Saul pusera a sua
confiança nos homens e não em Deus, e continuou fazendo isto, pois nós vemos a
citação no final deste 14º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que
afirma que todo homem poderoso e valente que Saul via, ele o agregava a si (v.
52).
Este é o incorrigível
Saul, que tendo escolhido 3.000 homens para o acompanharem aonde quer que
fosse, é achado no início da narrativa deste capitulo com apenas 600 homens.
Os outros fugiram de medo
dos filisteus e o abandonaram. E o que ele poderia fazer com este punhado de
homens desarmados contra o poderoso exército dos filisteus, sem a fé de um
Gideão e os seus trezentos?
Mas independentemente das
loucuras de Saul, Deus mais uma vez assistiu os israelitas e lhes abençoou com
a vitória, porque quando Ele intervém em favor do Seu povo, não é por haverem
muitos ou poucos ao Seu lado, que Ele dá a vitória, como aprendemos do exemplo
de Gideão, e da ação do próprio Jônatas, que destruiu a guarnição de filisteus
de Gibeá, dizendo as seguintes palavras, que revelam a grande fé que Ele tinha
em Deus: “operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há
de livrar com muitos ou com poucos” (v. 6).
De igual modo na Igreja
de Cristo as bênçãos determinadas por Deus continuam a ser derramadas pelo
Espírito Santo ao seu povo, independentemente da insensatez de muitos dos seus
líderes.
Caso os livramentos e
bênçãos do Senhor dependessem da sabedoria e fidelidade plena dos que lideram a
Igreja, de há muito ela já teria desaparecido da terra, e os cristãos teriam
sido subjugados pelo reino das trevas, porque tanto os líderes, quanto o povo
do Senhor, permanecem imerecedores dos Seus grandes livramentos, porque não se
vê na maior parte dos cristãos o tanto da fidelidade que deveria haver neles.
Não que com isso o Senhor
deixe de disciplinar, corrigir e sujeitar a juízos a muitos dentre os que andam
desordenadamente na Sua presença, mas a história da Igreja tem testemunhado que
a proteção da Igreja está debaixo inteiramente da Soberania e da misericórdia
do Senhor e não a uma fidelidade completa do Seu povo, que como no dizer de
Tiago, tropeça em muitas coisas.
Esta vitória dos
israelitas sobre os filisteus, bem ilustra este ponto.
E eles só não tiveram uma
vitória maior, por causa dos desatinos de Saul, que na sua precipitação colocou
sob pena de anátema a todo aquele que comesse pão, antes dele subjugar
inteiramente os seus inimigos.
Isto deu ocasião a que os
guerreiros de Israel desfalecessem de fome e que o seu próprio filho Jônatas
ficasse debaixo da maldição, que ele havia proferido, pois havia comido um
pouco de mel, sem nada saber sobre a maldição que seu pai havia proferido.
Além disso, tal
deliberação expôs o povo a comer carne com sangue, depois da batalha, em razão
da grande extenuação em que se encontravam.
A medida que Saul tomou
para impedir que continuassem comendo carne com o sangue, pode revelar
aparentemente alguma forma de zelo dele pela Palavra de Deus, mas na verdade
queria apenas se livrar de algum possível juízo da parte dEle, de maneira que
não pudesse continuar prevalecendo contra os filisteus, conforme havia decidido
fazer já a partir do cair da tarde daquele mesmo dia.
Não havia um real temor
da Palavra do Senhor nele, porque cometeu dentre os erros que já citamos, mais
o que é declarado neste capítulo, de ter decidido trazer a arca da aliança de
Quiriate-Jearim para o campo de batalha, e isto lhe traria a mesma ruína que
sucedeu ao povo de Israel nos dias de Eli, por cometerem tal erro.
Alguns mais sábios e
prudentes do que ele decidiram não lhe dar ouvido e a arca permaneceu no mesmo
lugar.
Ele queria usar, como os
israelitas do passado, a arca como um talismã, tal como os pagãos fazem com os
seus deuses.
Além disso, convocou para
o campo de batalha o neto de Fineias, sobrinho de Icabode, que trazia na
ocasião a estola sacerdotal em Siló.
Ele não percebeu que a
glória do Senhor havia se retirado de Siló, e pouco se importou em dar honra ao
Senhor, insistindo com Ele na restauração do culto do tabernáculo.
Mas agora, na sua
costumeira precipitação e obstinação, decidiu agir seguindo os seus impulsos, e
assim mesmo tenta obter uma resposta de Deus, se deveria ou não, continuar em
perseguição aos filisteus.
O resultado, como era de
se esperar, é que Deus não lhe deu nenhuma resposta através do neto de Fineias.
É bem provável que Deus
não falaria com ele nesta ocasião, nem mesmo através de Samuel, pois já lhe
havia rejeitado, como vimos no capítulo anterior.
Ele atribuiu apressadamente
o fato de Deus não falar com ele, ao pecado praticado por alguém.
Ele procurou mais uma vez
uma justificativa para o seu insucesso com o Senhor, e estava procurando um
culpado.
Para que ficasse ainda
mais atestada a sua loucura e insensatez, foi permitido pelo Senhor que o
lançamento de sortes recaísse sobre Jônatas, de modo que a questão do anátema
precipitado que ele proferira viesse à tona e se revelasse qual seria o seu
comportamento em relação ao próprio filho.
De um homem que tinha sido
ungido por Deus para reinar em Seu nome deveria se esperar coisas melhores,
assim como estas são esperadas de verdadeiros cristãos, que levam sobre si o nome do Senhor (Hb 6.9).
O anátema não foi
proferido em nome do Senhor e assim não tinha nenhuma obrigatoriedade de ser
cumprido.
Saul poderia tê-lo
revogado, e se arrependido de tê-lo proferido ao observar o grande dano que
havia produzido em sua própria tropa.
Mas a sua vaidade não lhe
permitiria isto, e então decidiu que o próprio filho deveria ser morto, e só
não foi por causa do povo que intercedeu
em seu favor.
Para acobertar o seu
erro, demonstrou uma falsa piedade e zelo pelo Senhor, ordenando ao povo que
não comesse mais carne com sangue, mas que os animais tomados em despojo dos
filisteus fossem oferecidos em sacrifício no altar que mandou construir, de
modo que não viessem a pecar comendo carne com sangue.
Saul é assim. Ele tenta
nos confundir e enganar, mostrando ao mesmo tempo um zelo aparente por Deus,
enquanto está lutando a todo custo pela sua própria honra pessoal, e para a
preservação e engrandecimento do seu próprio nome e reputação.
Desta forma, não é para a
honra dele, mas para exibir a grande misericórdia do Senhor, que estão
registradas as palavras que nós lemos sobre as suas conquistas nos versos 47 e
48:
“47 Tendo Saul tomado o
reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra
Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra
os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se
valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o
saqueavam.”.
Uma tal citação não foi interpretada pelo
autor de Hebreus como o resultado da fé e obediência de Saul, mas como pura
misericórdia de Deus que havia determinado estender os termos de Israel já a
partir dos seus dias para entregar o reino a Davi, que era um homem segundo o
seu coração. Não é portanto de se admirar que apesar de a narrativa bíblica ser
bastante longa em relação a Saul, que o seu nome não conste na galeria dos
heróis da fé de Hebreus 11.
Na verdade, o seu nome
não é citado em todo o Novo Testamento, senão em At 13.21, em profundo
contraste com o de Davi, pois o que certamente a revelação divina queria
destacar é este profundo contraste que há entre um ministro que é segundo o
coração de Deus e aquele que não o é.
“1 Sucedeu, pois, um dia,
que Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição
dos filisteus, que está do outro lado. Mas não o fez saber a seu pai.
2 Ora Saul estava na
extremidade de Gibeá, debaixo da romeira que havia em Migrom; e o povo que
estava com ele era cerca de seiscentos homens;
3 e Aíja, filho de
Aitube, irmão de Icabô, filho de Fineias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em
Siló, trazia a estola sacerdotal. E o povo não sabia que Jônatas tinha ido.
4 Ora, entre os
desfiladeiros pelos quais Jônatas procurava chegar à guarnição dos filisteus,
havia um penhasco de um e de outro lado; o nome de um era Bozez, e o nome do
outro Sené.
5 Um deles estava para o
norte defronte de Micmás, e o outro para o sul defronte de Gibeá.
6 Disse, pois, Jônatas ao
seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura
operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar
com muitos ou com poucos.
7 Ao que o seu escudeiro
lhe respondeu: Faze tudo o que te aprouver; segue, eis-me aqui, a tua
disposição será a minha.
8 Disse Jônatas: Eis que
passaremos àqueles homens, e nos descobriremos a eles.
9 Se nos disserem: Parai
até que cheguemos a vós; então ficaremos no nosso lugar, e não subiremos a
eles.
10 Se, porém, disserem:
Subi a nós; então subiremos, pois o Senhor os entregou em nossas mãos; isso nos
será por sinal.
11 Então ambos se
descobriram à guarnição dos filisteus, e os filisteus disseram: Eis que já os
hebreus estão saindo das cavernas em que se tinham escondido.
12 E os homens da
guarnição disseram a Jônatas e ao seu escudeiro: Subi a nós, e vos ensinaremos
uma coisa. Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o
Senhor os entregou na mão de Israel.
13 Então trepou Jônatas
de gatinhas, e o seu escudeiro atrás dele; e os filisteus caíam diante de
Jônatas, e o seu escudeiro os matava atrás dele.
14 Esta primeira derrota,
em que Jônatas e o seu escudeiro mataram uns vinte homens, deu-se dentro de
meia jeira de terra.
15 Pelo que houve tremor
no arraial, no campo e em todo o povo; também a própria guarnição e os
saqueadores tremeram; e até a terra estremeceu; de modo que houve grande pânico.
16 Olharam, pois, as
sentinelas de Saul a Gibeá de Benjamim, e eis que a multidão se derretia,
fugindo para cá e para lá.
17 Disse então Saul ao
povo que estava com ele: Ora, contai e vede quem é que saiu dentre nós: E
contaram, e eis que nem Jônatas nem o seu escudeiro estava ali.
18 Então Saul disse a
Aíja: Traze aqui a arca de Deus. Pois naquele dia estava a arca de Deus com os
filhos de Israel.
19 E sucedeu que, estando
Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos filisteus
ia crescendo muito; pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua mão.
20 Então Saul e todo o
povo que estava com ele se reuniram e foram à peleja; e eis que dentre os
filisteus a espada de um era contra o outro, e houve mui grande derrota.
21 Os hebreus que estavam
dantes com os filisteus, e tinham subido com eles ao arraial, também se
ajuntaram aos israelitas que estavam com Saul e Jônatas.
22 E todos os homens de
Israel que se haviam escondido na região montanhosa de Efraim, ouvindo que os
filisteus fugiam, também os perseguiram de perto na peleja.
23 Assim o Senhor livrou
a Israel naquele dia, e a batalha passou além de Bete-Aven.
24 Ora, os homens de
Israel estavam já exaustos naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo,
dizendo: Maldito o homem que comer pão antes da tarde, antes que eu me vingue
de meus inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de comer.
25 Mas todo o povo chegou
a um bosque, onde havia mel à flor da terra.
26 Chegando, pois, o povo
ao bosque, viu correr o mel; todavia ninguém chegou a mão à boca, porque o povo
temia a conjuração.
27 Jônatas, porém, não
tinha ouvido quando seu pai conjurara o povo; pelo que estendeu a ponta da vara
que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, ao chegar a mão à boca,
aclararam-se-lhe os olhos.
28 Então disse um do
povo: Teu pai solenemente conjurou o povo, dizendo: Maldito o homem que comer
pão hoje. E o povo ainda desfalecia.
29 Pelo que disse
Jônatas: Meu pai tem turbado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos
por ter provado um pouco deste mel.
30 Quanto maior não teria
sido a derrota dos filisteus se o povo hoje tivesse comido livremente do
despojo, que achou de seus inimigos?
31 Feriram, contudo,
naquele dia aos filisteus, desde Micmás até Aijalom. E o povo desfaleceu em
extremo;
32 então o povo se lançou
ao despojo, e tomou ovelhas, bois e bezerros e, degolando-os no chão, comeu-os
com o sangue.
33 E o anunciaram a Saul,
dizendo: Eis que o povo está pecando contra o Senhor, comendo carne com o
sangue. Respondeu Saul: Procedestes deslealmente. Trazei-me aqui já uma grande
pedra.
34 Disse mais Saul:
Dispersai-vos entre e povo, e dizei-lhes: Trazei-me aqui cada um o seu boi, e
cada um a sua ovelha e degolai-os aqui, e comei; e não pequeis contra e Senhor,
comendo com sangue. Então todo o povo trouxe de noite, cada um o seu boi, e os
degolaram ali.
35 Então edificou Saul um
altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que ele edificou ao Senhor.
36 Depois disse Saul:
Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despojemo-los, até o amanhecer, e não
deixemos deles um só homem. E o povo disse: Faze tudo o que parecer bem aos
teus olhos. Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus.
37 Então consultou Saul a
Deus, dizendo: Descerei atrás dos filisteus? entregá-los-ás na mão de Israel?
Deus, porém, não lhe respondeu naquele dia.
38 Disse, pois, Saul:
Chegai-vos para cá, todos os chefes do povo; informai-vos, e vede em quem se
cometeu hoje este pecado;
39 porque, como vive o
Senhor que salva a Israel, ainda que seja em meu filho Jônatas, ele será morto.
Mas de todo o povo ninguém lhe respondeu.
40 Disse mais a todo o
Israel: Vós estareis dum lado, e eu e meu filho Jônatas estaremos do outro.
Então disse o povo a Saul: Faze o que parecer bem aos teus olhos.
41 Falou, pois, Saul ao
Senhor Deus de Israel: Mostra o que é justo. E Jônatas e Saul foram tomados por
sorte, e o povo saiu livre.
42 Então disse Saul:
Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi tomado Jônatas.
43 Disse então Saul a
Jônatas: Declara-me o que fizeste. E Jônatas lho declarou, dizendo: Provei, na
verdade, um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão; eis-me pronto a
morrer.
44 Ao que disse Saul:
Assim me faça Deus, e outro tanto, se tu, certamente, não morreres, Jônatas.
45 Mas o povo disse a
Saul: Morrerá, porventura, Jônatas, que operou esta grande salvação em Israel?
Tal não suceda! como vive o Senhor, não lhe há de cair no chão um só cabelo da
sua cabeça! pois com Deus fez isso hoje. Assim o povo livrou Jônatas, para que
não morresse.
46 Então Saul deixou de
perseguir os filisteus, e estes foram para o seu lugar.
47 Tendo Saul tomado o
reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra
Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra
os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se
valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o
saqueavam.
49 Ora, os filhos de Saul
eram Jônatas, Isvi e Malquisua; os nomes de suas duas filhas eram estes: o da
mais velha Merabe, e o da mais nova Mical.
50 O nome da mulher de
Saul era Ainoã, filha de Aimaaz; e o nome do chefe do seu exército, Abner,
filho de Ner, tio de Saul.
51 Quis, pai de Saul, e
Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel.
52 E houve forte guerra
contra os filisteus, por todos os dias de Saul; e sempre que Saul via algum
homem poderoso e valente, o agregava a si.” (I Sm 14.1-52)
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