Sabendo que o Senhor tem um propósito em tudo o que
Ele faz, podemos então refletir sobre os ensinamentos que Ele intentou deixar
para nós com o arrebatamento de Elias, relatado no 2º capítulo de II Reis.
Por que somente depois de tanto tempo, desde Enoque
(que era da sétima geração depois de Adão – Hb 11.5), que foi o primeiro homem
a ser arrebatado sem ter passado pela morte, Deus o faria de novo com
Elias?
Por que foi dada a Elias esta honra e não a nenhum
outro grande homem de Deus que viveu antes dele, desde Enoque?
O primeiro grande ensinamento do arrebatamento é
que Deus é poderoso para intervir na condição de mortalidade a que ficou
sujeita a humanidade, com o pecado original, dando e mantendo a vida, de quem
Ele quiser, segundo o conselho da Sua própria vontade soberana.
Tendo feito a promessa de vida eterna àqueles que
se arrependessem dos seus pecados convertendo-se a Ele de coração, os tais
podem ter no exemplo do arrebatamento de Elias a garantia de que ainda que
morram, não morrerão no entanto, eternamente, e terão os seus corpos
ressuscitados para experimentarem o mesmo tipo de arrebatamento do profeta,
quando Cristo vier buscar a Sua Igreja.
Então este não foi um privilégio exclusivo de Elias
e Enoque, mas foi antecipado a eles para ser o prenúncio de que será o mesmo privilégio de muitíssimos cristãos
que estiverem vivendo sobre a terra por ocasião da volta do Senhor, porque
terão os seus corpos transformados, instantaneamente, sem passarem pela morte
física, de modo que possam se encontrar com Ele entre nuvens, juntamente com
aqueles que haviam morrido e que serão ressuscitados, no dia do arrebatamento
da Igreja.
Entretanto, a grande lição que aprendemos com o
arrebatamento destes dois homens é a de que ambos tinham grande comunhão com o
Senhor, em razão da santidade em que viviam, e assim há um recado silencioso no
seu arrebatamento, de que aqueles que forem considerados dignos desta honra o
serão também em razão da evidência de santidade que for achada em suas vidas.
Por isso, a santificação não deve ser
negligenciada, porque o Senhor exigirá evidência de santidade nas vidas de
todos aqueles que forem arrebatados.
Os cristãos que estiverem vivendo na carnalidade,
permitindo-se apostatar da vontade de Deus, por falta do interesse em se
santificarem, correrão o grande risco que é ensinado especialmente na parábola
das dez virgens, por ocasião da volta do Senhor.
E a evidência desta santificação é atestada pelo
testemunho do Espírito Santo, com o nosso espírito, de que tudo vai bem em
nossa comunhão com Deus, de modo que tranquilizemos o nosso coração, não
somente quanto à certeza da nossa salvação, que é segura para todo genuíno cristão,
como também quanto à certeza do nosso arrebatamento por ocasião da volta do
Senhor.
Que nenhum cristão autêntico se exponha ao risco de
não subir para o encontro com Jesus entre nuvens, e venha por isso a estar
neste mundo, debaixo das perseguições da Grande Tribulação, enquanto os cristãos
fiéis que se santificaram se encontrarão na perfeita paz do céu com o Seu
Senhor nas Bodas do Cordeiro.
Estes que ficarem não perderão a salvação, mas como
no dizer do apóstolo, serão também salvos como que através do fogo, o qual
poderiam ter evitado, por darem crédito às exortações da Palavra para que os
filhos de Deus vivam em santidade de vida.
Deus arrebataria Elias e confirmaria
posteriormente, que ele se encontra com Ele no céu, quando deu-lhe também a
grande honra de estar juntamente com Moisés, na presença de Jesus no monte da
Transfiguração.
Assim como o arrebatamento de Elias foi invisível
aos olhos dos homens, exceto para Eliseu, a quem foi permitido vê-lo, por causa
de um propósito específico de torná-lo sucessor de Elias, de igual modo, o
arrebatamento da Igreja será também invisível aos olhos daqueles que não forem
arrebatados.
Deus fez isto com Elias e fará o mesmo com os cristãos
no tempo do fim porque é algo muito precioso para Ele e para aqueles que o
experimentarem, de modo que se torna algo para ser alcançado somente por fé na
Sua promessa.
Isto foi prometido a Elias, de maneira que até mesmo os discípulos de
profetas de Betel e de Jericó o souberam, mas não pelo fato de ter sido
alardeado o evento, mas por ter sido preanunciado pelo Senhor, antes que o
fizesse.
Seria algo grandemente extraordinário, mas Elias
creu na promessa, assim como Eliseu.
A fé dos demais profetas não foi tão grande quanto
a deles, porque insistiram com Eliseu para procurarem pelo corpo de Elias,
depois que este havia desaparecido das suas vistas.
Assim se dá com todos os mistérios e promessas do
Reino de Deus, que são concedidos por Ele para serem experimentados e vistos
somente por aqueles que se aproximam dEle com um coração fiel, sincero e cheio
da verdadeira fé que é dada por Ele como um dom, aos que se aproximam de tal
maneira, de modo a poderem se comunicar com Ele e se tornarem canais receptores
da Sua infinita graça.
E este testemunho de piedade deve ser dado em meio
a uma geração corrompida e má, tal como fizera Elias e os profetas, que se
uniram a ele em seu ministério, pois ao que vemos, ele manteve uma de suas
escolas de profetas exatamente na cidade em que havia um dos bezerros de ouro,
com o culto que havia sido instituído por Jeroboão, isto é, em Betel.
Quando ele soube que estava para ser elevado ao
céu, num redemoinho, o Senhor o enviou a Betel (v. 2); e também a Jericó (v. 4,
5), onde havia outra escola de profetas,
provavelmente com o propósito de confirmar a fé dos profetas que se
encontravam tanto em Betel, quanto em Jericó, e também para por à prova a
determinação de Eliseu em ser o seu sucessor, porque não somente quando Elias
deixou Gilgal rumo a Betel (v. 1), como também quando foi enviado pelo Senhor
de Betel a Jericó (v. 4), e ainda quando
partiu de Jericó em direção ao rio Jordão (v. 6), ele disse a Eliseu que
ficasse tanto em Gilgal, quanto em Betel e Jericó, mas este não consentiu com o
pedido de Elias e o seguiu com a firme determinação de quem espera por uma
grande bênção.
Ele sabia que o arrebatamento do profeta ocorreria
naquele mesmo dia em que estiveram em
Betel, e que lhe cabia estar junto dele quando do arrebatamento, porque ainda
que não lhe tivesse sido revelado diretamente pelo Senhor, com antecedência,
sabia que algo ocorreria pouco antes daquele evento, de forma que tivesse a
convicção de que havia sido escolhido para ser o sucessor de Elias, com o
recebimento de uma medida do Espírito Santo ainda maior do que a que fora dada
a Elias.
Quando Elias parou junto ao Jordão acompanhado de Eliseu,
cinquenta profetas os seguiram e ficaram contemplando os dois de longe (v.
6,7).
Eles sabiam que Elias seria arrebatado, e foram
lhes seguindo, certamente para satisfazerem à sua curiosidade, sem saberem que
não lhes seria permitido por Deus verem o profeta sendo elevado aos céus.
Eles não testemunhariam o evento em si, mas seriam
testemunhas de que o Senhor havia de fato feito com que o profeta desaparecesse
debaixo das suas vistas.
Elias dobrou a sua capa, e com ela feriu as águas
do rio Jordão, que se dividiram, de modo que tanto ele, quanto Eliseu,
atravessaram para o outro lado a pé enxuto (v. 8).
Elias estava coberto com o manto da justiça de
Cristo, e foi por meio desta justiça, representada na capa que trazia sobre si,
que as águas do Jordão se dividiram, porque é a justiça de Deus o grande
divisor de águas deste mundo, pois é por ela que se determina aqueles que são
dignos de alcançarem a vida eterna, e de igual modo aqueles que não são, pois é
somente com a cobertura da justiça de Jesus, que é recebida pela graça, por
meio da fé nEle, que podemos ser aceitos por Deus e fazer as Suas obras.
Assim, a evidência deste primeiro grande milagre
operado por Deus através de Elias, e que foi permitido ser visto e testemunhado
não somente por Eliseu, quanto por aqueles cinquenta profetas, seria a
atestação do segundo, que viria em sequência a este, a saber, o seu
arrebatamento.
Assim também os cristãos têm a firme convicção de
que serão arrebatados na volta de Jesus, pelas várias evidências da Sua
presença abençoadora em suas vidas.
As promessas que Deus tem cumprido presentemente
são a firme atestação de que Ele também cumprirá todas as que aguardam
cumprimento no futuro.
Elias tinha retornado à terra onde ele nascera,
isto é, à Transjordânia, e assim, seria tomado aos céus, a partir do mesmo
lugar do qual havia partido no início do seu ministério para entrar em cena em
Israel, do outro lado do Jordão, especialmente em Samaria, na tribo de Efraim,
cidade em que se encontrava a capital do Reino do Norte.
E debaixo da instrução do Senhor, Elias disse a
Eliseu que lhe pedisse o que queria que lhe fizesse, antes que fosse tomado aos
céus.
Nós vemos nisto, mais uma vez, Deus provando o
coração daqueles que desejam se aproximar dEle para servi-lO no ministério.
Ele faz com que eles próprios possam conhecer o
quanto prezam os Seus dons, o quanto realmente desejam se consagrar ao Seu
serviço.
Ele já conhece o que se encontra no nosso coração e
qual é a condição do nosso espírito, mas Ele quer que nós mesmos possamos
conhecer isto.
No caso de Eliseu, ele não pediu nada para si que
não fosse relacionado ao desejo do próprio Deus.
Ele não queria fazer a sua própria vontade mas a do Deus de Elias,
que era também o seu Deus.
Então ele ousa pedir uma medida maior, dobrada, do
espírito de Elias.
Aquilo que Elias havia sido para o Senhor ele
desejava ser duas vezes mais. E tudo o que Elias havia feito ele queria fazer
duas vezes mais (v. 9).
Não admira portanto que a resposta de Elias para
ele tenha sido: “Coisa difícil pediste”, entretanto, como não era impossível mas apenas difícil, foi
respondido também: “Todavia, se me vires quando for tomado de ti, assim se te
fará; porém, se não, não se fará.”.
Não estava na esfera de Elias assegurar um tal pedido,
senão somente na do Senhor.
Ele devia estar esperando que Eliseu apenas lhe
pedisse para ser o seu sucessor, conforme havia sido ungido anteriormente por
ele próprio para que o fosse, mas, pela sua resposta, nós podemos supor que
aquilo havia sido algo inesperado para ele, e assim, ele agiu debaixo da
direção divina, de modo a que fosse dada uma evidência a Eliseu de que Deus
havia atendido ou não o seu pedido de receber uma porção dobrada do Espírito
Santo.
Se esta porção na vida de Elias era muito grande e
incomum, quanto não seria uma porção dobrada da que ele havia recebido da parte
de Deus?
Assim, não seria uma coisa difícil para Deus fazer,
senão para ser concedida.
Era de fato um pedido muito ousado e somente estava
na esfera do Senhor fazer isto ou não.
A sucessão não dependeria de nenhuma confirmação ou
evidência, pois era uma questão que já havia sido fechada pelo Senhor, mas este
pedido precisava de uma evidência, e como estava determinado que o
arrebatamento não seria visível a nenhum outro olho humano, senão ao do próprio
Elias, então, por inspiração divina, ele disse a Eliseu que caso o visse sendo
tomado aos céus é porque Deus lhe concederia o que havia pedido, e em caso
contrário, ele deveria se contentar com a medida que Deus tivesse planejado
para ele.
E ali estavam os dois caminhando e conversando
junto ao rio Jordão, o mestre e o seu discípulo, sob a expectativa da separação
que ocorreria, quando um carro de fogo com cavalos de fogo os separou elevando
Elias ao céu num redemoinho (v. 11).
É bem provável que este carro de fogo com cavalos
de fogo eram anjos seráficos, que haviam tomado aquela forma, para dar ao
profeta a honra de ser conduzido ao céu numa carruagem celestial. A
palavra
Serafim, significa ardentes ou abrasadores porque é uma palavra plural para
seraf, fogo.
É a mesma palavra que ocorre em Is 6.2, 6 para
designar os serafins, e que também encontramos em Nm 21.6, 8; Dt 8.15 e Is
14.29, 30.6, que é traduzida por fogo ou abrasadores, e nada impede que tenham
sido eles ou alguma outra ordem de anjos que conduziu Elias ao céu, pois não é
incomum vermos no texto do Velho Testamento várias referências a anjos com
aparência de chamas de fogo, e que subiam ao céu no fogo do altar em que foram
oferecidos holocaustos a Deus, por exemplo pelos pais de Sansão (Jz
13.20).
“Ora, quanto aos anjos, diz: Quem de seus anjos faz
ventos, e de seus ministros labaredas de fogo.” (Hb 1.7).
Quando Eliseu viu Elias subindo ao céu naquele
carro de fogo com cavalos de fogo, num redemoinho, clamou: “Meu pai, meu pai! o
carro de Israel, e seus cavaleiros!”. E em reverência a Deus e como sinal do
impacto que sentiu com aquela separação abrupta ele rasgou as suas vestes ao
meio (v. 12).
Elias foi como um pai para ele e se sentia agora
como um filho que estava sendo
desamparado daquele que havia sido durante toda a sua vida o carro e os
cavaleiros do exército espiritual de Israel, pois era especialmente por ele que
o Senhor trouxe os seus tremendos juízos contra aqueles que se opunham à Sua vontade.
Aquele único profeta valia para Deus muito mais do
que mil exércitos.
A terra era agora deixada desamparada da sua
presença porque o Senhor o havia tomado para Si, tal como tinha feito com
Enoque.
Ele não saiu do mundo pela morte, mas ainda em vida
e em pleno vigor.
O mundo não merecia de fato aquele homem santo, que
havia se consagrado inteiramente ao serviço do Seu Deus, e que fizera dEle e da
Sua vontade a sua única razão de viver.
Quando os nossos amados partem deste mundo, nós
temos ainda o conforto da presença do Senhor, ao qual nós podemos nos dirigir,
para estar em nossa companhia.
Eliseu havia visto Elias subir ao céu, então isto
era sinal de que receberia a porção dobrada que havia pedido ao seu mestre.
Ele deve ter lembrado disto logo que se recuperou
de sua estupefação, e pegando o manto de Elias que dele caíra, quando subia ao
céu, dirigiu-se ao Jordão para atravessar para o outro lado, para Jericó, onde
se encontravam os discípulos dos profetas, que estavam defronte dele.
O legado visível que Elias lhe deixara foi o seu
manto, mas havia um outro legado, o do poder do Senhor que seria manifestado
agora diante daqueles profetas, de modo que Eliseu fosse engrandecido diante
deles como o escolhido do Senhor para ser o sucessor de Elias.
E isto foi marcado com a inspiração e grande fé que
o Senhor deu a Eliseu para ferir as águas do Jordão com o manto de Elias,
fazendo-o em Seu nome, a saber o Senhor
(YHWH) Deus (Elohim) de Elias, isto é o mesmo Deus de Elias.
O resultado foi que tal como ocorrera com o gesto
de Elias, também sucedeu com o de Eliseu, pois as águas do Jordão foram
divididas, para que ele passasse a pé enxuto para o outro lado (v. 13, 14).
Mas o grande resultado esperado por Deus viria
ainda a acontecer, que foi o reconhecimento por parte dos demais profetas que
viram aquilo suceder, que o espírito de Elias repousava sobre Eliseu, isto é, o
mesmo poder espiritual de Elias, que lhe fora dado por Deus havia sido dado
agora a Eliseu, e por isso eles reverenciaram o profeta inclinando-se perante
ele com o rosto em terra (v. 15).
A prova de que estes profetas não haviam visto nada
relativo ao arrebatamento, senão apenas que Elias havia desaparecido sem que
eles o notassem, está nos versos 6 a 8, porque insistiram muito com Eliseu para
que fossem enviados cinquenta homens à procura de Elias, porque pensavam que o
Espírito Santo havia arrebatado Elias e o havia lançado em algum monte ou vale.
Eliseu lhes disse que não o fizessem pois havia
visto Elias subir ao céu, mas como
continuaram insistindo ele o permitiu por causa do constrangimento, mas
não por ter duvidado de que Elias havia sido elevado ao céu.
E eles efetuaram uma busca de três dias, e não
tendo achado a Elias voltaram a ter com Eliseu em Jericó, onde ele havia
permanecido, desde que haviam saído para aquela busca que ele sabia de antemão
que seria frustrada.
É interessante observar que o segundo milagre
efetuado por Deus através de Eliseu, desde que ele havia dividido as águas do
rio Jordão, foi o de transformar o manancial, isto é, a fonte das águas que
regavam a cidade de Jericó, que por serem péssimas eram não apenas impróprias
para consumo, como eram também a causa da esterilidade daquela terra, que havia
sido amaldiçoada por Deus desde os dias de Josué.
Deus fez isto ordenando a Eliseu que colocasse sal
num jarro novo e jogasse daquele sal no manancial das águas (v. 19 a 22), e
desde então aquela água se tornou potável.
O sal da Palavra de Deus com o qual o mundo deve
ser salgado pelos cristãos, é o meio que o Senhor utiliza para remover a
maldição que Ele trouxe ao mundo, por causa do pecado, de modo que todo coração
que receber deste sal terá as suas fontes restauradas pela limpeza espiritual
realizada pelo Espírito Santo.
Se é do coração que procedem as fontes da vida,
então é nele que o trabalho do Espírito deve ser efetuado, porque sendo boa a
fonte, também será bom aquilo que for produzido por ela.
O trabalho do Espírito é feito então naquilo que
gera os atos dos homens, nas motivações internas, e não propriamente nos atos
externos que são mera consequência destas atitudes internas.
“Guarda com toda a diligência o teu coração, porque
dele procedem as fontes da vida.” (Pv 4.23).
Façamos boa a árvore e o fruto será bom. Limpemos o
coração e isso limpará as mãos.
E este coração renovado pelo espírito é o vaso novo
no qual o sal da Palavra é colocado por Deus, porque Ele não dará da sua graça
renovadora a quem não se tornar uma nova criatura em Cristo Jesus.
O sal preserva mas deve também ser preservado de
modo que não venha a perder o seu sabor, e é por isto que se exige que seja
colocado num vaso novo e limpo.
É por isso que todo aquele que não se santificar
ficará desprovido desta propriedade de salgar porque o sal terá perdido o seu
sabor, e nesta condição não pode ter qualquer utilidade para Deus, e seu
destino é o de ser lançado fora para ser pisado pelos homens.
Nós vemos Elias e Eliseu brilhando em seus
ministérios, sendo honrados pelo Senhor, e ainda que perseguidos e rejeitados,
mesmo pelos poderosos, no entanto, não lhes foi permitido pisarem na honra de
profetas e de homens de Deus que eles possuíam.
Isto permaneceu intocado em seus ministérios,
porque não haviam sido colocados de lado pelo Senhor.
Ao contrário, foram de grande utilidade em Suas
mãos, e por isso salgaram a sua geração com o seu testemunho de vida e com a
Palavra de Deus, sendo verdadeiros pendões vivos, em todo o tempo hasteados
pelo poder do Senhor, para protestarem contra o pecado de Israel.
Tendo estado com os profetas de Jericó, Eliseu,
depois de abençoá-los com o poder que havia recebido de Deus tornando melhores
as condições de vida do local onde viviam, dirigiu-se para Betel, onde se
encontraria com o outro grupo de profetas que Elias havia visitado, antes do
seu arrebatamento, e provavelmente compartilharia com eles tudo o que havia
ocorrido desde que ele havia sido elevado ao céu.
Mas enquanto se encontrava ainda no caminho de
Betel, uns meninos vieram ao seu encontro não para serem abençoados por ele, mas
para caçoarem dele, de forma que aquele gesto de desprezo trouxesse descrédito
ao ministério que ele havia recebido recentemente do Senhor.
O trabalho de Deus no sentido de engrandecer Eliseu
aos olhos de Israel havia começado no Jordão quando dividiu as águas do rio, e
aquele evento havia sido testemunhado pelos profetas, e depois em Jericó,
quando tornou potável o manancial das águas da cidade, e agora ele seria
engrandecido aos olhos das pessoas de Betel, não com uma maravilha como a do
Jordão, e nem com uma bênção, como a de Jericó, mas com um juízo, porque 42
daqueles meninos que caçoavam do profeta foram despedaçados por duas ursas que
saíram do bosque, no momento mesmo em que Eliseu os amaldiçoou em nome do
Senhor.
É bem provável que os pais daqueles jovens não
somente consentiam no seu procedimento como também os influenciaram a agirem
daquele modo, porque não tinham em alta estima os verdadeiros servos de Deus,
especialmente seus profetas, que protestavam contra o seu pecado, pois era
exatamente em Betel que havia o culto de um dos bezerros de ouro, e cujo altar
havia sido amaldiçoado por um profeta do Senhor, nos dias do rei Jeroboão.
Na dispensação da graça foi proibido pelo Senhor
aos seus servos amaldiçoarem os que os amaldiçoam, diferentemente da Antiga
Aliança, em que tal era permitido, mas a mensagem de que aqueles que amaldiçoam
os verdadeiros filhos de Abraão serão amaldiçoados por Deus, conforme a
promessa feita por Ele ao patriarca, ficou atestada neste e nos vários exemplos
que nós encontramos nas páginas do Velho Testamento, e por isso os cristãos são
chamados a não amaldiçoarem os que os amaldiçoam mas deixarem todo juízo nas
mãos do Senhor, que é o reto juiz que amaldiçoará no tempo do fim todos aqueles
que amaldiçoaram os seus filhos por causa das suas boas obras de justiça, e que
não se arrependeram de suas más obras.
Cabe destacar que sucedeu àqueles jovens insolentes
que zombavam de Eliseu o mesmo que ocorreu com os dois grupamentos de cinquenta
homens, com seus respectivos capitães, que haviam sido destruídos pelo fogo,
conforme a maldição de Elias contra eles, pelo fato de não terem tido a devida
reverência para com o ofício sagrado no qual havia sido investido por
Deus.
Assim como o temor sobreveio ao terceiro capitão de
cinquenta, que foi enviado a Elias, depois do que havia sucedido aos dois que
lhe haviam antecedido, de igual modo deve ter vindo grande temor sobre os
habitantes de Betel, em razão do que Deus havia feito através de Eliseu, mas
juntamente com o temor deve ter sido despertado neles uma grande fúria e um
forte desejo de vingança, e talvez por isso Eliseu não se demorou em Betel e
foi para o monte Carmelo, de onde partiu posteriormente para Samaria (v.
25).
“1 Quando o Senhor estava para tomar Elias ao céu
num redemoinho, Elias partiu de Gilgal com Eliseu.
2 Disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o
Senhor me envia a Betel. Eliseu, porém disse: Vive o Senhor, e vive a tua alma,
que não te deixarei. E assim desceram a Betel.
3 Então os filhos dos profetas que estavam em Betel
saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o Senhor hoje tomará o
teu senhor por sobre a tua cabeça? E ele disse: Sim, eu o sei; calai-vos.
4 E Elias lhe disse: Eliseu, fica-te aqui, porque o
Senhor me envia a Jericó. Ele, porém, disse: Vive o Senhor, e vive a tua alma,
que não te deixarei. E assim vieram a Jericó.
5 Então os filhos dos profetas que estavam em
Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o Senhor hoje tomará o
teu senhor por sobre a tua cabeça? E ele disse: Sim, eu o sei; calai-vos.
6 E Elias lhe disse: Fica-te aqui, porque o Senhor
me envia ao Jordão. Mas ele disse: Vive o Senhor, e vive a tua alma, que não te
deixarei. E assim ambos foram juntos.
7 E foram cinquenta homens dentre os filhos dos
profetas, e pararam defronte deles, de longe; e eles dois pararam junto ao
Jordão.
8 Então Elias tomou a sua capa e, dobrando-a, feriu
as águas, as quais se dividiram de uma à outra banda; e passaram ambos a pé
enxuto.
9 Havendo eles passado, Elias disse a Eliseu:
Pede-me o que queres que eu te faça, antes que seja tomado de ti. E disse
Eliseu: Peço-te que haja sobre mim dobrada porção de teu espírito.
10 Respondeu Elias: Coisa difícil pediste. Todavia,
se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, se não, não se
fará.
11 E, indo eles caminhando e conversando, eis que
um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao
céu num redemoinho.
12 O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai! o
carro de Israel, e seus cavaleiros! E não o viu mais. Pegou então nas suas
vestes e as rasgou em duas partes;
13 tomou a capa de Elias, que dele caíra, voltou e
parou à beira do Jordão.
14 Então, pegando da capa de Elias, que dele caíra,
feriu as águas e disse: Onde está o Senhor, o Deus de Elias? Quando feriu as
águas, estas se dividiram de uma à outra banda, e Eliseu passou.
15 Vendo-o, pois, os filhos dos profetas que
estavam defronte dele em Jericó, disseram: O espírito de Elias repousa sobre
Eliseu. E vindo ao seu encontro, inclinaram-se em terra diante dele.
16 E disseram-lhe: Eis que entre os teus servos há
cinquenta homens valentes. Deixa-os ir, pedimos-te, em busca do teu senhor;
pode ser que o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e lançado nalgum monte, ou
nalgum vale. Ele, porém, disse: Não os envieis.
17 Mas insistiram com ele, até que se envergonhou;
e disse-lhes: Enviai. E enviaram cinquenta homens, que o buscaram três dias,
porém não o acharam.
18 Então voltaram para Eliseu, que ficara em
Jericó; e ele lhes disse: Não vos disse eu que não fôsseis?
19 Os homens da cidade disseram a Eliseu: Eis que a
situação desta cidade é agradável, como vê o meu senhor; porém as águas são
péssimas, e a terra é estéril.
20 E ele disse: Trazei-me um jarro novo, e ponde
nele sal. E lho trouxeram.
21 Então saiu ele ao manancial das águas e,
deitando sal nele, disse: Assim diz o Senhor: Sarei estas águas; não mais sairá
delas morte nem esterilidade.
22 E aquelas águas ficaram sãs, até o dia de hoje,
conforme a palavra que Eliseu disse.
23 Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo
caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, dizendo: Sobe, calvo;
sobe, calvo!
24 E, virando-se ele para trás, os viu, e os
amaldiçoou em nome do Senhor. Então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram
quarenta e dois daqueles meninos.
25 E dali foi para o monte Carmelo, de onde voltou
para Samaria.” (II Rs 2.1-25).
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