O primeiro versículo
deste 3º capítulo de I Samuel nos dá conta de uma religião morta em Israel, em
razão não somente do pecado dos filhos de Eli, como de todo o povo, que como
veremos adiante, necessitava ser purificado da sua idolatria.
A citação do verso 1 de
que a palavra do Senhor era muito rara e que as visões não eram frequentes é
uma forma de retratar a escassez das operações de Deus em face da desobediência
do Seu povo.
Um despertamento ou
avivamento espiritual é sobretudo então um retorno do povo de Deus à obediência
que Lhe é devida, mediante prática da Sua Palavra.
Samuel foi confirmado
como profeta do Senhor desde Dã até Berseba, e o motivo desta confirmação é
citado no verso 19: “o Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas
palavras cair em terra.”.
As palavras proféticas de
Samuel procediam do céu e para lá retornavam, dando cumprimento ao propósito do
Senhor.
Não era uma palavra para
agradar aos homens e que procedia do próprio homem. Era uma palavra que
procedia de Deus e subia à presença de Deus nos céus, daí se dizer que nenhuma
das palavras que Samuel proferiu em nome do Senhor caiu em terra. Deus aparecia
no tabernáculo em Siló e se manifestava por meio da Sua palavra a Samuel (v.
21).
A palavra ensinada por
Samuel não eram palavras persuasivas de sabedoria humana, do que também se
guardaram os apóstolos de Cristo, porque a Palavra de Deus traz em si mesma a
força da persuasão de ser a verdade, e é poderosa para quebrar corações de
pedra.
Quando o Senhor se
manifestou pela primeira vez a Samuel Ele lhe revelou que faria uma coisa
incomum em Israel: “Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir
ambos os ouvidos a todo o que a ouvir.”.
Deus se moveria em Israel
especialmente através do ministério de Samuel, e o povo reconheceria este mover
e muitos chegariam ao arrependimento e à conversão dos seus maus caminhos,
voltando à prática da Sua Palavra.
Samuel haveria de ser
confirmado como profeta do Senhor em todo Israel, como vemos no final deste terceiro
capítulo (v. 20), e o Senhor começaria a fazer isto se revelando a ele, ainda
quando era muito jovem e quando se encontrava ainda sob os cuidados de Eli.
As manifestações do
Senhor Lhe trariam grande honra e glória e despertaria o desejo em muitos de
Israel de honrarem o único Deus verdadeiro.
Tal com o profeta Samuel
foi levantado em Israel quando a nação estava desviada dos caminhos de
Deus.
O avivamento está ligado
à necessidade de reforma.
De trazer as pessoas ao modo
pelo qual devem viver para o Senhor.
E isto está muito além de mero conhecimento da
doutrina correta, a par deste ser muito importante e necessário, porque é
possível ser absolutamente corretos em nossa doutrina, e não termos nenhuma
prática daquilo em que cremos e também nenhuma comunhão real com o Senhor.
Um falso profeta jamais
conduzirá o povo do Senhor à prática da Sua Palavra, e não disciplinará os
contradizentes, antes, falará segundo aquilo que o coração carnal humano deseja
ouvir.
Mas um verdadeiro profeta
como Samuel, procurará apartar o povo de Deus das suas transgressões, para um
viver obediente ao Senhor e à Sua Palavra.
Por isso nós lemos em I
Sm 7.3 o seguinte: “Samuel, pois, falou a toda a casa de Israel, dizendo: Se de
todo o vosso coração voltais para o Senhor, lançai do meio de vós os deuses
estranhos e as astarotes, preparai o vosso coração para com o Senhor, e servi a
ele só; e ele vos livrará da mão dos filisteus.”.
Israel estava lamentando
a ausência da arca do Senhor do meio deles já por vinte anos, pois esta havia
sido tomada pelos filisteus e se encontrava agora em Quiriate-Jearim (I Sm 7.2)
e não no tabernáculo em Siló.
A arca representava a
presença abençoadora de Deus.
E o que foi que eles
fizeram naquela ocasião?
O que foi que o líder
espiritual deles lhes ordenou?
Que dessem muitas glórias
a Deus?
Que eles determinassem
pela fé a sua vitória?
Não! Eles lamentaram a
ausência do Senhor e Samuel lhes convocou a um verdadeiro arrependimento, pelo
abandono dos falsos deuses e a uma consagração total a Deus de todo o coração.
A bênção é consequência
da obediência ao Senhor e à Sua Palavra. Em outras palavras, a um caminhar na
justiça.
A bem-aventurança
verdadeira é sempre fruto da justiça. De um caminhar em comunhão com Deus em
santidade.
Foi para isto que Cristo
morreu e nos salvou.
Ele não nos salvou para
permanecermos na prática do pecado, senão para mortificá-lo e praticar a
justiça do reino de Deus.
O que fica aquém disso é
mera religião e não cristianismo, porque este é a vida de Cristo em nós.
Por causa do pecado de
Eli, apesar de ser o sumo sacerdote, Deus já não falava mais diretamente a ele,
pois perdera a comunhão com o Senhor, pela falta desta santidade.
Deus chamou o menino
Samuel e insistiu em falar com ele por quatro vezes seguidas.
Ele não falaria com Eli,
senão por meio da boca de um dos seus profetas, que o repreendera duramente,
conforme vimos no capítulo anterior, e também através do próprio Samuel, que
iria confirmar as palavras proferidas pelo referido profeta, conforme vemos nos
versos 11 a 14, deste terceiro capítulo.
Nós podemos falar da
perda de comunhão de Eli com Deus pelo teor das suas palavras quando soube do
juízo que fora proferido por Deus a ele pela boca de Samuel: “Ele é o Senhor,
faça o que bem parecer aos seus olhos (v. 18).”.
Ele havia esquecido da
misericórdia do Senhor e não insistiu, como Moisés para que perdoasse o seu
pecado e o dos seus filhos.
Moisés conseguira perdão
para todo um povo, lutando em intercessão, jejuando por quarenta dias e noites,
até que o obteve do Senhor.
E Eli foi incapaz de
lutar pelo próprio bem e da sua casa.
Acrescente-se a isso que
temendo lhe dizer os juízos proferidos por Deus, Samuel guardou silêncio, e Eli
sabendo que se tratava de alguma palavra contra ele e seus filhos, constrangeu
Samuel sob a ameaça de maldição, dizendo que caso não lhe dissesse o que Deus
lhe havia revelado, que viesse sobre o próprio Samuel os juízos que haviam sido
proferidos e mais outro tanto (v. 17), isto é, que ele sofresse o dobro do que
havia sido dito por Deus.
Isto não seria de se
esperar de um ministro do Senhor, que é levantado para interceder em favor
daqueles que estão rodeados de fraquezas.
Ele sequer atentou para a
consagração que ele bem sabia existir na vida daquele menino.
Temos aqui a atitude de
um homem que não está de fato andando em comunhão com o Senhor.
Ele estava ocupando o
cargo de sumo sacerdote, mas não agindo em conformidade com a exigência do
ofício que exercia.
Importa que andemos
humildemente com o Senhor e diante dEle.
É por isso que sempre que
o Espírito Santo nos enche, Ele primeiro nos esvazia, Ele nos humilha,
revelando a nossa completa insuficiência e pequenez diante do Deus Altíssimo e
da Sua gloriosa majestade.
E isto nos abate e
enfraquece em muitos modos, até mesmo fisicamente, de maneira que quando somos
fortalecidos pela graça e levados a exultar na presença de Deus, geralmente
temos este poder manifestado na nossa fraqueza, e com isto somos guardados do
orgulho espiritual.
E nós temos muitos
motivos para caminharmos humildemente com o Senhor, porque ainda que haja uma
manifestação poderosa da Sua santa presença na Igreja, ainda deveremos por toda
a vida crescer espiritualmente, amadurecer o fruto que temos recebido do
Espírito, pois não há fruto que nasça maduro, e todo fruto tem o seu tempo de
amadurecimento.
Relativamente às coisas
espirituais, este é um processo que dura toda a nossa vida, e que razão
teríamos para nos gloriar senão no Senhor mesmo e na nossa fraqueza?
É andando em humildade
que recebemos mais graça. Graça sobre graça conforme é da vontade de Deus. Pois
dá graça a quem se humilha reconhecendo que tudo temos recebido dEle, e que por
mais que nos esforcemos e trabalhemos, tudo terá sido produzido em nós pela
graça de Jesus, sendo assim simples servos inúteis, pois nada teríamos feito
sem esta assistência da graça que tudo opera em nós e através de nós.
“1 Entretanto, o menino
Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra do Senhor era muito rara
naqueles dias; as visões não eram frequentes.
2 Sucedeu naquele tempo
que, estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos começavam já a
escurecer, de modo que não podia ver),
3 e ainda não se havendo
apagado a lâmpada de Deus, e estando Samuel também deitado no templo do Senhor,
onde estava a arca de Deus,
4 o Senhor chamou:
Samuel! Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui.
5 E correndo a Eli,
disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei;
torna a deitar-te. E ele foi e se deitou.
6 Tornou o Senhor a
chamar: Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu
me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei, filho meu; torna a deitar-te.
7 Ora, Samuel ainda não
conhecia ao Senhor, e a palavra do Senhor ainda não lhe tinha sido revelada.
8 O Senhor, pois, tornou
a chamar a Samuel pela terceira vez. E ele, levantando-se, foi a Eli e disse:
Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o
menino.
9 Pelo que Eli disse a
Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor,
porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar.
10 Depois veio o Senhor,
parou e chamou como das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel:
Fala, porque o teu servo ouve.
11 Então disse o Senhor a
Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os
ouvidos a todo o que a ouvir.
12 Naquele mesmo dia
cumprirei contra Eli, do princípio ao fim, tudo quanto tenho falado a respeito
da sua casa.
13 Porque já lhe fiz:
saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade de que
ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.
14 Portanto, jurei à casa
de Eli que nunca jamais será expiada a sua iniquidade, nem com sacrifícios, nem
com ofertas.
15 Samuel ficou deitado
até pela manhã, e então abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porém, temia
relatar essa visão a Eli.
16 Mas chamou Eli a
Samuel, e disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui.
17 Eli perguntou-lhe: Que
te falou o Senhor? peço-te que não mo encubras; assim Deus te faça, e outro
tanto, se me encobrires alguma coisa de tudo o que te falou.
18 Samuel, pois,
relatou-lhe tudo, e nada lhe encobriu. Então disse Eli: Ele é o Senhor, faça o
que bem parecer aos seus olhos.
19 Samuel crescia, e o
Senhor era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em
terra.
20 E todo o Israel, desde
Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor.
21 E voltou o Senhor a
aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela sua
palavra. E chegava a palavra de Samuel a todo o Israel.” (I Sm 3.1-21).
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