Nós vemos no 15º capítulo
de 2 Samuel, que quando Davi permitiu a Absalão que formasse o grande cortejo
que ia adiante dele anunciando a sua presença (v. 1), deve ter consentido nisto
por pensar que aquilo traria de alguma forma honra e glória ao reino de Israel,
sem saber das verdadeiras intenções de seu filho, cujo nome Absalão, significa
“a paz do seu pai”, e no entanto foi o filho que traria as maiores dificuldades
vividas por Davi.
Os pais cometem grande
erro quando alimentam ou contribuem para as manifestações orgulhosas de seus
filhos, porque o orgulho arruína os jovens muito mais do que qualquer luxúria.
Estava armado o palco do
drama que Davi viveria em razão do seu pecado com Bate-Seba, conforme a palavra
de juízo do Senhor contra ele através do profeta Natã.
Durante quatro anos
Absalão se postava todas as manhãs junto à porta da cidade de Jerusalém, porque
no passado, os juízos eram dados junto ao portão pelos anciãos das cidades.
Com adulações e doces
palavras, conquistava o coração do povo afirmando ser justa a causa de todos
que o procuravam, mas lamentava não ter o poder necessário para fazer valer o
direito de cada um daqueles que o procuravam.
Com isto, conseguiu
grande popularidade naqueles quatro anos, e gerou no povo a necessidade e a
expectativa de conduzi-lo ao poder supremo, para verem atendidas as suas
demandas.
Ao mesmo tempo, Absalão
obtinha junto à corte grande prestígio, através de uma fingida lealdade ao rei,
tanto que obteve permissão de Davi para ser acompanhado por uma comitiva de 200
homens notáveis do reino, num alegado e falso cumprimento de voto, que disse
ter feito quando se encontrava em Gesur, na Síria, e que deveria ser cumprido
em Hebrom (v. 7 a 11).
Estes 200 homens
acompanharam-no sem saberem das suas reais intenções, e para aumentar ainda
mais a falsa impressão de que os líderes de Israel haviam se unido a ele para
constitui-lo rei em Hebrom, pela deposição e morte de Davi, mandou chamar
Aitofel para estar com ele em Hebrom, porque era o homem com maior sabedoria
política no reino e o principal conselheiro de Davi, tanto nas questões
religiosas quanto civis (v. 12).
Ao mesmo tempo mandou
mensageiros por todas as tribos de Israel, que deveriam dizer que ele reinava
em Hebrom, quando ouvissem o som das trombetas (v. 10).
E a conspiração cresceu e
era grande o número de pessoas que tomava o partido de Absalão (v. 12b).
Tudo isto estava
acontecendo apesar de todo o grande bem que Deus estava fazendo a Israel por
amor de Davi.
De igual modo, as massas
de Israel procederam em relação a Jesus rejeitando-o e escolhendo a Barrabás, e
não somente isto, como também procurando a sua morte, como os israelitas que
seguiam a Absalão estavam procurando matar a Davi.
Absalão escolheu Hebrom
como o seu quartel general, porque era oriundo daquela cidade e devia contar
com um grande número de adeptos na mesma.
Quando a conspiração foi
informada a Davi ele não decidiu permanecer em Jerusalém, e lutar contra eles,
mas fugiu da cidade (v. 14), certamente para evitar uma guerra civil e não
expor Jerusalém à destruição.
O principal motivo de sua
fuga deve ter sido o seu reconhecimento, que aquela tribulação estava vindo
sobre ele por permissão do Senhor, em razão do cumprimento da profecia que lhe
fora transmitida por Natã, e assim, não estava se submetendo às forças que se
encontravam com Absalão, mas ao potente braço do Senhor, que não era com ele
naquela hora difícil, quanto a impedir tudo aquilo que estava ocorrendo.
E na fuga, deixou dez de
suas concubinas em Jerusalém, para cuidarem da casa (v. 16) e foram estas
mulheres que viriam a ser abusadas por Absalão, seguindo o conselho que lhe
fora dado por Aitofel (v. 20 a 23), não por motivações lascivas, senão
políticas, de maneira que manifestasse a todo Israel até que ponto estava
decidido em tomar o lugar do seu pai, e que não recuaria na decisão de matá-lo.
Mas, como sucede em todas
as provações dos cristãos, Deus também provê a eles alívio e escape em meio às
aflições que possam sofrer.
Nós vemos isto naqueles
que foram mantidos por Deus fiéis a Davi, inclusive seiscentos homens
filisteus, de Gate, sob a liderança de Itai, da mesma cidade de Gate.
Estes se converteram ao
Deus de Israel por todas as Suas obras que testemunharam e pela devoção a Ele
que viram em Davi, quando estivera entre eles fugindo de Saul.
Tal era a fidelidade
destes homens que permaneceram junto a Davi e se recusaram a retornar à sua
própria terra.
As palavras de Itai a
Davi que lemos no verso 21, nos fazem lembrar as palavras que Rute dirigiu a
Noemi. E assim eles decidiram permanecer com Davi quando ele se dirigia para o
deserto (v. 23).
Os sacerdotes e levitas
também permaneceram leais a Davi (v. 24) porque conheciam a sua devoção ao
Senhor, e o quanto estimava e honrava o seu ofício, e nada disto era visto por
eles em Absalão.
Abiatar era o
sumo-sacerdote e Zadoque o principal depois dele, sendo que Zadoque era também
vidente (v. 26), como se costumava designar os profetas.
Eles trouxeram a arca com
a comitiva que seguia Davi até que todos tivessem saído da cidade, mas
atendendo a ordens diretas de Davi a eles, retornaram a Jerusalém com a arca,
tanto para preservá-la dos desatinos de Absalão, quanto para mantê-lo informado
enquanto estivesse ausente, enviando-lhe mensagens por seus filhos Aimaás (de
Zadoque), e Jônatas (de Abiatar) (v. 36).
E Davi pediu a Husai que
se juntasse a eles em Jerusalém, porque certamente este viera ter com ele da
parte de Deus, ainda que não o soubesse, em resposta à oração espontânea, que
fizera, para que Deus confundisse o aconselhamento que Aitofel daria a Absalão
(v. 31).
Logo no verso 32,
seguinte àquele em que aparece a sua oração (v. 31) nós vemos Husai vindo ao
seu encontro quando chegou ao cume do monte das Oliveiras, no qual se costumava
adorar a Deus (v. 30, 32).
Este Husai era outro
grande especialista nos assuntos de governo e seria o instrumento usado por
Deus para derrotar Aitofel, e Davi teve inteligência espiritual suficiente para
reconhecer que Husai lhe fora enviado pelo Senhor como resposta à oração que
lhe havia feito (v. 34).
Husai chegou à cidade de
Jerusalém a tempo, antes de que Absalão se dirigisse a ela (v. 37), de modo que
isto não despertaria a sua desconfiança de que aqueles que lá se encontravam,
ainda permaneciam de algum modo leais a Davi.
Assim, Abiatar, Zadoque e
Husai deveriam enganar sem que fossem homens dados à prática do engano.
Eles teriam que agir
assim naquela situação excepcional de ameaça de guerra, como estrategistas a
serviço do seu rei.
Eles deveriam fingir que
eram leais a Absalão, para que Israel pudesse voltar a prestar lealdade ao rei,
que era leal a Deus e o seu escolhido para governá-los.
Estes homens estavam
sendo empenhados em estratagemas de guerra, de modo que as suas ações não
seriam consideradas como um pecado aos olhos de Deus.
Assim como Absalão havia
dissimulado e enganado o seu próprio pai, ele também seria enganado pelos
homens que estariam ao seu lado, dissimulando serem fiéis a ele.
Neste caso estaria sendo
aplicada a lei do olho por olho, que vigorava naquela dispensação.
“1 Aconteceu depois disso
que Absalão adquiriu para si um carro e cavalos, e cinquenta homens que
corressem adiante dele.
2 E levantando-se Absalão
cedo, parava ao lado do caminho da porta; e quando algum homem tinha uma
demanda para, vir ao rei a juízo, Absalão o chamava a si e lhe dizia: De que
cidade és tu? E, dizendo ele: De tal tribo de Israel é teu servo;
3 Absalão lhe dizia:
Olha, a tua causa é boa e reta, porém não há da parte do rei quem te ouça.
4 Dizia mais Absalão: Ah,
quem me dera ser constituído juiz na terra! para que viesse ter comigo todo
homem que tivesse demanda ou questão, e eu lhe faria justiça.
5 Sucedia também que,
quando alguém se chegava a ele para lhe fazer reverência, ele estendia a mão e,
pegando nele o beijava.
6 Assim fazia Absalão a
todo o Israel que vinha ao rei para juízo; desse modo Absalão furtava o coração
dos homens de Israel.
7 Aconteceu, ao cabo de
quatro anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o voto que
fiz ao Senhor.
8 Porque, morando eu em
Gesur, na Síria, fez o teu servo um voto, dizendo: Se o Senhor, na verdade, me
fizer tornar a Jerusalém, servirei ao Senhor.
9 Então lhe disse o rei:
Vai em paz. Levantou-se, pois, e foi para Hebrom.
10 Absalão, porém, enviou
emissários por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som da
trombeta, direis: Absalão reina em Hebrom.
11 E de Jerusalém foram
com Absalão duzentos homens que tinham sido convidados; mas iam na sua
simplicidade, pois nada sabiam daquele desígnio.
12 Também Absalão,
enquanto oferecia os seus sacrifícios, mandou vir da cidade de Siló, Aitofel, o
gilonita, conselheiro de Davi. E a conspiração tornava-se poderosa, crescendo
cada vez mais o número do povo que estava com Absalão.
13 Então veio um
mensageiro a Davi, dizendo: O coração de todo o Israel vai após Absalão.
14 Disse, pois, Davi a
todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos,
porque doutra forma não poderemos escapar diante de Absalão. Apressai-vos a
sair; não seja caso que ele nos apanhe de súbito, e lance sobre nós a ruína, e
fira a cidade ao fio da espada.
15 Então os servos do rei
lhe disseram: Eis aqui os teus servos para tudo quanto determinar o rei, nosso
senhor.
16 Assim saiu o rei, com
todos os de sua casa, deixando, porém, dez concubinas para guardarem a casa.
17 Tendo, pois, saído o
rei com todo o povo, pararam na última casa:
18 E todos os seus servos
iam ao seu lado; mas todos os quereteus, e todos os peleteus, e todos os
giteus, seiscentos homens que o seguiram de Gate, caminhavam adiante do rei.
19 Disse o rei a Itai, o
giteu: Por que irias tu também conosco? Volta e fica-te com o rei, porque és
estrangeiro e exilado; torna a teu lugar.
20 Ontem vieste, e te
levaria eu hoje conosco a vaguear? Pois eu vou para onde puder ir; volta a Leí,
e contigo teus irmãos; a misericórdia e a fidelidade sejam contigo.
21 Respondeu, porém, Itai
ao rei, e disse: Vive o Senhor, e vive o rei meu senhor, que no lugar em que
estiver o rei meu senhor, seja para morte, seja para vida, aí estará também o
teu servo.
22 Então disse Davi a
Itai: Vai, pois, e passa adiante. Assim passou Itai, o giteu, e todos os seus
homens, e todos os pequeninos que havia com ele.
23 Toda a terra chorava
em alta voz, enquanto todo o povo passava; e o rei atravessou o ribeiro de
Cedrom, e todo o povo caminhava na direção do deserto.
24 E chegou Abiatar; e
veio também Zadoque, e com ele todos os levitas que levavam a arca do pacto de
Deus; e puseram ali a arca de Deus, até que todo o povo acabou de sair da
cidade.
25 Então disse o rei a
Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; pois, se eu achar graça aos
olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver a arca e a sua
habitação.
26 Se ele, porém, disser:
Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça a mim o que bem lhe parecer.
27 Disse mais o rei a
Zadoque, o sacerdote: Não és tu porventura vidente? volta, pois, para a cidade
em paz, e contigo também teus dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho
de Abiatar.
28 Vede eu me demorarei
nos vaus do deserto até que tenha notícias da vossa parte.
29 Zadoque, pois, e
Abiatar tornaram a levar para Jerusalém a arca de Deus, e ficaram ali.
30 Mas Davi, subindo pela
encosta do monte das Oliveiras, ia chorando; tinha a cabeça coberta, e
caminhava com os pés descalços. Também todo o povo que ia com ele tinha a
cabeça coberta, e subia chorando sem cessar.
31 Então disseram a Davi:
Aitofel está entre os que conspiraram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó
Senhor, torna o conselho de Aitofel em loucura!
32 Ora, aconteceu que,
chegando Davi ao cume, onde se costumava adorar a Deus, Husai, o arquita, veio
encontrar-se com ele, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de terra.
33 Disse-lhe Davi: Se
fores comigo, ser-me-ás pesado;
34 porém se voltares para
a cidade, e disseres a Absalão: Eu serei, ó rei, teu servo; como fui dantes
servo de teu pai, assim agora serei teu servo; dissipar-me-ás então a conselho
de Aitofel.
35 E não estão ali
contigo Zadoque e Abiatar, sacerdotes? Portanto, tudo o que ouvires da casa do
rei lhes dirás.
36 Eis que estão também
ali com eles seus dois filhos, Aimaás, filho de Zadoque, e Jônatas, filho de
Abiatar; por eles me avisareis de tudo o que ouvirdes.
37 Husai, pois, amigo de
Davi, voltou para a cidade. E Absalão entrou em Jerusalém.” (II Sm 15.1-37).
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