Começaremos o comentário
deste sétimo capitulo de I Samuel com as seguintes palavras de I Cr 13.1-5:
“1 Ora, Davi consultou os
chefes dos milhares, e das centenas, a saber, todos os oficiais.
2 E disse Davi a toda a
congregação de Israel: Se bem vos parece, e se isto vem do Senhor nosso Deus,
enviemos mensageiros por toda parte aos nossos outros irmãos que estão em todas
as terras de Israel, e com eles aos sacerdotes e levitas nas suas cidades, e
nos seus campos, para que se reúnam conosco,
3 e tornemos a trazer
para nós a arca do nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul.
4 E toda a congregação
concordou em que assim se fizesse; porque isso pareceu reto aos olhos de todo o
povo.
5 Convocou, pois, Davi
todo o Israel desde Sior, o ribeiro do Egito, até a entrada de Hamate, para
trazer de Quiriate-Jearim a arca de Deus.” (I Cr 13.1-5).
O relato do primeiro
livro de Crônicas nos dá conta que a arca permaneceu em Quiriate-Jearim durante
todo o período do reinado de Saul, que durou quarenta anos, sem contar os anos
restantes do ministério de Samuel como Juiz até que Saul começasse a reinar.
Isto revela de modo muito
claro que a iniquidade dos filhos de Eli e a pouca importância que os chefes de
Israel estavam dando ao mau comportamento deles, permitindo que os serviços do
tabernáculo fossem desprezados, trouxe este grande juízo do Senhor sobre Siló,
que fora abandonada como local de culto depois de ter sido designado por Deus
como o lugar central onde deveria estar o tabernáculo.
A glória havia se ido de
fato daquele lugar como bem o atestava o nome que foi dado pela mulher de Fineias
ao filho
(Icabod), que lhe nascera quando soube da morte do marido e da tomada da
arca pelos filisteus.
Nós entendemos melhor o
motivo deste abandono de Siló, como tendo sido realmente causado pelo pecado de
Israel, e particularmente pelo desprezo deles para com o tabernáculo, nas
palavras proferidas pelo Senhor ao profeta Jeremias, quando determinou a
destruição do templo de Jerusalém pelos babilônios, em razão de estarem
reinando em Israel as mesmas condições que prevaleceram nos dias de Eli, até o
fim do reinado de Saul (Jer 7.11-15).
Todos estes cerca de
quarenta anos de silêncio em Siló, correspondem aos quatrocentos anos do
período interbíblico, quando a glória do primeiro pacto foi substituída pela maior
glória do Novo Pacto, que seria inaugurado com a vinda de Jesus.
A arca de Deus, e consequentemente
a Sua glória iriam para Jerusalém nos dias do reinado do rei que tipificava a
Jesus como rei, a saber, Davi.
Isto já estava
determinado nos conselhos do Senhor e Ele o cumpriu cabalmente para revelar que
aqueles que O desprezam são desprezados e deixados para trás, assim como havia
sido deixada Siló, e que Ele honra àqueles que O honram, assim como havia
honrado Davi, e não a Saul, que não era um homem segundo o Seu coração, apesar
de tê-lo escolhido como rei de Israel, segundo o que o povo desejava, e não
segundo aquilo que Ele esperava de um rei, e que sabia de antemão que jamais o
encontraria em Saul, senão em Davi.
Este foi um dos motivos
de não ter inspirado em Saul o desejo de restaurar o culto do tabernáculo,
porque este não poderia ser realizado mais nos termos de Efraim, onde estava
Siló, senão em Judá, para onde seria transferida a capital do reino nos dias de
Davi.
Mas em tudo isso nós
vemos o quão pouco Saul estava interessado em honrar a Deus, segundo tudo o que
estava prescrito na Lei de Moisés.
Ele não seguia de fato
tudo o que Deus havia determinado em relação aos governantes de Israel, que
deveriam exercer o seu governo debaixo do governo de Deus, segundo tudo o que
estava prescrito na Lei, conforme vemos especialmente em Dt 17.14-20.
Deste modo, não seria
dada a ele a honra de conquistar Jerusalém, e de restaurar o culto do
tabernáculo, mas a Davi que era um homem segundo o coração de Deus e que fez
toda a Sua vontade.
Nós vemos então mais uma
vez, dentre as muitas que já temos observado, o cumprimento do princípio de
Deus honrar somente aqueles que O honram, e de desprezar aqueles que O
desprezam.
Isto não mudou na
dispensação da graça, porque Jesus ensinou que todos aqueles que não crêem nEle
serão condenados, mas os que crêem serão salvos, e que aqueles que com Ele não
ajuntam são espalhados, pois não serão reunidos ao povo de Deus, antes serão
sujeitados a uma condenação eterna.
Mesmo dentre os salvos,
os que são fiéis serão distinguidos com galardões (I Cor 3.14), e os cristãos
infiéis sofrerão dano (I Cor 3.15), além
de serem sujeitados aqui neste mundo à disciplina e a correção do Senhor (I Cor
11.30-32).
Foi este abandono da
presença do Senhor entre eles, e a falta do culto no tabernáculo em Siló, que
fez com que os israelitas o lamentassem mais profundamente, depois de terem
passado vinte anos que a arca se encontrava em Quiriate-Jearim (v. 1, 2).
Não havia nenhum culto em
Quiriate-Jearim.
Apenas guardaram
seguramente a arca na casa de Aminadabe, que devia ser dotada de uma estrutura
adequada, que poderia manter a arca guardada, afastada até mesmo da curiosidade
das próprias pessoas da sua casa; pois tinham ainda bem vivo em suas memórias,
toda a grande matança e destruição que o Senhor fizera entre os filisteus e até
mesmo entre os israelitas de Bete-Semes, por não manterem a arca afastada do
alcance da vista humana.
Ela não podia ser vista
por ninguém, como já dissemos, senão pelo sumo-sacerdote, somente no Dia da
Expiação.
Durante todo este tempo,
e mesmo nos dias de Saul, sem a arca no tabernáculo, Israel ficou sem o
exercício do sacerdócio e da apresentação de sacrifícios para expiação do
pecado e das ofertas pacíficas, especialmente sem a expiação que era feita por
toda a nação no décimo dia do sétimo mês, conforme se vê em Lev 16.29,30.
Os efeitos da falta do
cumprimento destas ordenanças deveria estar produzindo muitas condições
desfavoráveis em Israel.
E eles vieram sentir de
modo muito profundo esta ausência do Senhor.
Não haveria, mesmo em
face do arrependimento demonstrado por eles, e do abandono da idolatria, uma
restauração completa, porque cometeriam ainda o erro de pedir um rei para si
nos moldes de todas as demais nações.
Eles estavam sentindo a
falta das bênçãos do Senhor, mas não estavam preparados naquela geração por
tudo o que haviam aprendido da casa de Eli, quanto ao desprezo do serviço
sagrado, a desejarem se colocarem debaixo das ordenanças de Deus, e foi por
isso que Ele disse a Samuel que não era a ele que eles estavam rejeitando
quando pediram um rei, mas a Ele, porque não desejavam de fato se colocar debaixo
de toda a Sua vontade, cumprindo os Seus mandamentos.
Uma nova geração se
levantaria nos dias de Davi, e então a restauração do culto no tabernáculo
seria promovida pelo Senhor.
Deus não olha de fato
para a aparência dos homens, senão para o coração.
Ele vê o coração e age de
acordo com o que está realmente em nós.
Ele não determinou a Lei
como um mero cerimonial, senão como algo para ser cumprido de fato e em
verdade, na Sua presença, com um espírito reto e que se arrependesse do pecado,
com um verdadeiro arrependimento, que inclui o desejo de fazer a Sua vontade, e
não somente lamentarmos os nossos pecados.
Mas o fato de Israel
estar lamentando a ausência das bênçãos do Senhor, e ter atendido à voz de
Samuel, permitindo serem julgados por ele, e lançando fora os falsos deuses que
eles estavam adorando, já era um bom começo.
E Samuel convocou a nação
a se reunir em Mizpá para orar por eles, e para consagrarem um dia de jejum ao
Senhor como sinal do seu arrependimento (v. 6)
Vendo que os israelitas
haviam se reunido em Mizpá, os filisteus entraram em conselho para guerrearem
contra Israel.
E o povo pediu a Samuel
que continuasse intercedendo por eles junto ao Senhor, porque estavam temendo os
filisteus.
Samuel ofereceu um
cordeiro em sacrifício ao Senhor e clamou em favor de Israel, e é dito no mesmo
verso 9 que Deus atendeu ao seu pedido.
O sacrifício ainda estava
sendo queimado como holocausto quando os filisteus apareceram, mas Deus fez
trovejar de tal modo sobre eles que fugiram apavorados, e sendo perseguidos
pelos israelitas foram derrotados.
E Samuel colocou uma
pedra em memorial daquela bênção de Deus, entre Mizpá e Sem, e a chamou de
Ebenezer, que no hebraico significa pedra (eben); de socorro, ou ajuda (ezer),
e Samuel disse na ocasião em que assentou aquela pedra: “até aqui nos ajudou o
Senhor” indicando que foi Ele a Pedra, a Rocha, que os socorrera.
Tudo isto que temos
comentado até aqui, conforme revelado nas Escrituras, consiste em se estudar os
poderosos feitos do Senhor, que como dissemos na parte introdutória do
comentário relativo a este livro, não devem ser estudados apenas no que está
relatado na Bíblia, como também em toda a história da Igreja.
As lições que devemos
aprender, segundo é da vontade do Senhor, não se limitam apenas ao Seus
poderosos livramentos, como este Ebenezer, mas sobretudo os Seus juízos como os
que trouxera sobre o próprio povo de Israel, em razão do pecado.
É aprendendo sobre as
ações de Deus, que revelam o Seu caráter Santo, Justo, Misericordioso e
Amoroso, que aprendemos o modo pelo qual devemos andar na Sua presença, que
consiste, nas palavras do autor de Hebreus “com reverência e santo temor”:
“Por isso, recebendo nós
um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável,
com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.” (Hb
12.28, 29).
Não foi a ímpios que ele
dirigiu estas palavras, mas à Igreja de Cristo.
A graça é concedida pelo
Senhor e opera em nós para que o sirvamos deste modo, que é o único que lhe é
agradável.
A graça não nos foi dada
para que vivamos desordenadamente, sem dar a devida honra e obediência a Deus,
conforme exigido por Ele, e que tem sido revelado a nós, não somente nas
Escrituras, como no testemunho de toda a
história.
Estando debaixo de um
ministério abençoado, como o de Samuel, e lhe dando ouvido quanto ao modo como
deveriam andar na presença de Deus, os israelitas foram não somente livrados da
opressão dos filisteus, como tomaram de volta as cidades que lhes haviam
subtraído, e que ficavam situadas entre as cidades dos filisteus de Ecrom e
Gate.
Além disso os amorreus
entraram em acordo de paz com os israelitas, pelo temor do Deus de Israel, pelo
que Ele havia feito aos filisteus (v. 13, 14).
Quando o povo do Senhor
dá ouvidos aos Seus ministros fiéis, eles são abençoados debaixo dos seus
ministérios.
Mas quando há ministros
fiéis, como Jeremias, Sofonias e outros, mas o povo não lhes dá ouvido,
permanecendo com seus corações endurecidos contra as exortações que lhes
dirigem quanto à necessidade de arrependimento e de conversão ao Senhor, não se
pode esperar por bênçãos, senão por correções e juízos de Deus.
Contudo, quando o povo do
Senhor dá ouvido aos seus ministros fiéis, eles não somente subjugam o Inimigo
como também alcançam a restauração das coisas que ele havia roubado (paz,
bondade, harmonia nos lares, na Igreja etc), como sucedeu com Israel nos dias
de Samuel, que não somente puderam subjugar os filisteus, como retomaram a
posse das cidades que lhes haviam tomado.
Nós vemos nos versos 15 e 16, que Samuel
julgava Israel em Betel, Gilgal e Mizpá, e que depois que julgava o povo nestas
localidades, retornava à sua casa em Ramá,
onde residiam seus pais, e na qual havia edificado um altar ao Senhor (v.
17), uma vez que, como vimos antes, os serviços do tabernáculo em Siló haviam
sido desativados pelo mandado de Deus.
Samuel seria então
profeta e sacerdote, mas não no tabernáculo, mas em Ramá e nas cidades em que
julgava Israel.
O ofício sacerdotal, com
todos os serviços designados na Lei de Moisés, somente viria a ser restaurado
nos dias de Davi.
“1 Vieram, pois, os
homens de Quiriate-Jearim, tomaram a arca do Senhor e a levaram à casa de
Abinadabe, no outeiro; e consagraram a Eleazar, filho dele, para que guardasse
a arca do Senhor.
2 E desde o dia em que a
arca ficou em Quiriate-Jearim passou-se muito tempo, chegando até vinte anos;
então toda a casa de Israel suspirou pelo Senhor.
3 Samuel, pois, falou a
toda a casa de Israel, dizendo: Se de todo o vosso coração voltais para o
Senhor, lançai do meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o
vosso coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele vos livrará da mão dos
filisteus.
4 Os filhos de Israel,
pois, lançaram do meio deles os baalins e as astarotes, e serviram ao Senhor.
5 Disse mais Samuel:
Congregai a todo o Israel em Mizpá, e orarei por vós ao Senhor.
6 Congregaram-se, pois,
em Mizpá, tiraram água e a derramaram perante o Senhor; jejuaram aquele dia, e
ali disseram: Pecamos contra o Senhor. E Samuel julgava os filhos de Israel em
Mizpá.
7 Quando os filisteus
ouviram que os filhos de Israel estavam congregados em Mizpá, subiram os chefes
dos filisteus contra Israel. Ao saberem disto os filhos de Israel, temeram por
causa dos filisteus.
8 Pelo que disseram a
Samuel: Não cesses de clamar ao Senhor nosso Deus por nós, para que nos livre
da mão dos filisteus.
9 Então tomou Samuel um
cordeiro de mama, e o ofereceu inteiro em holocausto ao Senhor; e Samuel clamou
ao Senhor por Israel, e o Senhor o atendeu.
10 Enquanto Samuel
oferecia o holocausto, os filisteus chegaram para pelejar contra Israel; mas o
Senhor trovejou naquele dia com grande estrondo sobre os filisteus, e os
aterrou; de modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel.
11 Os homens de Israel,
saindo de Mizpá, perseguiram os filisteus e os feriram até abaixo de Bete-Car.
12 Então Samuel tomou uma
pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e lhe chamou Ebenézer; e disse: Até aqui nos
ajudou o Senhor.
13 Assim os filisteus
foram subjugados, e não mais vieram aos termos de Israel, porquanto a mão do
Senhor foi contra os filisteus todos os dias de Samuel.
14 E as cidades que os
filisteus tinham tomado a Israel lhe foram restituídas, desde Ecrom até Gate,
cujos termos também Israel arrebatou da mão dos filisteus. E havia paz entre
Israel e os amorreus.
15 Samuel julgou a Israel
todos os dias da sua vida.
16 De ano em ano rodeava
por Betel, Gilgal e Mizpá, julgando a Israel em todos esses lugares.
17 Depois voltava a Ramá,
onde estava a sua casa, e ali julgava a Israel; e edificou ali um altar ao
Senhor.” (I Sm 7.1-17)
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