Quando Jeroboão I instituiu o culto aos bezerros de
ouro em Israel, logo no início da divisão do reino de Israel em Reino do Norte
e Reino do Sul, o nome de Josias havia sido anunciado pelo profeta que Deus
havia enviado a Jeroboão, para protestar contra o culto idolátrico que ele
havia introduzido em Israel.
O Reino do Norte já havia sido extinto quando
Josias começou a reinar, então aquela profecia tinha mais a ver com o prenúncio
da piedade deste rei que o Senhor conhecera em Sua presciência, do que com um
juízo localizado sobre a idolatria de Jeroboão.
Aquela profecia trazia então uma mensagem de
condenação às vidas dos reis ímpios de Israel, aos seus sacerdotes idólatras,
aos príncipes e todo o povo de Israel, que sempre cultuariam os bezerros de
ouro, desde os dias de Jeroboão I, até o dia em que Israel seria extinto pela
sua expulsão da terra pela Assíria, através da vida piedosa daquele rei que se
levantaria no futuro em Judá, e que revelaria qual era o modo que os reis de
Israel, seus sacerdotes, príncipes e o próprio povo deveriam ter vivido na
presença de Deus, conforme a obrigação que tinham para com Ele, em razão da
aliança que havia feito com os israelitas desde os dias de Moisés.
Nesta altura do nosso comentário nós lembramos das
palavras proferidas pelo profeta Samuel ao rei Saul quanto este desobedecendo a
ordem do Senhor poupou o rei Agague dos amalequitas, e os animais do seu
rebanho sob o pretexto de que pretendia oferecê-los como sacrifício a Deus:
“Tem porventura o Senhor tanto prazer em
holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua Palavra?” (I Sm 15.22
a).
Realmente este é o único modo de se servir e
agradar ao Senhor, a saber, honrar e cumprir a Sua Palavra.
E foi isto que o rei Josias se dispôs a fazer
quando o livro da lei foi achado no templo pelo sacerdote Hilquias, conforme se
vê no capítulo seguinte a este 22º de II reis, que estamos comentando.
Por que havia tantos altares espalhados em todas as
nações, como também em Israel e Judá?
Por que eram oferecidos tantos sacrifícios e tanto
incenso era queimado nestes altares?
Não era porque eles queriam alcançar o favor dos
seus deuses?
Sim, não há dúvida. Eram dias de muitas guerras,
muitas enfermidades e poucos recursos médicos, e não eram raras as mortes por
simples infecções.
Então tudo isto chamava a necessidade da proteção
de um ser superior, de uma divindade à qual se pudesse recorrer, não somente na
hora da necessidade, mas em todo o tempo para se prevenir do mal.
Mas por que os israelitas faziam isto sabendo que o
Senhor o havia proibido expressamente na Lei de Moisés e mostrava o Seu
desagrado pelas palavras dos profetas e de todos os juízos que trazia sobre
eles?
Simplesmente porque lhes era mais cômodo seguir os
costumes das nações pagãs e continuarem fazendo a própria vontade pecaminosa e
supersticiosa deles, do que se submeterem aos mandamentos e à vontade do
Senhor.
Quando lemos os textos bíblicos sobre a necessidade
de se guardar a Palavra de Deus, é que nós podemos entender melhor de que
espírito estava imbuído o rei Josias.
Ele queria agradar ao Senhor completamente, e
percebeu que havia somente um modo de fazê-lo: por uma estrita obediência aos
Seus mandamentos.
Por um desejo intenso de guardá-los em todas as
suas minúcias, sabendo que eles expressam a vontade do Deus Altíssimo para
todos os Seus filhos.
Não faz justiça à piedade de Josias pensar que ele
se dispôs a guardar a Palavra de Deus somente porque temeu os juízos que
estavam proferidos na Lei de Moisés sobre o pecado que Deus traria sobre os
judeus por terem transgredido os Seus mandamentos, e em razão das ameaças dos
castigos previstos na Lei.
Obviamente que tais juízos encheram de temor o Seu
coração, mas foi por um genuíno amor à vontade do Senhor revelada na Sua
Palavra, que ele se dispôs completamente a praticá-la.
Pelo testemunho das Escrituras, Deus demonstrou a
impossibilidade de ser o Deus de uma aliança eterna com todas as pessoas, sem
exceção, de um povo formado pelo processo da descendência natural como era o
caso de Israel, levando-se em conta a necessidade de santificação pela Sua
Palavra e por o amor à Sua Palavra, porque ficou mais do que comprovado que a
maioria dos israelitas não amavam ao Senhor.
Então aquela antiga dispensação deveria ser
substituída por uma nova, e aquela antiga aliança também deveria ser
substituída por uma outra aliança, através da qual Deus não aceitaria a ninguém
mais como sendo parte do Seu povo, que não tivesse nascido de novo do Espírito
Santo.
E esta é a diferença da palavra de salvação do
evangelho em relação à antiga dispensação.
Isto é algo maravilhoso e realmente extraordinário
porque apesar de qualquer pessoa ignorante ou não, pobre ou não, muito pecadora
ou não, enfim estando ela em qualquer condição pode ter a esperança de vir a
fazer parte do povo de Deus pela fé em Jesus, que lhe justificará e trará a
regeneração e santificação do Espírito Santo.
Este é o único modo de Deus poder formar um povo
com o qual possa estar aliançado numa aliança eterna na condição de Pai com
Seus filhos.
Mas isto não exclui a necessidade de se guardar os
Seus mandamentos, porque apesar de estarem seguros agora na aliança que têm com
Ele, por meio da fé em Cristo, no entanto necessitam ser purificados pela
Palavra na preparação para aquela vida de completa santidade que terão no céu.
É por isso que nós vemos que tendo sido atestada a
necessidade desta Nova Aliança em Cristo para a formação do povo de Deus, que
especialmente nos dias em que tanto Israel quanto Judá estavam prestes para
serem expulsos da terra da promessa, que as profecias apontavam muito mais para
o Messias e para o futuro do seu reino glorioso do que propriamente para uma
chamada dos israelitas a abandonarem os seus pecados e se converterem a Deus.
Na verdade, o Senhor sabia que estas chamadas ao
arrependimento não encontrariam eco na maior parte deles, mas seriam muito
necessárias para preservar um remanescente fiel quando do retorno do cativeiro
em Babilônia, para que pudesse reorganizar a vida religiosa de Israel, de
maneira a poder trazer o Messias ao mundo, para a inauguração de uma Nova
Aliança.
Então a Palavra do evangelho tem esta
característica de se chamar a todos em toda parte a se converterem de seus
pecados, para serem transformados em filhos de Deus, de modo que possam ser
contados como integrantes do Seu povo.
Para o cumprimento deste propósito, todas as
barreiras de separação impostas pela Antiga Aliança que faziam distinção entre
Israel e as nações pagãs caíram por terra, para que todos possam se aproximar
de Deus, em inteira certeza de fé, sabendo que serão aceitos como Seus filhos,
por causa da obra que Jesus realizou em favor deles, pagando o preço de todos
os seus pecados na cruz, e derramando o Espírito Santo em seus corações, para
que possam conhecer a Deus em espírito.
Assim faz sentido completamente o fato de o Senhor
ter determinado o cativeiro de Judá, mesmo nos dias em que Josias empreendia
suas reformas religiosas, e de estar se agradando tanto da vida deste rei
piedoso.
Isto se entende porque importava intensificar as
ações para se trazer Jesus ao mundo, para ser o Salvador de todas as nações.
Na Antiga Aliança, em razão do seu caráter, sempre
se levantariam pessoas como Acaz, Manassés, Amom, todos os reis ímpios do Reino
do Norte, e o povo não seria muito diferente deles, então como sempre foi do
propósito do Senhor, desde antes da criação do mundo, o Seu coração ardia para
inaugurar a Nova Aliança, da qual Ele deu testemunho pelos profetas.
Assim, é muito instrutivo ver que a determinação de
que Judá seria levado em cativeiro não foi pronunciada enquanto reinava um rei
ímpio, mas justamente o piedoso Josias, para que se visse que para se ter
filhos como este rei, e somente filhos como ele, que amassem o Senhor de todo o
coração e alma, isto seria possível senão por uma obra de transformação nos
corações dos pecadores, operada pelo Espírito Santo.
“26 Todavia o Senhor não se demoveu do ardor da sua
grande ira, com que ardia contra Judá por causa de todas as provocações com que
Manassés o provocara.
27 E disse o Senhor: Também a Judá hei de remover
de diante da minha face, como removi a Israel, e rejeitarei esta cidade de
Jerusalém que elegi, como também a casa da qual eu disse: Estará ali o meu
nome.” (II Rs 23.26,27).
E quando Josias se humilhou perante o Senhor, por
ter visto todos os juízos que Ele traria também sobre Judá, como já havia
trazido sobre o Reino do Norte (Israel), conforme havia lido no livro da lei,
ele pediu que o Senhor fosse consultado, e para isto foi convocada a profetiza
Hulda, e vale a pena ler a resposta que o Senhor lhe deu através dela, conforme
lemos na parte final deste capítulo, em II Reis 22.15-20.
“1 Josias tinha oito anos quando começou a reinar,
e reinou trinta e um anos em Jerusalém. O nome de sua mãe era Jedida, filha de
Adaías, de Bozcate.
2 Ele fez o que era reto aos olhos do Senhor; e
andou em todo o caminho de Davi, seu pai, não se apartando dele nem para a
direita nem para a esquerda.
3 No ano décimo oitavo do rei Josias, o rei mandou
o escrivão Safã, filho de Azalias, filho de Mesulão, à casa do Senhor,
dizendo-lhe:
4 Sobe a Hilquias, o sumo sacerdote, para que faça
a soma do dinheiro que se tem trazido para a casa do Senhor, o qual os guardas
da entrada têm recebido do povo;
5 e que só entreguem na mão dos mestres de obra que
estão encarregados da casa do Senhor; e que estes o dêem aos que fazem a obra,
aos que estão na casa do Senhor para repararem os estragos da casa,
6 aos carpinteiros, aos edificadores, e aos
pedreiros. e que comprem madeira e pedras lavradas, a fim de repararem a casa.
7 Contudo não se tomava conta a eles do dinheiro
que se lhes entregava nas mãos, porquanto se haviam com fidelidade.
8 Então disse o sumo sacerdote Hilquias ao escrivão
Safã: Achei o livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias entregou o livro a
Safã, e ele o leu.
9 Depois o escrivão Safã veio ter com o rei e,
dando ao rei o relatório, disse: Teus servos despejaram o dinheiro que se achou
na casa, e o entregaram na mão dos mestres de obra que estão encarregados da
casa do Senhor.
10 Safã, o escrivão, falou ainda ao rei, dizendo: O
sacerdote Hilquias me entregou um livro. E Safã o leu diante do rei.
11 E sucedeu que, tendo o rei ouvido as palavras do
livro da lei, rasgou as suas vestes.
12 Então o rei deu ordem a Hilquias, o sacerdote, a
Aicão, filho de Safã, a Acbor, filho de Micaías, a Safã, o escrivão, e Asaías,
servo do rei, dizendo:
13 Ide, consultai ao Senhor por mim, e pelo povo, e
por todo o Judá, acerca das palavras deste livro que se achou; porque grande é
o furor do Senhor, que se acendeu contra nós, porquanto nossos pais não deram
ouvidos às palavras deste livro, para fazerem conforme tudo quanto acerca de
nós está escrito.
14 Então o sacerdote Hilquias, e Aicão, e Acbor, e
Safã, e Asaías foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Salum, filho de
Ticvá, filho de Harás, o guarda das vestiduras (ela habitava então em
Jerusalém, na segunda parte), e lhe falaram.
15 E ela lhes respondeu: Assim diz o Senhor, o Deus
de Israel: Dizei ao homem que vos enviou a mim:
16 Assim diz o Senhor: Eis que trarei males sobre
este lugar e sobre os seus habitantes, conforme todas as palavras do livro que
o rei de Judá leu.
17 Porquanto me deixaram, e queimaram incenso a
outros deuses, para me provocarem à ira por todas as obras das suas mãos, o meu
furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará.
18 Todavia ao rei de Judá, que vos enviou para
consultar ao Senhor, assim lhe direis: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel:
Quanto às palavras que ouviste,
19 porquanto o teu coração se enterneceu, e te
humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e
contra os seus habitantes, isto é, que se haviam de tornar em assolação e em
maldição, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi,
diz o Senhor.
20 Pelo que eu te recolherei a teus pais, e tu
serás recolhido em paz à tua sepultura, e os teus olhos não verão todo o mal
que hei de trazer sobre este lugar. Então voltaram, levando a resposta ao rei.”
(II Rs 22.1-20).
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