Nós vemos no capítulo anterior a este sétimo de II
Reis, que estaremos comentando, que o rei de Israel se desesperou com a fome
que havia em Samaria, por causa do cerco da cidade pelo sírios, a ponto de ter
intentado decapitar o profeta Eliseu, mas, desistiu do seu intento quando
chegou próximo ao profeta por ter entendido que se aquele mal vinha da parte de
Deus, quão maior juízo não poderia esperar dEle, caso matasse o seu profeta, e
assim, a desesperança que havia invadido o seu coração, a ponto de não
conseguir esperar do Senhor, senão apenas o pior, ainda que nada fizesse contra
Eliseu (6.33b), receberia a devida resposta da parte de Deus de que Ele é reto
juiz, que julga o pecado do Seu povo, mas não é um Deus cruel e incompassivo,
porque é cheio de misericórdia ainda que para com um mundo de incrédulos e
pecadores, e faz com que no extremo do desespero dos homens, brilhe o sol da
Sua bondade e misericórdia, porque foi a este rei desesperançado, que somente
esperava o pior da Sua parte, que Eliseu disse que todo aquela grande fome
seria eliminada dentro de apenas 24 horas, porque já no dia seguinte haveria
tal abundância de alimentos para os israelitas, que à porta de Samaria, estaria
sendo vendido farinha e cevada por uma bagatela.
Embora o rei de Israel tivesse ameaçado a vida de
Eliseu, a bondade e a misericórdia de Deus passou por alto daquela iniquidade,
e fez a ele esta promessa de uma grande bênção.
Este talvez seja o motivo de encontrarmos nos capítulos
seguintes este rei sendo favorável para com o profeta, e para com aqueles que
estimava, como foi o caso da mulher sunamita, quando voltou depois do grande
período de sete anos de fome, que houve em Israel, porque quis se informar
através da boca de Geazi, o moço de Eliseu, de todos os grandes feitos
realizados pelo profeta.
Entretanto, nada disso, nem toda a bondade que o
Senhor havia demonstrado a ele fez com que se arrependesse dos seus pecados, e
o próprio povo de Israel continuou a pecar, porque se houve fome em Israel, e
se a fertilidade da terra de Canaã, que manava leite e mel estava ficando
estéril, pela falta de chuvas, e se a lavoura era devastada pelas doenças e
pragas, isto era um sinal evidente de que o Senhor estava julgando os pecados do Seu povo e
convocando-o ao arrependimento, como se infere de Lev 26.14-46.
Se o rei de Israel tivesse o verdadeiro temor do
Senhor, em vez de se enfurecer contra Eliseu, quando soube que uma mulher havia
comido a carne do seu próprio filho, por meio de um acordo macabro que havia
feito com uma outra israelita, de comerem o filho desta no dia seguinte, ele
teria se arrependido com saco e cinza, porque era ele o maior culpado da
ocorrência de todas estas coisas, que já haviam sido anunciadas pelo Senhor,
desde os dias de Moisés, como uma das formas de juízo sobre o pecado dos
israelitas (Lev 26.29), como decorrência da escassez que haveria em toda a
terra de Israel (Lev 26.19-28), como sendo um dos sinais de que o povo estava
quebrando a aliança que o Senhor havia feito com eles, e necessitava portanto,
se arrepender dos seus pecados, e se converter dos seus maus caminhos.
Então esta provisão miraculosa que nós vemos neste
capítulo, e que havia sido prometida por Deus através de Eliseu, não era em razão
de nenhum arrependimento demonstrado pelo rei ou pelo povo, mas pela exclusiva
misericórdia e bondade de Deus, em face das condições extremas de miséria a que
havia chegado o Seu povo.
Quando Deus fez a promessa de trazer fartura aos
israelitas, em menos de 24 horas, um capitão que acompanhava o rei de Israel
disse que ainda que o Senhor fizesse janelas no céu isto não poderia acontecer
(v. 2).
Ele havia feito uma declaração de que Deus é
impotente para realizar impossíveis e pagaria o preço da sua incredulidade com
a morte, porque o profeta lhe disse naquele mesmo momento, que então veria
apenas o milagre, mas não se beneficiaria dele, porque não poderia comer da
provisão que Deus daria ao seu povo.
O fato é que Deus já estava agindo quando Eliseu
falava com o rei de Israel, e respondia à incredulidade do seu capitão, porque
houve um estrondo de carros e cavalos vindo na direção do acampamento dos
sírios, e estes fugiram em completo desespero, pensando que vinha sobre eles um
grande exército de egípcios e heteus, alugado pelos israelitas (v. 6), e na
pressa, deixaram para trás todas as suas provisões (v. 7).
A Providência fez com que o milagre fosse
descoberto por quatro leprosos, que julgaram ser melhor morrer pela espada dos
sírios do que de fome, ainda que tivessem contando com uma possível
misericórdia dos sírios para com eles em razão de serem leprosos (v. 3 a 5;
8,9).
E eles encontraram o acampamento dos sírios
abandonado, e se dispuseram a voltar e dar a notícia aos israelitas de Samaria
(v. 10).
Tendo os porteiros da cidade recebido a notícia,
eles a transmitiram à casa do rei (v. 11), mas o próprio rei não havia crido no
milagre prometido por Deus através de Eliseu e julgou que aquilo era apenas um
estratagema de guerra dos sírios, que deviam ter-se escondido para que os
israelitas saíssem da cidade e assim fossem destruídos por eles (v. 12).
Mas um dos servos do rei deu-lhe o conselho que se
mandasse pelo menos verificar com uma pequena força tarefa de cinco cavalos dos
poucos que haviam restado à cidade, e que em dois carros fossem enviados
mensageiros para verificarem o que havia ocorrido (v. 13, 14).
E tendo sido constatado que era verídico o relato
que havia sido feito pelos leprosos, eles o anunciaram ao rei e o povo saqueou
o acampamento dos sírios e a farinha e a cevada eram vendidas pelo baixo preço
que havia sido dito por Deus através do profeta (v. 15, 16).
Aquele capitão incrédulo, foi colocado pelo rei à
porta da cidade para controlar a saída e a entrada do povo, mas era tal a excitação
da multidão, que ele, numa possível tentativa de conter a precipitação deles
acabou sendo atropelado pelo povo e morreu, cumprindo-se assim o juízo que o
Senhor havia trazido à sua incredulidade, e o desmerecimento que Ele deu não
somente à Sua Palavra na boca de Eliseu, mas à Sua própria majestade divina (v.
17 a 20).
As palavras que aquele capitão havia proferido em
forma de pergunta: “Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu poderia isso
suceder?”, receberam uma resposta apropriada na promessa que o Senhor fez
através do profeta Malaquias de prover de bens, que virão diretamente de um
comando que parte do céu, e que portanto, vêm ao povo do Senhor através das
janelas do céu, quando o Seu povo caminha fielmente com Ele, comprovando-o externamente, pela fé na confiança na Sua
provisão, através da sua fidelidade na mordomia que lhe é devida.
“1 Então disse Eliseu: Ouvi a palavra do Senhor;
assim diz o Senhor: Amanhã, por estas horas, haverá uma medida de farinha por
um siclo, e duas medidas de cevada por um siclo, à porta de Samaria.
2 porém o capitão em cujo braço o rei se apoiava
respondeu ao homem de Deus e disse: Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu,
poderia isso suceder? Disse Eliseu: Eis que o verás com os teus olhos, porém
não comerás.
3 Ora, quatro homens leprosos estavam à entrada da
porta; e disseram uns aos outros: Para que ficamos nós sentados aqui até
morrermos?
4 Se dissermos: Entremos na cidade; há fome na
cidade, e morreremos aí; e se ficarmos sentados aqui, também morreremos.
Vamo-nos, pois, agora e passemos para o arraial dos sírios; se eles nos
deixarem viver, viveremos; e se nos matarem, tão somente morreremos.
5 Levantaram-se, pois, ao crepúsculo, para irem ao
arraial dos sírios; e, chegando eles à entrada do arraial, eis que não havia
ali ninguém.
6 Porque o Senhor fizera ouvir no arraial dos
sírios um ruído de carros e de cavalos, como de um grande exército; de forma
que disseram uns aos outros: Eis que o rei de Israel alugou contra nós os reis
dos heteus e os reis dos egípcios, para virem sobre nós.
7 Pelo que se levantaram e fugiram, ao crepúsculo;
deixaram as suas tendas, os seus cavalos e os seus jumentos, isto é, o arraial
tal como estava, e fugiram para salvarem as suas vidas.
8 Chegando, pois, estes leprosos à entrada do
arraial, entraram numa tenda, comeram e beberam; e tomando dali prata, ouro e
vestidos, foram e os esconderam; depois voltaram, entraram em outra tenda, e
dali também tomaram alguma coisa e a esconderam.
9 Então disseram uns aos outros: Não fazemos bem;
este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da
manhã, algum castigo nos sobrevirá; vamos, pois, agora e o anunciemos à casa do
rei.
10 Vieram, pois, bradaram aos porteiros da cidade,
e lhes anunciaram, dizendo: Fomos ao arraial dos sírios e eis que lá não havia
ninguém, nem voz de homem, porém só os cavalos e os jumentos atados, e as
tendas como estavam.
11 Assim chamaram os porteiros, e estes o
anunciaram dentro da casa do rei.
12 E o rei se levantou de noite, e disse a seus
servos: Eu vos direi o que é que os sírios nos fizeram. Bem sabem eles que
estamos esfaimados; pelo que saíram do arraial para se esconderem no campo,
dizendo: Quando saírem da cidade, então os tomaremos vivos, e entraremos na
cidade.
13 Então um dos seus servos respondeu, dizendo:
Tomem-se, pois, cinco dos cavalos do resto que ficou aqui dentro (eis que eles
estão como toda a multidão dos israelitas que ficaram aqui de resto, e que se
vêm extenuando), e enviemo-los, e vejamos.
14 Tomaram pois dois carros com cavalos; e o rei os
enviou com mensageiros após o exército dos sírios, dizendo-lhe: Ide, e vede.
15 E foram após ele até o Jordão; e eis que todo o
caminho estava cheio de roupas e de objetos que os sírios, na sua precipitação,
tinham lançado fora; e voltaram os mensageiros, e o anunciaram ao rei.
16 Então saiu o povo, e saqueou o arraial dos
sírios. Assim houve uma medida de farinha por um siclo e duas medidas de cevada
por um siclo, conforme a palavra do Senhor.
17 O rei pusera à porta o capitão em cujo braço ele
se apoiava; e o povo o atropelou na porta, de sorte que morreu, como falara o
homem de Deus quando o rei descera a ter com ele.
18 Porque, quando o homem de Deus falara ao rei,
dizendo: Amanhã, por estas horas, haverá duas medidas de cevada por um siclo, e
uma medida de farinha por um siclo, à porta de Samaria,
19 aquele capitão respondera ao homem de Deus:
Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu poderia isso suceder? e ele dissera:
Eis que o verás com os teus olhos, porém não comerás.
20 E assim foi; pois o povo o atropelou à porta, e
ele morreu.” (II Rs 7.1-20).
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