sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Samuel Estando Morto Falou com Saul? – I Samuel 28



Antes de qualquer comentário relativo a este 28º capitulo de I Samuel, julgamos importante destacar logo de início o que diz a Lei de Moisés a respeito de se consultar os necromantes e adivinhos:
“6 Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo.
7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lev 20.6,7).
“O homem ou mulher que consultar os mortos ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão apedrejados, e o seu sangue será sobre eles.” (Lev 20.27).
“Não se achará no meio de ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;” (Dt 18.10, 11).
“Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quanto a ti, o Senhor teu Deus não te permitiu tal coisa.” (Dt 18.14).
  Tendo a Davi entre eles, os filisteus ganhavam uma grande vantagem moral sobre Israel, porque não era Saul o campeão dos israelitas, mas Davi, e o fato dele subir com eles à guerra contra Israel era algo para ser muito temido, e então nós vemos Saul em completo desespero, não somente em razão disso, mas principalmente pelo fato de ter sido abandonado por Deus, que se recusava a dar qualquer resposta a ele quanto à batalha que teria que travar contra os filisteus, quer em sonhos, quer pelos profetas, quer pelo urim e tumim dos sacerdotes (v. 5,6).
E se a presença de Davi entre os filisteus enfraquecia Saul por um lado, por outro fortalecia o ânimo dos próprios filisteus, e tal era a confiança de Aquis em Davi, que ele pretendia fazer dele o seu guarda-costas (v. 2).
Saul ficou aterrorizado com a visão do exército dos filisteus acampado em Suném, por ser mais numeroso do que o exército de Israel, e ele não tinha mais o Espírito Santo para fortalecê-lo e animá-lo para as batalhas.
As dificuldades aterrorizam os filhos da desobediência porque eles não têm a Deus por eles para firmar os seus corações.
E as circunstâncias desmascarariam Saul quanto ao desterro que ele havia feito dos  necromantes e adivinhos em Israel (v. 3), pois não o fizera por motivos sequer religiosos e muito menos por causa da sua piedade em cumprir a Lei de Moisés, quanto aos textos que destacamos no início deste nosso comentário, mas para outros propósitos que nós desconhecemos.
Mas podemos dizer que a máscara seria retirada, de modo que ele não pudesse ser considerado alguém que fosse zeloso pela causa de Deus e da verdade, porque não tendo recebido nenhuma resposta do céu, foi bater nos portões do inferno, para ver se alguém de lá lhe ajudaria e lhe daria conselho, e para saber como o mundo espiritual estava se movendo em relação àquela batalha, que teria que travar com os filisteus, pois foi consultar uma feiticeira em En-Dor, para que esta lhe fizesse aparecer pela necromancia (consulta aos mortos) a Samuel. 
Uma grande prova de que não era nenhuma pessoa que havia morrido que aparecia aos necromantes, pode ser inferida de duas citações encontradas nos versos 11 e 13, pois no verso 11 a mulher pergunta a quem ela deveria fazer “subir” pela necromancia, e no verso 13 ela afirma que via um deus “subindo do meio da terra”.
No pensamento dos necromantes todos os mortos ficavam no Seol, que seria uma região no meio da terra.
Mas sabemos que, com toda a certeza, os espíritos dos santos sobem para a presença de Deus no céu, na morte deles (Ec 12.7).
Como poderia ser verdadeiramente o espírito de Samuel subindo do meio da terra?
Como poderiam os servos de Satanás subordinar ao seu próprio poder os espíritos dos santos de Deus?
Como o Senhor permitiria que eles tivessem tal poder em algo que Ele mesmo proibiu expressamente, não pela possibilidade de um necromante trazer um espírito da região dos mortos, mas para evitar o engano diabólico, porque Satanás se disfarça em anjo de luz.
Ele pode agir com engano assumindo formas de pessoas ou imitar a voz delas, e até mesmo dizer coisas referentes às suas vidas, por meio de uma observação do seu comportamento e de situações que viveram.
Enfim, não há nenhuma possibilidade de que o espírito de alguém que morreu e que se encontra no céu com Deus desça à terra, senão por uma permissão expressa do próprio Deus, como foi o caso de Moisés que apareceu com Elias no monte da Transfiguração a Jesus.
Não está na esfera de Satanás exercer qualquer tipo de domínio sobre os espíritos desencarnados, que se encontram no céu. 
  Uma outra prova de que foi Satanás ou um demônio que apareceu a Saul disfarçado em Samuel e não o próprio profeta, está no fato de que em vez de ser convocado ao arrependimento e a buscar a misericórdia de Deus, o suposto “Samuel” exerceu o ministério do diabo somente acusando a Saul.
Este lhe perguntou o que deveria fazer, e em vez de receber uma resposta à sua pergunta, como o que acabamos de dizer anteriormente, foi acusado do que havia feito, e também lhe foi dito o que lhe seria feito em razão disso.
Nós temos muitas outras evidências contra a possibilidade total de ter sido Samuel que apareceu a Saul.
Uma outra é que a aparição estava envolta numa capa, e porque razão estava envolta numa capa?
Para que qualquer falha no disfarce não fosse percebida por Saul, e acrescente-se a isto que a perturbação de espírito em que ele se encontrava na ocasião já era um fator desfavorável para ele em tal sentido, pois não estava no completo domínio das suas faculdades perceptivas, por estar com a mente conturbada pelo grande pavor que havia se apoderado dele.         
 Nós vemos também que o engano chama engano, pois Saul se disfarçou para ir ter com a feiticeira e o diabo se disfarçou em Samuel para enganá-lo.
Até mesmo a própria feiticeira poderia ser uma fraude, e nenhum espírito maligno provavelmente não tinha a mesma debaixo dos seus serviços, pois quando ela viu o suposto “Samuel”  gritou em alta voz (v.12) e isto se deu possivelmente em razão do grande espanto do que havia acontecido, porque até então podia vir enganando as pessoas falando a elas, como se fossem as pessoas que haviam morrido, sem que qualquer demônio a usasse de fato.  
O ter dito a feiticeira que via um deus subindo de dentro da terra (v. 13), refere-se ao fato de que anjos e seres espirituais eram chamados de deuses.
Deve ser destacado também que o fato do texto bíblico se referir à aparição chamando-a em todo o tempo de Samuel não é uma evidência suficiente para assegurar que é uma referência ao próprio profeta Samuel, porque nós temos no relato de Gênesis, o diabo sendo chamado em todo o tempo de serpente, no episódio da tentação que conduziu ao pecado original, e nós sabemos que não era propriamente o animal que estava se comunicando com Eva, mas o diabo através dele, como outras porções das Escrituras o esclarecem.
Aprouve ao Espírito Santo manter o relato da revelação na perspectiva de como o assunto foi vivido na ocasião, para demonstrar que Saul deu total crédito ao engano diabólico pensando que realmente se tratava de Samuel, para que possamos aprender quão fácil é ser enganado pelo Inimigo, se não usamos todos critérios da Palavra para provar os espíritos, para saber se procedem de Deus ou não.
Saul foi enganado porque ele cria que poderia haver uma real comunicação de pessoas que haviam morrido com os vivos.
Por isso chegou até mesmo a reverenciar a presença do falso Samuel, inclinando o seu rosto em terra.
A primeira fala de Satanás a Saul passando-se por Samuel foi uma pergunta: “Por que me inquietaste, fazendo-me subir?”. Como já comentamos anteriormente o verdadeiro Samuel jamais perguntaria por que fora inquietado, porque não está no poder dos feiticeiros inquietar os espíritos dos justos que se encontram no céu, e muito menos afirmaria que o fizeram subir, porque aquele que sobe vem das profundezas, e Samuel não se encontrava em nenhuma profundeza, mas no céu (v. 15).  
Para o propósito de enganar, o diabo sempre dirá alguma verdade, pois é isto que produz o engano, pois dando crédito à parte verdadeira, aquele que está debaixo da sua influência dará também crédito às suas mentiras, como se fossem verdade.
Foi a mesma técnica que ele usou no Éden. Primeiro ele disse que Deus não havia dado acesso a Adão e a Eva a todas as árvores do Jardim, mas logo depois afirmou que não morreriam de modo nenhum, se viessem a comer do fruto que Deus lhes havia proibido, e eles deram crédito a esta mentira como se fosse uma verdade, e consequentemente tiveram o próprio Deus na conta de um mentiroso. 
Então ele disse a Saul que Deus havia se desviado dele e passou a ser seu inimigo (v. 16). E que havia rasgado o reino da mão dele e o havia dado a Davi (v. 17), ele está dizendo uma verdade, mas com o propósito de reacender a raiva de Saul, e fazê-lo enfraquecido e vulnerável.
Saul já estava sendo destruído na carne pelo diabo e quando foi à procura da feiticeira ele lhe abriu uma porta para se comunicar diretamente com ele para produzir o efeito de enfraquecê-lo totalmente, de modo que subisse à batalha contra os filisteus e viesse a ser morto na mesma.
O diabo veio matar, roubar e destruir.
E ele cumprirá sempre este ministério quando a proteção do Senhor for retirada da vida de alguém, como estava ocorrendo com Saul.
Nunca é demais lembrar que isto pode ocorrer como procedendo da parte do Senhor até mesmo para a correção de cristãos rebeldes, tal como ocorrera com o cristão incestuoso da Igreja de Corinto (I Cor 5.1-5).
Então, aqui neste caso, o propósito do diabo não era tanto o de dizer mentiras a Saul, mas o de destruí-lo com tudo aquilo que doía na sua consciência, pois não podemos esquecer que ele é o acusador, e o vemos aqui cumprindo esta sua função com Saul.
Ele lhe disse que como não tinha dado ouvidos à voz do Senhor, e não havia executado o furor da sua ira contra Amaleque, por isso Deus lhe havia feito o que estava fazendo naquele dia, isto é, entregando-o na mão dos filisteus.
Não somente a ele como também a Israel (v.19). Isto foi dito com o propósito de Saul subir à peleja já se sentindo derrotado. E a pá de cal do diabo foi jogada sobre ele com uma meia verdade pois lhe disse como se fora Samuel que no dia seguinte Saul estaria com seus filhos juntamente com ele.
Se era verdade que Saul morreria, no entanto não era verdade que ele estaria com Samuel, pois tudo nos leva a crer, pelo tudo o que ele foi e viveu, que se tratava de um homem irregenerado que não conhecia de fato ao Senhor, e portanto não poderia ser reunido a Samuel no céu. 
Quanto ao ter sido prognosticada a morte de Saul, devemos lembrar do caso da morte do rei Acabe que ele foi persuadido por um espírito maligno, ao qual foi revelado por Deus que a batalha em que ele deveria morrer (I Rs 22.19-23).
É bem provável que tivesse também sido revelado por Deus ao espírito maligno que enganou Saul, que ele morreria naquela batalha contra os filisteus.  
Mas o grande e final argumento contra a possibilidade de ter sido realmente Samuel que apareceu a Saul reside no fato de que se Deus se recusava a falar com Saul por todos os meios e modos como Ele lhe faria através de Samuel exatamente pelo atendimento da invocação de uma necromante?
Ao contrário, foi permitido por Deus a Satanás ter o seu último engano sobre Saul, enquanto ainda ele estava neste mundo, porque Saul se determinara durante toda a sua vida a dar ouvido ao diabo e não ao Senhor.
Então ele sairá deste mundo dialogando com aquele que havia procurado por toda a sua vida, e não com Aquele ao qual ele havia virado as suas costas. 
E tal foi a influência maligna sobre Saul, que se entregou imediatamente à ideia de suicídio.
Ele havia perdido o apetite por causa do grande temor dos filisteus que havia invadido o seu coração.
Agora ele cai prostrado totalmente sem forças e disposto a morrer por uma greve de fome, em vez de morrer com honra no campo de batalha.
E não deu continuidade ao seu plano porque foi dissuadido pela própria feiticeira e pelos seus servos que o acompanhavam (v. 21-25).
É quase certo que a feiticeira na agiu por benevolência, mas simplesmente para se livrar de futuros problemas, por não ter como justificar que o rei havia morrido de inanição em sua casa.
O diabo agiu com Saul do mesmo modo como agiu com Judas. Primeiro ele fez com que Judas fizesse todo o mal que ele fez, e que culminou com a traição de Jesus, e depois ele o conduziu ao suicídio.
Geralmente é este o modo pelo qual ele age com aqueles que lhes são entregues para a destruição da carne.




“1 Naqueles dias ajuntaram os filisteus os seus exércitos para a guerra, para pelejarem contra Israel. Disse Áquis a Davi: Sabe de certo que sairás comigo ao arraial, tu e os teus homens.
2 Respondeu Davi a Áquis: Assim saberás o que o teu servo há de fazer. E disse Áquis a Davi: Por isso te farei para sempre guarda da minha pessoa.
3 Ora, Samuel já havia morrido, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado  em Ramá, que era a sua cidade. E Saul tinha desterrado os necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus, vieram acampar-se em Suném; Saul ajuntou também todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas.
7 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me uma necromante, para que eu vá a ela e a consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite à casa da mulher. Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os necromantes e os adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida, para me fazeres morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher então lhe perguntou: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é a sua figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
16 Então disse Samuel: Por que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao teu próximo, a Davi.
18 Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor, e não executaste o furor da sua ira contra Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos filisteus.
20 Imediatamente Saul caiu estendido por terra, tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela noite.
21 Então a mulher se aproximou de Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua serva deu ouvidos à tua voz; e arriscando a minha vida atendi às palavras que me falaste.
22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e permite que eu ponha um bocado de pão diante de ti; come, para que tenhas forças quando te puseres a caminho.
23 Ele, porém, recusou, dizendo: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram, e ele deu ouvidos à sua voz; e levantando-se do chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em casa um bezerro cevado; apressou-se, pois, e o degolou; também tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
25 Então pôs tudo diante de Saul e de seus servos; e eles comeram. Depois levantaram-se e partiram naquela mesma noite.” (I Sm 28.1-25)

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