Nós encontramos o texto
paralelo a este último capítulo (24) de II Samuel, em I Crônicas 21.
Ali são relatadas as
estranhas circunstâncias com que foi designado o local onde deveria ser
construído o templo do Senhor.
O sacrifício que Davi
apresentou neste lugar por ordem de Deus, e no qual seriam apresentados os
sacrifícios segundo as exigências da Lei, que tipificavam o grande e suficiente
sacrifício de Jesus, foi o que fez cessar a praga que estava destruindo o povo
do Senhor.
Há aqui portanto uma
grande ilustração de que é o sacrifício de Jesus que faz com que Deus seja
propício para com o Seu povo.
Aqueles israelitas dos
dias de Davi não haviam praticado nenhum mal específico que lhes tornasse
dignos de serem punidos por causa da transgressão do seu próprio rei.
Todavia, é exatamente
esta a condição de todos os homens diante de Deus.
Eles não precisam fazer
nada especial que os torne dignos de morrerem pelos juízos do Senhor, porque
esta é a condição mesma de todo homem perante Ele, por causa do pecado
original.
Deus está irado e em
guerra com toda a humanidade, por causa do pecado que entrou no mundo e em
razão de serem todos pecadores.
É somente através do
sacrifício de Jesus que o homem pode ser reconciliado com Deus.
Daí se dizer que
justificados pois, mediante a fé temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor
Jesus Cristo (Rm 5.21).
O reino de Davi havia
sido se expandido e a glória de Israel havia aumentado muito em relação a todos
os períodos vividos anteriormente pela nação.
É bem provável que uma
espécie de orgulho nacional tivesse se apoderado do rei e de todos os seus
súditos, na época correspondente aos eventos que são descritos neste capítulo.
É dito no texto paralelo
de I Crôn 21.1, em face da glória do reino de Israel, que: “Então Satanás se
levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel.”.
Como aquele desejo de
Davi de efetuar o censo era de inspiração satânica, obviamente Deus não poderia
consentir com a sua realização.
Provavelmente o diabo
usou o orgulho que havia invadido o coração de Davi, por tudo aquilo que ele
havia conquistado e por toda prosperidade que Israel havia obtido, esquecido
que tudo havia procedido das mãos do Senhor.
Não é incomum que os cristãos
sejam apanhados em seu orgulho pelo diabo, exatamente em razão das bênçãos
que recebem do Senhor, porque é
necessário manter a humildade e a vigilância, para que não sejam tomados de
orgulho espiritual, que será sempre uma porta para caírem no laço do Inimigo.
Assim, nós lemos no texto
de II Samuel 24.1, que corresponde ao de I Crônicas 21.1, citado anteriormente:
“A ira do Senhor tornou a acender-se contra Israel, e o Senhor incitou a Davi
contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá.”.
Sabemos que Deus a
ninguém tenta. Que Ele não pode ser o autor do pecado. Então só podemos
entender as palavras deste texto à luz do seu paralelo em I Crônicas 21.1, pois
neste se diz que foi Satanás quem tentou Davi para levantar o censo.
É bem provável que o
Senhor tenha proibido Davi expressamente de modo a não levantá-lo naquela
oportunidade, por conhecer os motivos orgulhosos que moviam o seu coração, com a
agravante de ter tomado a iniciativa de fazê-lo seguindo uma sugestão de Satanás.
E agindo tal como fizera
Balaão no passado, em obstinar-se em satisfazer o seu desejo, foi-lhe ordenado
por Deus que então fizesse aquilo que Ele lhe havia proibido, mas teria que arcar com as consequências da sua
desobediência, no futuro.
Ele estava tão obstinado
que até o próprio Joabe tentou dissuadi-lo, não por temor ao Senhor, mas pelo
trabalho e tempo excessivos que seriam necessários ao cumprimento daquela
tarefa, tanto que levou nove meses e vinte e um dias para ser concluída (v. 8).
Foi somente quando o
resultado do trabalho foi apresentado, que Davi sentiu bater-lhe o coração e
disse as seguintes palavras: “Muito pequei no que fiz; porém agora, ó Senhor,
rogo-te que perdoes a iniquidade do teu servo, porque tenho procedido mui
nesciamente.” (v. 10).
O tipo de arrependimento
que é adiado deliberadamente, para que possamos continuar na prática do pecado,
contando com a certeza do perdão de Deus no futuro, nunca será eficaz porque
Deus não se deixa enganar e nos chama a andar de modo responsável na Sua
presença.
O orgulho de Davi o
cegara e se deixou conduzir pelo diabo, em vez de dar ouvido à voz de Deus, e
agora, teria que arcar com as consequências do seu ato, ainda que tivesse sido
convencido do seu pecado e o confessado ao Senhor, pedindo-lhe que fosse
perdoada a sua iniquidade.
Então Deus lhe enviou o
profeta Gade, logo na manhã do dia seguinte, com uma oferta estranha, pois lhe
foi dado escolher a forma de castigo que deveria ser aplicada ao caso: se sete
anos de fome e escassez em Israel; se três meses de guerra em que teria que
fugir diante dos seus inimigos, ou se três dias de pestilência sobre todo
Israel.
Davi deveria fazer a
escolha rapidamente, para que Gade levasse a sua resposta ao Senhor (v. 12,
13).
Davi, confessando que se
encontrava em grande angústia, pois o seu orgulho exaltado estava sendo abatido
numa grande humilhação debaixo da potente mão do Senhor, e então ele escolheu
cair naquelas mesmas mãos porque são muitas as Suas misericórdias, mas que de
modo algum caísse nas mãos dos homens, conforme a primeira opção oferecida a
ele, a saber, a da guerra.
Ao que parece, ele deixou
o juízo de fome ou de peste a critério de Deus, pois em ambos estaria ausente a
mão inimiga do homem.
Então o Senhor decidiu
pela peste que durou o tempo de três dias, determinado previamente por Ele,
usando assim de misericórdia em não afligir o povo com uma longa escassez de
sete anos, que mataria muito mais e debilitaria Isael do que a peste que Ele
enviou e ceifou a vida de 70.000 homens em todo Israel (v. 15).
É provável que tenha
havido um endurecimento, especialmente por parte dos nobres, que estavam em
Jerusalém, e além da peste, o anjo do Senhor estendeu a sua mão sobre aquela
cidade para a destruir (v. 16), mas como o castigo determinado já havia sido
aplicado, o Senhor se arrependeu do mal que seria trazido a Jerusalém, e
ordenou ao anjo que retirasse a sua mão.
É dito que o anjo estava
junto à eira de Araúna (v. 16).
Davi viu o anjo que feria
o povo e falou ao Senhor que fora ele quem havia pecado e não o povo, e que
Deus ferisse somente a ele e a sua casa.
Neste pedido ele foi um
tipo de Jesus em Sua obra de expiação, quando se apresentou ao Pai para ficar
no lugar dos pecadores e sofrer o castigo de Deus por eles. Só que, obviamente,
Jesus não cometeu qualquer pecado, como no caso de Davi.
E o profeta Gade foi
enviado a Davi naquele mesmo dia em que ele assim orara, com instruções para
que levantasse um altar na eira de Araúna (v. 18, 19).
Ele comprou aquela eira,
que é o monte Moriá, onde o templo seria construído, no mesmo lugar onde o
altar foi levantado.
Depois de ter apresentado
holocaustos e ofertas pacíficas naquele altar, o Senhor se tornou favorável
para com a terra de Israel (v. 25).
O texto paralelo de I
Crônicas 21.26 diz que quando os holocaustos e sacrifícios pacíficos foram
oferecidos por Davi, o Senhor lhe respondeu com fogo do céu sobre o altar do
holocausto. E isto evidenciava não somente a aceitação do sacrifício como era
uma clara indicação do local onde o templo deveria ser construído (I Crôn
22.1).
“1 A ira do Senhor tornou
a acender-se contra Israel, e o Senhor incitou a Davi contra eles, dizendo:
Vai, numera a Israel e a Judá.
2 Disse, pois, o rei a
Joabe, chefe do exército, que estava com ele: Percorre todas as tribos de
Israel, desde Dã até Berseba, e numera o povo, para que eu saiba o seu número.
3 Então disse Joabe ao
rei: Ora, multiplique o Senhor teu Deus a este povo cem vezes tanto quanto
agora é, e os olhos do rei meu senhor o vejam. Mas por que tem prazer nisto o
rei meu senhor;
4 Todavia a palavra do
rei prevaleceu contra Joabe, e contra os chefes do exército; Joabe, pois, saiu
com os chefes do exército da presença do rei para numerar o povo de Israel.
5 Tendo eles passado o
Jordão, acamparam-se em Aroer, à direita da cidade que está no meio do vale de
Gade e na direção de Jazer;
6 em seguida foram a
Gileade, e a terra de Tatim-Hódsi; dali foram a Da-Jaã, e ao redor até Sidom;
7 depois foram à
fortaleza de Tiro, e a todas as cidades dos heveus e dos cananeus; e saíram
para a banda do sul de Judá, em Berseba.
8 Assim, tendo percorrido
todo o país, voltaram a Jerusalém, ao cabo de nove meses e vinte dias.
9 Joabe, pois, deu ao rei
o resultado da numeração do povo. E havia em Israel oitocentos mil homens
valorosos, que arrancavam da espada; e os homens de Judá eram quinhentos mil.
10 Mas o coração de Davi
o acusou depois de haver ele numerado o povo; e disse Davi ao Senhor: Muito
pequei no que fiz; porém agora, ó Senhor, rogo-te que perdoes a iniquidade do
teu servo, porque tenho procedido mui nesciamente.
11 Quando, pois, Davi se
levantou pela manhã, veio a palavra do Senhor ao profeta Gade, vidente de Davi,
dizendo:
12 Vai, e dize a Davi:
Assim diz o Senhor: Três coisas te ofereço; escolhe qual delas queres que eu te
faça.
13 Veio, pois, Gade a
Davi, e fez-lho saber dizendo-lhe: Queres que te venham sete anos de fome na
tua terra; ou que por três meses fujas diante de teus inimigos, enquanto estes
te perseguirem; ou que por três dias haja peste na tua terra? Delibera agora, e
vê que resposta hei de dar àquele que me enviou.
14 Respondeu Davi a Gade:
Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do Senhor, porque muitas são
as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu.
15 Então enviou o Senhor
a peste sobre Israel, desde a manhã até o tempo determinado; e morreram do
povo, desde Dã até Berseba, setenta mil homens.
16 Ora, quando o anjo
estendeu a mão sobre Jerusalém, para a destruir, o Senhor se arrependeu daquele
mal; e disse ao anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta; retira agora a
tua mão. E o anjo do Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu.
17 E, vendo Davi ao anjo
que feria o povo, falou ao Senhor, dizendo: Eis que eu pequei, e procedi iniquamente;
porém estas ovelhas, que fizeram? Seja, pois, a tua mão contra mim, e contra a
casa de meu pai.
18 Naquele mesmo dia veio
Gade a Davi, e lhe disse: Sobe, levanta ao Senhor um altar na eira de Araúna, o
jebuseu:
19 Subiu, pois, Davi,
conforme a palavra de Gade, como o Senhor havia ordenado.
20 E olhando Araúna, viu
que vinham ter com ele o rei e os seus servos; saiu, pois, e inclinou-se diante
do rei com o rosto em terra.
21 Perguntou Araúna: Por
que vem o rei meu senhor ao seu servo? Respondeu Davi: Para comprar de ti a
eira, a fim de edificar nela um altar ao Senhor, para que a praga cesse de
sobre o povo.
22 Então disse Araúna a
Davi: Tome e ofereça o rei meu senhor o que bem lhe parecer; eis aí os bois
para o holocausto, e os trilhos e os aparelhos dos bois para lenha.
23 Tudo isto, ó rei,
Araúna te oferece. Disse mais Araúna ao rei: O Senhor teu Deus tome prazer em
ti.
24 Mas o rei disse a
Araúna: Não! antes to comprarei pelo seu valor, porque não oferecerei ao Senhor
meu Deus holocaustos que não me custem nada. Comprou, pois, Davi a eira e os
bois por cinquenta siclos de prata.
25 E edificou ali um
altar ao Senhor, e ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas. Assim o Senhor se
tornou propício para com a terra, e cessou aquela praga de sobre Israel.” (II
Sm 24.1-25).”.
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