Israel havia sido formado
por Deus para ser uma nação teocrática, ou seja, para estar debaixo do governo
direto do próprio Deus.
Reis, príncipes, juízes,
sacerdotes, profetas seriam apenas Seus instrumentos e mediadores entre Ele e o
Seu povo.
Por isso se diz na Lei o
que deveria ser feito pelo rei que viesse a governar Israel.
Nós temos em Dt 17.14-20
as prescrições que haviam sido dadas por Deus a Moisés quanto aos deveres do
rei e do povo, quando fosse inaugurada a monarquia em Israel.
Quão diferente seria o
procedimento do rei escolhido pelo Senhor para governar o Seu povo, conforme a
Sua vontade, do que encontramos registrado neste capitulo de Samuel, nos versos
11 a 18.
Como o próprio povo
estava rejeitando o governo de Deus (v. 7), por não desejarem obedecer os Seus
mandamentos, eles teriam o rei que queriam e mereciam, que em vez de não se
exaltar sobre eles, sendo um irmão entre irmãos (Dt 17.20), seria um tirano,
sem o verdadeiro temor do Senhor, e sem dar a devida honra à Sua Palavra.
Por isso Deus disse a
Samuel que não era a ele que os israelitas estavam rejeitando, mas o Seu
próprio governo sobre eles, pois que sempre haviam agido deste modo, desde que lhes
havia tirado com braço forte da escravidão no Egito, nos dias de Moisés (v. 7,
8).
O procedimento incorreto
dos filhos de Samuel, que aceitavam subornos para distorcer a justiça, no
julgamento que faziam na condição de juízes, foi apenas um pretexto para que o
povo colocasse em marcha o que estavam
desejando de fato.
Um governo segundo o
modelo de todas as demais nações, onde não é Deus o soberano, mas o povo e o
homem, e aquele que escolhiam para
estarem sobre eles.
Todavia, os termos da
aliança feita com Israel, desde os patriarcas, não poderiam jamais ser
invalidados, até que fosse inaugurada uma nova aliança por meio de Cristo.
Então, as coisas deveriam
ser ajustadas de modo que Deus continuasse sendo o soberano de Israel, apesar
da atitude de rebelião do povo contra o Seu governo, mediante atendimento das
prescrições da Lei de Moisés.
Mais do que obedecido em
Seus mandamentos, Deus é digno de ser amado e adorado, e isto de modo
voluntário, com um coração contrito, arrependido, temente, fervoroso.
Afinal, além de Criador
Ele se tornou o Salvador do Seu povo. Aquele que livra do mal presente e da
condenação eterna. Aquele que é o Único que é capaz de perdoar e remover os
nossos pecados e culpa.
Mas como podem estas
bênçãos estarem presentes na vida daqueles cujos corações estão endurecidos, e
mentes embotadas pelo amor ao mundo e pelo governo da carne?
Por isso, os israelitas
decidiram manter o pedido de um rei nos mesmos moldes das demais nações, apesar
de terem sido advertidos do tudo a que teriam que se submeter para manter a
pompa do reino que seria estabelecido sobre eles.
É uma grande loucura e
ignorância agir de tal modo, mas é exatamente isto que muitos fazem, mesmo na
Igreja de Cristo, porque em vez de escolherem ministros santos e que os liderem
conduzindo-os a viverem em santidade de vida e obediência a Deus, preferem ter ministros carnais que os deixem
à mercê de suas próprias vontades e para não serem repreendidos pelos seus
pecados.
Com isso, trocam a bênção
do Senhor, pela tirania do Inimigo, que certamente passará a governar as Suas
vidas, por terem rejeitado o governo de Deus.
Desta forma, nós lemos em
Dt 32.6 Israel sendo chamado de “povo louco e insensato”, pelas coisas que
viriam a fazer no futuro, em razão desta obstinada relutância da carne, em se
submeter à vontade de Deus, e que conduz os servos do Senhor a ficarem sujeitos
à Sua correção e disciplina, em vez de terem um viver abençoado e aprovado por
Ele.
Os israelitas, em sua
loucura e insensatez, foram despedidos por Samuel de Ramá, para as suas
respectivas tribos, depois dele ter consultado o Senhor, e este lhe ter dito
que desse ouvido aos israelitas constituindo um rei sobre eles (v. 21,22).
Muitas vezes recebemos de
Deus aquilo que em nossa obstinação insistimos em Lhe pedir, só que, não será
para nossa bênção, mas para aprendermos, que devemos nos submeter à Sua
vontade, e deixar a questão daquilo que nos convém ou não, em Suas santas e
poderosas mãos, pois Ele sabe o que é melhor para nós.
Quando reconhecemos que é
a Sua vontade e não a nossa, que deve ser feita, e nos sujeitamos a isto, com
singeleza de coração, então tudo irá bem, ainda que estejamos cercados de
tribulações e toda sorte de provações.
O reino de Deus e a sua
justiça devem ser sempre buscados em primeiro lugar, e tudo o mais que for necessário,
ser-nos-á acrescentado.
Bem vai aos que se
colocam debaixo do governo do Senhor.
E muitas angústias virão
sobre aqueles que rejeitam o Seu governo, como bem veremos na história de
Israel, registrada nos capítulos seguintes, sob o governo de Saul.
Os filisteus que haviam
sido rechaçados pelo Senhor, durante o período em que Samuel os liderava,
voltaram a ameaçar os israelitas nos dias de Saul, e eles ficariam em completa
sujeição, se Deus em Sua misericórdia, não lhes tivesse dado a Davi como libertador,
não em razão da obediência deles, mas para cumprir tudo o que havia determinado
fazer através daquele que viria a ser levantado como contraste entre o que é um
rei segundo o Seu coração, isto é, segundo a Sua vontade e caráter, e um rei
que era segundo o coração do próprio povo, em sua rebelião, do qual Saul foi um
tipo perfeito.
Como o Senhor havia dado
água ao Israel rebelde no deserto, ele lhes daria também agora pela mesma
misericórdia, e não pelo merecimento deles, o rei que haviam pedido, mas que os
regeria não segundo a sabedoria e bondade prescritas na Lei para os reis de
Israel, mas segundo os novos estatutos que seriam adicionados aos previstos na
Lei de Moisés (8.11-17; 10.25); pois eles pediram para estarem debaixo de um
rei, conforme estavam todas as demais nações, e então a lei que os regeria
seria também conforme a das demais nações.
“ Ora, havendo Samuel
envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
2 O seu filho primogênito
chamava-se Joel, e o segundo Abias; e julgavam em Berseba.
3 Seus filhos, porém, não
andaram nos caminhos dele, mas desviaram-se após o lucro e, recebendo peitas,
perverteram a justiça.
4 Então todos os anciãos
de Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá,
5 e lhe disseram: Eis que
já estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois,
agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações.
6 Mas pareceu mal aos
olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei para nos julgar. Então Samuel
orou ao Senhor.
7 Disse o Senhor a
Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm
rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles.
8 Conforme todas as obras
que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até o dia de hoje, deixando-me
a mim e servindo a outros deuses, assim também fazem a ti.
9 Agora, pois, ouve a sua
voz, contudo lhes protestarás solenemente, e lhes declararás qual será o modo
de agir do rei que houver de reinar sobre eles.
10 Referiu, pois, Samuel
todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe havia pedido um rei,
11 e disse: Este será o
modo de agir do rei que houver de reinar sobre vós: tomará os vossos filhos, e
os porá sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem
adiante dos seus carros;
12 e os porá por chefes
de mil e chefes de cinquenta, para lavrarem os seus campos, fazerem as suas
colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13 Tomará as vossas
filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14 Tomará o melhor das
vossas terras, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e o dará aos seus
servos.
15 Tomará e dízimo das
vossas sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus
servos.
16 Também os vossos
servos e as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos
tomará, e os empregará no seu trabalho.
17 Tomará o dízimo do
vosso rebanho; e vós lhe servireis de escravos.
18 Então naquele dia
clamareis por causa de vosso rei, que vós mesmos houverdes escolhido; mas o
Senhor não vos ouvirá.
19 O povo, porém, não
quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei,
20 para que nós também
sejamos como todas as outras nações, e para que o nosso rei nos julgue, e saia
adiante de nós, e peleje as nossas batalhas.
21 Ouviu, pois, Samuel
todas as palavras do povo, e as repetiu aos ouvidos do Senhor.
22 Disse o Senhor a
Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos
homens de Israel: Volte cada um para a sua cidade.” (I Sm 8.1-22)
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