Os governantes que estiveram em Judá, antes de
Neemias, nos quase sessenta anos depois de Zorobabel, nada haviam feito para
tirar o povo de Deus do estado de assolação e aflição em que se encontrava.
Quando Deus dispôs o coração de Neemias para fazer o
que nenhum deles havia feito, como é comum ocorrer toda vez que alguém é
levantado por Ele para o bem do Seu povo, Satanás também se levanta
imediatamente, e move todos os instrumentos que estiver ao seu alcance para se lhe
opor.
O diabo estava usando a estratégia de tentar
intimidar Neemias, sob a falsa acusação de que queria constituir rei a si
mesmo, para rebelar-se contra a Pérsia, conforme vemos neste 6º capítulo de
Neemias, que estaremos comentando.
Ele fez isto com Neemias, através dos governadores
Sambalate, Tobias e Gesem (v. 1), quando souberam que Neemias já havia
reconstruído o muro.
A obra que Deus lhe designara já havia sido
concluída, mas o diabo continuaria com os seus ataques, para matar Neemias e
assim trazer grande intranquilidade aos judeus.
Dissimuladamente, Sambalate e
Gesem convidaram Neemias, por cinco vezes consecutivas, para que viesse lhes
fazer uma visita de cortesia, mas Neemias discerniu que intentavam lhe fazer
mal (v.2), e se limitou a lhes responder que não poderia abandonar os seus
afazeres (v. 3).
Como receberam a mesma resposta de Neemias, por quatro vezes; na quinta,
Sambalate lhe enviou um mensageiro com uma carta lhe infamando, e lhe acusando
de que queria se revoltar fazendo-se rei dos judeus, e que para tanto havia
constituído profetas em Jerusalém para proclamá-lo rei (v. 7).
Neemias se limitou a lhe responder que estava mentindo, e dizendo coisas
que havia inventado (v. 8).
E como viu que apertavam contra ele com insinuações satânicas, para
atemorizá-lo, também orou a Deus que fortalecesse as suas mãos para prosseguir
na realização da obra, para a qual havia sido comissionado (v. 9).
Não tendo conseguido intimidar Neemias por esta maneira, avançaram com
suas estratégias por inspiração diabólica, subornando um profeta chamado
Semaías, que estando com Neemias em sua casa, o convidou a ser refugiar com ele
no interior do templo de Jerusalém, porque soube que havia um plano para
matá-lo naquela noite.
Pela natureza da mensagem propriamente dita, Neemias concluiu, segundo o
conhecimento que possuía da Lei de Moisés, que a profecia era falsa, e que o
profeta havia permitido ser subornado pelos inimigos de Deus, a saber, por
Sambalate e Tobias, para fazer a vontade do diabo (v.10-12).
O propósito deste ataque através de Semaías foi discernido por Neemias,
que afirmou que eles lhe haviam subornado para atemorizá-lo, e que agindo por
medo e precipitadamente, entrando na área sagrada do templo, o seu nome seria
infamado e vituperado (v. 13).
Mas qual seria o ganho do Inimigo com isto?
Total, porque ele seria acusado de não respeitar a Lei de Moisés e de não
ter o temor do Senhor, e assim tudo o que ele vinha fazendo em Judá seria
desacreditado.
Não foi somente o profeta Semaías que se deixou corromper, como também
uma profetisa de nome Noadis e outros profetas, que debandaram para o lado de
Tobias e Sambalate (v. 13,14).
Todavia, a par de toda oposição que Neemias havia sofrido, concluiu a
obra de reconstrução do muro em apenas 52 dias, o que fez com que todos os
povos inimigos viessem a temer e a se abater, porque viram que a mão miraculosa
do Senhor estivera naquilo (v. 15,16).
A recompensa que Neemias teve é a mesma que têm todos os que perseveram e
permanecem firmes na fé, no cumprimento da visão que Deus lhes deu, em meio a
todo o tipo de oposição do inferno que possam vir a sofrer.
E para finalizar, quanto a esta
não incrível nem surpreendente coincidência que há entre a oposição que Neemias
sofreu e a que sofrem todos aqueles que estão fazendo efetivamente uma obra
debaixo de comissão divina, porque será sempre esta a regra e nunca a exceção,
nós vemos nos versos 17 a 19, que os próprios nobres judeus, que estavam
cooperando com Neemias no governo, simulavam diante dele que havia bondade em
Tobias, porque estava aparentado com os judeus, por ter casado com a filha do
sacerdote Secanias, e o filho de Tobias também havia se casado com uma judia
(v. 18).
O argumento do laço familiar e de amizade estava sendo invocado para sobrepujar
o laço da verdade e da manutenção da obediência à vontade de Deus.
Neemias não se deixou persuadir pelo argumento deles porque bem sabia o
que é a natureza humana, que sempre considera as coisas segundo os homens e
nunca segundo Deus.
O próprio Pedro foi repreendido por Jesus quando permitiu que Satanás o
influenciasse, como vemos em Mt
16.23.
Deste modo, não foram poucas as
cartas que os nobres de Judá enviaram a Tobias, e este enviou muitas cartas a
eles.
Contudo quais eram as “boas ações” de Tobias às quais Neemias se referiu
ironicamente no verso 19?
O nome Tobias significa Bondade de Jeová.
Por isso Neemias usou de uma ironia usando o próprio nome dele, porque
qual é a bondade que pode haver nas palavras, quando o intento do coração é o
de nos intimidar e atemorizar, tal como se dava no caso de Tobias em relação a
Neemias? (v. 19).
Não importa pois quão doces sejam as palavras de elogio que nos dirigem,
se isto tem por alvo encobrir a verdadeira intenção do coração de quem as
profere de não somente nos ferir, e dissimular a ferida, mas sobretudo, infamar
o nosso bom nome, de modo que a obra que Deus intentava fazer através de nós
venha a ser prejudicada por conseguirem nossos inimigos nos infamarem e
desacreditarem diante das pessoas, levando-as a crer que somos traidores,
pessoas desleais e rebeldes.
“1 Quando Sambalate, Tobias e Gesem, o arábio, e o resto dos nossos
inimigos souberam que eu já tinha edificado o muro e que nele já não havia
brecha alguma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos portais,
2 Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, encontremo-nos numa das
aldeias da planície de Ono. Eles, porém, intentavam fazer-me mal.
3 E enviei-lhes mensageiros a dizer: Estou fazendo uma grande obra, de
modo que não poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse
e fosse ter convosco?
4 Do mesmo modo mandaram dizer-se quatro vezes; e do mesmo modo lhes
respondi.
5 Então Sambalate, ainda pela quinta vez, me enviou o seu moço com uma
carta aberta na mão,
6 na qual estava escrito: Entre as nações se ouviu, e Gesem o diz, que tu
e os judeus intentais revoltar-vos, e por isso tu estás edificando o muro, e
segundo se diz, queres fazer-te rei deles;
7 e que constituíste profetas para proclamarem a respeito de ti em
Jerusalém: Há rei em Judá. Ora, estas coisas chegarão aos ouvidos do rei; vem
pois, agora e consultemos juntamente.
8 Então mandei dizer-lhe: De tudo o que dizes, coisa nenhuma sucedeu, mas
tu mesmo o inventas.
9 Pois todos eles nos procuravam atemorizar, dizendo: As suas mãos hão de
largar a obra, e não se efetuará. Mas agora, ó Deus, fortalece as minhas mãos.
10 Fui à casa de Semaías, filho de Delaías, filho de Meetabel, que estava
em recolhimento; e disse ele: Ajuntemo-nos na casa de Deus, dentro do templo, e
fechemos as suas portas, pois virão matar-te; sim, de noite virão matar-te.
11 Eu, porém, respondi: Um homem como eu fugiria? e quem há que, sendo
tal como eu, possa entrar no templo e viver? De maneira nenhuma entrarei.
12 E percebi que não era Deus que o enviara; mas ele pronunciou essa
profecia contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o haviam subornado.
13 Eles o subornaram para me atemorizar, a fim de que eu assim fizesse, e
pecasse, para que tivessem de que me infamar, e assim vituperassem.
14 Lembra-te, meu Deus, de Tobias e de Sambalate, conforme estas suas
obras, e também da profetisa Noadias, e dos demais profetas que procuravam
atemorizar-me.
15 Acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco do mês de elul, em cinquenta
e dois dias.
16 Quando todos os nosso inimigos souberam disso, todos os povos que
havia em redor de nós temeram, e abateram-se muito em seu próprio conceito;
pois perceberam que fizemos esta obra com o auxílio do nosso Deus.
17 Além disso, naqueles dias o nobres de Judá enviaram muitas cartas a
Tobias, e as cartas de Tobias vinham para eles.
18 Pois muitos em Judá estavam ligados a ele por juramento, por ser ele
genro de Secanias, filho de Ará, e por haver seu filho Joanã casado com a filha
de Mesulão, filho de Berequias.
19 Também as boas ações dele contavam perante mim, e as minhas palavras
transmitiam a ele. Tobias, pois, escrevia cartas para me atemorizar.” (Ne
6.1-19).
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