sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Bênçãos Pagas com Ingratidões – I Samuel 23



Nós vemos neste 23º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que Davi demonstrou o seu sincero desejo de expor a sua vida para o bem-estar do Seu povo, revelando o seu espírito público e heróico, quando mesmo em meio às perseguições de Saul, se dispôs a livrar a cidade israelita de Queila de um ataque dos filisteus.
Ele havia consultado o Senhor para saber se deveria combater os filisteus em Queila, e  Ele lhe disse que deveria fazê-lo ferindo os filisteus e salvando aquela cidade.
Mas seus homens protestaram com ele a respeito da condição em que se encontravam, pois temiam sofrer uma investida de Saul numa exposição como aquela.
Davi consultou o Senhor mais uma vez, certamente não porque duvidasse da primeira resposta dEle, porque Davi era um homem de fé, mas para dar aos seus homens a convicção que de fato o Senhor havia feito tal determinação.
E a resposta que foi dada nesta segunda consulta garantia que os filisteus seriam entregues nas mãos deles. E com isto se dispuseram à peleja.   
  Há uma citação no sexto versículo que quando o sacerdote Abiatar viera a ter com Davi na cidade de Queila, ele o fizera com uma estola sacerdotal na mão.
Esta citação parece estar deslocada no que é dito antes e depois, mas ela foi aqui inserida para indicar que foi provavelmente por meio de Abiatar, que Deus fora consultado, conforme o confirma os versos 9 e 10, pois depois de ter livrado a Queila, e quando soube que Saul estava se dirigindo para lá com suas tropas, para matar a Davi e seus homens, que nesta ocasião haviam subido a seiscentos, ele mandou Abiatar trazer a estola e consultar a Deus, para saber se Saul desceria efetivamente a Queila, e se os cidadãos daquela cidade o entregariam nas mãos de Saul. E o Senhor respondeu afirmativamente a ambas perguntas.
Nem sempre se pode contar com a gratidão dos homens, quando os interesses deles estão correndo algum risco.
Tal se dera com os gadarenos que expulsaram Jesus do território deles, por causa do prejuízo que poderiam continuar sofrendo em suas propriedades pela ação dos demônios que ele estava expulsando.
Para manterem o seu conforto e segurança mundanos eles preferiram ficar sem a bênção de Deus.
O mesmo estava acontecendo com Davi, em relação aos habitantes de Queila.
Apesar de terem sido livrados por ele do ataque dos filisteus, temiam uma possível represália de Saul contra eles, caso não entregassem Davi em suas mãos, e com isto estariam imitando os homens de Judá, nos dias de Sansão, que o amarraram para entregá-lo aos filisteus, por temerem uma represália deles caso acobertassem Sansão, que vinha agindo como um grande inimigo dos filisteus.
Isto é uma coisa deplorável, mas muito comum de ser vista entre os homens.
Foi por esta mesma razão que Jesus foi entregue pelo seu próprio povo, os judeus, aos romanos, para ser crucificado.
Ele somente lhes fizera bem durante todo o seu ministério terreno, e pagaram o bem que receberam com o mal, por temerem uma represália dos romanos contra eles.
A causa da justiça sempre sofrerá quando os homens buscarem o próprio interesse deles.   
Apesar da triste realidade que se vê no mundo político, porque os homens sempre se ligarão em sua grande maioria àqueles que detêm o poder em suas mãos, ainda que a causa da justiça e da verdade possam sofrer os maiores danos, este livramento produzido por Davi em Queila confirmaria o seu espírito público e heróico, e o seu total desinteresse em colocar a sua vida em risco pela causa de Deus e do Seu povo.
Isto contribuiria grandemente para que  viesse a ser reconhecido pelo povo como aquele que deveria realmente reinar sobre eles.
Ele era o escolhido do Senhor, mas se faria também necessário contar com a aprovação dos israelitas, e foi por isso que Deus ordenou que Ele libertasse os cidadãos de Queila, independentemente de saber que eles o entregariam assim mesmo nas mãos de Saul.
A propósito, inclusive Saul foi reconhecido como rei em Israel, quando se dispôs a libertar os cidadãos de Gileade, do ataque que seria despejado sobre eles pelos amonitas.
Aquela dificuldade havia contribuído para o reconhecimento dele como rei, e as dificuldades que Davi estava vencendo também contribuiriam para o mesmo propósito.
Foi por isso que o profeta Gade falou a Davi que ele deveria retornar das terras de Moabe para Judá, pois Deus começaria a produzir as condições que o conduziriam ao trono, e uma delas foi esta ação dele para libertar os habitantes de Queila. 
Então as ingratidões do homens, não podem interferir nos projetos de Deus em relação às nossas vidas. 
O sacerdote Abiatar é visto neste capítulo servindo fielmente a Davi, e ele foi estabelecido como sacerdote até o início do reinado de Salomão, quando foi substituído por Zadoque, por ter sido acusado de traição.
Com isto se deu cumprimento cabal à palavra de Deus em relação à casa de Eli, porque sendo o que restara da sua descendência, veio por fim a ser afastado do sacerdócio, conforme Deus havido sentenciado em relação à casa de Eli, de que removeria o sacerdócio dela. 
De Queila, Davi partiu sem um rumo definido (v. 13), e veio dar na região montanhosa do deserto de Zife, e ainda que Saul o buscasse todos os dias, Deus não o entregou nas suas mãos (v. 14).
E quando Davi se encontrava numa região do deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio ao seu encontro para fazer uma aliança com ele perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em Deus (v. 16), e lhe disse da sua convicção de que não deveria temer a mão de seu pai, Saul, porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de Davi diante de seu próprio pai.
E Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor tinha outros planos para ele, pois viria também a morrer numa batalha contra os filisteus, juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul, quando assumisse o reino, e isto certamente seria feito não porque Jônatas não reunisse qualidades morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a de o povo aceitar que Jônatas, que seria o sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi.
Então o próprio Deus estava se encarregando de acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências, não foi com pouca resistência, que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que  teve que reinar em princípio, somente sobre Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse reconhecido por todo o povo de Israel como rei de toda a nação.
 Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os zifeus, também denunciaram a presença de Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus seiscentos homens, estes já haviam se deslocado para o deserto de Maom, e ainda embriagado com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue, Saul insistiu na perseguição, e foi também para o deserto de Maom, e enquanto ele e seus homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se deslocavam no lado oposto do monte, de modo que um encontro entre eles seria inevitável, e mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que Saul tivesse que suspender e adiar a perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma palavra hebraica composta que significa Pedra de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do Senhor, Davi não  tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura chamada En-Gedi (v. 29).
Enquanto estava sendo duramente espiado pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as palavras do Salmo 63, no qual vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus, enquanto homens perversos e interesseiros se levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os perversos.


“1 Ora, foi anunciado a Davi: Eis que os filisteus pelejam contra Queila e saqueiam as eiras.
2 Pelo que consultou Davi ao Senhor, dizendo: Irei eu, e ferirei a esses filisteus? Respondeu o Senhor a Davi: Vai, fere aos filisteus e salva a Queila.
3 Mas os homens de Davi lhe disseram: Eis que tememos aqui em Judá, quanto mais se formos a Queila, contra o exército dos filisteus!
4 Davi, pois, tornou a consultar ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu: Levanta-te, desce a Queila, porque eu hei de entregar os filisteus na tua mão.
5 Então Davi partiu com os seus homens para Queila, pelejou contra os filisteus, levou-lhes o gado, e fez grande matança entre eles; assim Davi salvou os moradores de Queila.
6 Ora, quando Abiatar, filho de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com uma estola sacerdotal na mão.
7 Então foi anunciado a Saul que Davi tinha ido a Queila; e disse Saul: Deus o entregou nas minhas mãos; pois está encerrado, porque entrou numa cidade que tem portas e ferrolhos.
8 E convocou todo o povo à peleja, para descerem a Queila, e cercar a Davi e os seus homens.
9 Sabendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui a estola sacerdotal.
10 E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu servo acaba de ouvir que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa de mim.
11 Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na mão dele? descerá Saul, como o teu servo tem ouvido? Ah, Senhor Deus de Israel! faze-o saber ao teu servo. Respondeu o Senhor: Descerá.
12 Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul? E respondeu o Senhor: Entregarão.
13 Levantou-se, então, Davi com os seus homens, cerca de seiscentos, e saíram de Queila, e foram-se aonde puderam. Saul, quando lhe foi anunciado que Davi escapara de Queila, deixou de sair contra ele.
14 E Davi ficou no deserto, em lugares fortes, permanecendo na região montanhosa no deserto de Zife. Saul o buscava todos os dias, porém Deus não o entregou na sua mão.
15 Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua vida, esteve no deserto de Zife, em Hores.
16 Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi ter com Davi em Hores, e o confortou em Deus;
17 e disse-lhe: Não temas; porque não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe.
18 E ambos fizeram aliança perante o Senhor; Davi ficou em Hores, e Jônatas, voltou para sua casa.
19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.1-29)


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