Nós vimos no verso 27 do
capítulo precedente a este 27º de I Samuel, que estaremos comentando, Saul
garantindo a Davi que voltasse para ele pois não lhe faria mais nenhum mal.
Mas a prudência
recomendava a Davi que não se fiasse a Saul, por experiência própria,
especialmente em razão do espírito imundo que nele atuava e que o atormentava
continuamente.
Eis aqui um claro exemplo
do que é ser entregue a Satanás para destruição da carne, por motivo de
castigo.
A pessoa se torna
desequilibrada por causa da atuação do diabo sobre a sua vida.
E como o inimigo é
mentiroso, aquele que estiver debaixo da sua influência também se entregará à
mentira, não podendo ser, de modo algum, uma pessoa confiável.
Tal era a situação de Saul,
e assim Davi achou mais conveniente naquele momento, sequer permanecer em Judá,
porque os zifeus e muitos outros israelitas estavam à sua caça, para caírem no
agrado de Saul.
Ele partiu mais uma vez
para a terra dos filisteus, e foi ter com Aquis em Gate.
Como Davi pensou,
sucedeu, pois Saul desistiu de continuar a persegui-lo, quando soube que tinha
ido buscar refúgio junto aos filisteus (v.4).
Principalmente para
evitar participar dos costumes dos filisteus, e se contaminar com a sua
idolatria, Davi pediu a Aquis que consentisse que ele morasse longe da cidade
real com seus seiscentos homens, e as suas esposas, pelo que recebeu de Aquis a
cidade de Ziclague (v. 5,6) que acabaria sendo reanexada aos termos de Judá,
pois havia sido perdida para os filisteus (Js 15.31).
Ao que parece, Davi
consultou apenas o seu próprio coração desta vez, e não a Deus, através do
profeta Gade, ou da estola sacerdotal que se encontrava com o sacerdote
Abiatar.
Ele o fez porque estava
cansado da perseguição de Saul, e foi buscar refúgio, descanso e paz no
território do próprio inimigo, pois foi se juntar aos filisteus.
E de fato as perseguições
cessaram, tanto de Saul, quanto dos filisteus. E ausência de lutas espirituais
não é um bom sinal para verdadeiros cristãos, pois podem ser um sinal de que
estão apaziguados com o próprio inimigo de suas almas, fazendo, ainda que
indiretamente, uma negociação de termos de paz com ele.
Isto não é bom, porque no
fim acabaremos ficando sujeitos ao seu poder, e desprovidos da assistência da
graça e do poder de Deus.
Isto se dá com cristãos
que deixam de orar por temerem represálias do diabo.
Com cristãos que andam em
jugo desigual com os incrédulos pelo temor de desagradá-los, e que no fim
acabam desagradando a Deus, e ficando enfraquecidos para lutarem contra aqueles
com os quais se apaziguou e que acabarão se voltando contra eles, pois não pode
existir nenhuma comunhão entre luz e trevas, entre Cristo e Belial.
Ainda que a cidade que
foi dada por Aquis a Davi tenha sido queimada e saqueada pelos amalequitas, e
não pelos filisteus, entretanto todos estes povos estavam a serviço do reino
das trevas e não do Senhor, e a questão da proveniência do ataque não era
nenhum fator relevante, senão a própria natureza dele.
Nós não sabemos de
nenhuma outra ocasião, mesmo sob as perseguições de Saul, que Deus tivesse
permitido que ele e os seiscentos homens que com ele estavam, tivessem sofrido
tão dura perda.
Isto sucede exatamente
agora que ele se associou aos inimigos de Israel. Assim, as evidências se
somavam e auxiliaram a Áquis a formar um julgamento, ainda que errôneo, que
Davi estaria para sempre com os filisteus em razão da prova de que havia de
fato se voltado contra o seu próprio povo, pois Davi lhe mentia dizendo que
estava matando a muitos deles nas campanhas que empreendia contra algumas
cidades de Israel (v. 10), quando na verdade estava fazendo incursões entre os
gesuritas, os girzitas, e os amalequitas (v. 8); e que não havia condições para
ele retornar a Israel, pelo menos enquanto vivesse Saul.
E assim Davi, que havia
sido ungido para ser rei de Israel, estava se colocando voluntariamente sob a
condição de servo do rei de Gate (v. 12). E não podemos entender, de modo
algum, que isto estivesse procedendo de Deus, senão da decisão que o próprio
Davi tomara.
O ministério sempre
estará rodeado deste tipo de tentação, pois não são poucos os ministros do
evangelho que renunciam às suas obrigações, e que fogem da vontade de Deus para
eles, ainda que por determinados períodos, tal como se dera com Davi, por causa
da pressão das perseguições que possam estar sofrendo no desempenho dos seus
ministérios.
Mas a experiência sempre
tem demonstrado que no final esta nunca será uma condição em que possamos nos
gloriar, senão na qual encontraremos profundos motivos para nos arrependermos
depois.
“1 Disse, porém, Davi no
seu coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão de Saul; não há coisa
melhor para mim do que escapar para a terra dos filisteus, para que Saul perca
a esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim
escaparei da sua mão.
2 Então Davi se levantou
e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para Áquis, filho de
Maoque, rei de Gate.
3 E Davi ficou com Áquis
em Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua família, e Davi com as suas
duas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o
carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado
de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Áquis: Se
eu tenho achado graça aos teus olhos, que se me dê lugar numa das cidades do
país, para que eu ali habite; pois, por que haveria o teu servo de habitar
contigo na cidade real?
6 Então lhe deu Áquis
naquele dia a cidade de Ziclague; pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá,
até o dia de hoje.
7 E o número dos dias que
Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus
homens subiam e davam sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas;
pois, desde tempos remotos, eram estes os moradores da terra que se estende na
direção de Sur até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela
terra, não deixando com vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois,
jumentos, camelos e vestuários, voltava, e vinha a Áquis.
10 E quando Áquis
perguntava: Sobre que parte fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o
Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos
queneus.
11 E Davi não deixava com
vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que
porventura não nos denunciem, dizendo: Assim fez Davi. E este era o seu costume
por todos os dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Áquis, pois, confiava
em Davi, dizendo: Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel;
pelo que me será por servo para sempre.” (I Sm 27.1-12)
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