sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Caráter Reprovado de Saul – I Samuel 14



Saul pusera a sua confiança nos homens e não em Deus, e continuou fazendo isto, pois nós vemos a citação no final deste 14º capítulo de I Samuel, que estaremos comentando, que afirma que todo homem poderoso e valente que Saul via, ele o agregava a si (v. 52).
Este é o incorrigível Saul, que tendo escolhido 3.000 homens para o acompanharem aonde quer que fosse, é achado no início da narrativa deste capitulo com apenas 600 homens.
Os outros fugiram de medo dos filisteus e o abandonaram. E o que ele poderia fazer com este punhado de homens desarmados contra o poderoso exército dos filisteus, sem a fé de um Gideão e os seus trezentos?
Mas independentemente das loucuras de Saul, Deus mais uma vez assistiu os israelitas e lhes abençoou com a vitória, porque quando Ele intervém em favor do Seu povo, não é por haverem muitos ou poucos ao Seu lado, que Ele dá a vitória, como aprendemos do exemplo de Gideão, e da ação do próprio Jônatas, que destruiu a guarnição de filisteus de Gibeá, dizendo as seguintes palavras, que revelam a grande fé que Ele tinha em Deus: “operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (v. 6).
De igual modo na Igreja de Cristo as bênçãos determinadas por Deus continuam a ser derramadas pelo Espírito Santo ao seu povo, independentemente da insensatez de muitos dos seus líderes.
Caso os livramentos e bênçãos do Senhor dependessem da sabedoria e fidelidade plena dos que lideram a Igreja, de há muito ela já teria desaparecido da terra, e os cristãos teriam sido subjugados pelo reino das trevas, porque tanto os líderes, quanto o povo do Senhor, permanecem imerecedores dos Seus grandes livramentos, porque não se vê na maior parte dos cristãos o tanto da fidelidade que deveria haver neles.
Não que com isso o Senhor deixe de disciplinar, corrigir e sujeitar a juízos a muitos dentre os que andam desordenadamente na Sua presença, mas a história da Igreja tem testemunhado que a proteção da Igreja está debaixo inteiramente da Soberania e da misericórdia do Senhor e não a uma fidelidade completa do Seu povo, que como no dizer de Tiago, tropeça em muitas coisas.
Esta vitória dos israelitas sobre os filisteus, bem ilustra este ponto.
E eles só não tiveram uma vitória maior, por causa dos desatinos de Saul, que na sua precipitação colocou sob pena de anátema a todo aquele que comesse pão, antes dele subjugar inteiramente os seus inimigos.
Isto deu ocasião a que os guerreiros de Israel desfalecessem de fome e que o seu próprio filho Jônatas ficasse debaixo da maldição, que ele havia proferido, pois havia comido um pouco de mel, sem nada saber sobre a maldição que seu pai havia proferido.
Além disso, tal deliberação expôs o povo a comer carne com sangue, depois da batalha, em razão da grande extenuação em que se encontravam.
A medida que Saul tomou para impedir que continuassem comendo carne com o sangue, pode revelar aparentemente alguma forma de zelo dele pela Palavra de Deus, mas na verdade queria apenas se livrar de algum possível juízo da parte dEle, de maneira que não pudesse continuar prevalecendo contra os filisteus, conforme havia decidido fazer já a partir do cair da tarde daquele mesmo dia.     
Não havia um real temor da Palavra do Senhor nele, porque cometeu dentre os erros que já citamos, mais o que é declarado neste capítulo, de ter decidido trazer a arca da aliança de Quiriate-Jearim para o campo de batalha, e isto lhe traria a mesma ruína que sucedeu ao povo de Israel nos dias de Eli, por cometerem tal erro.
Alguns mais sábios e prudentes do que ele decidiram não lhe dar ouvido e a arca permaneceu no mesmo lugar.
Ele queria usar, como os israelitas do passado, a arca como um talismã, tal como os pagãos fazem com os seus deuses.
Além disso, convocou para o campo de batalha o neto de Fineias, sobrinho de Icabode, que trazia na ocasião a estola sacerdotal em Siló.
Ele não percebeu que a glória do Senhor havia se retirado de Siló, e pouco se importou em dar honra ao Senhor, insistindo com Ele na restauração do culto do tabernáculo.
Mas agora, na sua costumeira precipitação e obstinação, decidiu agir seguindo os seus impulsos, e assim mesmo tenta obter uma resposta de Deus, se deveria ou não, continuar em perseguição aos filisteus.
O resultado, como era de se esperar, é que Deus não lhe deu nenhuma resposta através do neto de Fineias.
É bem provável que Deus não falaria com ele nesta ocasião, nem mesmo através de Samuel, pois já lhe havia rejeitado, como vimos no capítulo anterior.
Ele atribuiu apressadamente o fato de Deus não falar com ele, ao pecado praticado por alguém.
Ele procurou mais uma vez uma justificativa para o seu insucesso com o Senhor, e estava procurando um culpado.
Para que ficasse ainda mais atestada a sua loucura e insensatez, foi permitido pelo Senhor que o lançamento de sortes recaísse sobre Jônatas, de modo que a questão do anátema precipitado que ele proferira viesse à tona e se revelasse qual seria o seu comportamento em relação ao próprio filho.
De um homem que tinha sido ungido por Deus para reinar em Seu nome deveria se esperar coisas melhores, assim como estas são esperadas de verdadeiros cristãos, que levam  sobre si o nome do Senhor (Hb 6.9).
O anátema não foi proferido em nome do Senhor e assim não tinha nenhuma obrigatoriedade de ser cumprido.
Saul poderia tê-lo revogado, e se arrependido de tê-lo proferido ao observar o grande dano que havia produzido em sua própria tropa.
Mas a sua vaidade não lhe permitiria isto, e então decidiu que o próprio filho deveria ser morto, e só não  foi por causa do povo que intercedeu em seu favor.
Para acobertar o seu erro, demonstrou uma falsa piedade e zelo pelo Senhor, ordenando ao povo que não comesse mais carne com sangue, mas que os animais tomados em despojo dos filisteus fossem oferecidos em sacrifício no altar que mandou construir, de modo que não viessem a pecar comendo carne com sangue.
Saul é assim. Ele tenta nos confundir e enganar, mostrando ao mesmo tempo um zelo aparente por Deus, enquanto está lutando a todo custo pela sua própria honra pessoal, e para a preservação e engrandecimento do seu próprio nome e reputação.   
Desta forma, não é para a honra dele, mas para exibir a grande misericórdia do Senhor, que estão registradas as palavras que nós lemos sobre as suas conquistas nos versos 47 e 48:
“47 Tendo Saul tomado o reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.”.
 Uma tal citação não foi interpretada pelo autor de Hebreus como o resultado da fé e obediência de Saul, mas como pura misericórdia de Deus que havia determinado estender os termos de Israel já a partir dos seus dias para entregar o reino a Davi, que era um homem segundo o seu coração. Não é portanto de se admirar que apesar de a narrativa bíblica ser bastante longa em relação a Saul, que o seu nome não conste na galeria dos heróis da fé de Hebreus 11.
Na verdade, o seu nome não é citado em todo o Novo Testamento, senão em At 13.21, em profundo contraste com o de Davi, pois o que certamente a revelação divina queria destacar é este profundo contraste que há entre um ministro que é segundo o coração de Deus e aquele que não o é.




“1 Sucedeu, pois, um dia, que Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição dos filisteus, que está do outro lado. Mas não o fez saber a seu pai.
2 Ora Saul estava na extremidade de Gibeá, debaixo da romeira que havia em Migrom; e o povo que estava com ele era cerca de seiscentos homens;
3 e Aíja, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Fineias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia a estola sacerdotal. E o povo não sabia que Jônatas tinha ido.
4 Ora, entre os desfiladeiros pelos quais Jônatas procurava chegar à guarnição dos filisteus, havia um penhasco de um e de outro lado; o nome de um era Bozez, e o nome do outro Sené.
5 Um deles estava para o norte defronte de Micmás, e o outro para o sul defronte de Gibeá.
6 Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura operará o Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos.
7 Ao que o seu escudeiro lhe respondeu: Faze tudo o que te aprouver; segue, eis-me aqui, a tua disposição será a minha.
8 Disse Jônatas: Eis que passaremos àqueles homens, e nos descobriremos a eles.
9 Se nos disserem: Parai até que cheguemos a vós; então ficaremos no nosso lugar, e não subiremos a eles.
10 Se, porém, disserem: Subi a nós; então subiremos, pois o Senhor os entregou em nossas mãos; isso nos será por sinal.
11 Então ambos se descobriram à guarnição dos filisteus, e os filisteus disseram: Eis que já os hebreus estão saindo das cavernas em que se tinham escondido.
12 E os homens da guarnição disseram a Jônatas e ao seu escudeiro: Subi a nós, e vos ensinaremos uma coisa. Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o Senhor os entregou na mão de Israel.
13 Então trepou Jônatas de gatinhas, e o seu escudeiro atrás dele; e os filisteus caíam diante de Jônatas, e o seu escudeiro os matava atrás dele.
14 Esta primeira derrota, em que Jônatas e o seu escudeiro mataram uns vinte homens, deu-se dentro de meia jeira de terra.
15 Pelo que houve tremor no arraial, no campo e em todo o povo; também a própria guarnição e os saqueadores tremeram; e até a terra estremeceu; de modo que houve grande pânico.
16 Olharam, pois, as sentinelas de Saul a Gibeá de Benjamim, e eis que a multidão se derretia, fugindo para cá e para lá.
17 Disse então Saul ao povo que estava com ele: Ora, contai e vede quem é que saiu dentre nós: E contaram, e eis que nem Jônatas nem o seu escudeiro estava ali.
18 Então Saul disse a Aíja: Traze aqui a arca de Deus. Pois naquele dia estava a arca de Deus com os filhos de Israel.
19 E sucedeu que, estando Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos filisteus ia crescendo muito; pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua mão.
20 Então Saul e todo o povo que estava com ele se reuniram e foram à peleja; e eis que dentre os filisteus a espada de um era contra o outro, e houve mui grande derrota.
21 Os hebreus que estavam dantes com os filisteus, e tinham subido com eles ao arraial, também se ajuntaram aos israelitas que estavam com Saul e Jônatas.
22 E todos os homens de Israel que se haviam escondido na região montanhosa de Efraim, ouvindo que os filisteus fugiam, também os perseguiram de perto na peleja.
23 Assim o Senhor livrou a Israel naquele dia, e a batalha passou além de Bete-Aven.
24 Ora, os homens de Israel estavam já exaustos naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão antes da tarde, antes que eu me vingue de meus inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de comer.
25 Mas todo o povo chegou a um bosque, onde havia mel à flor da terra.
26 Chegando, pois, o povo ao bosque, viu correr o mel; todavia ninguém chegou a mão à boca, porque o povo temia a conjuração.
27 Jônatas, porém, não tinha ouvido quando seu pai conjurara o povo; pelo que estendeu a ponta da vara que tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, ao chegar a mão à boca, aclararam-se-lhe os olhos.
28 Então disse um do povo: Teu pai solenemente conjurou o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão hoje. E o povo ainda desfalecia.
29 Pelo que disse Jônatas: Meu pai tem turbado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos por ter provado um pouco deste mel.
30 Quanto maior não teria sido a derrota dos filisteus se o povo hoje tivesse comido livremente do despojo, que achou de seus inimigos?
31 Feriram, contudo, naquele dia aos filisteus, desde Micmás até Aijalom. E o povo desfaleceu em extremo;
32 então o povo se lançou ao despojo, e tomou ovelhas, bois e bezerros e, degolando-os no chão, comeu-os com o sangue.
33 E o anunciaram a Saul, dizendo: Eis que o povo está pecando contra o Senhor, comendo carne com o sangue. Respondeu Saul: Procedestes deslealmente. Trazei-me aqui já uma grande pedra.
34 Disse mais Saul: Dispersai-vos entre e povo, e dizei-lhes: Trazei-me aqui cada um o seu boi, e cada um a sua ovelha e degolai-os aqui, e comei; e não pequeis contra e Senhor, comendo com sangue. Então todo o povo trouxe de noite, cada um o seu boi, e os degolaram ali.
35 Então edificou Saul um altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que ele edificou ao Senhor.
36 Depois disse Saul: Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despojemo-los, até o amanhecer, e não deixemos deles um só homem. E o povo disse: Faze tudo o que parecer bem aos teus olhos. Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus.
37 Então consultou Saul a Deus, dizendo: Descerei atrás dos filisteus? entregá-los-ás na mão de Israel? Deus, porém, não lhe respondeu naquele dia.
38 Disse, pois, Saul: Chegai-vos para cá, todos os chefes do povo; informai-vos, e vede em quem se cometeu hoje este pecado;
39 porque, como vive o Senhor que salva a Israel, ainda que seja em meu filho Jônatas, ele será morto. Mas de todo o povo ninguém lhe respondeu.
40 Disse mais a todo o Israel: Vós estareis dum lado, e eu e meu filho Jônatas estaremos do outro. Então disse o povo a Saul: Faze o que parecer bem aos teus olhos.
41 Falou, pois, Saul ao Senhor Deus de Israel: Mostra o que é justo. E Jônatas e Saul foram tomados por sorte, e o povo saiu livre.
42 Então disse Saul: Lançai a sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi tomado Jônatas.
43 Disse então Saul a Jônatas: Declara-me o que fizeste. E Jônatas lho declarou, dizendo: Provei, na verdade, um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão; eis-me pronto a morrer.
44 Ao que disse Saul: Assim me faça Deus, e outro tanto, se tu, certamente, não morreres, Jônatas.
45 Mas o povo disse a Saul: Morrerá, porventura, Jônatas, que operou esta grande salvação em Israel? Tal não suceda! como vive o Senhor, não lhe há de cair no chão um só cabelo da sua cabeça! pois com Deus fez isso hoje. Assim o povo livrou Jônatas, para que não morresse.
46 Então Saul deixou de perseguir os filisteus, e estes foram para o seu lugar.
47 Tendo Saul tomado o reino sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe, contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra os filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente, derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.
49 Ora, os filhos de Saul eram Jônatas, Isvi e Malquisua; os nomes de suas duas filhas eram estes: o da mais velha Merabe, e o da mais nova Mical.
50 O nome da mulher de Saul era Ainoã, filha de Aimaaz; e o nome do chefe do seu exército, Abner, filho de Ner, tio de Saul.
51 Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel.
52 E houve forte guerra contra os filisteus, por todos os dias de Saul; e sempre que Saul via algum homem poderoso e valente, o agregava a si.” (I Sm 14.1-52)

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