sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Temor Expulsa a Fé – I Samuel 27



Nós vimos no verso 27 do capítulo precedente a este 27º de I Samuel, que estaremos comentando, Saul garantindo a Davi que voltasse para ele pois não lhe faria mais nenhum mal.
Mas a prudência recomendava a Davi que não se fiasse a Saul, por experiência própria, especialmente em razão do espírito imundo que nele atuava e que o atormentava continuamente.
Eis aqui um claro exemplo do que é ser entregue a Satanás para destruição da carne, por motivo de castigo.
A pessoa se torna desequilibrada por causa da atuação do diabo sobre a sua vida.
E como o inimigo é mentiroso, aquele que estiver debaixo da sua influência também se entregará à mentira, não podendo ser, de modo algum, uma pessoa confiável.
Tal era a situação de Saul, e assim Davi achou mais conveniente naquele momento, sequer permanecer em Judá, porque os zifeus e muitos outros israelitas estavam à sua caça, para caírem no agrado de Saul.
Ele partiu mais uma vez para a terra dos filisteus, e foi ter com Aquis em Gate.
Como Davi pensou, sucedeu, pois Saul desistiu de continuar a persegui-lo, quando soube que tinha ido buscar refúgio junto aos filisteus (v.4).
Principalmente para evitar participar dos costumes dos filisteus, e se contaminar com a sua idolatria, Davi pediu a Aquis que consentisse que ele morasse longe da cidade real com seus seiscentos homens, e as suas esposas, pelo que recebeu de Aquis a cidade de Ziclague (v. 5,6) que acabaria sendo reanexada aos termos de Judá, pois havia sido perdida para os filisteus (Js 15.31).        
Ao que parece, Davi consultou apenas o seu próprio coração desta vez, e não a Deus, através do profeta Gade, ou da estola sacerdotal que se encontrava com o sacerdote Abiatar.
Ele o fez porque estava cansado da perseguição de Saul, e foi buscar refúgio, descanso e paz no território do próprio inimigo, pois foi se juntar aos filisteus.
E de fato as perseguições cessaram, tanto de Saul, quanto dos filisteus. E ausência de lutas espirituais não é um bom sinal para verdadeiros cristãos, pois podem ser um sinal de que estão apaziguados com o próprio inimigo de suas almas, fazendo, ainda que indiretamente, uma negociação de termos de paz com ele.
Isto não é bom, porque no fim acabaremos ficando sujeitos ao seu poder, e desprovidos da assistência da graça e do poder de Deus.
Isto se dá com cristãos que deixam de orar por temerem represálias do diabo.
Com cristãos que andam em jugo desigual com os incrédulos pelo temor de desagradá-los, e que no fim acabam desagradando a Deus, e ficando enfraquecidos para lutarem contra aqueles com os quais se apaziguou e que acabarão se voltando contra eles, pois não pode existir nenhuma comunhão entre luz e trevas, entre Cristo e Belial.
Ainda que a cidade que foi dada por Aquis a Davi tenha sido queimada e saqueada pelos amalequitas, e não pelos filisteus, entretanto todos estes povos estavam a serviço do reino das trevas e não do Senhor, e a questão da proveniência do ataque não era nenhum fator relevante, senão a própria natureza dele.
Nós não sabemos de nenhuma outra ocasião, mesmo sob as perseguições de Saul, que Deus tivesse permitido que ele e os seiscentos homens que com ele estavam, tivessem sofrido tão dura perda.
Isto sucede exatamente agora que ele se associou aos inimigos de Israel. Assim, as evidências se somavam e auxiliaram a Áquis a formar um julgamento, ainda que errôneo, que Davi estaria para sempre com os filisteus em razão da prova de que havia de fato se voltado contra o seu próprio povo, pois Davi lhe mentia dizendo que estava matando a muitos deles nas campanhas que empreendia contra algumas cidades de Israel (v. 10), quando na verdade estava fazendo incursões entre os gesuritas, os girzitas, e os amalequitas (v. 8); e que não havia condições para ele retornar a Israel, pelo menos enquanto vivesse Saul.
E assim Davi, que havia sido ungido para ser rei de Israel, estava se colocando voluntariamente sob a condição de servo do rei de Gate (v. 12). E não podemos entender, de modo algum, que isto estivesse procedendo de Deus, senão da decisão que o próprio Davi tomara.
O ministério sempre estará rodeado deste tipo de tentação, pois não são poucos os ministros do evangelho que renunciam às suas obrigações, e que fogem da vontade de Deus para eles, ainda que por determinados períodos, tal como se dera com Davi, por causa da pressão das perseguições que possam estar sofrendo no desempenho dos seus ministérios.
Mas a experiência sempre tem demonstrado que no final esta nunca será uma condição em que possamos nos gloriar, senão na qual encontraremos profundos motivos para nos arrependermos depois.         



“1 Disse, porém, Davi no seu coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão de Saul; não há coisa melhor para mim do que escapar para a terra dos filisteus, para que Saul perca a esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim escaparei da sua mão.
2 Então Davi se levantou e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para Áquis, filho de Maoque, rei de Gate.
3 E Davi ficou com Áquis em Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua família, e Davi com as suas duas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Áquis: Se eu tenho achado graça aos teus olhos, que se me dê lugar numa das cidades do país, para que eu ali habite; pois, por que haveria o teu servo de habitar contigo na cidade real?
6 Então lhe deu Áquis naquele dia a cidade de Ziclague; pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até o dia de hoje.
7 E o número dos dias que Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus homens subiam e davam sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas; pois, desde tempos remotos, eram estes os moradores da terra que se estende na direção de Sur até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela terra, não deixando com vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos, camelos e vestuários, voltava, e vinha a Áquis.
10 E quando Áquis perguntava: Sobre que parte fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus.
11 E Davi não deixava com vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que porventura não nos denunciem, dizendo: Assim fez Davi. E este era o seu costume por todos os dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Áquis, pois, confiava em Davi, dizendo: Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para sempre.” (I Sm 27.1-12)

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