O autor do livro de 2 Samuel
continua concluindo a narrativa relativa ao reinado de Davi neste 23º capítulo
e registra as últimas palavras proferidas por ele próximo da sua morte (v. 1 a
7), e os nomes dos valentes que estiveram a seu serviço, enquanto ele vivia (v.
8 a 39).
As últimas palavras
proferidas por Davi são extraordinárias e comprovam que ele havia sido
realmente exaltado e ungido por Deus, e foi inspirado pelo Espírito Santo para
ser o mavioso salmista de Israel, sendo conhecido em todas as partes do mundo
em todos os séculos, pelos Salmos que escreveu debaixo desta inspiração (v. 1).
Ele não tinha o Espírito
de Deus apenas no seu coração, guardando comunhão com Ele, mas permitiu que Ele
usasse a sua língua, para proferir a Sua Palavra através da Sua boca (v. 2).
Davi regeu a todos que
foram colocados debaixo do seu governo pelo Senhor, com o temor de Deus, porque
o fizera com justiça (v. 3), tal como faria Neemias, depois dele (Ne 5.15).
Deus mesmo, a quem Davi
chama de a Rocha de Israel (v. 3), havia lhe falado que aqueles que governam
deste modo, são como a luz da manhã, quando sai o sol, como uma manhã sem
nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar da terra a erva (v. 4).
Assim, é descrito o
caráter de todos os justos que reinarão juntamente com Cristo, porque, falando
ainda pelo Espírito, Davi aplica estas palavras à sua casa, dizendo: “Pois não
é assim a minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em
tudo bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e
todo o meu desejo?”.
Esta certeza da salvação
eterna, para todos os que estão na casa de Davi, por sua associação com Cristo,
que pertence a esta casa, e é Senhor sobre ela, pois não foi estabelecida pelo
homem, mas pelo próprio Deus, é devido ao pacto, que nas palavras do Espírito,
pela boca de Davi, é “em tudo bem ordenado e seguro”.
Este é o caráter da
aliança da graça, e é por ser uma aliança eterna que ela prosperará e jamais
frustrará o desejo de qualquer um que tiver colocado no Senhor a Sua confiança,
participando da aliança eterna, que foi prometida a Davi.
Na verdade, não há outra
esperança de salvação senão por meio das condições da aliança prometida a Davi.
Tanto que aqueles que permanecerem na condição de filhos de Belial, por não
estarem assim aliançados com Deus, serão lançados fora, sem uma só exceção,
como espinhos, porque não podem ser tocados com as mãos, isto é, não se
permitem serem transformados e educados na justiça por Deus.
Por isso, quem os tocar
se armará de ferro e da haste de uma lança, e a fogo serão totalmente queimados
no seu lugar (v. 6,7).
As pessoas ímpias estão
sujeitas não apenas ao braço da justiça dos magistrados terrenos, como também
serão sujeitados ao braço forte do juízo eterno do Senhor, que os queimará num
fogo eterno, que jamais se apagará.
Os filhos de pais
piedosos nem sempre são tão santos e devotados quanto deveriam ser, tal como se
deu com o próprio Davi, que a par de todo o seu amor e esforço para santificar
os seus filhos, teve entre eles Amnom e Absalão, que eram ímpios.
Isto nos revela que é a
corrupção e não a graça, que corre no sangue.
Por isso, a casa de Davi
é típica da Igreja de Cristo, que é a casa dEle (Hb 3.3).
Cristo não é fiel a toda
a sua casa, na condição de um servo, como fora Moisés em relação a Israel, mas
como Senhor e Rei, assim como o fora Davi sobre a sua casa terrena.
O Senhor da casa
espiritual de Davi é Cristo, e não o próprio Davi, porque este foi impedido de
continuar o seu reinado pela morte, e regia apenas sobre Israel, mas Cristo,
que vive e reina para sempre, reina sobre toda a Sua casa, e sobre todos
aqueles que lhes foram dados pelo Pai, em todas as nações.
Deus fez uma aliança com
a cabeça da Igreja, o Filho de Davi, de que preservará a Ele uma semente sobre
a qual as portas do inferno não prevalecerão, ou seja, nunca poderão predominar
sobre a Sua casa.
E esta segurança é
garantida por Deus e realizada na Rocha segura que é Cristo, que é o autor e
consumador da nossa fé e salvação.
Desta forma, é nEle que
se cumprem todas as promessas da aliança da graça feita com Davi.
A aliança que Deus fez
com um rei terreno apontava para a aliança que Ele fizera antes que houvesse
mundo, no céu, com Aquele que reinará para sempre.
Por isso as promessas da
aliança eterna são chamadas de fiéis misericórdias prometidas a Davi:
“Inclinai os vossos
ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma
aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is
55.3).
É maravilhoso saber que
as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta aliança
segura e eterna.
Deus fez uma aliança
conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de Davi
que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na
forma do seu caráter, manutenção, continuação e confirmação.
Deus diz também pela boca
de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem
ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita
trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará
progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for
completada na terra, ela o será no céu.
E para isso a aliança
possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o conforto dos cristãos.
Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ FORA A
QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que
não lançará fora de modo nenhum, a qualquer que vier a Ele.
Assim, a segurança da
salvação não é colocada nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é
segura, porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal
modo a poder conduzir pecadores ao céu.
Ela está tão bem
estruturada, que qualquer um deles pode ter a certeza de que estará sendo
aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra de aperfeiçoamento será
concluída no céu.
Uma das razões para que o
aperfeiçoamento não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança
é de fato para pecadores, e não para quem se considera perfeitamente justo.
Ainda que todos os
aliançados sejam chamados agora a se empenharem na prática da justiça.
As misericórdias
prometidas aos aliançados é segura, e operarão de acordo com as condições
estabelecidas em relação à necessidade de arrependimento e fé.
A aplicação particular
destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque é
suficiente.
Nada mais do que isto nos
salvará, porque a base da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a
promessa que Ele fez à casa de Davi, a todo aquele que for encontrado nela, por
causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é Cristo. É somente disto
que a nossa salvação depende.
Por isso, os que estão de
fora da aliança, os filhos de Belial (v. 6,7), são como espinhos que não podem
ser tocados, trabalhados pelas mãos de Deus, e esta será a razão de serem
queimados para sempre, num fogo eterno que jamais se apagará.
Os Valentes de Davi
O texto de I Crôn
11.10-47, paralelo ao de II Samuel 23.8-39, esclarece melhor em sua introdução
(v. 10), que a glória do reino de Davi pertencia ao Senhor, que o proveu de
homens valorosos na guerra para firmarem o seu reino:
“São estes os chefes dos
valentes de Davi, que o apoiaram fortemente no seu reino, com todo o Israel,
para o fazerem rei, conforme a palavra do Senhor, no tocante a Israel.” (I Crôn
11.10).
Isto denota claramente
que o mérito do reino não pertencia a Davi, mas ao Senhor que o elegera e
capacitara a não somente a ele, mas aos muitos que o apoiariam para que o seu
reino prevalecesse e fosse estabelecido.
Três destes valentes
foram tão maravilhosamente capacitados pelo Espírito de Deus, que nos fazem
lembrar de Sansão.
E não foi sem razão que
eles foram honrados para serem contados à parte no pequeno grupo de apenas três
homens, que foram considerados dignos de serem classificados como os maiores
guerreiros do reino.
Eram eles
Josebe-Bassebete, que feriu a oitocentos homens com sua lança, numa mesma
batalha (v. 8), e que era o principal dos três primeiros.
O segundo em honra foi
Eleazar, que feriu os filisteus de tal modo até o ponto de ficar com a mão
apegada à espada (v, 9, 10).
O terceiro valente entre
os três primeiros em honra chamava-se Samá, que defendeu uma parte do
território de Israel em Leí, do ataque dos filisteus, e quando todo o povo
fugia por temor deles (v. 11, 12).
Estes, como dissemos,
eram contados à parte, mas além deles havia outros trinta, e deste segundo grupo
o mais nobre era Abisai, irmão de Joabe (v. 19), mas se diz dele que nunca
chegou a fazer parte do grupo seleto dos três primeiros em honra, pela sua
bravura.
Benaia, que era o
comandante da guarda real, também figurava entre os trinta, e tal era a sua
bravura que matou um leão e um gigante (v. 20, 21).
Benaia chegou a ter estatura e bravura, a ponto de ter obtido
renome que o tornava digno de participar do grupo dos três primeiros (v. 22),
mas não chegou a ser incluído neste grupo (v. 23).
Ele seria encarregado
mais tarde por Salomão, para matar Joabe, e isto bem demonstra a sua supremacia
na arte de lutar na guerra, que era superior à do próprio general de todo o
exército de Israel.
Nos versos 13 a 27 é
narrada uma façanha realizada pelos três primeiros em honra e bravura, quando
Davi se encontrava na caverna de Adulão, na época em que fugia de Saul, pois
somente pela expressão de um desejo de Davi de beber das águas da fonte, que
estava junto da porta de Belém, próximo da qual havia uma guarnição de
filisteus, estes três valentes expuseram as suas próprias vidas para trazerem
água daquela fonte ao rei, mas este se recusou a bebê-la e a ofertou como
libação ao Senhor, porque não beberia à custa do atendimento de um desejo
caprichoso, uma vez que aqueles homens valorosos lhe foram dados pelo Senhor
para lutarem pela causa da justiça e não para atenderem aos caprichos do rei.
Nos versos 24 a 39 são
relacionados os que figuravam entre os trinta mais honrados em bravura.
Dos trinta e sete que
haviam feito parte deste grupo (v. 39), são relacionados trinta, que era o
número total dos que compunham o grupo.
Urias (v. 39) é contado
neste grupo e isto era uma agravante para o pecado de Davi com Bate-Seba.
Asael, irmão de Joabe, que havia sido morto por Abner logo no início do reinado
de Davi, é também contado (v. 24), mas Joabe, apesar de ser o general do
exército, não recebeu sequer a honra de ter no seu nome listado entre os trinta
primeiros, não por lhe faltar bravura, mas por não ter os demais requisitos
necessários, como por exemplo a devoção ao Senhor e ser uma pessoa
honrada.
De igual modo, há muitos
na Igreja de Cristo que ocupam posições e cargos elevados em relação à
membresia, e isto por anos a fio, e no entanto, não têm os seus nomes relacionados
sequer no livro da vida, e quando o têm, nem sempre são considerados dignos de
terem os seus nomes destacados como honrados perante o Senhor, por falta da
devida devoção e fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
“1 São estas as últimas
palavras de Davi: Diz Davi, filho de Jessé, diz o homem que foi exaltado, o
ungido do Deus de Jacó, o suave salmista de Israel.
2 O Espírito do Senhor
fala por mim, e a sua palavra está na minha língua.
3 Falou o Deus de Israel,
a Rocha de Israel me disse: Quando um justo governa sobre os homens, quando
governa no temor de Deus,
4 será como a luz da
manhã ao sair do sol, da manhã sem nuvens, quando, depois da chuva, pelo
resplendor do sol, a erva brota da terra.
5 Pois não é assim a
minha casa para com Deus? Porque estabeleceu comigo um pacto eterno, em tudo
bem ordenado e seguro; pois não fará ele prosperar toda a minha salvação e todo
o meu desejo?
6 Porém os ímpios todos
serão como os espinhos, que se lançam fora, porque não se pode tocar neles;
7 mas qualquer que os
tocar se armará de ferro e da haste de uma lança; e a fogo serão totalmente
queimados no mesmo lugar.
8 São estes os nomes dos
valentes de Davi: Josebe-Bassebete, o taquemonita; era este principal dos três;
foi ele que, com a lança, matou oitocentos de uma vez.
9 Depois dele Eleazar,
filho de Dodó, filho de Aoí, um dos três valentes que estavam com Davi, quando
desafiaram os filisteus que se haviam reunido para a peleja, enquanto os homens
de Israel se retiravam.
10 Este se levantou, e
feriu os filisteus, até lhe cansar a mão e ficar pegada à espada; e naquele dia
o Senhor operou um grande livramento; e o povo voltou para junto de Eleazar,
somente para tomar o despojo.
11 Depois dele era Samá,
filho de Agé, o hararita. Os filisteus se haviam ajuntado em Leí, onde havia um
terreno cheio de lentilhas; e o povo fugiu de diante dos filisteus.
12 Samá, porém, pondo-se
no meio daquele terreno, defendeu-o e matou os filisteus, e o Senhor efetuou um
grande livramento.
13 Também três dos trinta
cabeças desceram, no tempo da sega, e foram ter com Davi, à caverna de Adulão;
e a tropa dos filisteus acampara no vale de Refaim.
14 Davi estava então no
lugar forte, e a guarnição dos filisteus estava em Belém.
15 E Davi, com saudade,
exclamou: Quem me dera beber da água da cisterna que está junto a porta de
Belém!
16 Então aqueles três
valentes romperam pelo arraial dos filisteus, tiraram água da cisterna que está
junto à porta de Belém, e a trouxeram a Davi; porém ele não quis bebê-la, mas
derramou-a perante o Senhor;
17 e disse: Longe de mim,
ó Senhor, que eu tal faça! Beberia eu o sangue dos homens que foram com risco
das suas vidas? De maneira que não a quis beber. Isto fizeram aqueles três
valentes.
18 Ora, Abisai, irmão de
Joabe, filho de Zeruia, era chefe dos trinta; e este alçou a sua lança contra
trezentos, e os matou, e tinha nome entre os três.
19 Porventura não era
este o mais nobre dentre os trinta? portanto se tornou o chefe deles; porém aos
primeiros três não chegou.
20 Também Benaia, filho
de Jeoiada, filho dum homem de Cabzeel, valoroso e de grandes feitos, matou os
dois filhos de Ariel de Moabe; depois desceu, e matou um leão dentro duma cova,
no tempo da neve.
21 Matou também um
egípcio, homem de temível aspecto; tinha este uma lança na mão, mas Benaia
desceu a ele com um cajado, arrancou-lhe da mão a lança, e com ela o matou.
22 Estas coisas fez
Benaia, filho de Jeoiada, pelo que teve nome entre os três valentes.
23 Dentre os trinta ele
era o mais afamado, porém aos três primeiros não chegou. Mas Davi o pôs sobre
os seus guardas.
24 Asael, irmão de Joabe,
era um dos trinta; El-Hanã, filho de Dodó, de Belém;
25 Samá, o harodita;
Elica, o harodita;
26 Jelez, o paltita; Ira,
filho de Iques, o tecoíta;
27 Abiezer, o anatotita;
Mebunai, o husatita;
28 Zalmom, o aoíta;
Maarai, o netofatita;
29 Helebe, filho de
Baaná, o netofatita; Itai, filho de Ribai, de Gibeá dos filhos de Benjamim;
30 Benaia, o piratonita;
Hidai, das torrentes de Gaás;
31 Abi-Albom, o arbatita;
Azmavete, o barumita;
32 Eliabá, o saalbonita;
Bene-Jásen; e Jônatas;
33 Samá, o hararita;
Aião, filho de Sarar, o hararita;
34 Elifelete, filho de
Acasbai, filho do maacatita; Eliã, filho de Aitofel, o gilonita;
35 Hezrai, o carmelita;
Paarai, o arbita;
36 Igal, filho de Natã,
de Zobá; Bani, o gadita;
37 Zeleque, o amonita;
Naarai, o beerotita, o que trazia as armas de Joabe, filho de Zeruia;
38 Ira, o itrita; Garebe,
o itrita;
39 Urias, o heteu; trinta
e sete ao todo.” (II Sm 23.1-39).
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