Como já dissemos
anteriormente, nós podemos dividir a vida de Davi em dois períodos distintos:
antes e depois do seu pecado de adultério com Bate-Seba e o assassinato de
Urias.
Nós vemos que este segundo
período é marcado por uma sequência de juízos divinos sobre ele e sua casa, a
par de todo o amor e favor de Deus, que ele permaneceu desfrutando.
Não é difícil observar no
relato bíblico, que ele próprio foi usado como instrumento indireto de Satanás
para realização dos seus desígnios malignos forjados contra o próprio Davi e
sua casa, de modo que nisto estava sendo dado cumprimento à palavra profética
de juízo que o mal seria suscitado contra a sua casa.
Nós vemos 13º capítulo de
2 Samuel, que ele foi enganado por Amnom, seu filho, e contribuiu para o seu
incesto com Tamar, por ter dado ouvido ao seu filho e não ter tido qualquer
ação da graça de Deus para alertá-lo e prevenir o mal que já havia sido
forjado, porque como dissemos, isto daria ocasião para que o mal fosse
suscitado sobre ele e sua casa.
Satanás teve permissão de
Deus para que Davi lhe fosse entregue, para fazer, evidentemente dentro da
esfera de permissão divina, o mal que desejava causar-lhe, tal como fizera com
Jó e com Pedro, sendo que no caso destes dois últimos, o mal que lhes fizera
não foi por motivo de um juízo específico de Deus, por algum mal que tivessem
praticado, senão para o amadurecimento da sua fé.
O pecado de adultério de
Davi havia aberto esta grande porta para as operações do diabo, dando-lhe lugar
para agir contra a sua vida.
O grande juízo de Deus
consistia nesta negação da graça que permitiria que Davi resistisse à tentação,
prevenindo-se do mal.
Assim como Davi foi
enganado por Amnom em relação a Tamar, seria enganado dois anos depois por
Absalão em relação a Amnom, e este engano possibilitou que este fosse morto
pelo seu irmão, em vingança contra o que
fizera a Tamar, porque esta era filha da mesma mãe de Absalão (v.1).
A resposta do Senhor
estava sendo dada à altura, exatamente como dissera o profeta, e todo Israel
temeu e tremeu, e mais uma vez pôde entender que o Deus deles é um fogo
consumidor que detesta o pecado e é reto Juiz.
Neste 13º capítulo de 2
Samuel, nós vemos Jonadabe, sobrinho de Davi, filho de Simeia, irmão do rei, do
qual se diz no verso 3, que era homem muito sagaz, percebendo que Amnom estava
emagrecendo a olhos vistos e conseguiu arrancar dele a confissão do motivo de
tal emagrecimento: ele estava fascinado por sua meia irmã Tamar, que era filha
da mesma mãe de Absalão, e não tinha qualquer esperança de poder possuí-la,
porque além de ser sua irmã, era virgem
e uma jovem virtuosa e obediente a seu pai,
pois mesmo sendo uma formosa princesa, que se vestia muito bem, atendeu
prontamente ao pedido de Davi para cozinhar para Amnom, e ela se submeteu a
isto sem saber do estratagema de Amnon para seduzi-la, conforme fora instruído
por Jonadabe, seu primo, para que tirasse proveito do seu emagrecimento por
causa de Tamar, fingindo-se de doente, e que pedisse ao rei para que a enviasse
a ele para assisti-lo em seu leito de enfermidade, porque isto lhe daria novo
ânimo, porque tinha grande estima por ela, e assim, teria oportunidade de levar
a efeito o seu intento incestuoso, pela condição de estar sozinho com ela em
sua própria casa.
Conseguindo êxito em
enganar o seu pai, este lha enviou e ele a forçou a se deitar com ele, apesar
de todo o esforço que ela fez para se lhe opor, argumentando que deveria
pedi-la em casamento a Davi, mas não abusar dela, primeiro porque era seu
irmão, e segundo, deflorá-la sem estar formalmente compromissado pelo
matrimônio era algo proibido pela Lei de Deus, e não era portanto um costume
entre os israelitas fazê-lo, senão entre os pagãos.
Mas Amnom não lhe deu
ouvido e a forçou, e tendo sentido depois desprezo por ela, tendo uma vez
satisfeito o desejo lascivo e maligno que o diabo colocou em sua mente, ele a
expulsou da sua casa, infamando-a, e esta sua atitude foi tão grave quanto o
estupro que havia cometido.
Tamar colocou cinza sobre
a cabeça e rasgou a longa túnica de mangas compridas que trajava, e que a
identificava como uma princesa, e colocando a mão na cabeça, por causa da
vergonha a que fora submetida, andava clamando (v. 19).
Vendo-a neste estado, seu
irmão Absalão lhe indagou se não havia estado com Amnom, temendo o pior, pois
não somente devia desconfiar das intenções de Amnom para com ela, e também
possivelmente da tendência que ele tinha para práticas lascivas.
Absalão a tomou em sua
casa e a reteve com ele em sua desolação.
É provável que o modo
como ele a via desolada em cada dia, fazia com que o ressentimento que guardava
em seu coração contra Amnom e contra Davi por não ter castigado o pecado dele,
aumentava a cada dia que passava.
O diabo estava trabalhando
silenciosamente nele e transformou aquele ressentimento em ódio.
Tudo o que viria a
acontecer depois como atos de Absalão contra Amnom e Davi seria apenas a consequência
destes sentimentos que ele guardou por dois anos (v. 23), até colocar em prática
o plano que havia forjado, para que os seus servos matassem Amnom na festa da
tosquia que promovera, e para a qual convidara o rei e todos os seus filhos (v.
23 a 36).
Tendo Amnom sido morto,
Absalão fugiu para junto de Talmai, seu avô, rei de Gesur (v. 37), que era um
dos países dos sírios, que ficava no extremo norte da Palestina, e permaneceu
lá pelo prazo de três anos (v. 38), quando Davi cessou de persegui-lo, porque
já havia se consolado da morte de Amnom, pelo qual ele chorava todos os dias (v.
37, 38).
Amnom era o primogênito
de Davi e o seu provável sucessor no trono.
Isto explica de certo
modo o fato de ter lamentado a morte de Amnom por tanto tempo, e também explica
um motivo adicional que Absalão teria para matá-lo, tendo em vista a corrida de
sucessão ao trono.
“1 Ora, Absalão, filho de
Davi, tinha uma irmã formosa, cujo nome era Tamar; e sucedeu depois de algum
tempo que Amnom, filho de Davi enamorou-se dela.
2 E angustiou-se Amnom,
até adoecer, por amar, sua irmã; pois era virgem, e parecia impossível a Amnom
fazer coisa alguma com ela.
3 Tinha, porém, Amnom um
amigo, cujo nome era Jonadabe, filho de Simeia, irmão de Davi; e era Jonadabe
homem mui sagaz.
4 Este lhe perguntou: Por
que tu de dia para dia tanto emagreces, ó filho do rei? não mo dirás a mim?
Então lhe respondeu Amnom: Amo a Tamar, irmã de Absalão, meu irmão.
5 Tornou-lhe Jonadabe:
Deita-te na tua cama, e finge-te doente; e quando teu pai te vier visitar,
dize-lhe: Peço-te que minha irmã Tamar venha dar-me de comer, preparando a
comida diante dos meus olhos, para que eu veja e coma da sua mão.
6 Deitou-se, pois, Amnom,
e fingiu-se doente. Vindo o rei visitá-lo, disse-lhe Amnom: Peço-te que minha
irmã Tamar venha e prepare dois bolos diante dos meus olhos, para que eu coma
da sua mão.
7 Mandou, então, Davi a
casa, a dizer a Tamar: Vai a casa de Amnom, teu irmão, e faze-lhe alguma
comida.
8 Foi, pois, Tamar a casa
de Amnom, seu irmão; e ele estava deitado. Ela tomou massa e, amassando-a, fez
bolos e os cozeu diante dos seus olhos.
9 E tomou a panela, e os
tirou diante dele; porém ele recusou comer. E disse Amnom: Fazei retirar a
todos da minha presença. E todos se retiraram dele.
10 Então disse Amnom a
Tamar: Traze a comida a câmara, para que eu coma da tua mão. E Tamar, tomando
os bolos que fizera, levou-os à câmara, ao seu irmão Amnom.
11 Quando lhos chegou,
para que ele comesse, Amnom pegou dela, e disse-lhe: Vem, deita-te comigo,
minha irmã.
12 Ela, porém, lhe
respondeu: Não, meu irmão, não me forces, porque não se faz assim em Israel;
não faças tal loucura.
13 Quanto a mim, para
onde levaria o meu opróbrio? E tu passarias por um dos insensatos em Israel.
Rogo-te, pois, que fales ao rei, porque ele não me negará a ti.
14 Todavia ele não quis
dar ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, forçou-a e se deitou
com ela.
15 Depois sentiu Amnom
grande aversão por ela, pois maior era a aversão que se sentiu por ela do que o
amor que lhe tivera. E disse-lhe Amnom: Levanta-te, e vai-te.
16 Então ela lhe
respondeu: Não há razão de me despedires; maior seria este mal do que o outro
já me tens feito. Porém ele não lhe quis dar ouvidos,
17 mas, chamando o moço
que o servia, disse-lhe: Deita fora a esta mulher, e fecha a porta após ela.
18 Ora, trazia ela uma
túnica talar; porque assim se vestiam as filhas virgens dos reis. Então o
criado dele a deitou fora, e fechou a porta após ela.
19 Pelo que Tamar,
lançando cinza sobre a cabeça, e rasgando a túnica talar que trazia, pôs as
mãos sobre a cabeça, e se foi andando e clamando.
20 Mas Absalão, seu
irmão, lhe perguntou: Esteve Amnom, teu irmão, contigo? Ora pois, minha irmã,
cala-te; é teu irmão. Não se angustie o seu coração por isto. Assim ficou
Tamar, desolada, em casa de Absalão, seu irmão.
21 Quando o rei Davi
ouviu todas estas coisas, muito se lhe acendeu a ira.
22 Absalão, porém, não
falou com Amnom, nem mal nem bem, porque odiava a Amnom por ter ele forçado a
Tamar, sua irmã.
23 Decorridos dois anos
inteiros, tendo Absalão tosquiadores em Baal-Hazor, que está junto a Efraim,
convidou todos os filhos do rei.
24 Foi, pois, Absalão ter
com o rei, e disse: Eis que agora o teu servo faz a tosquia. Peço que o rei e
os seus servos venham com o teu servo.
25 O rei, porém,
respondeu a Absalão: Não, meu filho, não vamos todos, para não te sermos
pesados. Absalão instou com ele; todavia ele não quis ir, mas deu-lhe a sua
benção.
26 Disse-lhe Absalão: Ao
menos, deixa ir conosco Amnom, meu irmão. O rei, porém, lhe perguntou: Para que
iria ele contigo?
27 Mas como Absalão
instasse com o rei, este deixou ir com ele Amnom, e os demais filhos do rei.
28 Ora, Absalão deu ordem
aos seus servos, dizendo: Tomai sentido; quando o coração de Amnom estiver
alegre do vinho, e eu vos disser: Feri a Amnom; então matai-o. Não tenhais
medo; não sou eu quem vo-lo ordenou? Esforçai-vos, e sede valentes.
29 E os servos de Absalão
fizeram a Amnom como Absalão lhes havia ordenado. Então todos os filhos do rei
se levantaram e, montando cada um no seu mulo, fugiram.
30 Enquanto eles ainda
estavam em caminho, chegou a Davi um rumor, segundo o qual se dizia: Absalão
matou todos os filhos do rei; nenhum deles ficou.
31 Então o rei se
levantou e, rasgando as suas vestes, lançou-se por terra; da mesma maneira
todos os seus servos que lhe assistiam rasgaram as suas vestes.
32 Mas Jonadabe, filho de
Simeia, irmão de Davi, disse-lhe: Não presuma o meu senhor que mataram todos os
mancebos filhos do rei, porque só morreu Amnom; porque assim o tinha resolvido
fazer Absalão, desde o dia em que ele forçou a Tamar, sua irmã.
33 Não se lhe meta, pois,
agora no coração ao rei meu senhor o pensar que morreram todos os filhos do
rei; porque só morreu Amnom.
34 Absalão, porém, fugiu.
E o mancebo que estava de guarda, levantando os olhos, orou, e eis que vinha
muito povo pelo caminho por detrás dele, ao lado do monte.
35 Então disse Jonadabe
ao rei: Eis aí vêm os filhos do rei; conforme a palavra de teu servo, assim
sucedeu.
36 Acabando ele de falar,
chegaram os filhos do rei e, levantando a sua voz, choraram; e também o rei e
todos os seus servos choraram amargamente.
37 Absalão, porém, fugiu,
e foi ter com Talmai, filho de Amiur, rei de Gesur. E Davi pranteava a seu
filho todos os dias.
38 Tendo Absalão fugido
para Gesur, esteve ali três anos.
39 Então o rei Davi
sentiu saudades de Absalão, pois já se tinha consolado acerca da morte de
Amnom.” (II Sm 13.1-39).
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