Nós vemos no décimo
capítulo de I Samuel, Saul sendo ungido pelo profeta Samuel com azeite
derramado sobre a sua cabeça, só que a unção de Saul foi feita com um vaso (v.
1) e a de Davi com um chifre (16.1, 13).
O vaso, diferentemente do
chifre se quebra facilmente, e nisto havia uma indicação da unção de Saul, que
não receberia do Espírito na mesma medida que Davi o receberia, pois o seu
reino se quebraria, pois seria removido dele por causa da sua desobediência.
Nosso Senhor Jesus Cristo
também foi ungido pelo Espírito para dar início ao Seu ministério terreno, mas
o Espírito não lhe foi dado por medida (Jo 3.34), pois na Sua condição de ser
perfeito Deus e perfeito homem, sem pecado, Ele tinha a plenitude do Espírito,
diferentemente de todos aqueles que são ungidos por Deus para cumprirem os seus
ministérios, quer na Antiga, quer na Nova Aliança.
A expressão usada na
unção de Saul “vaso de azeite” traz no original hebraico a palavra, pheke, que
significa frasco, vaso, e no caso de Davi a expressão “chifre de azeite” tem a
palavra qeren, que significa chifre.
As particularidades e
detalhes da profecia que Samuel deu da parte de Deus a Saul, e que nós lemos
nos versos 2 a 6, demonstram o grande profeta que ele era, em transmitir com
segurança e precisão de detalhes, todas as coisas, inclusive em minúcias, sem
acrescentar ou faltar palavra, em tudo o que recebia da parte de Deus.
A sua estatura espiritual
era de tal envergadura, que conduziu outros homens ao conhecimento da Lei de
Deus, e a terem comunhão com ele, no que havia fundado, e que ficou sendo
conhecido como casa de profetas (I Sm 19.20-23).
No original hebraico, nós
temos a palavra naiot, que significa casa, residência, nos versículos 18, 19,
22 e 23 de I Sm 19, que em algumas versões é traduzida por “casa dos profetas”,
uma vez que no verso 20 se diz que Samuel estava presidindo um grupo de
profetas, que profetizavam naquela casa.
Então era de fato um
lugar especial em sua cidade de Ramá, onde ele dirigia este trabalho como uma
verdadeira escola de profetas.
Assim, estes profetas aos
quais Samuel se referiu a Saul, neste décimo capítulo, deveriam estar
certamente vinculados ao seu ministério, e deste modo Deus preparou através de
Samuel o caminho para os dias de Davi.
Um trabalho longo e
paciente estava sendo realizado para disseminar a Palavra de Deus em Israel, e
tornar a Sua presença mais efetiva entre os israelitas.
Tudo isto se observa em
tempos de Reforma.
Não é de repente que tudo
acontece.
Os corações vão sendo
preparados paulatinamente pelo Senhor, através da oração e da pregação da
Palavra verdadeira.
As pessoas vão se
convertendo a Ele. E o desejo pela Sua presença se torna cada vez maior. E o
resultado de tudo isto é que o solo fica preparado para um grande avivamento,
tal como ocorreu nos dias de Davi.
Na verdade, o terreno
estava sendo arado desde os dias de Samuel, e Davi pôde colher os frutos de
todo este trabalho que estava sendo feito anteriormente por aqueles homens de
Deus, que estavam ligados ao ministério do profeta Samuel.
Um rei seria entronizado
e tudo isto seria possível, porque houve um trabalho anterior para preparar as
pessoas para o reino.
De igual modo Jesus
assumirá cabalmente o Seu reinado sobre todo o mundo, mas não sem antes que o
Seu povo seja reunido e preparado pelos homens e mulheres, que o Senhor tem
levantado na Igreja para converter pecadores do domínio de Satanás para Deus
(At 26.18).
Saul foi ungido mas teria
que esperar ainda por sete dias por Samuel em Gilgal, quando lhe seria dito o
que deveria fazer (v. 8).
Ele estava sendo
instruído, que como rei não deveria agir por sua própria e exclusiva conta, mas
que deveria depender das direções do Senhor para que dirigisse o Seu povo.
A principal parte da
profecia dirigida por Samuel destacava que ele seria transformado em outro
homem, quando o Espírito Santo se apoderasse dele, no momento em que estivesse profetizando juntamente com o grupo
de profetas, que encontraria no caminho, e que estariam profetizando:
“5 Depois chegarás ao
outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; ao entrares ali na
cidade, encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de
saltérios, tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor
se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e serás transformado em outro
homem.”.
Estes profetas estavam
sendo precedidos por um grupo de pessoas, que tocavam adiante deles saltérios,
tambores, flautas e harpas.
Eram músicos que louvavam
ao Senhor, e que serviam ao ministério dos profetas, de modo a criar uma
atmosfera favorável à manifestação da presença do Espírito Santo entre eles.
Isto demonstra a
importância da música instrumental e do louvor nos serviços espirituais.
Mas o ponto de destaque
na profecia é que Saul teria uma experiência com o Espírito Santo, como um fogo
novo queimando em seu peito, algo que ele nunca tinha experimentado antes.
Ele seria convencido por
esta experiência que o ministério profético era real e digno de honra, de maneira
que como rei ele não viesse a impedir a continuidade do ofício profético em
Israel.
Ao mesmo tempo ele
receberia uma capacitação especial do Espírito para exercer o reinado que fora
colocado sobre os seus ombros, assim como os juízes haviam sido capacitados no
passado pelo Espírito Santo para cumprirem os seus ministérios.
Foi basicamente nisto que
consistiu a mudança de Saul em outro homem, não necessariamente que ele tenha
de fato se convertido, por um trabalho da graça no seu coração, tornando-o alguém
apegado a Deus.
Os dons extraordinários
do Espírito podem ser distribuídos a qualquer pessoa, porque eles não estão
ligados à natureza. São capacitações passageiras, como o próprio dom de
profecia, e por isso, tais dons estão destinados a desaparecer no futuro,
quando da volta do Senhor (I Cor 13.8).
No momento mesmo em que
Saul virou as costas para sair da presença de Samuel, Deus lhe mudou o coração
em outro, e todos os sinais preditos por Samuel lhe sucederam naquele mesmo dia
(v. 9).
Deus é poderoso para
imbuir uma pessoa de sentido de dever público, e inclinar e dispor o coração de
quem Ele quiser a se gastar num determinado ofício.
Isto se aplica inclusive
às chamadas seculares, e os homens em sua ignorância deixam de tributar honra e
glória a Deus, por capacitá-los a exercerem funções em benefício da
continuidade da vida na terra.
Todos os dons e talentos
úteis procedem de Deus, e a Saul estava sendo dado um coração novo, isto é,
todo o seu ser estaria envolvido na aspiração de governar Israel.
É o Senhor quem implanta
tais aspirações, especialmente nos Seus servos, que são chamados para o
exercício do ministério.
De modo que os que são
efetivamente chamados passarão a ter no ministério a razão de ser de suas
vidas.
Isto porque Deus produziu
neles uma mudança de coração, fazendo com que todos os seus objetivos de vida
fossem canalizados para o desejo de cumprir fielmente o ministério que
receberam da parte de Deus.
Quando chegou em sua
cidade, Saul foi interpelado pelo seu tio, e nada lhe disse sobre a sua chamada
para ser rei, senão o que Samuel havia dito sobre as jumentas de seu pai, que
haviam se extraviado.
Nisto ele demonstrou a
capacitação para guardar segredos, que é necessária na pessoa de um rei.
Samuel lhe falara do
reinado como um segredo, e ele soube guardar isto até mesmo de sua família.
No tempo designado por
Deus, Samuel congregou todo Israel em Mizpá (v. 17), e ali profetizou a eles as
seguintes palavras:
“Assim diz o Senhor Deus
de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e vos livrei da mão dos egípcios e
da mão de todos os reinos que vos oprimiam. Mas vós hoje rejeitastes a vosso
Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe
dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor,
segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.” (v. 18, 19).
Assim, Saul seria
escolhido pelo lançamento de sortes, porém não sem uma palavra de repreensão
dirigida por Deus a Israel, manifestando o Seu desagrado pela precipitação
deles em desejar um rei.
Quando a sorte recaiu
sobre Saul ele não foi encontrado, e Deus revelou que estava escondido entre a
bagagem (v. 22).
É possível que Saul tenha
se escondido por temer ter que assumir tão grande responsabilidade, para a qual
não havia recebido qualquer preparo anterior.
Deus já havia escolhido
Saul e mandou Samuel ungi-lo como rei.
E agora Ele vai revelar
por meio do lançamento de sortes, publicamente, diante de todo Israel, quem era
o Seu escolhido.
Saul foi apresentado ao
povo de Israel como aquele que foi escolhido por Deus, e conforme o lançamento
de sortes havia confirmado, mas suas palavras encerram mais o tom do rei que
vocês desejaram do que o rei que Deus escolheu, pois disse que não havia entre
o povo nenhum semelhante a ele, referindo-se à sua aparência externa, uma vez
que dos ombros para cima sobressaía a todos em Israel (v. 23, 24).
Saul foi aclamado rei,
mas não sem a oposição de alguns homens ímpios que resistiram à própria escolha
de Deus.
Estes líderes de Israel
não o honraram trazendo-lhe presentes, e o desprezaram, por não verem nele
qualificações que servissem de evidência, que poderia de fato governá-los e
livrá-los das investidas de seus inimigos, mas Saul se fez como surdo e ignorou
o fato (v. 27), porque Deus havia movido o coração de alguns homens de valor
para o acompanharem no seu retorno à sua residência em Gibeá (v. 26).
Foi o próprio Deus que
moveu o coração desses homens para serem os guarda costas de Saul e seus
ministros auxiliares.
Nós deveríamos reconhecer
e sermos gratos a Deus por todos aqueles que Ele levanta para nos auxiliarem em
nossos ministérios, em vez de lutar contra eles pelo temor de que venham tomar
o nosso lugar, como faria o próprio Saul no futuro, em relação a Davi.
“ Então Samuel tomou um
vaso de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou, e disse:
Porventura não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a sua herança?
2 Quando te apartares
hoje de mim, encontrarás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no termo de
Benjamim, em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste buscar,
e eis que já o teu pai deixou de pensar nas jumentas, e anda aflito por causa
de ti, dizendo: Que farei eu por meu filho?
3 Então dali passarás
mais adiante, e chegarás ao carvalho de Tabor; ali te encontrarão três homens,
que vão subindo a Deus, a Betel, levando um três cabritos, outro três formas de
pão, e o outro um odre de vinho.
4 Eles te saudarão, e te
darão dois pães, que receberás das mãos deles.
5 Depois chegarás ao
outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; ao entrares ali na
cidade, encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de
saltérios, tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor
se apoderará de ti, e profetizarás com eles, e serás transformado em outro
homem.
7 Quando estes sinais te
vierem, faze o que achar a tua mão para fazer, pois Deus é contigo.
8 Tu, porém, descerás
adiante de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ter contigo, para oferecer
holocaustos e sacrifícios de ofertas pacíficas. Esperarás sete dias, até que eu
vá ter contigo e te declare o que hás de fazer.
9 Ao virar Saul as costas
para se apartar de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos esses
sinais aconteceram naquele mesmo dia.
10 Quando eles iam
chegando ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o
Espírito de Deus se apoderou de Saul, e ele profetizou no meio deles.
11 Todos os que o tinham
conhecido antes, ao verem que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos
outros: Que é que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?
12 Então um homem dali
respondeu, e disse: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio:
Está também Saul entre os profetas?
13 Tendo ele acabado de
profetizar, seguiu para o alto.
14 Depois o tio de Saul
perguntou-lhe, a ele e ao seu moço: Aonde fostes?: Respondeu ele: Procurar as
jumentas; e, não as tendo encontrado, fomos ter com Samuel.
15 Disse mais o tio de
Saul: Declara-me, peço-te, o que vos disse Samuel.
16 Ao que respondeu Saul
a seu tio: Declarou-nos, seguramente, que as jumentas tinham sido encontradas.
Mas quanto ao assunto do reino, de que Samuel falara, nada lhe declarou.
17 Então Samuel convocou
o povo ao Senhor em Mizpá;
18 e disse aos filhos de
Israel: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e
vos livrei da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
19 Mas vós hoje
rejeitastes a vosso Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e
angústias, e lhe dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos
perante o Senhor, segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.
20 Tendo, pois, Samuel
feito chegar todas as tribos de Israel, foi tomada por sorte a tribo de
Benjamim.
21 E, quando fez chegar a
tribo de Benjamim segundo as suas famílias, foi tomada a família de Matri, e
dela foi tomado Saul, filho de Quis; e o procuraram, mas não foi encontrado.
22 Pelo que tornaram a
perguntar ao Senhor: Não veio o homem ainda para cá? E respondeu o Senhor: Eis
que se escondeu por entre a bagagem:
23 Correram, pois, e o
trouxeram dali; e estando ele no meio do povo, sobressaía em altura a todo o
povo desde os ombros para cima.
24 Então disse Samuel a
todo o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu: Não há entre o povo nenhum
semelhante a ele. Então todo o povo o aclamou, dizendo: Viva o rei;
25 Também declarou Samuel
ao povo a lei do reino, e a escreveu num livro, e pô-lo perante o Senhor. Então
Samuel despediu todo o povo, cada um para sua casa.
26 E foi também Saul para
sua casa em Gibeá; e foram com ele homens de valor, aqueles cujo coração Deus
tocara.
27 Mas alguns homens
ímpios disseram: Como pode este homem nos livrar? E o desprezaram, e não lhe
trouxeram presentes; porém ele se fez como surdo.” (I Sm 10.1-27)
Nenhum comentário:
Postar um comentário