sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Primeiro Encontro de Samuel com Saul – I Samuel 9



Saul haveria de se revelar um audaz guerreiro, o seu filho Jônatas, seguiria nisto os passos do seu pai.
Se Israel devia ter um rei, estando sob ameaça constante das nações ao redor, particularmente dos filisteus, que este rei fosse dado aos assuntos relativos à guerra.
Foi principalmente isto que conduziu à escolha de Saul por Deus, como vemos no verso 16 deste nono capítulo de I Samuel, que estaremos comentando.   
Ele estava dando ao povo um rei segundo o que eles queriam.
Um homem, cuja aparência continha tudo o que se esperava de um rei, segundo aquilo que o mundo considera grande.
Pois, além de forte e valoroso (v.1) era mais alto e belo do que todos em Israel (v. 2).
Não se faz qualquer referência à piedade dele ou a qualquer virtude interior do espírito.
Nada se diz do temor que Ele tinha ao Deus de Israel.
Tão somente se destaca aquilo que os israelitas estavam buscando num rei, e o Senhor estava lhes dando o que realmente queriam.
Eles encontrariam o que estavam buscando, e não é por acaso que este capítulo nono começa com a narrativa de que Saul estava buscando as jumentas extraviadas de seu pai (v. 3).
Este desaparecimento das jumentas proveio certamente da providência de Deus, porque depois de terem empreendido uma longa jornada (v. 4), e quando Saul já havia perdido a esperança de encontrá-las, o seu moço sugeriu que ele fosse ter com o vidente que habitava  naquela região montanhosa de Efraim (Ramá), referindo-se a Samuel, para que consultasse a Deus a respeito da localização das jumentas, pois tinha a fama de que tudo o que dizia ocorria infalivelmente (v. 6).
Nós dissemos que o extravio das jumentas fora obra da Providência, porque quando Saul foi ter com Samuel em Ramá, Deus já havia falado a seu respeito a Samuel, um dia antes, como sendo aquele que havia escolhido para ser rei em Israel (v.  15-17). 
Nós vemos neste capitulo, que Samuel continuava oferecendo sacrifícios ao Senhor no altar que edificara em Ramá (v. 12), e disto se conclui que os serviços no tabernáculo em Siló continuavam desativados. 
Quando Samuel se revelou a Saul como sendo o vidente pelo qual ele procurava, convidou-o a participar do banquete que seria oferecido depois do sacrifício, e lhe disse que não se preocupasse com as jumentas, porque já haviam sido encontradas, e que tudo o que havia de desejável em Israel era para ele, Saul, e para a casa do seu pai (v. 19, 20).
Saul, em sua perplexidade, diante de tais palavras de honra e distinção, mostrou-se humilde, dizendo que a tribo de Benjamim, à qual ele pertencia, era a menor de Israel, e o mesmo se podia dizer em relação à casa de seu pai (v. 21).
Saul tinha em sua personalidade este misto de humildade e de exaltação.
Especialmente quando vencia as batalhas contra os inimigos de Israel, não tributava honra e glória ao Senhor, de quem procediam aquelas vitórias, mas exaltava-se a si mesmo, e era extremamente ciumento da sua própria honra, como se viu especialmente no caso de Davi, contra quem se voltou, a par de ser o seu mais leal servo e capitão.
A humildade dele era facilmente obscurecida por esta grande fome de glória pessoal que possuía. E isto o tempo haveria de revelar. Por causa do seu ciúme, tentaria matar o seu próprio filho Jônatas, mas isto é assunto para ser tratado mais adiante.    
O governo de Samuel estava sendo rejeitado pelos israelitas, mas foi a ele a quem Deus deu a honra de revelar o rei que  escolhera.
 Por isso Samuel honrou a Saul, porque  havia sido honrado por Deus, e escolhido para ser ungido como rei sobre o Seu povo, dando-lhe o primeiro lugar à mesa do banquete.
Esta mesma honra Saul viria a reclamar no futuro quando foi rejeitado por Deus, em razão da sua desobediência, e por ter oferecido sacrifícios, sem ser sacerdote.
Ele queria que Samuel o honrasse mesmo sabendo que havia sido desprezado pelo Senhor.
Ele não sabia discernir as coisas de modo conveniente. Ele pensava que poderia permanecer em honra na desobediência, do mesmo modo que havia sido honrado quando havia sido escolhido.
Voltamos a repetir o que temos falado de modo insistente sobre o princípio espiritual de Deus honrar somente àqueles que O honrarem.
Ele pode usar de misericórdia para com os rebeldes, com os pecadores, como tem de fato demonstrado, especialmente na dispensação da graça, por causa dos méritos de Cristo, mas entre usar de misericórdia para com alguém e honrar esta mesma pessoa vai uma grande distância, pois se o uso da misericórdia pode ser manifestado incondicionalmente, a honra sempre é condicional, pois depende de que Deus seja honrado primeiro.
Quando Saul foi inserido à mesa do banquete, que estava sendo oferecido por Samuel em Ramá, o profeta o distinguiu dando-lhe a parte que lhe cabia (a espádua do animal sacrificado), que era a parte reservada para o sacerdote (Dt 18.3).
Isto representava simbolicamente uma transferência formal de governo, não do sacerdócio, que não poderia ser exercido por Saul, que era da tribo de Benjamim, mas do governo propriamente dito, pois aquele gesto sinalizava que o juizado de Samuel estava sendo transferido para o reinado de Saul (v. 23, 24). 
A espádua (ombro) do carneiro, que era a porção do sacerdote, significava o governo relativo às coisas de Deus que estavam sobre o ombro deles.
E o governo civil de Israel estaria sobre os ombros de Saul. Mas Cristo, que se ofereceu a Si mesmo como sacrifício por nós, é Aquele sobre cujos ombros se encontra o governo de todas as coisas.
“6 Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz.
7 Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso.” (Is 9.6,7). 
Quando eles retornaram do lugar onde se encontrava o altar onde foi oferecido o sacrifício e o banquete, Samuel retornou com Saul à cidade de Rama, e Samuel conversou com Saul no eirado de sua casa, onde Saul dormiu.
E chamando-o na madrugada do dia seguinte para o despedir, pediu que ele fizesse com que o seu moço seguisse adiante, quando chegaram na extremidade da cidade, mas que Saul aguardasse a palavra que Samuel lhe proferiria da parte do Senhor (v. 25-27).



“1 Ora, havia um homem de Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso.
2 Tinha este um filho, chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaía em altura a todo o povo.
3 Tinham-se perdido as jumentas de Quis, pai de Saul; pelo que disse Quis a Saul, seu filho: Toma agora contigo um dos moços, levanta-te e vai procurar as jumentas.
4 Passaram, pois, pela região montanhosa de Efraim, como também pela terra de Salisa, mas não as acharam; depois passaram pela terra de Saalim, porém tampouco estavam ali; passando ainda pela terra de Benjamim, não as acharam.
5 Vindo eles, então, à terra de Zufe, Saul disse para o moço que ia com ele: Vem! Voltemos, para que não suceda que meu pai deixe de inquietar-se pelas jumentas e se aflija por causa de nós.
6 Mas ele lhe disse: Eis que há nesta cidade um homem de Deus, e ele é muito considerado; tudo quanto diz, sucede infalivelmente. Vamos, pois, até lá; porventura nos mostrará o caminho que devemos seguir.
7 Então Saul disse ao seu moço: Porém se lá formos, que levaremos ao homem? Pois o pão de nossos alforjes se acabou, e presente nenhum temos para levar ao homem de Deus; que temos?
8 O moço tornou a responder a Saul, e disse: Eis que ainda tenho em mão um quarto dum siclo de prata, o qual darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho.
9 (Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, outrora se chamava vidente.)
10 Então disse Saul ao moço: Dizes bem; vem, pois, vamos! E foram-se à cidade onde estava o homem de Deus.
11 Quando eles iam subindo à cidade, encontraram umas moças que saíam para tirar água; e perguntaram-lhes: Está aqui o vidente?
12 Ao que elas lhes responderam: Sim, eis aí o tens diante de ti; apressa-te, porque hoje veio à cidade, porquanto o povo tem hoje sacrifício no alto.
13 Entrando vós na cidade, logo o achareis, antes que ele suba ao alto para comer; pois o povo não comerá até que ele venha, porque ele é o que abençoa a sacrifício, e depois os convidados comem. Subi agora, porque a esta hora o achareis.
14 Subiram, pois, à cidade; e, ao entrarem, eis que Samuel os encontrou, quando saía para subir ao alto.
15 Ora, o Senhor revelara isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes de Saul chegar, dizendo:
16 Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de Israel; e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; pois olhei para o meu povo, porque o seu clamor chegou a mim.
17 E quando Samuel viu a Saul, o Senhor lhe disse: Eis aqui o homem de quem eu te falei. Este dominará sobre o meu povo.
18 Então Saul se chegou a Samuel na porta, e disse: Mostra-me, peço-te, onde é a casa do vidente.
19 Respondeu Samuel a Saul: Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao alto, porque comereis hoje comigo; pela manhã te despedirei, e tudo quanto está no teu coração to declararei.
20 Também quanto às jumentas que há três dias se te perderam, não te preocupes com elas, porque já foram achadas. Mas para quem é tudo o que é desejável em Israel? porventura não é para ti, e para toda a casa de teu pai?
21 Então respondeu Saul: Acaso não sou eu benjamita, da menor das tribos de Israel? E não é a minha família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas desta maneira?
22 Samuel, porém, tomando a Saul e ao seu moço, levou-os à câmara, e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram cerca de trinta homens.
23 Depois disse Samuel ao cozinheiro: Traze a porção que te dei, da qual te disse: põe-na à parte contigo.
24 Levantou, pois, o cozinheiro a espádua, com o que havia nela, e pô-la diante de Saul. E disse Samuel: Eis que o que foi reservado está diante de ti. Come; porque te foi guardado para esta ocasião, para que o comesses com os convidados. Assim comeu Saul naquele dia com Samuel.
25 Então desceram do alto para a cidade, e falou Samuel com Saul, no eirado.
26 E se levantaram de madrugada, quase ao subir da alva, pois Samuel chamou a Saul, que estava no eirado, dizendo: Levanta-te para eu te despedir. Levantou-se, pois, Saul, e saíram ambos, ele e Samuel.
27 Quando desciam para a extremidade da cidade, Samuel disse a Saul: Dize ao moço que passe adiante de nós (e ele passou); tu, porém, espera aqui, e te farei ouvir a palavra de Deus.” (I Sm 9.1-27).

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