segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Gratidão por Amor – 2 Samuel 19



Como nos demais capítulos do livro de 2 Samuel, também há neste 19º, muitos ensinamentos para nos instruir na justiça (II Tim 3.16,17).
Aqui nós somos ensinados especialmente sobre o dever da gratidão, mesmo de um rei a seus súditos, quando estes se empenham por ele lutando para fazer prevalecer a causa da justiça.
Até mesmo os que lideram devem manifestar a sua gratidão àqueles que o servem bem.
Pastores devem manifestar a sua gratidão às ovelhas que servem bem ao Senhor debaixo do ministério deles, assim como as ovelhas devem manifestar a sua deferência e gratidão àqueles que as presidem bem no Senhor.
Contudo, num mundo em que a iniquidade tem se multiplicado, de modo que o pecado tem se manifestado em múltiplas e variadas formas, estas coisas que são devidas à justiça e à virtude, e que são imutáveis, vão sendo esquecidas, mesmo no meio daqueles que jamais deveriam se desviar delas, a saber, o povo do Senhor.
Joabe sabia que grandes danos foram sofridos por muitos reis, por causa do desprezo de grandes méritos.
Era exatamente isto que Davi estava fazendo, não se permitindo consolar da morte de Absalão, e não expressando qualquer gratidão àqueles que haviam exposto as suas próprias vidas por ele e pelo seu reino.
As palavras de repreensão de Joabe dirigidas a Davi eram corretas, mas ele não o fez com o respeito e deferência que eram devidos ao rei.
Mas, em todo o caso, elas produziram o efeito desejado, e Davi pôde vencer as razões do seu coração para se sujeitar e fazer aquilo que era justo, e foi ter com o povo que já se desanimava, considerando ser uma ingratidão ele ter esquecido de tudo o que eles haviam feito para ficar lamentando a morte do rebelde Absalão.
Tendo manifestado publicamente o seu desejo de continuar governando as tribos de Israel, deliberou providenciar o retorno do rei de Maanaim, onde ele ainda se encontrava, para Jerusalém, em Judá.
E ao mesmo tempo, Davi tomou providências mandando dizer a Zadoque e a Abiatar, que se encontravam em Jerusalém, que incentivassem os de Judá a trazê-lo de volta (v. 11).
Ele argumentou que era irmão deles, pois era daquela tribo, e mandou dizer a Amasa, que foi constituído por Absalão como seu general, dizendo também a ele que era do mesmo osso e carne dele, e que o constituiria como general de todo o seu exército no lugar de Joabe (v. 12, 13), e estas palavras produziram o efeito esperado, porque eles se dispuseram a buscar Davi em Maanaim, tomando a dianteira de todas as demais tribos de Israel, e quando estas protestaram que haviam sido deixadas de lado pelos de Judá, não dando a eles a mesma honra de buscarem o rei juntamente com eles, a tribo de Judá usou o argumento do parentesco com Davi para justificar o fato de terem se encontrado com o rei em Gilgal para trazê-lo a Jerusalém (v. 15, 41-43).   
Mas, enquanto neste mundo, não virá somente ao nosso encontro a gratidão sincera, como também o interesseiro com seu falso arrependimento e a falsidade e o engano, bem representados nas pessoas de Simei, que havia amaldiçoado Davi, quando este fugia de Absalão (v. 16), e Ziba, que lhe enganou em relação a Mefibosete (v. 17).
Estes vieram ter com ele juntamente com os homens de Judá, pois souberam da decisão deles de se encontrarem com Davi em Gilgal, depois da sua saída de Maanaim.
Simei, para poupar o próprio pescoço, de uma possível represália dos oficiais de Davi, se apressou em pedir perdão pelo seu pecado, e argumentou que foi o primeiro de todas as demais tribos de Israel que viera ter com o rei (v. 20), que foram designadas por ele como casa de José.
Abisai percebeu a falsidade daquele homem e se dispôs a matá-lo, mas foi impedido pelo rei, não porque não tivesse percebido a falsidade de Simei, mas por colocar em prática a virtude da longanimidade, que é ordenada por Deus a todos os verdadeiros cristãos, e assim Davi prometeu poupar a sua vida (v. 22, 23), certamente, enquanto ele não voltasse a fazer algo que fosse digno de morte.
Nós estudaremos adiante, no comentário de I Reis, que ele foi morto a mando de Salomão, por ter desobedecido ordens expressas que lhe havia dado.
A longanimidade lhe havia poupado, mas ele não se mostrou digno dela e foi apanhado no momento oportuno, pela justiça.
O mesmo sucederá a todos aqueles que têm abusado da longanimidade de Deus não se arrependendo dos seus pecados, para praticarem a justiça, e tentando se valer de um falso arrependimento, que sequer engana a eles próprios, quanto mais ao Deus que tudo conhece, e por isso é certo que o juízo do Senhor os alcançará quando menos esperarem.
Os versos 24 a 30 relatam o encontro de Mefibosete com Davi, que também saiu para ter com ele, antes da sua chegada em Jerusalém.
Tão nobre era o caráter de Mefibosete, que tendo sido impedido de fugir com Davi em razão da tramóia que Ziba lhe preparara, no entanto, em demonstração de tristeza e abatimento que sentiu pelo exílio forçado do rei, não tratou dos seus pés defeituoso, nem aparou a barba e nem lavou as suas vestes, desde o dia que Davi fugiu de Jerusalém (v. 24).
Ele não protestou com o rei quanto a ter transferido as propriedade que lhe dera para a posse de Ziba, e alegou reconhecer o direito que ele tinha de fazer o que bem aprouvesse com o que de fato lhe pertencia, e se mostrou grato pelo seu favor para com ele, quando todos, na casa de Saul, foram alcançados pelos juízos do Senhor.
E ele concluiu o seu discurso com Davi dizendo que mesmo tendo sido enganado por Ziba ele não se encontrava em posição de reclamar sobre qualquer direito ao rei, porque afinal ele comia à sua mesa, em sua presença.
Não podendo voltar atrás na palavra dada a Ziba, Davi propôs a Mefibosete que ficasse satisfeito com metade das propriedades que lhe pertenciam e que ele havia dado a Ziba (v. 29).
Mas para livrar o rei de qualquer constrangimento ele lhe declarou que Ziba poderia ficar com tudo porque a sua alegria não repousava em propriedades, mas na pessoa do próprio rei, que havia por fim voltado em paz à sua casa (v. 30).
Isto é um exemplo para muitos cristãos cujo prazer não se encontra exclusivamente na própria pessoa de Jesus, mas naquilo que podem obter dEle.
Mefibosete compreendia que tudo o que lhe fora dado pelo rei, não era propriamente seu, e que o rei poderia dispor dos seus bens como bem lhe aprouvesse.
Quantos têm este pensamento correto em relação ao próprio Deus, quanto a que tudo se encontra na posse deles neste mundo, não pertence propriamente a eles, mas ao Senhor?
Além disso todos eles estavam na mais completa miséria em seus pecados, e Deus os tornou participantes da Sua riqueza por meio de Cristo Jesus, e assim todo o bem que têm recebido é por pura graça e misericórdia, e não têm portanto o direito de lhe negar qualquer direito sobre tudo o que possuem e sobre suas próprias vidas.
Mais do que isso devem aprender a amá-lO desinteressadamente, assim como Ele lhes ama. Porque o verdadeiro amor não é interesseiro.
Pessoas que protestam serem amigas de outras, não raro estão buscando não a quem dizem amar, mas aos seus próprios interesses egoístas, de receberem deles proteção, companhia, provisão, honra, conforto, ou o que seja do interesse delas.
E a falsa amizade se comprova no momento em que percebem que o que era do seu interesse não possa mais ser atendido por aqueles aos quais alegavam amar; porque se retirarão, sem manifestar até mesmo qualquer gratidão, por qualquer bem que tenham recebido daqueles aos quais exploraram de forma interesseira. 
A Deus pertencem não somente os bens materiais dos quais somos apenas seus mordomos, como também as nossas próprias vidas, dons e talentos.
Ele dá e os tira, pois faz o que quer com o que é Seu, segundo a Sua própria vontade e soberania.
Para que aprendamos que não é o que recebemos ou que não recebemos dEle, que importa, mas conhecer e amar a Sua própria pessoa divina, tal como Jó havia demonstrado, quando colocado à prova por Deus, revelando a Satanás que o amor de Jó por Ele era genuíno e não interesseiro. 
Por isso, devemos dar-Lhe glória e graças tanto no que recebemos dEle quanto naquilo de que nos tem privado, seguindo o exemplo de Jó que O adorou quando permitiu que fossem mortos os seus dez filhos.
Ele é digno de receber glória e honra na alegria e na tristeza, quando somos honrados ou desonrados, quando temos muito ou nada porque Ele sempre faz o que é melhor para nós, mas sobretudo porque Ele próprio é a nossa única e permanente riqueza e a profunda razão da nossa paz e alegria.
Todos nós estávamos mortos em nossos delitos e pecados diante de Deus e Ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Do quê então temos nós o direito de reclamar nas aflições que sofremos neste mundo?
Finalmente, no comentário deste capítulo, cabe ainda destacar a prudência, sabedoria e generosidade de Barzilai, um ancião muito rico de 80 anos de idade, que residia em Gileade, e que sustentara Davi, quando este esteve em Maanaim (v. 31,32).
Ele acompanhou Davi em sua volta a Jerusalém até que tivesse atravessado o Jordão.
Davi insistiu com ele para que fosse se juntar à sua corte em Jerusalém, mas ele recusou esta honra não por desfeita ao rei, mas por sabedoria e prudência, porque sabia que estava próxima a hora da sua morte, e desejava ser sepultado em sua própria cidade, junto de seu pai e mãe, mas pediu ao rei que a honra que lhe cabia fosse transferida para o seu filho Quimã, que era ainda jovem, e poderia se destacar servindo ao rei, e Davi prometeu fazer a Quimã tudo o que Barzilai desejasse e lhe pedisse (v. 37, 38).
O bom nome dos pais é a melhor herança dos filhos, e estes acharão favor da parte daqueles que foram abençoados pelo serviço e testemunho de seus pais.
Vale a pena fazer o bem, especialmente àqueles que andam nos caminhos do Senhor, porque quando menos esperamos o Senhor haverá de fazer com que colhamos abundantemente todo o bem que tivermos semeado, ainda que em meio a lágrimas e enfrentando dificuldades, e esta colheita será feita não apenas aqui neste mundo mas sobretudo no céu.
Barzilai havia construído um sólido fundamento fazendo um uso generoso e sábio de toda a riqueza que o Senhor lhe concedeu e permitiu que ele adquirisse. E isto nos faz lembrar tanto das palavras do Senhor Jesus quanto do apóstolo Paulo:
  “Eu vos digo ainda: Granjeai amigos por meio das riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” (Lc 16.9).




“1 Disseram a Joabe: Eis que o rei está chorando e se lamentando por Absalão.
2 Então a vitória se tornou naquele dia em tristeza para todo o povo, porque nesse dia o povo ouviu dizer: O rei está muito triste por causa de seu filho.
3 E nesse dia o povo entrou furtivamente na cidade, como o faz quando, envergonhado, foge da peleja.
4 Estava, pois, o rei com o rosto coberto, e clamava em alta voz: Meu filho Absalão, Absalão meu filho, meu filho!
5 Então entrou Joabe na casa onde estava o rei, e disse: Hoje envergonhaste todos os teus servos, que livraram neste dia a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, e a vida de tuas mulheres e concubinas,
6 amando aos que te odeiam, e odiando aos que te amam. Porque hoje dás a entender que nada valem para ti nem chefes nem servos; pois agora entendo que se Absalão vivesse, e todos nós hoje fôssemos mortos, ficarias bem contente.
7 Levanta-te, pois, agora; sai e fala ao coração de teus servos. Porque pelo Senhor te juro que, se não saíres, nem um só homem ficará contigo esta noite; e isso te será pior do que todo o mal que tem vindo sobre ti desde a tua mocidade até agora.
8 Pelo que o rei se levantou, e se sentou à porta; e avisaram a todo o povo, dizendo: Eis que o rei está sentado à porta. Então todo o povo veio apresentar-se diante do rei. Ora, Israel havia fugido, cada um para a sua tenda.
9 Entrementes todo o povo, em todas as tribos de Israel, andava altercando entre si, dizendo: O rei nos tirou das mãos de nossos inimigos, e nos livrou das mãos dos filisteus; e agora fugiu da terra por causa de Absalão.
10 Também Absalão, a quem ungimos sobre nós, morreu na peleja. Agora, pois, porque vos calais, e não fazeis voltar o rei?
11 Então o rei Davi mandou dizer a Zadoque e a Abiatar, sacerdotes: Falai aos anciãos de Judá, dizendo: Por que seríeis vós os últimos em tornar a trazer o rei para sua casa? Porque a palavra de todo o Israel tem chegado ao rei, até a sua casa.
12 Vós sois meus irmãos; meus ossos e minha carne sois vós; por que, pois, seríeis os últimos em tornar a trazer o rei?
13 Dizei a Amasa: Porventura não és tu meu osso e minha carne? Assim me faça Deus e outro tanto, se não fores chefe do exercito diante e mim para sempre, em lugar de Joabe.
14 Assim moveu ele o coração de todos os homens de Judá, como se fosse o de um só homem; e enviaram ao rei, dizendo: Volta, com todos os teus servos.
15 Então o rei voltou, e chegou até o Jordão; e Judá veio a Gilgal, para encontrar-se com o rei, a fim de fazê-lo passar o Jordão.
16 Ora, apressou-se Simei, filho de Gêra, benjamita, que era de Baurim, e desceu com os homens de Judá a encontrar-se com o rei Davi;
17 e com ele mil homens de Benjamim, como também Ziba, servo da casa de Saul, e seus quinze filhos, e seus vinte servos com ele; desceram apressadamente ao Jordão adiante do rei,
18 atravessando o vau para trazer a casa do rei e para fazer o que aprouvesse a ele. Quando o rei ia passar o Jordão, Simei, filho de Gêra, se prostrou diante dele,
19 e lhe disse: Não me impute meu senhor à minha culpa, e não te lembres do que tão perversamente fez teu servo, no dia em que o rei meu senhor saiu de Jerusalém; não conserve o rei isso no coração.
20 Porque eu, teu servo, deveras confesso que pequei; por isso eis que eu sou o primeiro, de toda a casa de José, a descer ao encontro do rei meu senhor.
21 Respondeu Abisai, filho de Zeruia, dizendo: Não há de ser morto Simei por haver amaldiçoado ao ungido do Senhor?
22 Mas Davi disse: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia, para que hoje me sejais adversários? Será morto alguém hoje em Israel? pois não sei eu que hoje sou rei sobre Israel?
23 Então disse o rei a Simei: Não morrerás. E o rei lho jurou.
24 Também Mefibosete, filho de Saul, desceu a encontrar-se com o rei, e não cuidara dos pés, nem fizera a barba, nem lavara as suas vestes desde o dia em que o rei saíra até o dia em que voltou em paz.
25 E sucedeu que, vindo ele a Jerusalém a encontrar-se com o rei, este lhe perguntou: Por que não foste comigo, Mefibosete?
26 Respondeu ele: Ó rei meu senhor, o meu servo me enganou. Porque o teu servo dizia: Albardarei um jumento, para nele montar e ir com o rei; pois o teu servo é coxo.
27 E ele acusou falsamente o teu servo diante do rei meu senhor; porém o rei meu senhor é como um anjo de Deus; faze, pois, o que bem te parecer.
28 Pois toda a casa de meu pai não era senão de homens dignos de morte diante do rei meu senhor; contudo, puseste teu servo entre os que comem à tua mesa. E que direito mais tenho eu de clamar ainda ao rei.
29 Ao que lhe respondeu o rei: Por que falas ainda de teus negócios? Já decidi: Tu e Ziba reparti as terras.
30 Então disse Mefibosete ao rei: Deixe que ele tome tudo, uma vez que o rei meu senhor já voltou em paz à sua casa.
31 Também Barzilai, o gileadita, desceu de Rogelim, e passou com o rei o Jordão, para acompanhá-lo até a outra banda do rio.
32 E era Barzilai mui velho, da idade de oitenta anos; e ele tinha provido o rei de víveres enquanto este se demorara em Maanaim, pois era homem muito rico.
33 Disse, pois, o rei a Barzilai: Passa tu comigo e eu te sustentarei em Jerusalém, em minha companhia.
34 Barzilai, porém, respondeu ao rei: Quantos anos viverei ainda, para que suba com o rei a Jerusalém.
35 Oitenta anos tenho hoje; poderei eu discernir entre e bom e o mau? poderá o teu servo perceber sabor no que comer e beber? poderei eu mais ouvir a voz dos cantores e das cantoras? e por que será o teu servo ainda pesado ao rei meu senhor?
36 O teu servo passará com o rei até um pouco além do Jordão. Por que me daria o rei tal recompensa?
37 Deixa voltar o teu servo, para que eu morra na minha cidade, junto à sepultura de meu pai e de minha mãe. Mas eis aí o teu servo Quimã; passe ele com o rei meu senhor, e faze-lhe o que for do teu agrado.
38 Ao que disse o rei: Quimã passará comigo, e eu lhe farei o que te parecer bem, e tudo quanto me pedires te farei.
39 Havendo, pois, todo o povo passado o Jordão, e tendo passado também o rei, beijou o rei a Barzilai, e o abençoou; e este voltou para o seu lugar.
40 Dali passou o rei a Gilgal, e Quimã com ele; e todo o povo de Judá, juntamente com a metade do povo de Israel, conduziu o rei.
41 Então todos os homens de Israel vieram ter com o rei, e lhe disseram: Por que te furtaram nossos irmãos, os homens de Judá, e fizeram passar o Jordão o rei e a sua casa, e todos os seus homens com ele?
42 Responderam todos os homens de Judá aos homens de Israel: Porquanto o rei é nosso parente: Por que vos irais por isso. Acaso temos comido à custa do rei, ou nos deu ele algum presente?
43 Ao que os homens de Israel responderam aos homens de Judá: Dez partes temos no rei; mais temos nós em Davi do que vós. Por que, pois, fizestes pouca conta de nós. Não foi a nossa palavra a primeira, para tornar a trazer o nosso rei? Porém a palavra dos homens de Judá foi mais forte do que a palavra dos homens de Israel.” (II Sm 19.1-43).


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