Havia uma joia preciosa
de Deus escondida na casa de Jessé, o belemita, e este era descendente de
pessoas de fé como Naassom, Salmom, Boaz, Raabe (a ex-prostituta de Jericó), e
Rute, a moabita.
A graça não corre no
sangue. Não é hereditária. Mas uma família piedosa pode influenciar em muito no
caráter dos seus descendentes.
Tal era o caso de Davi.
Mas ele estava oculto aos olhos de Samuel porque o Senhor não lho revelara até
então como sendo aquele que havia escolhido para ficar no lugar de Saul.
Samuel lamentava e ainda
estava compadecido de Saul.
Ele lamentava a perda de
alguém que possivelmente, por tudo o que chegou ao nosso conhecimento, através
do relato das Escrituras, talvez não fosse um autêntico eleito, alguém que
tivesse sido transformado pela operação
da graça em seu coração.
Alguém que o Senhor havia
rejeitado e que daria provas da sua rejeição pela retirada da influência do
Espírito Santo sobre ele, e por tê-lo entregue a um espírito maligno, para
destruição da carne, como sinal do Seu juízo sobre alguém que apesar de ter
sido ungido por Ele, para ser rei sobre o Seu povo, não Lhe deu por devolvida a
devida honra.
Nós não podemos
estabelecer um juízo final sobre a salvação de Saul, porque isto permanece
debaixo da exclusiva autoridade do Senhor, e nem mesmo afirmar que o fato de
ter sido entregue a Satanás para a destruição da carne, comprova
definitivamente que não era um verdadeiro crente, pois o que ocorreu com ele
quanto a ter apagado o Espírit,o e ter sido entregue a Satanás, para destruição
da carne, foi o mesmo que sucedeu ao cristão incestuoso de Corinto, do qual se
diz que o seu espírito seria salvo no dia do Senhor.
O nome de Sansão consta
da galeria dos heróis da fé de Hebreus 11, a par de todas as transgressões que
ele cometeu, particularmente no final de sua vida.
As operações renovadoras
do Espírito Santo na alma, por meio da graça divina, não podem ser removidas,
porque permanecem unidas, ligadas à alma que é regenerada, pelas Suas operações
santificadoras.
Deste modo, nós não
podemos excluir a possibilidade da retirada das operações extraordinárias do
Espírito, que atuavam em Saul, como sendo apenas a retirada dos dons
sobrenaturais que ele recebera do Espírito, até o dia em que o Espírito o
abandonou e um espírito imundo passou a atormentá-lo.
Se temos dúvidas em
relação à salvação de Saul, já em relação a Davi temos plena certeza, pelo
testemunho de sua vida, que trazia muitas das evidências que caracterizam um
autêntico filho de Deus.
No verso 13 se diz que
depois que foi ungido por Samuel com o chifre de azeite, o Espírito do Senhor
se apoderou dele daquele dia em diante, e isto se deu com certeza até o dia da
sua morte, e mesmo depois dela, porque o selo do Espírito é eterno nos
verdadeiros cristãos, que são edificados juntamente em casa espiritual para
habitação de Deus no Espírito (Ef 2.22).
A vida de Davi e de todos
os santos da Bíblia, nos ensinam esta verdade.
Nós não podemos julgar
sobre a salvação de ninguém em quem não sejam perceptíveis as evidências da
salvação, mas podemos afirmá-la com segurança em relação a todos aqueles em
quem são percebidas tais evidências.
Se assim não fora, Paulo
jamais poderia ter afirmado o que lemos nos seguintes textos, dentre outros:
“Saudai a Rufo, eleito no
Senhor, e a sua mãe e minha.” (Rm 6.13).
“E peço também a ti, meu
verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho,
e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro
da vida.” (Fp 4.3).
É bem provável que Samuel
tenha se consolado das suas inquietações quanto ao futuro de Israel, quando o
Senhor o conduziu até Davi para que ele ungisse como futuro rei aquele a quem
Ele havia escolhido. Pois se diz que quando Samuel foi ter com ele, Davi era
ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto (v. 12).
Samuel ficou
impressionado com o porte e a altura do primeiro filho de Jessé que lhe foi
apresentado, Eliabe, pensando que era ele o escolhido do Senhor, mas Deus lhe
disse que não olhasse para a sua aparência e estatura porque Ele não vê como o
homem, que julga segundo a aparência, pois Ele vê o coração.
Deus conhecia o espírito
e o caráter de Davi e o tudo que Ele viria a ser em Suas mãos.
Jamais Davi intentaria
contra a vida de Samuel, como Saul seria capaz de fazê-lo e como o próprio
Samuel demonstrou nas palavras que disse ao Senhor para justificar o seu temor
de descer à casa de Jessé para ungir a um de seus filhos para ser rei no lugar
de Saul (v. 2), pois ele bem conhecia o caráter de Saul, que se voltaria contra
ele num ataque de ciúme, que o levaria a ter Samuel na conta de um traidor,
ainda que sabendo que sempre agia sob a direção de Deus.
Como dissemos, Davi
jamais faria isto contra qualquer ungido de Deus, mesmo naqueles em quem não
houvesse fortes evidências da sua salvação, como no caso de Saul, e ele pôde
demonstrar isto na prática quando o teve à sua mercê para atentar contra a sua
vida, quando Saul o perseguia, e nada fez senão se limitar a cortar a orla da
sua veste, e assim mesmo até isto lhe pesou no coração.
O Espírito Santo agia com
graça em Davi e o transformou num verdadeiro filho de Deus, por estar unido
para sempre à sua natureza, e nós vemos quão diferentes são aqueles que são de
fato nascidos de Deus.
Isto não significa que
não terão qualquer tipo de pecado, pois a vida de Davi é um grande exemplo, que
mesmo grandes santos estão sujeitos a pecar, mas muito maior foi a sua grandeza
em se humilhar diante de Deus, e buscar sempre lugar de arrependimento perante
Ele, confessando-Lhe todas as suas faltas.
Assim se dá com todos
aqueles que estão de fato ligados a Deus como um só espírito. Eles se movem
conforme o mover de Deus. Eles discernem pelo Espírito as coisas que fazem
parte da mente de Deus. Eles conferem coisas espirituais com coisas
espirituais, e tudo discernem sem que possam ser discernidos por aqueles que
estão na carne.
Este era o verdadeiro
caráter da mudança que seria feita.
Um rei que seja segundo o
coração de Deus deve ser obrigatoriamente um verdadeiro crente, porque de outro
modo jamais poderá discernir o que está no Seu coração divino, tal como era o
caso de Saul, que não era um rei segundo o Seu coração.
O reino de Deus não é
comida e bebida mas justiça, e paz e alegria no Espírito Santo, e se tudo isto
é no Espírito, como poderão tê-lo os que não estão de fato ligados em suas
próprias naturezas ao Espírito?
Tais foram as mudanças operadas pela presença
do Espírito Santo em Davi que isto se tornou notório a muitos, a ponto de ter
sido recomendado a Saul como quem poderia tocar a harpa de tal modo, que ele
acharia alívio nos ataques do espírito imundo que o atormentava, enviado como
juízo sobre ele, da parte do Senhor, e ele foi descrito por um dos mancebos de
Saul com as seguintes palavras:
“Eis que tenho visto um
filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é forte e destemido, homem de
guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e o Senhor é com ele.” (v.
18).
Tendo Saul mandado buscar
a Davi para estar com ele, se agradou tanto dele que o tornou seu escudeiro, e
toda vez que Davi tocava a harpa o espírito maligno se retirava de Saul.
Esta expulsão do espírito não era devida ao
tipo da música mas à unção que estava em Davi, e que era transferida para o seu
louvor e às músicas que ele compunha.
Não é de se admirar que
se veja tanta unção nas letras dos seus Salmos, que através dos séculos têm
ajudado a muitos atormentados pelos ataques dos espíritos malignos, tal como
Saul, e não somente a estes, mas a muitos que Deus tem abençoado com a
inspiração do Espírito Santo, que pode ser achada nos Salmos de Davi.
“1 Então disse o Senhor a
Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine
sobre Israel? Enche um chifre de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé o
belemita, porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.
2 Disse, porém, Samuel:
Como irei eu? pois Saul o ouvirá e me matará. Então disse o Senhor: Leva
contigo uma bezerra, e dize: Vim para oferecer sacrifício ao Senhor:
3 E convidarás a Jessé
para o sacrifício, e eu te farei saber o que hás de fazer; e ungir-me-ás a quem
eu te designar.
4 Fez, pois, Samuel o que
dissera o Senhor, e veio a Belém; então os anciãos da cidade lhe saíram ao
encontro, tremendo, e perguntaram: É de paz a tua vinda?
5 Respondeu ele: É de
paz; vim oferecer sacrifício ao Senhor. Santificai-vos, e vinde comigo ao
sacrifício. E santificou ele a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o
sacrifício.
6 E sucedeu que, entrando
eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.
7 Mas o Senhor disse a
Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura,
porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha
para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.
8 Depois chamou Jessé a
Abinadabe, e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este escolheu o
Senhor.
9 Então Jessé fez passar
a Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor.
10 Assim fez passar Jessé
a sete de seus filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor
não escolheu a nenhum destes.
11 Disse mais Samuel a
Jessé: São estes todos os teus filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o menor,
que está apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda trazê-lo,
porquanto não nos sentaremos até que ele venha aqui.
12 Jessé mandou buscá-lo
e o fez entrar. Ora, ele era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então
disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13 Então Samuel tomou o
chifre de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o
Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para
Ramá.
14 Ora, o Espírito do
Senhor retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do
Senhor.
15 Então os criados de
Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te
atormenta;
16 dize, pois, senhor
nosso, a teus servos que estão na tua presença, que busquem um homem que saiba
tocar harpa; e quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, ele
tocará com a sua mão, e te sentirás melhor.
17 Então disse Saul aos
seus servos: Buscai-me, pois, um homem que toque bem, e trazei-mo.
18 Respondeu um dos
mancebos: Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar
bem, e é forte e destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil
aspecto; e o Senhor é com ele.
19 Pelo que Saul enviou
mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as
ovelhas.
20 Jessé, pois, tomou um
jumento carregado de pão, e um odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul
pela mão de Davi, seu filho.
21 Assim Davi veio e se
apresentou a Saul, que se agradou muito dele e o fez seu escudeiro.
22 Então Saul mandou
dizer a Jessé: Deixa ficar Davi ao meu serviço, pois achou graça aos meus
olhos.
23 E quando o espírito
maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com
a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno
se retirava dele.” (I Sm 16.1-23)
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