segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Sedição de Seba – 2 Samuel 20


Nós vemos em 2 Samuel 20, que mal a tempestade havia cessado, eis que as nuvens começaram a se formar de novo no céu de Davi.
Assim é a nossa vida neste mundo, em que um abismo pode chamar outro abismo.
Tendo sido vencida a rebelião de Absalão, logo uma outra começou a se formar, encabeçada por um benjamita chamado Seba, que provavelmente se aproveitou do impasse causado entre a tribo de Judá e as demais tribos, relativo à questão de a tribo de Judá ter tomado a dianteira deles para buscar o rei em Maanaim, conforme vimos no capítulo anterior.
Como o argumento apresentado na ocasião para defender tal iniciativa foi o de que o rei era da mesma parentela dos de Judá, então Seba, valeu-se disto, para instigar as demais tribos de Israel dizendo que eles não tinham nenhuma parte com o filho de Jessé, isto é, parentesco com ele, como os próprios judeus e o rei haviam afirmado que eram da mesma carne e osso.
Certamente, se o argumento que Davi usou para despertar o interesse de Judá em relação a ele era verdadeiro, no entanto, foi imprudente, por ter despertado o ciúme das demais tribos, e não continha toda a verdade, porque todos eles eram irmãos, descendentes de Jacó, cujo nome Deus havia mudado para Israel.
Mas, considerações deixadas à parte, o grande fato é que isto deu ocasião para ser usado pelo diabo como mais uma oportunidade para afligir os israelitas e não somente Davi. Não era uma nação inimiga que os estava atormentando, mas divisões internas entre eles mesmos.
Quanto dano é produzido por causa de ciúmes e contendas entre os próprios cristãos?
Este era o problema básico na jovem Igreja de Corinto, e tem sido o maior problema que a Igreja tem enfrentado em toda a sua longa história.
Davi estava ainda se deslocando do Jordão para Jerusalém, quando os homens de Israel se separaram dele para seguirem a Seba (v. 1), mas os de Judá permaneceram com ele e voltaram para Jerusalém (v. 2).
O rei ordenou a Amasa, seu sobrinho, que era o general de Absalão, que convocasse os homens de Judá e os apresentasse a ele no prazo de três dias (v. 4), mas tendo decorrido o prazo determinado e não tendo Amasa conseguido apresentar-se ao rei com os homens solicitados, este deu ordem a Abisai, irmão de Joabe que saísse em perseguição a Seba, antes que este tivesse tempo de reunir tropas suficientes e vencer a guerra (v. 6).
Assim, foi a guarda real de Davi e os seus valentes que saíram primeiro à batalha, porque o exército regular que se encontrava com Amasa, viria a encontrar-se com eles próximo de Gibeom, uma das principais cidades de Benjamim (v. 8).
Certamente, para impedir que Amasa fosse constituído general em seu lugar por ser bem sucedido naquela guerra contra Seba, Joabe o assassinou covardemente, o que deixou perplexos os homens que estavam sob o comando de Amasa, mas, para evitar que desistissem de seguir a Joabe, um dos seus homens conclamou dizendo que aqueles que eram por Joabe e por Davi, deveriam seguir a Joabe (v.11), e tirando o corpo de Amasa do caminho e colocando um manto sobre ele, conseguiu com que partissem em perseguição a Seba (v. 12, 13).
Passada a paixão do ciúme despertado por Seba, e tendo os israelitas percebido a insensatez de seguirem a Seba, repetindo o mesmo erro de terem seguido a Absalão, estes o abandonaram e ele era apenas seguido pelos beritas, e não tendo como enfrentar o exército de Davi, foi se refugiar numa cidade do extremo norte da Palestina, que possuía muralhas, chamada Abel-Bete-Maaca (v. 14, 15).
Quando os homens de Joabe se dispunham a derrubar a muralha para destruírem a cidade, uma mulher sábia impediu tal destruição porque veio ter com Joabe e defendeu o caráter pacificador daquela cidade, que desde a antiguidade era chamada a dar cabo das questões pendentes mesmo de pessoas de outras cidades (v. 18), e como Joabe poderia pensar em destruir uma cidade como aquela que era uma mãe em Israel? (v. 19).
Joabe percebeu que a cidade não havia acolhido a Seba e nem a sua causa, e por isso explicou o caso à mulher, e esta se comprometeu a lançar a cabeça dele sobre o muro (v. 21), o que foi feito, e pôs fim à sua sedição.
Cabe destacar que Joabe estava lutando pela causa de Davi, mas também pela sua própria causa, pois assassinou Amasa para intimidar o rei que o havia deposto da posição de general, e à qual ele retornou por sua própria iniciativa, aproveitando-se da ocasião, sem qualquer autorização expressa do rei.
Tendo assassinado a Amasa, por simples motivo interesseiro, ele ficava sujeito ao juízo de Deus de que aqueles que derramarem o sangue do homem deverão também ter o seu derramado.
Por isso, e também pelo sangue de Abner que havia derramado sem motivo, Joabe foi morto por Benaia a mando de Salomão, quando este iniciou a reinar em Israel (I Reis 2.30-34).
Foi por causa destes crimes que Joabe cometera, que Davi não o recomendou a Salomão, apesar dele próprio ter confirmado a Joabe no cargo de general, como vemos no versículo 23, mas não lhe deu a honra de ter o seu nome incluído entre os seus trinta guerreiros mais destacados, apesar dele ser o general do exército de Israel.
No verso 24 é dito que Adorão era o comandante dos que estavam sujeitos a trabalhos forçados, e ele permaneceu neste cargo até depois do reinado de quarenta anos de Salomão, alcançando ainda o de Roboão (I Rs 12.18).
Com a citação dos oficiais de Davi no final deste capítulo, nós temos praticamente a conclusão da narrativa, por ordem, da história relativa ao seu reinado, porque a data dos eventos narrados nos capítulos a seguir é incerta, e não se pode saber com precisão a que período do seu reinado estes eventos pertencem.  



“1 Ora, sucedeu achar-se ali um homem de Belial, cujo nome era Sebá, filho de Bicri, homem de Benjamim, o qual tocou a buzina, e disse: Não temos parte em Davi, nem herança no filho de Jessé; cada um à sua tenda, ó Israel!
2 Então todos os homens de Israel se separaram de Davi, e seguiram a Sebá, filho de Bicri; porém os homens de Judá seguiram ao seu rei desde o Jordão até Jerusalém.
3 Quando Davi chegou à sua casa em Jerusalém, tomou as dez concubinas que deixara para guardarem a casa, e as pôs numa casa, sob guarda, e as sustentava; porém não entrou a elas. Assim estiveram encerradas até o dia da sua morte, vivendo como viúvas.
4 Disse então o rei a Amasa: Convoca-me dentro de três dias os homens de Judá, e apresenta-te aqui.
5 Foi, pois, Amasa para convocar a Judá, porém demorou-se além do tempo que o rei lhe designara.
6 Então disse Davi a Abisai: Mais mal agora nos fará Sebá, filho de Bicri, do que Absalão; toma, pois, tu os servos de teu senhor, e persegue-o, para que ele porventura não ache para si cidades fortificadas, e nos escape à nossa vista.
7 Então saíram atrás dele os homens de Joabe, e os quereteus, e os peleteus, e todos os valentes; saíram de Jerusalém para perseguirem a Sebá, filho de Bicri.
8 Quando chegaram à pedra grande que está junto a Gibeão, Amasa lhes veio ao encontro. Estava Joabe cingido do seu traje de guerra que vestira, e sobre ele um cinto com a espada presa aos seus lombos, na sua bainha; e, adiantando-se ele, a espada caiu da bainha.
9 E disse Joabe a Amasa: Vais bem, meu irmão? E Joabe, com a mão direita, pegou da barba de Amasa, para o beijar.
10 Amasa, porém, não reparou na espada que estava na mão de Joabe; de sorte que este o feriu com ela no ventre, derramando-lhe por terra as entranhas, sem feri-lo segunda vez; e ele morreu. Então Joabe e Abisai, seu irmão, perseguiram a Sebá, filho de Bicri.
11 Mas um homem dentre os servos de Joabe ficou junto a Amasa, e dizia: Quem favorece a Joabe, e quem é por Davi, siga a Joabe.
12 E Amasa se revolvia no seu sangue no meio do caminho. E aquele homem, vendo que todo o povo parava, removeu Amasa do caminho para o campo, e lançou sobre ele um manto, porque viu que todo aquele que chegava ao pé dele parava.
13 Mas removido Amasa do caminho, todos os homens seguiram a Joabe, para perseguirem a Sebá, filho de Bicri.
14 Então Sebá passou por todas as tribos de Israel até Abel e Bete-Maacá; e todos os beritas, ajuntando-se, também o seguiram.
15 Vieram, pois, e cercaram a Sebá em Abel de Bete-Maacá; e levantaram contra a cidade um montão, que se elevou defronte do muro; e todo o povo que estava com Joabe batia o muro para derrubá-lo.
16 Então uma mulher sábia gritou de dentro da cidade: Ouvi! ouvi! Dizei a Joabe: Chega-te cá, para que eu te fale.
17 Ele, pois, se chegou perto dela; e a mulher perguntou: Tu és Joabe? Respondeu ele: Sou. Ela lhe disse: Ouve as palavras de tua serva. Disse ele: Estou ouvindo.
18 Então falou ela, dizendo: Antigamente costumava-se dizer: Que se peça conselho em Abel; e era assim que se punha termo às questões.
19 Eu sou uma das pacíficas e das fiéis em Israel; e tu procuras destruir uma cidade que é mãe em Israel; por que, pois, devorarias a herança do Senhor?
20 Então respondeu Joabe, e disse: Longe, longe de mim que eu tal faça, que eu devore ou arruíne!
21 A coisa não é assim; porém um só homem da região montanhosa de Efraim, cujo nome é Sebá, filho de Bicri, levantou a mão contra o rei, contra Davi; entregai-me só este, e retirar-me-ei da cidade. E disse a mulher a Joabe: Eis que te será lançada a sua cabeça pelo muro.
22 A mulher, na sua sabedoria, foi ter com todo o povo; e cortaram a cabeça de Sebá, filho de Bicri, e a lançaram a Joabe. Este, pois, tocou a buzina, e eles se retiraram da cidade, cada um para sua tenda. E Joabe voltou a Jerusalém, ao rei.
23 Ora, Joabe estava sobre todo o exército de Israel; e Benaia, filho de Jeoiada, sobre os quereteus e os peleteus;
24 e Adorão sobre a gente de trabalhos forçados; Jeosafá, filho de Ailude, era cronista;
25 Seva era escrivão; Zadoque e Abiatar, sacerdotes;
26 e Ira, o jairita, era o oficial-mor de Davi.” (II Sm 20.1-26).


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