Em II Crôn 33.10-19 nós temos o relato da conversão
do rei Manassés, depois de ter sido preso pelos assírios e deportado para
Babilônia, porque no seu exílio se humilhou diante do Senhor, e se arrependeu
dos seus pecados, especialmente de todo o mal que fizera a Judá, por ter
reintroduzido a idolatria que seu pai Ezequias havia erradicado em seus dias.
É bem provável que as condições de prosperidade e
de paz do reino que ele experimentou até os 12 anos, enquanto seu pai vivia,
somadas à aflição do seu cativeiro em Babilônia, devem ter contribuído muito
para o seu arrependimento.
Nós não sabemos explicar porque alguns homens como
Davi, Ezequias e Josias, por exemplo, perseveram em seguir ao Senhor todos os
dias das suas vidas; e porque outros se permitem desviar no fim dos seus dias
como foi o caso de Salomão, Joás e Uzias, e ainda de outros, que apesar do bom
testemunho de seus pais, como foi o caso de Manassés, não seguem logo os seus passos,
e atraídos pelo mundo e governados pelos desejos da carne, adiam por muito
tempo a decisão de consagrarem suas vidas a Deus.
Então, nós encontramos este período de densas
trevas na história de Judá, porque o filho de um rei piedoso não se dispôs a
seguir o exemplo que fora deixado pelo seu pai, e se entregou à prática de todo
tipo de abominações aos olhos do Senhor, como por exemplo a adoração do deus
Moloque, tendo inclusive oferecido seus
filhos em holocausto a ele (II Rs 21.6), e recorreu também aos adivinhos e
feiticeiros, e como se isto fosse pouco, ainda profanou o templo do Senhor
colocando nele altares para sacrificar a outros deuses e uma Aserá (II Rs 21.4,5
e 7).
E foi por causa desta profanação do templo,
consentida pelos judeus, que o Senhor decretou o seu cativeiro (v. 14), assim
como pelos crimes contra inocentes que Manassés praticara (24.3,4).
Deus enviaria os judeus ao cativeiro porque sabia
que a idolatria e a injustiça estava no coração deles, porque senão, em caso
contrário teriam resistido ao que Manassés estava fazendo.
E os atos de Manassés colocaram à prova o que
estava de fato no coração deles, mesmo quando se encontravam sob Ezequias, e ao
que parece, haviam se rendido às suas reformas por obrigação, mas não com um
coração voluntário, e pronto para servir ao Senhor, por amarem de fato a Sua
vontade e Palavra.
E isto se confirma no verso 15, onde o Senhor diz
qual era a causa do cativeiro que Ele havia sentenciado no verso anterior (14):
“porquanto fizeram o que era mau aos meus olhos, e
me provocaram à ira, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até hoje.” (II
Rs 21.15).
Isto é, na verdade foi por amor aos patriarcas que
o Senhor os suportou por todo aquele tempo, desde a saída do Egito, porque
nunca o amaram a ponto de fazerem toda a Sua vontade, revelando ao mundo, que
era um povo justo e santo, por guardarem os mandamentos do Seu Deus.
Como seguiram os passos de Manasses, é dito no
verso 16 que ele havia derramado muito sangue inocente, isto é, eles pagaram o preço
por terem confirmado no trono as injustiças de um rei injusto, que certamente
se voltaria contra eles, não julgando com justiça, sentenciando à morte quem
não era merecedor disto segundo a Lei.
Esta desordem social produziu as condições
favoráveis para que a iniquidade se multiplicasse em Judá nos dias de Manassés,
de forma que lemos o seguinte em II Crôn 33.9:
“Manassés tanto fez errar a Judá e aos moradores de
Jerusalém, que eles fizeram o mal, ainda mais do que as nações que o Senhor
tinha destruído de diante dos filhos de Israel.” (II Crôn 33.9).
Por isso, devemos ter muito cuidado quando
pregarmos ou ensinarmos sobre o perdão de Deus, tomando a vida de Manassés como
exemplo, pelo fato dele ter se convertido próximo ao final do seu longo reinado
de injustiças de 55 anos.
Por que qual é a honra que estaremos dando ao
Senhor enfatizando a disponibilidade do Seu perdão para quem viveu de modo tão
contrário à Sua vontade e que serviu grandemente ao Inimigo na destruição de
tantas vidas?
Que isto não sirva portanto de incentivo, ainda que
indiretamente, para dizer que as pessoas podem permanecer nos seus pecados e
adiarem o mais possível a sua conversão, porque estamos afinal diante de um
Deus perdoador.
Longe de nós tal atitude, por que como poderia o
Senhor aprovar um tal pensamento?
Isto equivale a fazer aquilo que Paulo condena com
uma pergunta que traz a resposta em si mesma: “permaneceremos no pecado para
que a graça seja mais abundante?”.
Ainda que permaneça verdadeiro que Deus pode
perdoar os piores pecadores, no entanto, não traz nenhuma glória ao Seu nome
que alguém viva a transgredir deliberadamente a Sua vontade, por abusar da Sua
graça e do Seu perdão.
Os que agem deste modo correm um grande risco, que
somente os insensatos ousam experimentar.
É preciso lembrar que Jesus não condenou aquela
mulher adúltera, em face do arrependimento demonstrado por ela, mas também lhe
disse que não pecasse mais dali em diante.
Ele também disse para aquele paralítico que curou
junto ao tanque de Betesda, que não pecasse mais, para que não lhe sucedesse
algo pior.
E é o próprio Jesus quem nos ensinou também que se
um demônio é expulso de alguém, que permanece escravizado ao pecado, esta
pessoa virá a ser possuída por sete espíritos malignos piores ainda do que o
primeiro, caso não se consagre a Deus.
Muitas outras passagens bíblicas poderiam ser
citadas para que entendamos que não
podemos confundir o perdão do Senhor aos nossos pecados como um indulto
para que continuemos pecando, ou pensarmos que o fato de adiarmos a nossa
conversão possa de alguma forma Lhe trazer qualquer tipo de glória, honra ou
agrado.
Longe de nós tal pensamento.
A loucura e insensatez de Manassés, ainda que ele
tivesse se convertido, veio a influenciar o seu filho Amom, e nisto se
demonstra uma grande outra desvantagem em se viver no pecado.
Amom, que passou a reinar depois da morte de
Manassés, seguiu os passos do seu pai, não no que se referia ao bem, mas ao mal
que havia aprendido com ele no seu período de transgressor voluntário da
vontade do Senhor.
E assim ele tornou a reedificar os altares que
Manassés havia destruído depois que se converteu ao Senhor (II Rs 21.20 a 22).
Ele tinha somente 22 anos quando começou a reinar,
e como se vislumbrava nele o mesmo caminho de injustiças de Manassés, os seus
próprios servos o mataram em sua casa, e com isto ele reinou somente dois anos
(II Rs 21. 23).
Josias, filho de Amom era muito menino quando
mataram seu pai, mas ele foi conduzido ao trono quando era ainda uma criança,
como veremos no capítulo seguinte (v. 24, 26), afastado o risco de ser extinta
a descendência de Davi por um possível assassinato dele por parte daqueles que
mataram Amom com a possível intenção de se apoderarem do trono, porque o povo
de Judá não somente preservou a vida de Josias, como também mataram aqueles que
haviam assassinado o seu pai (v. 24).
“1 Manassés tinha doze anos quando começou a
reinar, e reinou cinquenta e cinco anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era
Hefzibá.
2 E fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme
as abominações das nações que o Senhor desterrara de diante dos filhos de
Israel.
3 Porque tornou a edificar os altos que Ezequias,
seu pai, tinha destruído, e levantou altares a Baal, e fez uma Asera como a que
fizera Acabe, rei de Israel, e adorou a todo o exército do céu, e os serviu.
4 E edificou altares na casa do Senhor, da qual o
Senhor tinha dito: Em Jerusalém porei o meu nome.
5 Também edificou altares a todo o exército do céu
em ambos os átrios da casa do Senhor.
6 E até fez passar seu filho pelo fogo, e usou de
augúrios e de encantamentos, e instituiu adivinhos e feiticeiros; fez muito mal
aos olhos do Senhor, provocando-o à ira.
7 Também pôs a imagem esculpida de Asera, que tinha
feito, na casa de que o Senhor dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta
casa e em Jerusalém, que escolhi dentre todas as tribos de Israel, porei o meu
nome para sempre;
8 e não mais farei andar errante o pé de Israel
desta terra que tenho dado a seus pais, contanto que somente tenham cuidado de
fazer conforme tudo o que lhes tenho ordenado, e conforme toda a lei que
Moisés, meu servo, lhes ordenou.
9 Eles, porém, não ouviram; porque Manassés de tal
modo os fez errar, que fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha
destruído de diante dos filhos de Israel.
10 Então o Senhor falou por intermédio de seus
servos os profetas, dizendo:
11 Porquanto Manassés, rei de Judá, cometeu estas
abominações, fazendo pior do que tudo quanto fizeram os amorreus, que foram
antes dele, e com os seus ídolos fez Judá também pecar;
12 por isso assim diz o Senhor Deus de Israel: Eis
que trago tais males sobre Jerusalém e Judá, que a qualquer que deles ouvir lhe
ficarão retinindo ambos os ouvidos.
13 Estenderei sobre Jerusalém o cordel de Samaria e
o prumo da casa de Acabe; e limparei Jerusalém como quem limpa a escudela,
limpando-a e virando-a sobre a sua face.
14 Desampararei os restantes da minha herança, e os
entregarei na mão de seus inimigos. tornar-se-ão presa e despojo para todos os
seus inimigos;
15 porquanto fizeram o que era mau aos meus olhos,
e me provocaram à ira, desde o dia em que seus pais saíram do Egito até hoje.
16 Além disso, Manassés derramou muitíssimo sangue
inocente, até que encheu Jerusalém de um a outro extremo, afora o seu pecado
com que fez Judá pecar fazendo o que era mau aos olhos do Senhor.
17 Quanto ao restante dos atos de Manassés, e a
tudo quanto fez, e ao pecado que cometeu, porventura não estão escritos no
livro das crônicas dos reis de Judá?
18 E Manassés dormiu com seus pais, e foi sepultado
no jardim da sua casa, no jardim de Uzá. E Amom, seu filho, reinou em seu
lugar.
19 Amom tinha vinte e dois anos quando começou a
reinar, e reinou dois anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Mesulemete,
filha de Haniz, de Jotba.
20 Ele fez o que era mau aos olhos do Senhor, como
fizera Manassés, seu pai;
21 e andou em todo o caminho em que seu pai andara,
e serviu os ídolos que ele tinha servido, e os adorou.
22 Assim deixou o Senhor, Deus de seus pais, e não
andou no caminho do Senhor.
23 E os servos de Amom conspiraram contra ele, e o
mataram em sua casa.
24 O povo da terra, porém, matou a todos os que
conspiraram contra o rei Amom, e constituiu Josias, seu filho, rei em seu
lugar.
25 Quanto ao restante dos atos de Amom, porventura
não está escrito no livro das crônicas dos reis de Judá?
26 E o puseram na sua sepultura, no jardim de Uzá.
E Josias, seu filho, reinou em seu lugar.” (II Rs 21.1-26).
Nenhum comentário:
Postar um comentário