No 11º capítulo de 2
Samuel é descrito o pecado que Davi cometeu e que traz dores e desonra a um
homem, mais do que qualquer outro pecado, e cujas manchas, que são deixadas por
ele, não podem ser completamente apagadas tanto na mente de quem o praticou
quando daqueles que o sofrem.
O perdão de Deus e dos
homens pode ocorrer, tal como se deu com Davi, mas as consequências e sequelas
deste mal não podem ser evitadas.
Águas paradas juntam
sujeira, e a inatividade dá grande vantagem ao tentador, e foi deste modo, que
Davi foi apanhado no laço do passarinheiro, quando estava dando folga a si
mesmo no seu palácio.
É possível que ele tenha
até dado naquele período, férias à sua devoção a Deus.
Um homem que esteja empenhado
a serviço do Senhor, jamais poderá tirar férias de Deus.
Ainda que se separe de
tudo o mais por algum tempo, jamais poderá tirar férias em relação a Deus,
senão para prejuízo de sua própria alma, porque o Inimigo anda em derredor
buscando a quem possa tragar.
Spurgeon sabia disto, e é
testemunhado por sua própria esposa Susana, numa de suas biografias, que aonde
quer que ele fosse, mesmo em passeio, jamais se descuidava da sua devoção ao
Senhor, e era sempre acompanhado, em razão disso, de uma doce atmosfera da
presença do Espírito Santo.
Se nos descuidamos na
guarda pessoal, o Inimigo desferirá os seus golpes fatais e seremos atingidos,
por não estarmos protegidos pela barreira intransponível do poder do Espírito
Santo.
Não foi portanto, Bate-Seba,
e nem o próprio diabo, os principais responsáveis na queda de Davi no pecado de
adultério e em todos os demais pecados que ele praticou tentando encobrir o de
adultério, mas ele próprio foi o principal responsável em não vigiar e em não
domar o desejo pecaminoso, que jazia à porta do seu coração.
O pecado de adultério de
Davi foi agravado porque ele não o praticara contra um inimigo ou contra um
ímpio, mas contra um homem honrado e valoroso, que se encontrava em batalha
contra os amonitas, defendendo o reino do próprio Davi.
Em II Sm 23.39 nós vemos
que Urias era um dos bravos que compunham o grupo fechado dos trinta mais
honrados dos valentes de Davi.
Nós podemos também
inferir da parábola que foi dirigida a Davi por Natã, que ele abusou da posição
elevada que Deus lhe dera para exercer uma influência coatora sobre uma das
suas súditas, seduzindo-a para se deitar com ele.
Tendo Bate-Seba
engravidado, mandou que tal notícia fosse dada ao rei (v.5) e isto trouxe um
problema adicional a ele porque o seu marido estava fora em batalha.
Então, Davi pensou em
forjar uma farsa e ordenou que Urias fosse trazido à sua presença sob o
pretexto de lhe trazer notícias do campo.
E tendo feito isto
despachou-o para a sua casa, esperando que ele se deitasse com sua esposa, e
assim, do filho que Bate-Seba esperava seria dito que era de Urias, e não
haveria como se comprovar a paternidade numa época em que nem se sonhava com
testes de DNA.
Mas algo mais que
infalível que teste de DNA revelaria a verdadeira paternidade, porque o Senhor
tudo vê, e haveria de declarar a Davi tanto o seu pecado quanto o Seu desgosto
e as consequências com as quais ele teria que arcar.
Se por obra da
Providência naquela ocasião ou se exclusivamente em razão do próprio caráter
virtuoso de Urias, ele não se dirigiu para a sua casa, como Davi esperava, sob
a alegação de que a arca do Senhor estava numa tenda e os homens de guerra de
Davi também estavam dormindo em tendas no campo de batalha, longe de suas
esposas, e como ele poderia ter paz em sua consciência indo para a sua casa?
Davi não se deu por
vencido, e convocando-o uma segunda vez, embebedou-o, e nem assim Urias voltou
para sua casa para ter com sua esposa.
Então ele resolveu diante
da constatação do caráter nobre daquele homem, que ele deveria morrer, e
casando-se às pressas com a viúva, o adultério poderia ser acobertado.
Às vilezas anteriores,
Davi ajuntou uma maior ainda, pois enviou uma carta a Joabe pelas próprias mãos
de Urias, ordenando-lhe que o colocasse na pior frente de batalha e que fosse
deixado sozinho para que morresse.
De tal forma estava
cauterizada a consciência de Davi pelo seu pecado, que mandou dizer a Joabe, depois que este lhe
informou que Urias havia morrido, que não lamentasse pelo que fizera, porque
afinal o risco de morrer está ao alcance de qualquer um que está empenhado na
guerra.
Adultério, falsidade,
assassinato, indiferença, crueldade, deslealdade, de quantos pecados Davi não
poderia ser acusado neste caso?
E Deus levou tudo isto em
consideração, e vindicaria a Sua justiça e santidade em Davi, conforme veremos
nos capítulos subsequentes.
Davi pensava que tendo se
casado com Bate- Seba, todas as coisas estariam por fim acomodadas, mas nós
lemos no final deste capítulo as seguintes palavras:
“Porém isto que Davi
fizera, foi mal aos olhos do Senhor.” (v. 27).
Não podemos portanto,
usar o mau exemplo que Davi deixou neste pecado de adultério para tentar
justificar os cristãos que adulteram sob o argumento que o próprio Davi
adulterou, e que nem por isto deixou de governar Israel, e de ser ainda
abençoado por Deus, e por Deus tê-lo perdoado e poupado, porque este é apenas
um ângulo de uma questão que possui um outro ângulo que não é omitido nas
Escrituras, a saber, que apesar de ter sido perdoado, Davi havia causado um
grande mal e dado ocasião aos inimigos de Israel que o nome do Senhor fosse
desprezado e blasfemado, e isto não ficaria sem a justa retribuição da parte
dAquele que é Misericórdia e Amor, mas que também é Santo, Justo e Juiz.
Que nunca preguemos o
perdão de Deus como uma forma de incentivo à negligência na fidelidade no
matrimônio, pois é certo que Ele não deixará sem o devido castigo um pecado que
fere não somente aquele que o pratica mas a muitas partes envolvidas, e que
traz mancha e desonra a todo o corpo de Cristo. Isto nos faz lembrar das
palavras de Paulo em sua epístola aos Romanos, alertando os cristãos sobre o
perigo de se abusar da graça de Deus:
“Que diremos, pois?
Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já
morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rom 6.1,2).
E consideremos
atentamente ainda o que ele nos diz em Gál 6.7,8: ”Não vos enganeis; Deus não
se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia
no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.”.
“1 Tendo decorrido um
ano, no tempo em que os reis saem à guerra, Davi enviou Joabe, e com ele os
seus servos e todo o Israel; e eles destruíram os amonitas, e sitiaram a Rabá.
Porém Davi ficou em Jerusalém.
2 Ora, aconteceu que,
numa tarde, Davi se levantou do seu leito e se pôs a passear no terraço da casa
real; e do terraço viu uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui
formosa à vista.
3 Tendo Davi enviado a
indagar a respeito daquela mulher, disseram-lhe: Porventura não é Bate-Seba,
filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu?
4 Então Davi mandou
mensageiros para trazê-la; e ela veio a ele, e ele se deitou com ela (pois já
estava purificada da sua imundícia); depois ela voltou para sua casa.
5 A mulher concebeu; e
mandou dizer a Davi: Estou grávida.
6 Então Davi mandou dizer
a Joabe: Envia-me Urias, o heteu. E Joabe o enviou a Davi.
7 Vindo, pois, Urias a
Davi, este lhe perguntou como passava Joabe, e como estava o povo, e como ia a
guerra.
8 Depois disse Davi a
Urias: Desce a tua casa, e lava os teus pés. E, saindo Urias da casa real, logo
foi mandado após ele um presente do rei.
9 Mas Urias dormiu à
porta da casa real, com todos os servos do seu senhor, e não desceu a sua casa.
10 E o contaram a Davi,
dizendo: Urias não desceu a sua casa. Então perguntou Davi a Urias: Não vens tu
duma jornada? por que não desceste a tua casa?
11 Respondeu Urias a
Davi: A arca, e Israel, e Judá estão em tendas; e Joabe, meu senhor, e os
servos de meu senhor estão acampados ao relento; e entrarei eu na minha casa,
para comer e beber, e para me deitar com minha mulher? Como vives tu, e como
vive a tua alma, não farei tal coisa.
12 Então disse Davi a
Urias: Fica ainda hoje aqui, e amanhã te despedirei. Urias, pois, ficou em
Jerusalém aquele dia e o seguinte.
13 E Davi o convidou a
comer e a beber na sua presença, e o embebedou; e à tarde saiu Urias a
deitar-se na sua cama com os servos de seu senhor, porém não desceu a sua casa.
14 Pela manhã Davi
escreveu uma carta a Joabe, e mandou-lha por mão de Urias.
15 Escreveu na carta:
Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para
que seja ferido e morra.
16 Enquanto Joabe sitiava
a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que havia homens valentes.
17 Quando os homens da
cidade saíram e pelejaram contra Joabe, caíram alguns do povo, isto é, dos
servos de Davi; morreu também Urias, o heteu.
18 Então Joabe mandou
dizer a Davi tudo o que sucedera na peleja;
19 e deu ordem ao
mensageiro, dizendo: Quando tiveres acabado de contar ao rei tudo o que sucedeu
nesta peleja,
20 caso o rei se
encolerize, e te diga: Por que vos chegastes tão perto da cidade a pelejar. Não
sabíeis vós que haviam de atirar do muro?
21 Quem matou a
Abimeleque, filho de Jerubesete? Não foi uma mulher que lançou sobre ele, do
alto do muro, a pedra superior dum moinho, de modo que morreu em Tebez? Por que
chegastes tão perto do muro? Então dirás: Também morreu teu servo Urias, o
heteu.
22 Partiu, pois, o
mensageiro e, tendo chegado, referiu a Davi tudo o que Joabe lhe ordenara.
23 Disse o mensageiro a
Davi: Os homens ganharam uma vantagem sobre nós, e sairam contra nos ao campo;
porém nos os repelimos até a entrada da porta.
24 Então os flecheiros
atiraram contra os teus servos desde o alto do muro, e morreram alguns servos
do rei; e também morreu o teu servo Urias, o heteu.
25 Disse Davi ao
mensageiro: Assim dirás a Joabe: Não te preocupes com isso, pois a espada tanto
devora este como aquele; aperta a tua peleja contra a cidade, e a derrota.
Encoraja-o tu assim.
26 Ouvindo, pois, a
mulher de Urias que seu marido era morto, o chorou.
27 E, passado o tempo do
luto, mandou Davi recolhê-la a sua casa: e ela lhe foi por mulher, e lhe deu um
filho. Mas isto que Davi fez desagradou ao Senhor.” (II Sm 11.1-27).
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