Nós vemos no segundo
capítulo de I Samuel, que Ana entoou um cântico de louvor e gratidão a Deus
pelo menino que lhe nascera, e que havia pedido emprestado ao Senhor por um
tempo, reconhecendo que de fato aquela criança pertencia a Ele e não a ela.
Na verdade, tudo o que
somos e temos, com exceção do pecado e suas consequências, o temos recebido
emprestado do Senhor, para ser usado como mordomos, que têm que prestar contas
Àquele a quem de fato pertencem todas as coisas.
E o menino Samuel havia
nascido tanto para bênção quanto para juízo de muitos em Israel, a começar pela
casa do próprio Eli, pois que Deus estava se provendo de um sacerdote fiel na
pessoa de Samuel, para trazer juízos sobre Eli e seus filhos.
É por isso que nós vemos
no cântico profético que fora dado a Ana, por inspiração do Espírito Santo
(versos 1 a 10), tanto palavras de bênçãos, quanto de juízos, pois seria
exatamente isto que o nascimento daquela criança propiciaria.
Nós vemos isto também no
cântico de Maria, mãe de Jesus (Lc 1.46-55), e nas palavras de Simeão a
respeito dEle: “E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que
este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser
alvo de contradição,” (Lc 2.34).
O mesmo teor de bênção e
de juízos são encontrados no cântico de Isabel, mãe de João Batista, no ensejo
do nascimento do menino.
Tal como Jesus, guardadas
as devidas proporções, todos estes foram levantados por Deus tanto para bênção
dos humildes quanto para juízo dos arrogantes.
O atributo da justiça
divina requer tanto uma coisa quanto outra. A recompensa dos justos e o castigo
dos ímpios.
Por isso se diz dos cristãos
serem o bom perfume de Cristo, sendo aroma de vida para vida nos que se salvam,
e cheiro de morte para morte nos que se perdem (II Cor 2.15,16).
Foi para o mesmo
propósito que Samuel fora levantado em Israel, sendo assim, um tipo de Jesus, e
é por este motivo que encontramos o teor das palavras, tanto de bênçãos quanto
de juízos, no cântico que foi proferido pela sua mãe.
Nele se destaca
especialmente, a soberania de Deus sobre tudo e todos na Sua criação, e que
todas as ações dos homens são pesadas por Ele, de modo que o homem deve se
cuidar da altivez e da arrogância (v. 3).
Porque os fortes são
quebrados (Deus abate o soberbo) e os fracos são fortalecidos (Deus dá graça
aos humildes) (v.4); o rico será arruinado com toda a sua prosperidade, e o
faminto será farto (especialmente da justiça) (v. 5), pois na Sua soberania o
Senhor tira a vida e a dá, conduz a quem quer ao Seol, da palavra Sheol, no original hebraico, que significa a
sepultura e todos os acessórios que lhe seguem no caso da morte dos ímpios,
como por exemplo o castigo eterno e as chamas do inferno; e também livra a quem
quer dali (terá misericórdia de quem Lhe aprouver ter misericórdia) (v. 6), de
modo que provê aos homens do modo que Lhe agrada, repartindo os Seus dons como
quer e a quem quer, enriquecendo e empobrecendo, abatendo e exaltando (v. 7).
Ele pode, se o desejar,
fazer com que o pobre e necessitado venha a se assentar entre os príncipes, e
fazê-los herdar um trono de glória (nisto se incluem todos os verdadeiros cristãos,
lavados e remidos no sangue de Jesus, conforme há de se revelar no porvir)
(v.8).
Os pés dos santos serão
guardados (Deus os fará perseverar em santidade, de modo a garantir a plena
segurança da sua salvação); mas os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o
homem não prevalecerá pela força (v.9).
No mesmo verso 9 se diz
que Deus guardará os pés dos seus santos, isto é, o caminhar deles na Sua
presença será garantido pelo próprio Deus, com Sua graça, amor e poder, como
podemos ler no Sl 37.23,24:
“Confirmados pelo Senhor
são os passos do homem em cujo caminho ele se deleita; ainda que caia, não
ficará prostrado, pois o Senhor lhe segura a mão.”.
Enquanto nós retivermos
as ordenanças de Deus e guardá-las, Ele manterá firmes os nossos pés.
Quando os nossos pés
estiverem a ponto de deslizarem (Sl 73.2), a misericórdia do Senhor nos segurará
e nos manterá de pé (Sl 94.18) e Ele nos guardará de cair (Jd 24).
Não é pela própria
capacidade, força, sabedoria, riqueza, poder que se alcança a salvação eterna,
senão unicamente pela graça de Deus, que é concedida aos que se arrependem dos
seus pecados.
De modo que todos os que
contendem com Deus, e resistem à Sua vontade, serão abatidos, porque a justiça
de Deus se manifestará desde os céus contra eles, e o fará por meio dos Seus
juízos, dando força e poder ao seu rei e ungido, para que julgue com justiça
(v. 10).
Esta última palavra
profética do cântico de Ana aponta certamente para o reino de Cristo, mas nela
pode ser incluído o reino de Davi, que ainda seria levantado para ser um tipo
do reino de poder e justiça do Senhor Jesus, e Israel, nos dias de Davi seria
fortalecido de modo que triunfaria sobre todos os seus inimigos ao redor,
especialmente contra os jebuseus e os filisteus.
Segundo a Lei de Moisés,
os levitas somente poderiam ser admitidos oficialmente no serviço do tabernáculo
a partir dos trinta anos de idade, e assim, podemos concluir que a expressão
que o menino Samuel ficou servindo ao Senhor perante o sacerdote Eli, quando
seu pai e toda a sua família retornaram a Ramá, quer se referir à ajuda que ele
prestava a Eli como sumo sacerdote, pois se diz que ele ficou servindo ao
Senhor perante Eli.
Imediatamente, no verso
seguinte (12) é dito que os filhos de Eli (Hofni e Fineias, que oficiavam como
sacerdotes), eram homens ímpios (no original hebraico nós temos a expressão
“filhos de Belial”, aqui traduzida por ímpios), e que eles não conheciam ao
Senhor.
Com isto, se quer dizer
que não eram convertidos, que não eram homens de Deus, e esta era razão de
praticarem todas as impiedades e sacrilégios que são descritos nos versos 13 a
17 e no verso 22.
Em contraste com a
impiedade deles é referido no verso 23 que Samuel ministrava perante o Senhor,
sendo ainda menino, vestido de uma estola sacerdotal de linho.
Não que ele fosse um
sacerdote em idade tão tenra, mas certamente Eli providenciou uma estola
sacerdotal para ele por ter reconhecido que Deus era com o menino (v. 21 e 26),
apesar da sua pouca idade, e da forma devotada como o pequeno Samuel servia ao
Senhor, e isto talvez para se consolar e compensar dos maus atos de seus
próprios filhos, que apesar de serem sacerdotes, por direito hereditário, não
se comportavam à altura do que era exigido por tão elevado ofício, de modo que
se diz no verso 17 que era grande o pecado de ambos, e que vieram a desprezar
as ofertas do Senhor, que eram apresentadas no tabernáculo, pois desrespeitavam tudo o que a Lei prescrevia em
relação à parte das ofertas a que tinham direito os sacerdotes, e se
apropriavam do que não lhes era devido, bem como não queimavam a carne
destinada aos holocaustos para tê-la crua, possivelmente com a intenção de
comercializá-la posteriormente.
Além de profanos se
entregavam à prática de impurezas no próprio tabernáculo, porque se deitavam
com mulheres naquele recinto tendo relações sexuais com elas (v. 22), e isto
era do conhecimento de todo o povo ( v. 23).
Eli já era muito velho
(v. 22) na ocasião que decidiu advertir os seus filhos, pelo que eles vinham
fazendo (v. 23 a 25), mas não foi concedida graça a eles por Deus para que se
arrependessem, pois o Senhor já havia determinado destruir a ambos (v. 25).
É possível que Eli tenha
decidido repreender os abusos de seus filhos somente quando ficou sabendo da
impureza sexual que vinham praticando
com as mulheres que vinham ao tabernáculo, como se estivesse esperando por
tantos anos por esta gota de água, para que enfim pudesse partir para algum
tipo de repreensão, pelo mau comportamento deles.
Na verdade ele deveria
tê-lo feito desde o princípio, e com toda a firmeza que o caso requeria, até
mesmo pela medida extrema de proibi-los de continuarem oficiando no
tabernáculo.
É possível que o
sentimento paternal falou mais ao seu coração do que o seu amor pelo Senhor, e
assim deixou de amar verdadeiramente a Deus e a seus filhos, porque o amor não
folga com a injustiça, senão com a verdade, e é portanto prova de amor e não o
contrário, disciplinarmos nossos filhos, porque um bom pai disciplina os seus
filhos para poupá-los, tanto como a si próprio, dos justos juízos de Deus.
Eli teve de certa forma
uma participação direta no juízo de morte que sobreviria aos seus filhos,
porque os deixou entregues a si mesmos, e só veio a repreendê-los, quando já
era muito velho.
Nós lemos em I Sm 3.13 as
seguintes palavras do Senhor em relação a Eli e seus dois filhos: “porque já
lhe fiz saber que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniquidade
de que ele bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os
repreendeu.”.
Não estamos portanto
amando os nossos filhos quando os deixamos entregues a si mesmos, praticando
toda sorte de pecados, sem repreendê-los e sem dizer a eles o dever que têm de
mortificarem os seus pecados.
A omissão de Eli
prejudicou a muitos e não somente os seus próprios filhos.
Porque o sacerdote tinha
a função de desviar as pessoas dos seus maus caminhos, e de conduzi-las ao
Senhor.
Mas os filhos de Eli
estavam fazendo exatamente o contrário, porque em vez de ajudarem Israel a se
santificar, estavam expondo o povo a uma condição ainda pior do que a em que se
encontravam.
Por isso, são exatas as
palavras que Eli dirigiu a seus filhos: “Fazeis transgredir o povo do Senhor.”
(v. 24).
Nós vemos nesta porção
dos versos 13 a 26, que Elcana e sua família se dirigiam todos os anos ao
tabernáculo para adorarem a Deus, mesmo depois que Samuel foi consagrado
inteiramente ao Senhor, sendo deixado aos cuidados de Eli, e que nas ocasiões
que para lá se dirigiam Eli sempre os abençoava e orava em favor de Ana, para
que Deus lhe desse outros filhos no lugar de Samuel, que ela havia emprestado
ao Senhor (v. 20).
O verbo emprestar, aqui,
tem o sentido não de que Ana dera algo de si mesma a Deus, mas que ela havia
dado por devolvido a Deus o filho que ela Lhe pedira emprestado, porque no
hebraico, nós temos neste versículo a expressão
shelah (emprestado) esher (que) shaal (pediu), que significa “que pediu
emprestado”, indicando assim o modo como ela havia pedido um filho a Deus, a
saber, como um empréstimo para ser devolvido posteriormente.
Ela não pediu um filho
para si para decidir sobre consagrá-lo depois ao Senhor. Não, ela já o havia
pedido como quem pede algo emprestado por um tempo para ser devolvido em
seguida ao seu legítimo dono.
Em seu coração ela sabia
que aquele filho era alguém muito especial para Deus, e que de fato procedia inteiramente
dEle e para Ele, para fazer a Sua vontade.
Nisto Ana e Samuel são
respectivamente um tipo de Maria e de Jesus, pois Maria sabia desde o princípio
que aquele menino que nasceu em Belém, não era propriamente dela mas de Deus e
para viver inteiramente dedicado a Ele, quanto a fazer a Sua vontade.
E é bastante interessante
notarmos que a expressão que é usada em relação ao desenvolvimento de Samuel,
no verso 26, é a mesma que nós encontramos em relação a Jesus em Lc 2.52:
“E o menino Samuel ia crescendo em estatura e
em graça diante do Senhor, como também diante dos homens.” (I Sm 2.26).
“E crescia Jesus em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.” (Lc 2.52).
Em ambos os casos nós não
temos uma mera referência à condição pessoal de ambos, mas ao cumprimento do
propósito de Deus de dar ao Seu povo quem poderia ser canal da Sua graça em
favor deles, por viverem em santidade na Sua presença, e por terem sido o
instrumento escolhido por Ele para tal propósito.
Evidentemente, no caso de
Samuel, estamos falando de um mero homem, mas no caso de Jesus do perfeito
homem e Deus.
Por isso, Samuel é apenas
um pálido tipo dAquele que é dado por Deus, para converter a Si o verdadeiro
Israel, e para conduzi-lo por toda a eternidade.
Dos versos 27 a 36 nós
lemos os juízos proferidos pelo Senhor contra Eli, seus dois filhos, e toda a
descendência deles, por meio de um profeta.
Deus lembra a Eli, em
primeiro lugar, a grande honra do ofício sacerdotal do qual ele estava
encarregado e a sua descendência, por direito perpétuo desde os dias de Arão
(v. 27).
Nisto estava mostrando
que aqueles que são grandemente honrados por Ele têm o dever de Lhe tributar
uma maior honra do que todos os demais.
Em suma, se alguém é
honrado por Deus, tem o dever de honrá-lo também.
E a casa de Eli não
estava fazendo isto, e por isso o Senhor repreendeu Eli com as palavras do
verso 29: “Por que desprezais o meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se
fizessem na minha morada, e por que honras a teus filhos mais do que a mim, de
modo a vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo Israel?”.
Como toda desonra ao
nosso Criador e Senhor não ficará sem o devido castigo, foi proferido contra
Eli e toda a sua casa os juízos que encontramos nos versos 30 a 36.
Não sabemos quando foi
que o sumo sacerdócio foi transferido por Deus da casa de Eleazar, filho de
Arão, para a casa de Itamar, irmão de Eleazar.
Porém, nós vemos no verso
30 Deus afirmando que desfaria o arranjo que fizera, de modo que transferiria
de novo o sacerdócio para a casa de Eleazar, e nós vemos que isto foi cumprido
nos dias de Salomão, quando o sacerdote Abiatar, da casa de Eli, foi
substituído por Zadoque, que era da casa de Eleazar (I Rs 2.26,27).
Nisto nós podemos
aprender pelo menos duas coisas importantes, a primeira delas se refere à
grande longanimidade de Deus, que cumpriu o juízo de afastar a casa de Eli do
sacerdócio, mais de oitenta anos depois de ter proferido tal sentença, pois
temos sem contar o período em que Samuel julgou Israel, oitenta anos relativos
aos reinados de Saul e Davi, antes que Salomão começasse a reinar.
E a segunda coisa
importante que podemos aprender é que a infidelidade de um ministro jamais
poderá destruir o ministério determinado por Deus, como se pode ver no caso de
Judas, que foi substituído por um outro em seu ofício, nos dias dos apóstolos,
e nos descendentes de Eli.
Por isso, como veremos
adiante, o juízo sobre a casa de Eli foi acompanhado pelo levantamento de um
sacerdócio fiel, que seria iniciado com Zadoque, e cuja culminância seria
realizada no ofício sumo sacerdotal de Cristo, que é totalmente fiel e para
sempre.
Desta forma, a
necessidade de um sacerdote fiel para o povo de Deus, não poderia jamais ser
anulada pela infidelidade de alguns homens, que não honraram o seu ofício
sagrado.
Esta longanimidade de
Deus a que nos referimos anteriormente, e que é fartamente exemplificada na
Bíblia, no longo tempo que Ele costuma levar para cumprir muitos dos seus
juízos, atesta que de fato há um juízo final que há de ser cumprido a partir da
volta de Jesus, e o motivo deste ser prolongado é exatamente o fato de Deus ser
longânimo, como afirmado nas palavras do apóstolo Pedro:
“O Senhor não retarda a
sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para
convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a
arrepender-se.” (II Pe 3.9).
A casa de Eli não havia
honrado ao Senhor por uma estrita obediência a tudo o que Ele tem ordenado na
Sua Lei, e especialmente, no caso deles, as leis relativas ao exercício do
sacerdócio, e por isso não seriam honrados, antes teriam o desgosto de provar o
Seu desagrado, porque Lhe haviam desprezado (v. 30).
Não podemos negligenciar
os mandamentos de Cristo, senão para a ruína de nossa própria alma, porque as
grandes seções doutrinárias de todas as epístolas dos apóstolos, que falam de
toda a graça, amor e perdão que alcançamos em Deus por meio de Cristo, são
seguidas por seções finais introduzidas por um “portanto”, um “por conseguinte”
indicando os deveres dos quais somos agora encarregados por Deus, quanto à
estrita obediência que Lhe devemos, em razão do favor e da honra que Ele
demonstrou a nós, por nos ter salvado por meio de Seu Filho.
Ele nos honrou com a
manifestação da Sua graça a nós, e é portanto nosso dever honrá-lo com a nossa
obediência especialmente no que tange a mortificar o pecado, a adorá-lo e a
praticar o que é justo tanto em relação a Ele quanto ao nosso próximo.
Por isso bem vai a todo o
cristão que se empenha em honrar ao Senhor, e mal vai a todo aquele que O
despreza por viver numa desobediência voluntária.
Por isso o apóstolo Paulo
diz o que lemos em Rom 2.9-11: ”9 tribulação e angústia sobre a alma de todo
homem que pratica o mal, primeiramente do judeu, e também do grego; 10 glória,
porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, primeiramente ao judeu, e
também ao grego; 11 pois para com Deus não há acepção de pessoas.”.
Ele fala de honra e paz
para quem pratica o bem (v. 10), e de tribulação e angústia para quem pratica o
mal (v. 9).
Isto é uma lei espiritual
que governa as almas dos homens bem como todos os seres morais criados por
Deus.
A justiça é recompensada
e honrada por Ele, mas a iniquidade é
castigada e os seus praticantes não podem ser honrados pelo Senhor.
Ele revelou no cântico
profético que dera a Ana, honrará somente àqueles que Lhe honrarem. Nisto,
estava sendo passada uma repreensão à casa de Eli.
Todo cristão esclarecido
quanto à justiça do Senhor sabe que apesar de estar coberto com o manto da
justiça de Cristo, que obteve em sua justificação e que o livra da condenação
eterna, pode no entanto, por causa da carne, viver de modo que não honre ao
Senhor que o salvou, e enquanto permanecer nesta condição, não será honrado por
Deus, enquanto viver neste mundo, ao contrário será sujeitado à Sua disciplina
exatamente em razão do fato de que não será mais condenado eternamente
juntamente com o ímpio, por causa de estar aliançado com Cristo e ter sido
tornado um filho de Deus por meio da fé nEle, que lhe trouxe justificação e
regeneração e o começo do processo da santificação, que ele paralisou por causa
da sua prática deliberada do pecado, e por não estar vivendo de modo que honre
ao Senhor que o salvou da condenação eterna.
Eli, pelo que tudo
indica, conhecia ao Senhor, e era um verdadeiro crente, e no entanto recebeu a
sentença de um duro juízo, que lhe sobreveio da parte de Deus, por não tê-lo
honrado da maneira devida.
Que isto sirva de alerta
para todos aqueles que estão aliançados com Deus por meio da fé em Cristo
Jesus.
Que sejam instruídos
sobre esta verdade de que se não viverem para honrar ao Senhor, serão desonrados por Ele, e trarão a si
mesmos muitas dores, por conta do seu caminhar desordenado.
Quanto maior for a honra
recebida de Deus maior será o Seu juízo, caso não O honremos.
Por isso Jesus disse o
que lemos em Lc 12.47,48: “47 O servo que soube a vontade do seu senhor, e não
se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48 mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites
será castigado. Daquele a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem
muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”.
E a vida de Eli ilustra
de modo bastante vivo esta verdade.
Ele havia recebido muito
de Deus pela honra do exercício do sacerdócio, e por isso também mais foi
pedido a ele do que a qualquer outro em Israel, porque ele era o
sumo-sacerdote.
Por ter sido achado em
falta no ajuste de contas que o Senhor fizera com ele, este foi o motivo do
duro juízo que foi proferido sobre ele e toda a sua descendência, conforme
podemos ver nos versos 31 a 36, que fecham este segundo capítulo de I Samuel, e
que se resumia no seguinte:
Não haveria entre os
descendentes de Eli quem chegasse a ser ancião, e provavelmente este juízo se
cumpriria por Deus não permitir que nenhum descendente de Eli chegasse à
velhice, em face da desonra que eles haviam trazido àquele sagrado ofício (v.
31, 32).
Todos os descendentes de
Eli morreriam de morte violenta (pela espada dos homens), para servir de sinal
que havia um juízo de Deus sobre a casa do sacerdote que havia desonrado o seu
cargo.
Com isto Israel estaria
sendo ensinado a ter o devido temor pelas coisas sagradas relativas ao serviço
do tabernáculo, que os filhos de Eli haviam desprezado de modo tão profundo, e
que foi o motivo da ruína deles (v. 33).
Para que se soubesse que
a morte de Hofni e Fineias não foi obra do acaso mas de um juízo de Deus
determinado sobre eles, foi profetizado que ambos morreriam no mesmo dia (v.
34).
E juntamente com o juízo
proferido sobre Eli e sua casa, Deus prometeu levantar um sacerdote fiel, que
atuaria segundo aquilo que está na Sua mente e no Seu coração, e por causa
desta fidelidade o próprio Deus edificaria para ele uma casa duradoura, de modo
que não sendo removido do seu ministério sacerdotal, poderia andar sempre
diante do Seu ungido (v. 35).
Aqueles que sobrassem da
casa de Eli, por não terem sido ainda alcançados pelo juízo de morte determinado
sobre eles, viriam a implorar a este sacerdote fiel, humilhando-se diante dele
para serem admitidos em algum serviço relativo ao sacerdócio para que pudessem
ter o direito que Deus concedeu aos sacerdotes de viverem das ofertas que
fossem trazidas ao tabernáculo (v. 36).
Eles haviam desprezado o
sacerdócio do qual a sobrevivência deles dependia, e o valor do ofício e a
necessidade dele para os descendentes de Arão, seria agora reconhecida por
estes descendentes de Eli.
Eli não repreendeu seus
filhos com o rigor devido e assim ele ajudou a fortalecer as mãos deles na
prática da maldade, em razão da sua negligência.
Quando os homens de Deus
são desleixados no cumprimento do seu dever, acabam contribuindo para o aumento
do pecado dos pecadores, por entenderem erroneamente, no que observam na
omissão dos justos, que eles são aprovados por Deus, apesar de todo o mal que
possam praticar; isto é, o silêncio diante do mal é interpretado como
consentimento, e daí o ditado de que aquele que cala, consente.
“1 Então Ana orou,
dizendo: O meu coração exulta no Senhor; o meu poder está exaltado no Senhor; a
minha boca dilata-se contra os meus inimigos, porquanto me regozijo na tua
salvação.
2 Ninguém há santo como o
Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como o nosso Deus.
3 Não faleis mais
palavras tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o
Deus da sabedoria, e por ele são pesadas as ações.
4 Os arcos dos fortes
estão quebrados, e os fracos são cingidos de força.
5 Os que eram fartos se
alugam por pão, e deixam de ter fome os que eram famintos; até a estéril teve
sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece.
6 O Senhor é o que tira a
vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali.
7 O Senhor empobrece e
enriquece; abate e também exalta.
8 Levanta do pó o pobre,
do monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para
os fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra,
sobre elas pôs ele o mundo.
9 Ele guardará os pés dos
seus santos, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não
prevalecerá pela força.
10 Os que contendem com o
Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará contra eles. O Senhor
julgará as extremidades da terra; dará força ao seu rei, e exaltará o poder do
seu ungido.
11 Então Elcana se
retirou a Ramá, à sua casa. O menino, porém, ficou servindo ao Senhor perante o
sacerdote Eli.
12 Ora, os filhos de Eli
eram homens ímpios; não conheciam ao Senhor.
13 Porquanto o costume
desses sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, e
estando-se a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo
de três dentes,
14 e o metia na panela,
ou no tacho, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o
sacerdote tomava para si. Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em
Siló.
15 Também, antes de
queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote e dizia ao homem que
sacrificava: Dá carne de assar para o sacerdote; porque não receberá de ti carne
cozida, mas crua.
16 Se lhe respondia o
homem: Sem dúvida, logo há de ser queimada a gordura e depois toma quanto
desejar a tua alma; então ele lhe dizia: Não hás de dá-la agora; se não, à
força a tomarei.
17 Era, pois, muito
grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a
desprezar a oferta do Senhor.
18 Samuel, porém,
ministrava perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de uma estola
sacerdotal de linho.
19 E sua mãe lhe fazia de
ano em ano uma túnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para
oferecer o sacrifício anual.
20 Então Eli abençoava a
Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te dê desta mulher descendência, pelo
empréstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar.
21 Visitou, pois, o Senhor
a Ana, que concebeu, e teve três filhos e duas filhas. Entrementes, o menino
Samuel crescia diante do Senhor.
22 Eli era já muito
velho; e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e como se
deitavam com as mulheres que ministravam à porta da tenda da revelação.
23 E disse-lhes: Por que
fazeis tais coisas? pois ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24 Não, filhos meus, não
é boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor.
25 Se um homem pecar
contra outro, Deus o julgará; mas se um homem pecar contra o Senhor, quem
intercederá por ele? Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor
os queria destruir.
26 E o menino Samuel ia
crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos
homens.
27 Veio um homem de Deus
a Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me revelei, na verdade, à casa de
teu pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos à casa de Faraó?
28 E eu o escolhi dentre
todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar,
para queimar o incenso, e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à
casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel.
29 Por que desprezais o
meu sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por
que honras a teus filhos mais do que a mim, de modo a vos engordardes do
principal de todas as ofertas do meu povo Israel?
30 Portanto, diz o Senhor
Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai
andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal
coisa, porque honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam serão
desprezados.
31 Eis que vêm dias em
que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais
ancião algum em tua casa.
32 E tu, na angústia,
olharás com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não
haverá por todos os dias ancião algum em tua casa.
33 O homem da tua
linhagem a quem eu não desarraigar do meu altar será para consumir-te os olhos
e para entristecer-te a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão pela
espada dos homens.
34 E te será por sinal o
que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias; ambos morrerão no mesmo
dia.
35 E eu suscitarei para
mim um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha
mente. Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andará sempre diante de meu
ungido.
36 Também todo aquele que
ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele por uma moeda de
prata e por um pedaço de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum cargo
sacerdotal, para que possa comer um bocado de pão.” (I Sm 2.1-36).
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