“A ti, SENHOR, elevo a minha alma.
Deus meu, em ti confio; não seja eu envergonhado, nem exultem
sobre mim os meus inimigos.
Com efeito, dos que em ti esperam, ninguém será envergonhado;
envergonhados serão os que, sem causa, procedem traiçoeiramente.
Faze-me, SENHOR, conhecer os teus caminhos, ensina-me as tuas
veredas.
Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha
salvação, em quem eu espero todo o dia.
Lembra-te, SENHOR, das tuas misericórdias e das tuas bondades, que
são desde a eternidade.
Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas
transgressões.
Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia, por causa da tua
bondade, ó SENHOR.
Bom e reto é o SENHOR, por isso, aponta o caminho aos pecadores.
Guia os humildes na justiça e ensina aos mansos o seu caminho.
Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para os que
guardam a sua aliança e os seus testemunhos.
Por causa do teu nome, SENHOR, perdoa a minha iniquidade, que é
grande.
Ao homem que teme ao SENHOR, ele o instruirá no caminho que deve
escolher.
Na prosperidade repousará a sua alma, e a sua descendência herdará
a terra.
A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a
conhecer a sua aliança.
Os meus olhos se elevam continuamente ao SENHOR, pois ele me
tirará os pés do laço. Volta-te para mim e tem compaixão, porque estou sozinho
e aflito.
Alivia-me as tribulações do coração; tira-me das minhas angústias.
Considera as minhas aflições e o meu sofrimento e perdoa todos os
meus pecados.
Considera os meus inimigos, pois são muitos e me abominam com ódio
cruel.
Guarda-me a alma e livra-me; não seja eu envergonhado, pois em ti
me refugio.
Preservem-me a sinceridade e a retidão, porque em ti espero.
Ó Deus, redime a Israel de todas as suas tribulações.”
Comentário:
O salmista apela para
a bondade e misericórdia do Senhor, porque as conhecia por experiência própria,
e como se achava debaixo de grande pressão e luta espiritual buscando ter a
convicção da sua plena aprovação por parte de Deus, ele se esforça para elevar
a sua alma até à Sua presença, declarando a Sua confiança nEle, para que não
fosse envergonhado, e nem que os seus inimigos exultassem sobre ele.
Estava convicto de que
todos os que esperam de fato no Senhor, com a expectativa de receberem dEle
auxílio, e quando não andam procedendo traiçoeiramente sem causa, Ele jamais
deixará que sejam envergonhados, mas deixará que isto suceda àqueles que têm um
mal proceder.
O desejo do salmista
era andar nos caminhos de Deus e por isso pedia que lhe ensinasse acerca destes
caminhos que ele já conhecia, mas sabia que há neles uma profundidade
insondável, que só pode ser conhecida, caso nos seja revelada por Deus.
Assim, sendo, sabia
que havia pecado em sua mocidade fazendo coisas das quais não se lembrava para
poder confessá-las agora ao Senhor, e que também havia transgressões que eram
ocultas aos seus olhos, todavia era muito grande e sincero o seu desejo de
viver segundo os retos caminhos do Altíssimo, e por isso lhe pediu que não o
tratasse conforme estas transgressões que lhe eram ocultas, mas por causa da
Sua própria bondade e misericórdia divinas.
Ele sabia por
experiência própria que o Senhor é bom e reto, e assim é dever dos pecadores
andarem nos Seus caminhos de retidão, que Ele lhes ensina.
Todavia, é necessário
ter o espírito certo para se aprender do Senhor, que nos impõe contrição de
coração e pobreza de espírito, para que possa nos encher com o conhecimento da
Sua vontade.
Por isso guia na
justiça os que são humildes, e ensina o seu caminho aos mansos, ou seja, aos
que são submissos e obedientes à Sua vontade.
Assim, somente os que
guardam a aliança do Senhor, temendo e obedecendo os Seus mandamentos, podem
conhecer que os caminhos do Senhor são de misericórdia e verdade.
Que não há nEle
qualquer falsidade, e portanto, os Seus filhos devem se despojar dos seus pecados.
Diante da grandeza da
santidade do Senhor e do grande brilho da glória da Sua majestade, nós clamamos
como o profeta Isaías: “Ai de nós”, porque ainda que amemos a Deus, percebemos que somos pessoas de lábios impuros
e que grande é a nossa iniquidade, por mais santos que sejamos, porque enquanto
neste mundo, estamos sujeitos à natureza terrena e ao pecado que nos assedia
tão de perto, por termos uma tal natureza, ainda que estejamos sinceramente nos
despojando dela, para termos ainda mais da nova natureza que recebemos pela fé
em Cristo.
Por isso o Senhor não
nos tratará segundo os nossos pecados, ou seja, não se relacionará conosco na
base de termos uma completa perfeição em santidade, porque enquanto neste
mundo, nenhum dos Seus santos a possuirá, por maior que seja o grau de
santificação que possam ter alcançado, então a base da nossa aproximação dEle
será sempre por causa da Sua misericórdia, e da obediência perfeita e méritos
de Cristo obtidos para nós.
Então o Senhor tomará
o nosso sincero desejo de sermos santos, como o próprio fato de estarmos
santificados, e nos instruirá no caminho que devemos escolher, enquanto
andarmos debaixo do Seu temor.
Estes que são
submissos ao Senhor haverão de herdar a terra, e não os violentos e poderosos.
Eles alcançarão a
verdadeira prosperidade que consiste no descanso de suas almas.
Somente estes que
temem assim ao Senhor, em verdadeiro desejo de cumprir a Sua Palavra, tal como
está registrada na Bíblia, e não como nos é ensinada pela conveniência dos
homens, ou entendida conforme a nossa própria conveniência, que desfrutarão da
Sua intimidade, porque Ele mesmo se manifestará a eles, porque têm o verdadeiro
temor da Sua pessoa e vontade.
Estes saberão qual é o
caráter da aliança que têm com Deus, na qual Ele é amigo, mas é sobretudo
Senhor, e por isso deve ser temido e honrado.
Sabendo disso, o
salmista sempre elevava continuamente os seus olhos espirituais ao Senhor, na
expectativa de que receberia livramento dEle, de todos os laços que fossem
atirados aos seus pés.
Não há Outro que possa
nos valer na hora da grande angústia, quando nos sentimos sós e aflitos, não
por não termos nenhuma pessoa ao nosso lado, mas porque somente Deus pode nos
valer em tais horas, aliviando-nos de todas as tribulações do coração, e
livrando a alma da angústia.
Não é porque estejamos
em profundezas, que possam ter sido até mesmo ocasionadas por pecados que nos
sejam ocultos, que devemos cruzar os braços e esperar que as coisas se resolvam
por si mesmas, ou então buscarmos auxílio nos homens.
Não. Um abismo chama
outro abismo.
E somente o Senhor
pode nos livrar disto, de maneira que é nEle que devemos concentrar todas as
nossas expectativas de livramento tal como fazia Davi em seus dias, com
humildade, pedindo a Deus que perdoasse todos os seus pecados.
Ele pedia a Deus que
levasse em conta os inimigos sem conta que ele tinha, justamente pelo fato de
amar o Senhor e andar nos Seus caminhos, então ele argumentava com Deus,
pedindo-Lhe que guardasse a sua alma e o livrasse, e que não permitisse que
fosse envergonhado porque era nEle, no Senhor, que sempre buscava refúgio.
Ele não queria afinal,
como o grande objetivo de toda a Sua busca de Deus, que apenas fosse livrado
dos seus inimigos, mas que Ele o preservasse na sinceridade e na retidão.
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