O terceiro capítulo de II Reis, como todos os
demais deste livro, contém preciosas lições para instruírem o povo do Senhor a
andar no caminho da fé e da justiça.
Tendo Acazias, filho de Acabe, morrido da doença
que o acometera, desde que havia caído de um quarto superior do seu palácio,
seu irmão Jorão começou a reinar, e o faria por 12 anos II Rs 3.1).
Jorão também não andou nos caminhos do Senhor, e
ainda que tivesse tirado de Samaria a coluna de Baal, que seu pai fizera,
contudo continuou mantendo o culto aos bezerros de ouro que Jeroboão, havia
instituído (II Rs 3. 2,3).
Pela maneira com que Eliseu falou com ele nós
podemos inferir que é bem provável que tivesse tirado a coluna de Baal, por
motivos políticos e não religiosos.
O seu alvo não foi o de agradar com isto ao Senhor,
senão ao rei Josafá de Judá, para que se aliançasse com ele, para tê-lo ao seu
lado, com o exército de Judá, nas batalhas que tivesse que empreender contra os
seus inimigos.
Tudo o que se relata neste capítulo, depõe contra
Jorão, porque não é o simples fato de evitarmos alguns tipos de males, que nos
tornaremos recomendáveis a Deus, porque é possível que continuemos na prática
de outros tipos de males.
Importa sermos fiéis em todas as coisas que o
Senhor nos tem ordenado, para que possamos contar com o Seu efetivo agrado.
Se Jorão conseguiu enganar Josafá, no entanto, não
conseguiu enganar a Deus, e ao profeta Eliseu.
Nós devemos aprender a julgar sempre segundo a reta
justiça e não segundo a aparência.
Não é pelos simples votos de fidelidade proferidos
pelas pessoas, ou por algumas iniciativas de reforma, em determinadas áreas de
suas vidas, que podemos concluir que
tenham de fato se convertido a Deus.
A árvore se conhece pelo seu fruto, e por isso se
deve dar tempo ao tempo, para que se veja qual é o tipo de fruto que tais
pessoas produzirão, antes que nos antecipemos em fazer uma aliança com elas, de
coração.
Este foi o erro de Josafá em relação a Jorão,
porque ao se aliançar com a casa de Acabe, a ponto de ter dado o seu próprio
filho em casamento à perversa Atalia, irmã de Jorão, que havia seguido em tudo
as pegadas de sua mãe Jezabel, ele havia se colocado debaixo de um jugo
desigual, do qual seria muito difícil se desvencilhar.
É por isso que nós o vemos respondendo a Jorão
quando foi convocado por este a lutar ao seu lado contra os moabitas, que
haviam se rebelado contra a tributação de Israel, com as seguintes palavras:
“como tu és sou eu, o meu povo como o teu povo, e os meus cavalos como os teus
cavalos.” (v. 7).
Ainda que com isto não estivesse afirmando que era
do mesmo caráter de Jorão, mas que ele poderia considerar o exército de Judá
como sendo o mesmo exército de Israel.
Josafá errou também em deixar as iniciativas relativas
à batalha contra Moabe a cargo de Jorão, porque quando lhe perguntou por qual
caminho subiriam à peleja, ele determinou fazê-lo pelo caminho do deserto de
Edom.
O justo Josafá se permitiu conduzir por um ímpio
para um deserto, e a consequência disto é que ficaram rodeando durante sete
dias naquele deserto juntamente com o rei de Edom, em que Jorão estava
colocando a sua confiança de conduzi-los em segurança a Moabe, porque, afinal,
ele deveria ser um bom conhecedor de suas terras.
Entretanto, ele não achou água para os milhares de
soldados e cavalos dos exércitos de Israel e de Judá (v. 8, 9).
Com isso Jorão, que não conhecia o Senhor e não
tinha portanto qualquer intimidade com Ele, adiantou-se em afirmar que havia
sido Ele quem lhes tinha conduzido àquela condição para serem derrotados pelos
moabitas (v. 10), e viria a dizer o mesmo quando esteve na presença de Eliseu,
e quando foi exortado pelo profeta que usou de ironia para com ele mandando-o
consultar os falsos profetas de Acabe e Jezabel, seus pais (v. 13), nos quais
ele confiava.
Mas nem tudo está perdido para os cristãos, mesmo
quando estão debaixo do jugo desigual com os incrédulos, e recebem da parte
deles toda uma avalanche de argumentos para esfriar a sua fé no Seu Deus.
Foi exatamente isto o que se deu com Josafá, que em
vez de dar ouvido a Jorão, direcionou os seus ouvidos ao Senhor e perguntou se
não havia entre eles algum profeta verdadeiro do Senhor por meio do qual
pudessem consultá-lO.
E a providência já havia preparado para aquela hora
que Eliseu fosse achado entre eles, mas não para se manifestar logo que eles
partiram para aquela empresa, senão para a hora da dificuldade, em que as
circunstâncias adversas poderiam trazer muita glória e honra ao nome do Senhor.
O ministério de Eliseu, tal como o de Elias, foi
cumprido especialmente em Israel e não em Judá, mas curiosamente, este não
tinha, como não poderia ter, qualquer honra e estima da parte de Jorão, rei de
Israel, em razão da impiedade deste, senão da parte de Josafá, rei de Judá, por
ser fiel e piedoso.
Não é incomum que um profeta não tenha honra em sua
própria casa, não por causa de familiaridade, mas por causa da impiedade
daqueles que o cercam.
Este era o caso de Israel, desviado em seus
pecados, e rejeitando e perseguindo aqueles que lhes eram enviados pelo Senhor,
para protestarem contra os seus pecados.
Não admira portanto, que tenha sido um dos servos
de Israel, e não o próprio rei de Israel, que disse a Josafá, que Eliseu se
encontrava entre eles (v. 11), e também não é de admirar o pronto
reconhecimento de Josafá de que a palavra do Senhor estava com Eliseu (v.
12).
O desespero devia ter se apoderado de muitos porque
há sete dias que se encontravam marchando no deserto sem que houvesse água para
os homens e para os animais, e até mesmo tentar retroceder poderia significar a
morte tanto quanto avançar para o encontro com os moabitas, em razão da
exaustão tanto dos homens, quanto dos animais pela falta de água.
O final desta história poderia muito bem ter sido
outro se entre aqueles homens não estivesse o rei Josafá, e o próprio Eliseu
que seguia com eles, certamente a mando de Deus, para proteger o rei de Judá e
os seus homens.
A Providência estava cuidando de Josafá,
consertando as consequências que poderiam lhe advir e ao exército de Judá, por
causa da aliança que ele havia feito com Jorão.
Jorão estava esperando a morte, e seria certamente
isto o que encontraria, por causa da sua incredulidade e impiedade, pois como
lhe foi proferido pelo próprio Eliseu, se não fosse por causa de Josafá, o rei
Jorão sequer teria visto o seu rosto (v. 13, 14), porque é certo que o Senhor
não lhe teria enviado a ele.
Mas a presença do profeta entre eles significava
provisão de livramento da parte do Senhor, ainda que isto não pudesse ser
discernido por Jorão, senão por Josafá, que humildemente havia buscado ao
Senhor através do Seu profeta, e mesmo em meio àquelas circunstâncias difíceis
teve ânimo suficiente para recorrer ao socorro do Senhor, e foi por causa da fé
de Josafá que milhares de vidas de Judá, Israel e do próprio Edom, foram
poupadas naquela ocasião.
Eliseu, tendo chamado um tangedor que tocasse
louvores, para que ele pudesse entrar mais rapidamente na presença de Deus, a
mão do Senhor veio sobre ele e ele profetizou o que nós encontramos nos versos
16 a 19.
Deus daria água segundo a medida da fé dos seus
servos, porque ordenou através do profeta que se fizessem muitos poços naquele
vale do deserto, onde eles se encontravam (v. 16), porque estes poços não
seriam enchidos com água de chuva, porque as condições do clima não seriam
alteradas, e além disso lhes foi prometido pelo Senhor que os moabitas seriam
entregues nas suas mãos, e todas as cidades fortes e escolhidas dos moabitas
seriam feridas, e seria dado às forças confederadas produzir uma grande perda
nas suas fontes de suprimento, pelo entulhamento de seus campos e de suas
fontes de água, e pelo corte de suas árvores frutíferas, de modo que teriam
sérias dificuldades em se declarar independentes de Israel, como estavam
fazendo naquela ocasião (v. 16 a 19).
Na manhã do dia seguinte, exatamente à hora em que
o sacrifício da manhã era oferecido no templo de Jerusalém, as águas, que
significavam salvação para toda aquela gente, começaram a vir pelo caminho de
Edom e encheram toda aquela terra (v. 20).
Esta referência à hora do sacrifício não está solta
no texto, porque foi a partir da hora em que Jesus ofereceu-se a si mesmo na
cruz como o Cordeiro, que tira o pecado do mundo, que começaram a correr as
águas do rio da vida, que trazem salvação para todos os que estão sedentos da
justiça do reino de Deus.
Este mesmo sacrifício que é a causa da salvação do
povo de Deus, é a causa da ruína de todos aqueles que são Seus inimigos, porque
serão condenados por tê-lo rejeitado e desprezado.
É interessante observar que os moabitas viram
aquelas águas pensando que fosse sangue, porque não havia chovido e não era
comum chover naquela região, e quando
viram o reflexo do sol nascente sobre a superfície delas, pensaram que
era o sangue dos próprios israelitas, judeus e edomitas, que segundo eles,
deveriam ter guerreado entre si mesmos (v. 21 a 23).
Com isto, se precipitaram a sair à peleja, e
sucedeu a eles tudo o que o Senhor havia dito pela boca de Eliseu (v. 22 a 26).
Como o rei Mesa dos moabitas percebeu que não
poderia prevalecer contra as forças confederadas, como medida de desespero,
ofereceu o seu próprio filho primogênito como holocausto sobre o muro da
cidade, e os israelitas desistiram de lutar, não pelo fato de terem sido
impedidos de continuarem lutando por causa da aceitação do sacrifício do filho
de Mesa por parte do deus dos moabitas, mas por terem visto até que ponto havia
chegado o desespero daquele rei, que assinou com aquele gesto a sua rendição,
mais do que tê-lo-ia feito pela deposição de suas armas.
Moloque era uma divindade amonita, que exigia
holocaustos humanos, e deve ter sido possivelmente a ele que o rei de Moabe
ofereceu como sacrifício, o seu próprio filho, que o sucederia no trono, e
daí entendermos porque este povo foi
tornado tributário de Israel, desde os dias de Davi, e a razão desta derrota
implacável com destruição da terra deles, conforme fora previsto e ordenado
pelo Senhor.
“1 Ora, Jorão, filho de Acabe, começou a reinar
sobre Israel, em Samaria, no décimo oitavo ano de Josafá, rei de Judá, e reinou
doze anos.
2 Fez o que era mau aos olhos do Senhor, porém não
como seu pai, nem como sua mãe; pois tirou a coluna de Baal que seu pai fizera.
3 Contudo aderiu aos pecados de Jeroboão, filho de
Nebate, com que este fizera Israel pecar, e deles não se apartou.
4 Ora, Mesa, rei dos moabitas, era criador de
ovelhas, e pagava de tributo ao rei de Israel cem mil cordeiros, e cem mil
carneiros com a sua lã.
5 Sucedeu, porém, que, morrendo Acabe, o rei dos
moabitas se rebelou contra o rei de Israel.
6 Por isso, nesse mesmo tempo Jorão saiu de Samaria
e fez revista de todo o Israel.
7 E, pondo-se em marcha, mandou dizer a Josafá, rei
de Judá: O rei dos moabitas rebelou-se contra mim; irás tu comigo a guerra
contra os moabitas? Respondeu ele: Irei; como tu és sou eu, o meu povo como o
teu povo, e os meus cavalos como os teus cavalos.
8 E perguntou: Por que caminho subiremos?
Respondeu-lhe Jorão: Pelo caminho do deserto de Edom.
9 Partiram, pois, o rei de Israel, o rei de Judá e
o rei de Edom; e andaram rodeando durante sete dias; e não havia água para o
exército nem para o gado que os seguia.
10 Disse então o rei de Israel: Ah! o Senhor chamou
estes três reis para entregá-los nas mãos dos moabitas.
11 Perguntou, porém, Josafá: Não há aqui algum
profeta do Senhor por quem consultemos ao Senhor? Então respondeu um dos servos
do rei de Israel, e disse: Aqui está Eliseu, filho de Safate, que deitava água
sobre as mãos de Elias.
12 Disse Josafá: A palavra do Senhor está com ele.
Então o rei de Israel, e Josafá, e o rei de Edom desceram a ter com ele.
13 Eliseu disse ao rei de Israel: Que tenho eu
contigo? Vai ter com os profetas de teu pai, e com os profetas de tua mãe. O
rei de Israel, porém, lhe disse: Não; porque o Senhor chamou estes três reis
para entregá-los nas mãos dos moabitas.
14 Respondeu Eliseu: Vive o Senhor dos exércitos,
em cuja presença estou, que se eu não respeitasse a presença de Josafá, rei de
Judá, não te contemplaria, nem te veria.
15 Agora, contudo, trazei-me um harpista. E sucedeu
que, enquanto o harpista tocava, veio a mão do Senhor sobre Eliseu.
16 E ele disse: Assim diz o Senhor: Fazei neste
vale muitos poços.
17 Porque assim diz o Senhor: Não vereis vento, nem
vereis chuva; contudo este vale se encherá de água, e bebereis vós, os vossos
servos e os vossos animais.
18 E ainda isso é pouco aos olhos do Senhor; também
entregará ele os moabitas nas vossas mãos,
19 e ferireis todas as cidades fortes e todas as
cidades escolhidas, cortareis todas as boas árvores, tapareis todas as fontes
d'água, e cobrireis de pedras todos os bons campos.
20 E sucedeu que, pela manhã, à hora de se oferecer
o sacrifício, eis que vinham as águas pelo caminho de Edom, e a terra se encheu
d'água:
21 Ouvindo, pois, todos os moabitas que os reis
tinham subido para pelejarem contra eles, convocaram-se todos os que estavam em
idade de pegar armas, e daí para cima, e puseram-se às fronteiras.
22 Levantaram-se os moabitas de madrugada e,
resplandecendo o sol sobre as águas, viram diante de si as águas vermelhas como
sangue;
23 e disseram: Isto é sangue; certamente os reis
pelejaram entre si e se mataram um ao outro! Agora, pois, à presa, moabitas!
24 Quando, porém, chegaram ao arraial de Israel, os
israelitas se levantaram, e bateram os moabitas, os quais fugiram diante deles;
e ainda entraram na terra, ferindo ali também os moabitas.
25 E arrasaram as cidades; e cada um deles lançou
pedras em todos os bons campos, entulhando-os; taparam todas as fontes d'água,
e cortaram todas as boas árvores; somente a Quir-Haresete deixaram ficar as
pedras; contudo os fundeiros a cercaram e a feriram.
26 Vendo o rei dos moabitas que a peleja prevalecia
contra ele, tomou consigo setecentos homens que arrancavam da espada, para
romperem contra o rei de Edom; porém não puderam.
27 Então tomou a seu filho primogênito, que havia
de reinar em seu lugar, e o ofereceu em holocausto sobre o muro, pelo que houve
grande indignação em Israel; por isso retiraram-se dele, e voltaram para a sua
terra.” (II Rs 3.1-27).
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