Saul haveria de se
revelar um audaz guerreiro, o seu filho Jônatas, seguiria nisto os passos do
seu pai.
Se Israel devia ter um
rei, estando sob ameaça constante das nações ao redor, particularmente dos
filisteus, que este rei fosse dado aos assuntos relativos à guerra.
Foi principalmente isto
que conduziu à escolha de Saul por Deus, como vemos no verso 16 deste nono
capítulo de I Samuel, que estaremos comentando.
Ele estava dando ao povo
um rei segundo o que eles queriam.
Um homem, cuja aparência
continha tudo o que se esperava de um rei, segundo aquilo que o mundo considera
grande.
Pois, além de forte e
valoroso (v.1) era mais alto e belo do que todos em Israel (v. 2).
Não se faz qualquer
referência à piedade dele ou a qualquer virtude interior do espírito.
Nada se diz do temor que
Ele tinha ao Deus de Israel.
Tão somente se destaca
aquilo que os israelitas estavam buscando num rei, e o Senhor estava lhes dando
o que realmente queriam.
Eles encontrariam o que
estavam buscando, e não é por acaso que este capítulo nono começa com a
narrativa de que Saul estava buscando as jumentas extraviadas de seu pai (v.
3).
Este desaparecimento das
jumentas proveio certamente da providência de Deus, porque depois de terem
empreendido uma longa jornada (v. 4), e quando Saul já havia perdido a
esperança de encontrá-las, o seu moço sugeriu que ele fosse ter com o vidente
que habitava naquela região montanhosa
de Efraim (Ramá), referindo-se a Samuel, para que consultasse a Deus a respeito
da localização das jumentas, pois tinha a fama de que tudo o que dizia ocorria
infalivelmente (v. 6).
Nós dissemos que o
extravio das jumentas fora obra da Providência, porque quando Saul foi ter com
Samuel em Ramá, Deus já havia falado a seu respeito a Samuel, um dia antes,
como sendo aquele que havia escolhido para ser rei em Israel (v. 15-17).
Nós vemos neste capitulo,
que Samuel continuava oferecendo sacrifícios ao Senhor no altar que edificara
em Ramá (v. 12), e disto se conclui que os serviços no tabernáculo em Siló
continuavam desativados.
Quando Samuel se revelou
a Saul como sendo o vidente pelo qual ele procurava, convidou-o a participar do
banquete que seria oferecido depois do sacrifício, e lhe disse que não se preocupasse
com as jumentas, porque já haviam sido encontradas, e que tudo o que havia de
desejável em Israel era para ele, Saul, e para a casa do seu pai (v. 19, 20).
Saul, em sua
perplexidade, diante de tais palavras de honra e distinção, mostrou-se humilde,
dizendo que a tribo de Benjamim, à qual ele pertencia, era a menor de Israel, e
o mesmo se podia dizer em relação à casa de seu pai (v. 21).
Saul tinha em sua
personalidade este misto de humildade e de exaltação.
Especialmente quando
vencia as batalhas contra os inimigos de Israel, não tributava honra e glória
ao Senhor, de quem procediam aquelas vitórias, mas exaltava-se a si mesmo, e
era extremamente ciumento da sua própria honra, como se viu especialmente no
caso de Davi, contra quem se voltou, a par de ser o seu mais leal servo e
capitão.
A humildade dele era
facilmente obscurecida por esta grande fome de glória pessoal que possuía. E
isto o tempo haveria de revelar. Por causa do seu ciúme, tentaria matar o seu
próprio filho Jônatas, mas isto é assunto para ser tratado mais adiante.
O governo de Samuel
estava sendo rejeitado pelos israelitas, mas foi a ele a quem Deus deu a honra
de revelar o rei que escolhera.
Por isso Samuel honrou a Saul, porque havia sido honrado por Deus, e escolhido para
ser ungido como rei sobre o Seu povo, dando-lhe o primeiro lugar à mesa do
banquete.
Esta mesma honra Saul
viria a reclamar no futuro quando foi rejeitado por Deus, em razão da sua
desobediência, e por ter oferecido sacrifícios, sem ser sacerdote.
Ele queria que Samuel o
honrasse mesmo sabendo que havia sido desprezado pelo Senhor.
Ele não sabia discernir
as coisas de modo conveniente. Ele pensava que poderia permanecer em honra na
desobediência, do mesmo modo que havia sido honrado quando havia sido
escolhido.
Voltamos a repetir o que
temos falado de modo insistente sobre o princípio espiritual de Deus honrar
somente àqueles que O honrarem.
Ele pode usar de
misericórdia para com os rebeldes, com os pecadores, como tem de fato
demonstrado, especialmente na dispensação da graça, por causa dos méritos de
Cristo, mas entre usar de misericórdia para com alguém e honrar esta mesma
pessoa vai uma grande distância, pois se o uso da misericórdia pode ser
manifestado incondicionalmente, a honra sempre é condicional, pois depende de
que Deus seja honrado primeiro.
Quando Saul foi inserido
à mesa do banquete, que estava sendo oferecido por Samuel em Ramá, o profeta o
distinguiu dando-lhe a parte que lhe cabia (a espádua do animal sacrificado),
que era a parte reservada para o sacerdote (Dt 18.3).
Isto representava
simbolicamente uma transferência formal de governo, não do sacerdócio, que não
poderia ser exercido por Saul, que era da tribo de Benjamim, mas do governo
propriamente dito, pois aquele gesto sinalizava que o juizado de Samuel estava
sendo transferido para o reinado de Saul (v. 23, 24).
A espádua (ombro) do
carneiro, que era a porção do sacerdote, significava o governo relativo às
coisas de Deus que estavam sobre o ombro deles.
E o governo civil de Israel
estaria sobre os ombros de Saul. Mas Cristo, que se ofereceu a Si mesmo como
sacrifício por nós, é Aquele sobre cujos ombros se encontra o governo de todas
as coisas.
“6 Porque um menino nos
nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu
nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
7 Do aumento do seu
governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o
estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre;
o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.” (Is 9.6,7).
Quando eles retornaram do
lugar onde se encontrava o altar onde foi oferecido o sacrifício e o banquete,
Samuel retornou com Saul à cidade de Rama, e Samuel conversou com Saul no eirado
de sua casa, onde Saul dormiu.
E chamando-o na madrugada
do dia seguinte para o despedir, pediu que ele fizesse com que o seu moço
seguisse adiante, quando chegaram na extremidade da cidade, mas que Saul
aguardasse a palavra que Samuel lhe proferiria da parte do Senhor (v. 25-27).
“1 Ora, havia um homem de
Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de
Becorate, filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso.
2 Tinha este um filho,
chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro
homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía em altura a
todo o povo.
3 Tinham-se perdido as
jumentas de Quis, pai de Saul; pelo que disse Quis a Saul, seu filho: Toma
agora contigo um dos moços, levanta-te e vai procurar as jumentas.
4 Passaram, pois, pela
região montanhosa de Efraim, como também pela terra de Salisa, mas não as
acharam; depois passaram pela terra de Saalim, porém tampouco estavam ali;
passando ainda pela terra de Benjamim, não as acharam.
5 Vindo eles, então, à
terra de Zufe, Saul disse para o moço que ia com ele: Vem! Voltemos, para que
não suceda que meu pai deixe de inquietar-se pelas jumentas e se aflija por
causa de nós.
6 Mas ele lhe disse: Eis
que há nesta cidade um homem de Deus, e ele é muito considerado; tudo quanto
diz, sucede infalivelmente. Vamos, pois, até lá; porventura nos mostrará o
caminho que devemos seguir.
7 Então Saul disse ao seu
moço: Porém se lá formos, que levaremos ao homem? Pois o pão de nossos alforjes
se acabou, e presente nenhum temos para levar ao homem de Deus; que temos?
8 O moço tornou a
responder a Saul, e disse: Eis que ainda tenho em mão um quarto dum siclo de
prata, o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho.
9 (Antigamente em Israel,
indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao
profeta de hoje, outrora se chamava vidente.)
10 Então disse Saul ao
moço: Dizes bem; vem, pois, vamos! E foram-se à cidade onde estava o homem de
Deus.
11 Quando eles iam
subindo à cidade, encontraram umas moças que saíam para tirar água; e
perguntaram-lhes: Está aqui o vidente?
12 Ao que elas lhes
responderam: Sim, eis aí o tens diante de ti; apressa-te, porque hoje veio à
cidade, porquanto o povo tem hoje sacrifício no alto.
13 Entrando vós na
cidade, logo o achareis, antes que ele suba ao alto para comer; pois o povo não
comerá até que ele venha, porque ele é o que abençoa a sacrifício, e depois os
convidados comem. Subi agora, porque a esta hora o achareis.
14 Subiram, pois, à
cidade; e, ao entrarem, eis que Samuel os encontrou, quando saía para subir ao
alto.
15 Ora, o Senhor revelara
isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes de Saul chegar, dizendo:
16 Amanhã a estas horas
te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o
meu povo de Israel; e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; pois olhei
para o meu povo, porque o seu clamor chegou a mim.
17 E quando Samuel viu a
Saul, o Senhor lhe disse: Eis aqui o homem de quem eu te falei. Este dominará
sobre o meu povo.
18 Então Saul se chegou a
Samuel na porta, e disse: Mostra-me, peço-te, onde é a casa do vidente.
19 Respondeu Samuel a
Saul: Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao alto, porque comereis hoje
comigo; pela manhã te despedirei, e tudo quanto está no teu coração to
declararei.
20 Também quanto às
jumentas que há três dias se te perderam, não te preocupes com elas, porque já
foram achadas. Mas para quem é tudo o que é desejável em Israel? porventura não
é para ti, e para toda a casa de teu pai?
21 Então respondeu Saul:
Acaso não sou eu benjamita, da menor das tribos de Israel? E não é a minha
família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me
falas desta maneira?
22 Samuel, porém, tomando
a Saul e ao seu moço, levou-os à câmara, e deu-lhes o primeiro lugar entre os
convidados, que eram cerca de trinta homens.
23 Depois disse Samuel ao
cozinheiro: Traze a porção que te dei, da qual te disse: põe-na à parte
contigo.
24 Levantou, pois, o
cozinheiro a espádua, com o que havia nela, e pô-la diante de Saul. E disse
Samuel: Eis que o que foi reservado está diante de ti. Come; porque te foi
guardado para esta ocasião, para que o comesses com os convidados. Assim comeu
Saul naquele dia com Samuel.
25 Então desceram do alto
para a cidade, e falou Samuel com Saul, no eirado.
26 E se levantaram de
madrugada, quase ao subir da alva, pois Samuel chamou a Saul, que estava no
eirado, dizendo: Levanta-te para eu te despedir. Levantou-se, pois, Saul, e
saíram ambos, ele e Samuel.
27 Quando desciam para a
extremidade da cidade, Samuel disse a Saul: Dize ao moço que passe adiante de
nós (e ele passou); tu, porém, espera aqui, e te farei ouvir a palavra de
Deus.” (I Sm 9.1-27).
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