Nós temos no quarto capítulo de II Reis, a
continuação dos milagres que Deus estava operando através de Eliseu, e que
prosseguirá nos capítulos seguintes, como forma de demonstração que havia de
fato recebido uma medida do Espírito Santo que era duas vezes maior do que a
que havia sido dada a Elias.
No primeiro milagre que é narrado neste capítulo,
não devemos nos ocupar em tentar entender qual seria o significado espiritual
das panelas que foram pedidas emprestadas por aquela viúva pobre, cujo marido
havia sido um profeta que morrera endividado, e cuja dívida estava sendo
cobrada pelos credores, com o risco de perder seus próprios filhos, que seriam
tomados como escravos para saldá-la.
Não há nenhum mistério relativo às panelas que ela
pediu emprestadas a seus vizinhos, senão que isto visava ao atendimento prático
de uma necessidade que serviria sim para manifestar até que ponto ia a fé e
obediência daquela mulher, em atender ao que o profeta lhe dissera para fazer,
pois tal a quantidade de vasilhas que ela pedisse emprestado, tal seria a
quantidade de azeite que seria multiplicado a partir do que lhe restara, numa
única botija que ela tinha em casa.
Aquela viúva pobre havia apelado a Eliseu na
certeza de que o justo e a sua descendência não serão jamais desamparados pelo
Senhor.
Para que ela não corresse o risco de ser
interrompida, enquanto enchia todas aquelas vasilhas com a ajuda de seus dois
filhos, o profeta lhe ordenou que entrasse em sua casa e fechasse a porta,
quando começasse a encher as vasilhas com o azeite daquela botija que ela tinha
em sua casa.
E o azeite parou de jorrar da botija somente depois
de terem sido cheias todas as vasilhas que lhe foram emprestadas.
Não se diz qual foi a quantidade de azeite que Deus
multiplicou, mas se afirma que a venda do azeite seria suficiente não apenas
para pagar a dívida como também para sustentar aquela viúva e seus dois filhos
(v. 1 a 7).
O que esta narrativa ressalta não é tanto o milagre
da multiplicação do azeite, quanto o cuidado e assistência que o Senhor provê
aos seus servos necessitados.
Ele fez a promessa de cuidar dos que são Seus, e
Ele o fará sempre conforme a Sua fidelidade em cumprir todas as Suas
promessas.
O primeiro milagre narrado neste capitulo foi
operado pelo fato de alguém ter honrado ao Senhor, como foi o caso daquele
profeta que morreu endividado, possivelmente pelas dificuldades que lhe foram
impostas e à sua família, pelas perseguições de Jezabel, e agora nós temos a
narrativa deste segundo milagre que comentaremos adiante, em razão de alguém
ter honrado o profeta do Senhor não por qualquer outro interesse senão
unicamente por este caráter de ser um verdadeiro profeta de Deus.
E foi isto que uma rica mulher de Suném fizera em
relação a Eliseu, porque Suném era uma cidade que ficava na tribo de Issacar,
no caminho entre o Carmelo e Samaria, e ao que tudo indica não somente pelo
relato deste capitulo como pelo que lemos em 2.25, Eliseu viajou muitas vezes
fazendo este trajeto.
Aquela mulher rica, sabendo que Eliseu havia sido
confirmado pelo Senhor como sucessor de Elias, e de tudo o que vinha fazendo em
Israel, se adiantou em recebê-lo algumas vezes em sua casa para dar-lhe do que
comer (II Rs 4.8).
Aquelas visitas se tornaram tão frequentes, que ela
pediu autorização a seu esposo para que não somente lhe dessem de comer como
também providenciassem para Eliseu um quarto no qual ele poderia descansar de
viagem, e mobiliaram aquele quarto, segundo o caráter modesto do próprio profeta,
com uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro (v. 10).
O profeta Eliseu era rico de dons espirituais, mas
assim como os demais profetas e apóstolos, era pobre materialmente falando,
para que se revelasse na sua vida como nas deles, o grande cuidado e
providência de Deus:
Foi para prova de nossa fé, que Deus tem chamado
nem tanto a ricos quanto a pobres, segundo o mundo, para que possa demonstrar a
Sua completa assistência e provisão.
Eliseu não era menos importante para Deus por ser
provido pela mulher rica de Suném no pequeno quarto que havia preparado para
ele, do que Josafá, o fiel rei de Judá, em seu palácio.
Assim, o grande alvo do Senhor para os Seus
ministros não é o de que eles se esforcem para serem ricos de bens materiais e
de tudo o mais que possa ser considerado como riquezas deste mundo.
Não é pelo fato de não ter sido rico e poderoso
segundo o mundo, que Eliseu seria consequentemente pobre para com Deus, de modo
a não poder atender aos Seus propósitos.
Se isto é difícil para ser compreendido segundo a
maneira de entender do mundo, no entanto não é difícil de ser compreendido
segundo a maneira de entender de Deus, pois foi Ele mesmo que determinou que a
maior parte dos Seus ministros passariam por este mundo sendo rejeitados, desprezados,
humilhados, especialmente pelos poderosos e sábios deste século, em razão da
sua presente condição, que lhes foi imposta pelo próprio Deus.
Assim, se algum destes que foi assim chamado pelo
Senhor, vier a permitir ser dominado pelo desejo de ficar rico, ele correrá o
grande risco de apostatar da fé, conforme vemos nas palavras proferidas pelo
apóstolo Paulo em I Tim 6.9,10.
A um Salomão Deus pode prometer riquezas e glórias
terrenas, sem que isto configurasse qualquer real vantagem de Salomão em relação
aos demais cristãos, quanto ao favor demonstrado pelo Senhor a ele, e de fato a
sua vida provou esta verdade.
A um Elias e a um João Batista pode ser determinado
pelo Senhor um modo de vida rústico e totalmente modesto, na forma de se vestir
e de se alimentar, e até mesmo em lhes ter proibido a constituição de uma
família.
Certamente, o Senhor sempre ajustará o pé à
caminhada ou a caminhada ao pé, mas como
regra geral, com poucas exceções, Ele sempre condenará a falsa glória do mundo,
a sua luxúria e impiedade, com as vidas daqueles que viveram modestamente em
santo trato e piedade, de modo que aqueles que vierem a alegar no Juízo Final,
que não tiveram tempo para servi-lo pela necessidade de acumular riquezas,
serão indesculpáveis, porque o Senhor os condenará com as vidas daqueles que
foram pobres para o mundo, mas riquíssimos para com Ele, porque consideraram
que o próprio Deus era o bem mais precioso que deveriam buscar para si.
Teria aquele profeta, cuja estória é narrada no
início deste capitulo, ficado endividado, porque havia se envolvido a tal ponto
com a obra de Deus que veio a negligenciar completamente as necessidades de sua
família?
Nós não cremos que tenha sido este o motivo, mas
caso tivesse sido, caberia a ele ter uma maior sabedoria em saber que o cuidado
pelo reino de Deus começa pelo cuidado com a nossa própria casa.
De forma que a própria Bíblia nos ensina a ter em
boa ordem todas as coisas.
Vejamos por exemplo, o caso da sunamita, que
declarou estar contente com a sua situação, quando Eliseu lhe perguntou o que
poderia fazer por ela, como prova da sua gratidão, por tudo o que vinha fazendo
por ele (v. 13).
Não foi ela quem lhe pediu um filho, mas Geazi foi
a pessoa que sugeriu isto a Eliseu por ter observado que o marido da sunamita
já era velho (v. 14).
Ela avançaria então no recebimento de dons da parte
do Senhor, porque o profeta a chamou e lhe disse que ela daria à luz um filho
no ano seguinte (v. 15, 16).
Ela já havia se acostumado à ideia de não ter
filhos, mas gerar pelo menos um filho é um desejo natural de toda mulher
casada, e por isso a resposta da sunamita à afirmação de Eliseu foi um misto de
espanto, de uma aparente recusa, e até mesmo de uma certa incredulidade de que
ele estivesse falando realmente sério (v. 16).
Todavia, como o profeta lhe dissera sucedeu, no ano
seguinte, e ela deu à luz um menino (v. 17).
O menino cresceu, e embora tivesse sido dado por
uma promessa de Deus, este veio a morrer quando ainda era uma criança, depois
de ter sentido fortes dores em sua cabeça (v. 21).
Tendo morrido no colo de sua mãe, esta o tomou e
deitou o corpo do menino na cama do quarto que ela havia construído para
Eliseu, e ao sair, fechou a porta, e não declarou a ninguém que o menino havia
morrido, nem mesmo ao seu marido (v. 21 a 23).
E montando uma jumenta ela se dirigiu ao monte
Carmelo para falar com Eliseu.
Ela ainda vinha ao longe quando Eliseu a avistou e
mandou Geazi ir ter com ela perguntando se ela ia bem, seu marido e filho, sem
saber que era a ele que ela estava procurando, e por isso ocultou também a
morte de seu filho a Geazi dizendo que tudo ia bem (v. 25, 26). .
Quando a sunamita chegou ao monte, apegou-se aos
pés de Eliseu, e o fez com tal amargura de alma, que Geazi tentou retirá-la,
mas foi impedido pelo profeta de fazê-lo, porque percebeu que a sua alma estava
amargurada e o Senhor nada lhe falara a respeito (v. 27).
Então ela desabafou a sua dor, dizendo a Eliseu que
não lhe tinha pedido um filho, e que no dia em que ele lhe fez tal promessa,
ela lhe havia pedido para que não a enganasse.
Com isto ela estava dizendo que se era para
perdê-lo em tão tenra idade, melhor teria sido que nunca lhe houvesse sido
dado, porque teria que amargar dali em diante a tristeza da sua perda.
Entretanto, de tudo o que a sunamita havia feito,
desde que colocara o seu filho no quarto do profeta, fechando a sua porta e não
contando a ninguém senão ao próprio Eliseu o que sucedera ao menino, podemos
inferir que havia algo como que uma esperança produzida nela, pela fé de que
Deus faria algo em seu favor, através do profeta, porque se aquela criança lhe
fora dada pelo Senhor, pela palavra do profeta, de algum modo ela poderia agora
ser restituída a ela com vida, pela ressurreição, pela palavra do mesmo profeta
que lhe dissera, que ela conceberia, sabendo que nem ela nem seu esposo
poderiam gerar aquela criança, senão por meio de uma intervenção miraculosa de
Deus.
Assim, se a sua vida foi o resultado de um milagre,
por um outro milagre de Deus ela poderia recobrá-lo de volta, e por isso ela se
determinou não deixar Eliseu, ainda que ele tivesse mandado Geazi colocar o seu
bordão sobre o rosto do menino, para que ele ressuscitasse.
A atitude da sunamita serviu para despertar o
próprio Eliseu para o fato de que aquela ressurreição não se concretizaria pelo
método que ele havia designado por sua própria conta a Geazi, e então decidiu
ir à casa da sunamita em sua companhia (v. 27 a 30).
Como Geazi tinha ido adiante deles, colocou o bordão sobre o rosto do menino,
porém ele não ressuscitou, e veio dar a notícia do seu insucesso a Eliseu, de
quem na verdade era o insucesso, até aquele momento, por ter agido por sua
própria iniciativa, sem seguir a direção que o Senhor daria àquele caso.
Quando ele entrou no seu quarto, no qual estava o
corpo do menino, foi então que fez o que deveria ter feito quando a sunamita
foi ter com ele, pois orou ao Senhor, e passou a agir segundo a direção que
Deus estava lhe dando, pondo a sua boca sobre a do menino, os seus olhos sobre
os seus olhos, e as suas mãos sobre as suas mãos, e se encurvou sobre ele até
que a carne do menino ficou aquecida.
Mas como não havia ressuscitado, Eliseu desceu e
andou pela casa de uma parte a outra, até que tornando a subir encurvou-se
novamente sobre o menino e ele espirrou sete vezes e abriu os olhos (v. 32 a
35).
A fé do próprio Eliseu estava sendo provada quando
desceu do quarto, porque o menino não havia ressuscitado, depois de ter-se
encurvado sobre o corpo dele.
O fato de ter andado de uma parte para a outra da
casa, pode indicar que a sua alma estava em suspenso com indagações por que ele
não teria ressuscitado uma vez que havia feito tudo o que o Senhor lhe havia
ordenado para fazer?
Mas o milagre aconteceu somente quando retornou ao
quarto e fez de novo o que havia feito em princípio, porque se o método estava
correto, no entanto o tempo que havia gasto para esperar o milagre não fora
suficiente para corresponder ao tempo que havia sido determinado por Deus.
Por isso é importante continuar orando até
recebermos a resposta.
Não podemos parar enquanto não tivermos uma
resposta do Senhor, ainda que seja negativa, ou para que aguardemos um pouco
mais.
O Senhor sempre fará todas as coisas de acordo com
o Seu próprio tempo, e nunca pelo nosso ou por aquele que considerarmos que
seja necessário.
Por isso Jesus ensinou aos discípulos o dever de
orar incessantemente sem esmorecer.
De bater à porta do céu até que ela seja aberta
para que seja liberada a nós a resposta de Deus.
Nos versos 38 a 44 são citados mais dois milagres
de Eliseu no período em que houve fome em Israel, por sete anos, período este
sobre o qual achamos maiores detalhes no
capítulo oitavo.
O primeiro deles foi a remoção do veneno de uma
erva desconhecida, que fora cozida para alimentar os profetas, com a farinha
que Eliseu colocou na panela em que ela havia sido preparada (v. 38 a 41).
O segundo foi a alimentação de cem homens com
apenas vinte pães de cevada e algumas espigas verdes, que um homem de
Baal-Salisa trouxera a Eliseu, e este ordenou a seu servo que lha desse ao povo
para que comesse.
Tendo o servo de Eliseu retrucado, dizendo que era
muito pouco para alimentar cem homens, o profeta lhe disse que o Senhor havia
dito que não somente comeriam como até mesmo sobraria, e foi de fato o que
aconteceu (v. 42 a 44).
Nós vemos nestes dois milagres Deus restaurando
provisões (o da panela) e multiplicando meios escassos (o dos pães e espigas),
revelando com isto que não é a favor de desperdiçadores, nem de esbanjadores, e
nem de entesouradores dos bens que ele tem concedido liberalmente a todos os
homens.
E de um certo modo todos são mordomos perante Ele,
do uso que fazem destes bens, e terão que prestar contas da administração que fizeram, no dia do Juízo.
Será que a sunamita teria a disposição de construir
um quarto para Eliseu, caso ela tivesse percebido nele que o seu único
interesse consistia em desfrutar e se apropriar dos bens dela?
Se houvesse em Eliseu a mesma avareza que existia
nos fariseus, teria sido conhecido por todos como sendo um homem de Deus?
Então a resposta para este problema sobre qual deve
ser a relação do cristão com o dinheiro está na declaração de Jesus que onde
estiver o nosso tesouro ali estará também o nosso coração.
Se a obra do Senhor for o nosso tesouro então será
para ela que estará direcionado o nosso coração com todas as suas aspirações e
desejos.
Mas, se ao contrário, o nosso tesouro for o
dinheiro e tudo o que ele pode comprar, então a obra do Senhor ficará num plano
inferior, porque o desejo de obter muito dinheiro governará o nosso coração, e
este será o nosso maior ideal de vida, porque fizemos do dinheiro, e não de
Deus, e da Sua vontade, o nosso tesouro.
Eliseu teve que deixar para trás a sua vida de
homem que cuidava do gado, para ser o sucessor de Elias.
Esta renúncia que é exigida pelo Senhor, não tem
mudado, porque a Seu tempo, Deus tem chamado muitos em toda a parte para
deixarem as suas antigas ocupações, para se dedicarem aos interesses do reino
dos céus.
Eliseu não começou o ministério pobre e o encerrou
rico.
Na verdade, ele abriu mão dos seus bens quando o
Senhor o chamou para seguir Elias.
Ele teria necessidade de se desvencilhar de tudo
aquilo que o prendia, de modo que pudesse estar não onde fosse da sua
conveniência, mas onde o Senhor determinasse.
Quando Elias lançou o seu manto sobre ele, para
indicar que seria o seu sucessor, esta foi a herança material que Elias deixou
para Eliseu, a saber, o seu manto, que caiu dele quando foi arrebatado ao céu,
e que passou a ser usado pelo profeta Eliseu.
“1 Ora uma dentre as mulheres dos filhos dos
profetas clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes
que o teu servo temia ao Senhor. Agora acaba de chegar o credor para levar-me
os meus dois filhos para serem escravos.
2 Perguntou-lhe Eliseu: Que te hei de fazer?
Dize-me o que tens em casa. E ela disse: Tua serva não tem nada em casa, senão
uma botija de azeite.
3 Disse-lhe ele: Vai, pede emprestadas vasilhas a
todos os teus vizinhos, vasilhas vazias, não poucas.
4 Depois entra, e fecha a porta sobre ti e sobre
teus filhos; deita azeite em todas essas vasilhas, e põe à parte a que estiver
cheia.
5 Então ela se apartou dele. Depois, fechada a
porta sobre si e sobre seus filhos, estes lhe chegavam as vasilhas, e ela as
enchia.
6 Cheias que foram as vasilhas, disse a seu filho:
Chega-me ainda uma vasilha. Mas ele respondeu: Não há mais vasilha nenhuma.
Então o azeite parou.
7 Veio ela, pois, e o fez saber ao homem de Deus.
Disse-lhe ele: Vai, vende o azeite, e paga a tua dívida; e tu e teus filhos
vivei do resto.
8 Sucedeu também certo dia que Eliseu foi a Suném,
onde havia uma mulher rica que o reteve para comer; e todas as vezes que ele
passava por ali, lá se dirigia para comer.
9 E ela disse a seu marido: Tenho observado que
este que passa sempre por nós é um santo homem de Deus.
10 Façamos-lhe, pois, um pequeno quarto sobre o
muro; e ponhamos-lhe ali uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; e há
de ser que, quando ele vier a nós se recolherá ali.
11 Sucedeu que um dia ele chegou ali, recolheu-se
àquele quarto e se deitou.
l2 Então disse ao seu moço Geazi: Chama esta
sunamita. Ele a chamou, e ela se apresentou perante ele.
13 Pois Eliseu havia dito a Geazi: Dize-lhe: Eis
que tu nos tens tratado com todo o desvelo; que se há de fazer por ti? Haverá
alguma coisa de que se fale por ti ao rei, ou ao chefe do exército? Ao que ela
respondera: Eu habito no meio do meu povo.
14 Então dissera ele: Que se há de fazer, pois por
ela? E Geazi dissera: Ora, ela não tem filho, e seu marido é velho.
15 Pelo que disse ele: Chama-a. E ele a chamou, e
ela se pôs à porta.
16 E Eliseu disse: Por este tempo, no ano próximo,
abraçarás um filho. Respondeu ela: Não, meu senhor, homem de Deus, não mintas à
tua serva.
17 Mas a mulher concebeu, e deu à luz um filho, no
tempo determinado, no ano seguinte como Eliseu lhe dissera.
18 Tendo o menino crescido, saiu um dia a ter com
seu pai, que estava com os segadores.
19 Disse a seu pai: Minha cabeça! minha cabeça!
Então ele disse a um moço: Leva-o a sua mãe.
20 Este o tomou, e o levou a sua mãe; e o menino
esteve sobre os joelhos dela até o meio-dia, e então morreu.
21 Ela subiu, deitou-o sobre a cama do homem de
Deus e, fechando sobre ele a porta, saiu.
22 Então chamou a seu marido, e disse: Manda-me,
peço-te, um dos moços e uma das jumentas, para que eu corra ao homem de Deus e
volte.
23 Disse ele: Por que queres ir ter com ele hoje?
Não é lua nova nem sábado. E ela disse: Tudo vai bem.
24 Então ela fez albardar a jumenta, e disse ao seu
moço: Guia e anda, e não me detenhas no caminhar, senão quando eu to disser.
25 Partiu pois, e foi ter com o homem de Deus, ao
monte Carmelo; e sucedeu que, vendo-a de longe o homem de Deus, disse a Geazi,
seu moço: Eis aí a sunamita;
26 corre-lhe ao encontro e pergunta-lhe: Vais bem?
Vai bem teu marido? Vai bem teu filho? Ela respondeu: Vai bem.
27 Chegando ela ao monte, à presença do homem de
Deus, apegou-se-lhe aos pés. Chegou-se Geazi para a retirar, porém, o homem de
Deus lhe disse: Deixa-a, porque a sua alma está em amargura, e o Senhor mo
encobriu, e não mo manifestou.
28 Então disse ela: Pedi eu a meu senhor algum
filho? Não disse eu: Não me enganes?
29 Ao que ele disse a Geazi: Cinge os teus lombos,
toma o meu bordão na mão, e vai. Se encontrares alguém, não o saúdes; e se
alguém te saudar, não lhe respondas; e põe o meu bordão sobre o rosto do
menino.
30 A mãe do menino, porém, disse: Vive o Senhor, e
vive a tua alma, que não te hei de deixar. Então ele se levantou, e a seguiu.
31 Geazi foi adiante deles, e pôs o bordão sobre o
rosto do menino; porém não havia nele voz nem sentidos. Pelo que voltou a
encontrar-se com Eliseu, e o informou, dizendo: O menino não despertou.
32 Quando Eliseu chegou à casa, eis que o menino
jazia morto sobre a sua cama.
33 Então ele entrou, fechou a porta sobre eles
ambos, e orou ao Senhor.
34 Em seguida subiu na cama e deitou-se sobre o
menino, pondo a boca sobre a boca do menino, os olhos sobre os seus olhos, e as
mãos sobre as suas mãos, e ficou encurvado sobre ele até que a carne do menino
aqueceu.
35 Depois desceu, andou pela casa duma parte para
outra, tornou a subir, e se encurvou sobre ele; então o menino espirrou sete
vezes, e abriu os olhos.
36 Eliseu chamou a Geazi, e disse: Chama essa
sunamita. E ele a chamou. Quando ela se lhe apresentou, disse ele: Toma o teu
filho.
37 Então ela entrou, e prostrou-se a seus pés,
inclinando-se à terra; e tomando seu filho, saiu.
38 Eliseu voltou a Gilgal. E havia fome na terra; e
os filhos dos profetas estavam sentados na sua presença. E disse ao seu moço:
Põe a panela grande ao lume, e faze um caldo de ervas para os filhos dos
profetas.
39 Então um deles saiu ao campo a fim de apanhar
ervas, e achando uma parra brava, colheu dela a sua capa cheia de colocíntidas
e, voltando, cortou-as na panela do caldo, não sabendo o que era.
40 Assim tiraram de comer para os homens. E havendo
eles provado o caldo, clamaram, dizendo: Ó homem de Deus, há morte na panela! E
não puderam comer.
41 Ele, porém, disse: Trazei farinha. E deitou-a na
panela, e disse: Tirai para os homens, a fim de que comam. E já não havia mal
nenhum na panela.
42 Um homem veio de Baal-Salisa, trazendo ao homem
de Deus pães das primícias, vinte pães de cevada, e espigas verdes no seu
alforje. Eliseu disse: Dá ao povo, para que coma.
43 Disse, porém, seu servo: Como hei de pôr isto
diante de cem homens? Ao que tornou Eliseu: Dá-o ao povo, para que coma; porque
assim diz o Senhor: Comerão e sobejará.
44 Então lhos pôs diante; e comeram, e ainda
sobrou, conforme a palavra do Senhor.” (II Rs 4.1-44).
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