemos que Davi, apesar de todas as qualidades de que estava dotado o seu espírito, era também um homem sujeito às fraquezas, e nós o vemos mentindo ao sacerdote Aimeleque em Nobe, dizendo que estava em missão secreta, a mando de Saul, e provavelmente ele fizera isto porque se achava ali naquele lugar um edomita chamado Doegue, que era o maioral dos pastores de Saul (v. 7).  
Estando Davi faminto e também os homens que o acompanhavam, pediu comida ao sacerdote e este lhe deu os cinco pães, que haviam sido consagrados ao Senhor, os pães da proposição que eram colocados na mesa dos pães do tabernáculo, sob a condição de que ele e seus homens não estivessem imundos cerimonialmente, por haver ainda neles alguma polução de um possível contato com mulheres, e Davi lhe disse que era costume dele e de seus homens não tocarem em mulher quando saíam em campanha (v. 3-6)
É bem provável que nesta ocasião, toda a estrutura do tabernáculo havia sido transferida de Siló para Nobe, sem a arca, que continuava em Quiriate-Jearim, e isto em razão de Siló ter sido abandonada pelo Senhor.
É também provável que Samuel tenha recebido ordem direta do Senhor para proceder a tal transferência para indicar de modo visível que havia de fato rejeitado a Siló.
Davi estava recebendo o seu espinho na carne tal como o apóstolo Paulo recebera o dele, para o mesmo fim de não se ensoberbecer diante das grandes maravilhas que o Senhor estava fazendo e que ainda faria através dele.
Ele é deixado à mercê das circunstâncias difíceis que o rodeavam, e ele se sente transtornado a ponto de buscar refúgio entre os próprios inimigos de Israel, uma vez que estava sendo declarado por Saul como sendo um traidor do seu povo, por ter deserdado de suas obrigações, como um dos chefes do exército de Israel.
Davi não havia desertado, mas certamente Saul estava espalhando esta falsa notícia enquanto ocultava a verdadeira causa da fuga de Davi, que era a sua determinação de que o mataria injusta e covardemente.
Por certo, as perseguições que empreenderia contra Davi deveriam ser justificadas por ele perante o povo como a busca de um desertor e traidor (22.8).   
Davi não pôde sequer levar qualquer arma consigo e por isso retomou a espada de Golias, que se encontrava com os sacerdotes em Nobe, e partiu para Gate, exatamente a cidade dos filisteus à qual pertencia Golias, e ele vai ter com o rei filisteu chamado Aquis, e como os servos do rei desconfiavam de que ele era o Davi do qual se dizia ter ferido os seus dez milhares, e Saul os seus milhares, ele teve muito medo de ser descoberto no meio dos inimigos de Israel, e passou a se fingir de louco, e saiu-se tão bem em sua representação teatral que convenceu ao próprio Áquis que tinha de fato problemas mentais (v. 10-15).
E tendo conseguido escapar de ser identificado pelos filisteus, Davi retirou-se dali e foi buscar refúgio na caverna de Adulão, como veremos no capitulo seguinte.
Para podermos conhecer algo mais do estado de espírito em que Davi se encontrava, quando na caverna de Adulão, e como ele buscou auxílio em Deus naquela ocasião, devemos ler o Salmo 142,  que ele compôs quando estava na citada caverna.
Nós vemos através da exposição deste Salmo que não havia nenhuma contradição entre o fato de Davi ter sido ungido a mando de Deus para ser rei de Israel e toda a situação que Deus estava permitindo que lhe sobreviesse, pois até mesmo em suas dificuldades e tribulações o Senhor estava cumprindo todos os Seus propósitos em relação à vida de Davi, de modo que ele viesse a ser um rei justo e compassivo, que se apiedasse dos fracos e perseguidos, por causa das experiências que ele estava vivendo.
Além disso ele estava aprendendo o quão duro é ser perseguido, de maneira que quando estivesse no trono, não viria a perseguir injustamente a qualquer pessoa, pois estava aprendendo em sua própria experiência pessoal, quão pecaminosa é tal atitude aos olhos de Deus, e quão afastada ela está de um espírito verdadeiramente reto e justo.   
Devemos dizer numa palavra final para sermos justos com Davi, que a par de toda o transtorno que havia sentido em razão de suas tribulações, nós vemos que continuava no pleno exercício de suas faculdades, e nada havia mudado em seu espírito quando mudou o seu comportamento e se fingiu de louco na presença de Aquis, rei de Gate, como bem podemos observar no Salmo 34 que ele compôs naquela ocasião,
Além disso, as duras experiências de Davi para que fosse aperfeiçoado em seu aprendizado para o exercício de uma sábia liderança, não terminariam aqui com as perseguições de Saul.
Ele aprenderia também a dura lição de ter que suportar a ingratidão dos homens, especialmente no caso dos cidadãos de Queila e dos zifeus, como veremos adiante, e ele demonstrou em outros Salmos que compôs nestas ocasiões, que havia de fato aprendido que não se deve confiar na instabilidade da natureza terrena, mas somente no Senhor, porque somente Ele é inteiramente fiel, santo e justo. 




“1 Então veio Davi a Nobe, ao sacerdote Aimeleque, o qual saiu, tremendo, ao seu encontro, e lhe perguntou: Por que vens só, e ninguém contigo?
2 Respondeu Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei me encomendou um negócio, e me disse: Ninguém saiba deste negócio pelo qual eu te enviei, e o qual te ordenei. Quanto aos mancebos, apontei-lhes tal e tal lugar.
3 Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pães, ou o que se achar.
4 Ao que, respondendo o sacerdote a Davi, disse: Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado, se ao menos os mancebos se têm abstido das mulheres.
5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe disse: Sim, em boa fé, as mulheres se nos vedaram há três dias; quando eu saí, os vasos dos mancebos também eram santos, embora fosse para uma viagem comum; quanto mais ainda hoje não serão santos os seus vasos?
6 Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali pão quente.
7 Ora, achava-se ali naquele dia um dos servos de Saul, detido perante o Senhor; e era seu nome Doegue, edomita, chefe dos pastores de Saul.
8 E disse Davi a Aimeleque: Não tens aqui à mão uma lança ou uma espada? porque eu não trouxe comigo nem a minha espada nem as minhas armas, pois o negócio do rei era urgente.
9 Respondeu o sacerdote: A espada de Golias, o filisteu, a quem tu feriste no vale de Elá, está aqui envolta num pano, detrás da estola sacerdotal; se a queres tomar, toma-a, porque não há outra aqui senão ela. E disse Davi: Não há outra igual a essa; dá-ma.
10 Levantou-se, pois, Davi e fugiu naquele dia de diante de Saul, e foi ter com Áquis, rei de Gate.
11 Mas os servos de Áquis lhe perguntaram: Este não é Davi, o rei da terra? não foi deste que cantavam nas danças, dizendo: Saul matou os seus milhares, mas Davi os seus dez milhares?
12 E Davi considerou estas palavras no seu coração, e teve muito medo de Áquis, rei de Gate.
13 Pelo que se contrafez diante dos olhos deles, e fingiu-se doido nas mãos deles, garatujando nas portas, e deixando correr a saliva pela barba.
14 Então disse Áquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim?
15 Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para fazer doidices diante de mim? há de entrar este na minha casa?” (I Sm 21.1-15)


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