segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Revolta de Absalão – 2 Samuel 15



Nós vemos no 15º capítulo de 2 Samuel, que quando Davi permitiu a Absalão que formasse o grande cortejo que ia adiante dele anunciando a sua presença (v. 1), deve ter consentido nisto por pensar que aquilo traria de alguma forma honra e glória ao reino de Israel, sem saber das verdadeiras intenções de seu filho, cujo nome Absalão, significa “a paz do seu pai”, e no entanto foi o filho que traria as maiores dificuldades vividas por Davi.
Os pais cometem grande erro quando alimentam ou contribuem para as manifestações orgulhosas de seus filhos, porque o orgulho arruína os jovens muito mais do que qualquer luxúria.
Estava armado o palco do drama que Davi viveria em razão do seu pecado com Bate-Seba, conforme a palavra de juízo do Senhor contra ele através do profeta Natã.
Durante quatro anos Absalão se postava todas as manhãs junto à porta da cidade de Jerusalém, porque no passado, os juízos eram dados junto ao portão pelos anciãos das cidades.
Com adulações e doces palavras, conquistava o coração do povo afirmando ser justa a causa de todos que o procuravam, mas lamentava não ter o poder necessário para fazer valer o direito de cada um daqueles que o procuravam.
Com isto, conseguiu grande popularidade naqueles quatro anos, e gerou no povo a necessidade e a expectativa de conduzi-lo ao poder supremo, para verem atendidas as suas demandas. 
Ao mesmo tempo, Absalão obtinha junto à corte grande prestígio, através de uma fingida lealdade ao rei, tanto que obteve permissão de Davi para ser acompanhado por uma comitiva de 200 homens notáveis do reino, num alegado e falso cumprimento de voto, que disse ter feito quando se encontrava em Gesur, na Síria, e que deveria ser cumprido em Hebrom (v. 7 a 11).
Estes 200 homens acompanharam-no sem saberem das suas reais intenções, e para aumentar ainda mais a falsa impressão de que os líderes de Israel haviam se unido a ele para constitui-lo rei em Hebrom, pela deposição e morte de Davi, mandou chamar Aitofel para estar com ele em Hebrom, porque era o homem com maior sabedoria política no reino e o principal conselheiro de Davi, tanto nas questões religiosas quanto civis (v. 12).
Ao mesmo tempo mandou mensageiros por todas as tribos de Israel, que deveriam dizer que ele reinava em Hebrom, quando ouvissem o som das trombetas (v. 10).
E a conspiração cresceu e era grande o número de pessoas que tomava o partido de Absalão (v. 12b).
Tudo isto estava acontecendo apesar de todo o grande bem que Deus estava fazendo a Israel por amor de Davi.
De igual modo, as massas de Israel procederam em relação a Jesus rejeitando-o e escolhendo a Barrabás, e não somente isto, como também procurando a sua morte, como os israelitas que seguiam a Absalão estavam procurando matar a Davi.
Absalão escolheu Hebrom como o seu quartel general, porque era oriundo daquela cidade e devia contar com um grande número de adeptos na mesma.
Quando a conspiração foi informada a Davi ele não decidiu permanecer em Jerusalém, e lutar contra eles, mas fugiu da cidade (v. 14), certamente para evitar uma guerra civil e não expor Jerusalém à destruição.
O principal motivo de sua fuga deve ter sido o seu reconhecimento, que aquela tribulação estava vindo sobre ele por permissão do Senhor, em razão do cumprimento da profecia que lhe fora transmitida por Natã, e assim, não estava se submetendo às forças que se encontravam com Absalão, mas ao potente braço do Senhor, que não era com ele naquela hora difícil, quanto a impedir tudo aquilo que estava ocorrendo.
E na fuga, deixou dez de suas concubinas em Jerusalém, para cuidarem da casa (v. 16) e foram estas mulheres que viriam a ser abusadas por Absalão, seguindo o conselho que lhe fora dado por Aitofel (v. 20 a 23), não por motivações lascivas, senão políticas, de maneira que manifestasse a todo Israel até que ponto estava decidido em tomar o lugar do seu pai, e que não recuaria na decisão de matá-lo.
Mas, como sucede em todas as provações dos cristãos, Deus também provê a eles alívio e escape em meio às aflições que possam sofrer.
Nós vemos isto naqueles que foram mantidos por Deus fiéis a Davi, inclusive seiscentos homens filisteus, de Gate, sob a liderança de Itai, da mesma cidade de Gate.
Estes se converteram ao Deus de Israel por todas as Suas obras que testemunharam e pela devoção a Ele que viram em Davi, quando estivera entre eles fugindo de Saul.
Tal era a fidelidade destes homens que permaneceram junto a Davi e se recusaram a retornar à sua própria terra.
As palavras de Itai a Davi que lemos no verso 21, nos fazem lembrar as palavras que Rute dirigiu a Noemi. E assim eles decidiram permanecer com Davi quando ele se dirigia para o deserto (v. 23).
Os sacerdotes e levitas também permaneceram leais a Davi (v. 24) porque conheciam a sua devoção ao Senhor, e o quanto estimava e honrava o seu ofício, e nada disto era visto por eles em Absalão.
Abiatar era o sumo-sacerdote e Zadoque o principal depois dele, sendo que Zadoque era também vidente (v. 26), como se costumava designar os profetas.
Eles trouxeram a arca com a comitiva que seguia Davi até que todos tivessem saído da cidade, mas atendendo a ordens diretas de Davi a eles, retornaram a Jerusalém com a arca, tanto para preservá-la dos desatinos de Absalão, quanto para mantê-lo informado enquanto estivesse ausente, enviando-lhe mensagens por seus filhos Aimaás (de Zadoque), e Jônatas (de Abiatar) (v. 36).
E Davi pediu a Husai que se juntasse a eles em Jerusalém, porque certamente este viera ter com ele da parte de Deus, ainda que não o soubesse, em resposta à oração espontânea, que fizera, para que Deus confundisse o aconselhamento que Aitofel daria a Absalão (v. 31).
Logo no verso 32, seguinte àquele em que aparece a sua oração (v. 31) nós vemos Husai vindo ao seu encontro quando chegou ao cume do monte das Oliveiras, no qual se costumava adorar a Deus (v. 30, 32).
Este Husai era outro grande especialista nos assuntos de governo e seria o instrumento usado por Deus para derrotar Aitofel, e Davi teve inteligência espiritual suficiente para reconhecer que Husai lhe fora enviado pelo Senhor como resposta à oração que lhe havia feito (v. 34).
Husai chegou à cidade de Jerusalém a tempo, antes de que Absalão se dirigisse a ela (v. 37), de modo que isto não despertaria a sua desconfiança de que aqueles que lá se encontravam, ainda permaneciam de algum modo leais a Davi.
Assim, Abiatar, Zadoque e Husai deveriam enganar sem que fossem homens dados à prática do engano.
Eles teriam que agir assim naquela situação excepcional de ameaça de guerra, como estrategistas a serviço do seu rei.
Eles deveriam fingir que eram leais a Absalão, para que Israel pudesse voltar a prestar lealdade ao rei, que era leal a Deus e o seu escolhido para governá-los.
Estes homens estavam sendo empenhados em estratagemas de guerra, de modo que as suas ações não seriam consideradas como um pecado aos olhos de Deus.
Assim como Absalão havia dissimulado e enganado o seu próprio pai, ele também seria enganado pelos homens que estariam ao seu lado, dissimulando serem fiéis a ele.
Neste caso estaria sendo aplicada a lei do olho por olho, que vigorava naquela dispensação.


“1 Aconteceu depois disso que Absalão adquiriu para si um carro e cavalos, e cinquenta homens que corressem adiante dele.
2 E levantando-se Absalão cedo, parava ao lado do caminho da porta; e quando algum homem tinha uma demanda para, vir ao rei a juízo, Absalão o chamava a si e lhe dizia: De que cidade és tu? E, dizendo ele: De tal tribo de Israel é teu servo;
3 Absalão lhe dizia: Olha, a tua causa é boa e reta, porém não há da parte do rei quem te ouça.
4 Dizia mais Absalão: Ah, quem me dera ser constituído juiz na terra! para que viesse ter comigo todo homem que tivesse demanda ou questão, e eu lhe faria justiça.
5 Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para lhe fazer reverência, ele estendia a mão e, pegando nele o beijava.
6 Assim fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; desse modo Absalão furtava o coração dos homens de Israel.
7 Aconteceu, ao cabo de quatro anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o voto que fiz ao Senhor.
8 Porque, morando eu em Gesur, na Síria, fez o teu servo um voto, dizendo: Se o Senhor, na verdade, me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao Senhor.
9 Então lhe disse o rei: Vai em paz. Levantou-se, pois, e foi para Hebrom.
10 Absalão, porém, enviou emissários por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som da trombeta, direis: Absalão reina em Hebrom.
11 E de Jerusalém foram com Absalão duzentos homens que tinham sido convidados; mas iam na sua simplicidade, pois nada sabiam daquele desígnio.
12 Também Absalão, enquanto oferecia os seus sacrifícios, mandou vir da cidade de Siló, Aitofel, o gilonita, conselheiro de Davi. E a conspiração tornava-se poderosa, crescendo cada vez mais o número do povo que estava com Absalão.
13 Então veio um mensageiro a Davi, dizendo: O coração de todo o Israel vai após Absalão.
14 Disse, pois, Davi a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos, porque doutra forma não poderemos escapar diante de Absalão. Apressai-vos a sair; não seja caso que ele nos apanhe de súbito, e lance sobre nós a ruína, e fira a cidade ao fio da espada.
15 Então os servos do rei lhe disseram: Eis aqui os teus servos para tudo quanto determinar o rei, nosso senhor.
16 Assim saiu o rei, com todos os de sua casa, deixando, porém, dez concubinas para guardarem a casa.
17 Tendo, pois, saído o rei com todo o povo, pararam na última casa:
18 E todos os seus servos iam ao seu lado; mas todos os quereteus, e todos os peleteus, e todos os giteus, seiscentos homens que o seguiram de Gate, caminhavam adiante do rei.
19 Disse o rei a Itai, o giteu: Por que irias tu também conosco? Volta e fica-te com o rei, porque és estrangeiro e exilado; torna a teu lugar.
20 Ontem vieste, e te levaria eu hoje conosco a vaguear? Pois eu vou para onde puder ir; volta a Leí, e contigo teus irmãos; a misericórdia e a fidelidade sejam contigo.
21 Respondeu, porém, Itai ao rei, e disse: Vive o Senhor, e vive o rei meu senhor, que no lugar em que estiver o rei meu senhor, seja para morte, seja para vida, aí estará também o teu servo.
22 Então disse Davi a Itai: Vai, pois, e passa adiante. Assim passou Itai, o giteu, e todos os seus homens, e todos os pequeninos que havia com ele.
23 Toda a terra chorava em alta voz, enquanto todo o povo passava; e o rei atravessou o ribeiro de Cedrom, e todo o povo caminhava na direção do deserto.
24 E chegou Abiatar; e veio também Zadoque, e com ele todos os levitas que levavam a arca do pacto de Deus; e puseram ali a arca de Deus, até que todo o povo acabou de sair da cidade.
25 Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; pois, se eu achar graça aos olhos do Senhor, ele me fará voltar para lá, e me deixará ver a arca e a sua habitação.
26 Se ele, porém, disser: Não tenho prazer em ti; eis-me aqui, faça a mim o que bem lhe parecer.
27 Disse mais o rei a Zadoque, o sacerdote: Não és tu porventura vidente? volta, pois, para a cidade em paz, e contigo também teus dois filhos, Aimaás, teu filho, e Jônatas, filho de Abiatar.
28 Vede eu me demorarei nos vaus do deserto até que tenha notícias da vossa parte.
29 Zadoque, pois, e Abiatar tornaram a levar para Jerusalém a arca de Deus, e ficaram ali.
30 Mas Davi, subindo pela encosta do monte das Oliveiras, ia chorando; tinha a cabeça coberta, e caminhava com os pés descalços. Também todo o povo que ia com ele tinha a cabeça coberta, e subia chorando sem cessar.
31 Então disseram a Davi: Aitofel está entre os que conspiraram com Absalão. Pelo que disse Davi: Ó Senhor, torna o conselho de Aitofel em loucura!
32 Ora, aconteceu que, chegando Davi ao cume, onde se costumava adorar a Deus, Husai, o arquita, veio encontrar-se com ele, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de terra.
33 Disse-lhe Davi: Se fores comigo, ser-me-ás pesado;
34 porém se voltares para a cidade, e disseres a Absalão: Eu serei, ó rei, teu servo; como fui dantes servo de teu pai, assim agora serei teu servo; dissipar-me-ás então a conselho de Aitofel.
35 E não estão ali contigo Zadoque e Abiatar, sacerdotes? Portanto, tudo o que ouvires da casa do rei lhes dirás.
36 Eis que estão também ali com eles seus dois filhos, Aimaás, filho de Zadoque, e Jônatas, filho de Abiatar; por eles me avisareis de tudo o que ouvirdes.
37 Husai, pois, amigo de Davi, voltou para a cidade. E Absalão entrou em Jerusalém.” (II Sm 15.1-37).

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