Nós vemos no primeiro capítulo do livro de II Reis,
que os moabitas e edomitas foram feitos tributários de Israel, desde os dias de
Davi, mas agora, em razão da idolatria dos israelitas eles se sentiram
fortalecidos para romperem o compromisso ao qual haviam sido sujeitados, quando
reinava Acazias, filho de Acabe (II Rs 1.1).
Nós veremos no terceiro capítulo, que nos dias de
Jorão, irmão de Acazias, que passou a reinar depois da morte deste, que a
rebelião dos moabitas deu ensejo a uma guerra contra eles com uma coalizão de
tropas de Judá, Israel e Edom.
Nós veremos no capítulo oitavo, que nos dias do rei
de Judá, filho de Josafá, de nome Jeorão, os próprios edomitas também se
rebelaram contra Judá, para não serem mais seus tributários (8.22).
O motivo do rompimento com Israel, da parte dos
moabitas foi o pecado de idolatria que havia na casa de Acabe, e o rompimento
que houve posteriormente, em relação a
Judá foi também o pecado da adoração a Baal, que havia sido exportado de Israel
para Judá, através do casamento de Jeorão, rei de Judá, filho de Josafá, com
Atalia, filha de Acabe com Jezabel.
No caso de Acazias, filho de Acabe, o motivo da
rebelião dos moabitas foi devido ao fato de ter dado continuidade ao culto a Baal
em Israel, e além disso, ele seguiu os passos de seu pai Acabe, tendo total
desconsideração para com o Senhor e com os seus profetas.
Ele reinou apenas dois anos, porque caiu através
das grades de um quarto elevado do seu palácio em Samaria, e veio a ficar
gravemente enfermo, e morreu desta enfermidade, por causa de um juízo do Senhor
proferido contra ele, através do profeta Elias, porque enviou mensageiros a
Ecrom, terra dos filisteus, para consultarem a Baal-Zebube, deus deles, se ele
sararia daquela doença (II Rs 1.2).
Mas o anjo do Senhor, no original hebraico, malak
iehvah, mensageiro de Jeová, ordenou que Elias fosse ter com os mensageiros de
Acazias, para que estes retornassem a ele com a seguinte mensagem: “Porventura
não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?
Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que subiste não descerás, mas
certamente morrerás “ (v. 3,4).
Deus conhecia a maldade de Acazias e bem sabia que
não se converteria do seu mau caminho, ainda que fosse curado daquela
enfermidade por Ele.
Assim, a mensagem não tinha a finalidade de
produzir arrependimento, como de fato não produziu, senão juízo sobre a
insensatez do rei em mandar consultar um deus de outra terra.
Ele havia desprezado e ignorado o Deus de Israel, a
quem ele deveria não apenas consultar, mas servir, na condição de ser um
israelita, descendente de Abraão, Isaque e Jacó, povo com o qual o Senhor havia
feito uma aliança de ser o Deus deles para sempre.
Por isso, ele seria também desprezado, e não
ficaria sem resposta para a consulta que mandara fazer em Ecrom, porque a
receberia da parte do próprio Deus de Israel.
Entretanto, quando os mensageiros de Acazias lhe
fizeram saber que um profeta do Senhor lhes dissera que morreria daquela enfermidade,
e que havia procedido mal em tentar consultar um deus estranho; tendo inquirido
seus mensageiros, quanto às características do profeta que lhes havia falado,
ficou sabendo que se tratava de Elias, a quem ele bem sabia que era profeta de
Deus e o quanto o seu pai o odiava por tudo o que fizera em Israel, sobretudo
aos falsos profetas de sua mãe Jezabel.
Então, não se conformou com a resposta que lhe fora
dada e ficou enfurecido a ponto de enviar um pelotão com cinquenta soldados e
um capitão sobre eles para trazerem Elias, ainda que à força, à sua
presença.
Ele deve ter considerado uma afronta o fato de o
profeta ter mandado os seus mensageiros de volta, sem que tivessem cumprido a
missão que lhes havia dado.
Ele se sentiu desprezado em sua autoridade de rei,
pelo profeta, que na verdade não estava sendo rebelde ao rei agindo por sua
própria conta, senão obedecendo ordens superiores às do próprio rei, daquele
que é o Rei dos reis e Senhor dos Senhores.
Tanto que para que não houvesse dúvida quanto à
procedência da ordem, esta fora dada ao profeta Elias através de um anjo, e não
por meio de sonhos ou visões.
Caso o oráculo dos demônios que falavam em nome do
falso deus Baal-Zebube tivesse dito a Acazias que ele morreria, nenhum furor
teria sido despertado nele, mas como a mensagem lhe veio da parte do Deus único
e verdadeiro, ficou extremamente ofendido.
A doença de Acazias não produziu nele nenhuma
atitude de humildade perante Deus, e muito menos qualquer tipo de
quebrantamento.
Ele recebeu um juízo de morte como consequência
daquela enfermidade, mas nem com isto se humilhou, antes, procurou ameaçar o
profeta e trazê-lo à força à sua presença, para lhe dar a devida satisfação,
que segundo ele o caso requeria.
O endurecimento de Acazias daria ocasião a outros
juízos de morte da parte de Deus sobre aqueles que foram enviados por ele a
Elias, e que não tiveram o devido respeito ao profeta, senão o único desejo de
agradarem o rei.
Uma mensagem poderosa dos céus seria dada não
somente àquela geração, mas a todos os homens, de todas as épocas e lugares, de
que aqueles que não temem ao Senhor, e que não dão ouvido à mensagem que Ele
proferiu pela boca dos Seus profetas, e que estão registradas para nossa
advertência na Sua Palavra, principalmente a que deu pela boca do Grande
Profeta nosso Senhor Jesus Cristo, serão igualmente sujeitados a um juízo de
morte, e serão queimados eternamente pelas chamas do inferno.
O grupo que foi enviado inicialmente ao profeta,
encontrou-o assentado no cume de um monte, provavelmente o Carmelo, e o capitão
daquele pelotão com cinquenta homens intimou Elias dizendo-lhe as seguintes
palavras:
“Ó homem de Deus, o rei diz: Desce.”.
Pela reação de Elias, e pela resposta e juízo que
ele proferiu sobre aqueles homens, inspirado por Deus, nós só podemos entender
que o vocativo “Ó homem de Deus” foi feito em tom de desprezo e ironia, porque
Elias introduziu a sua resposta antes de ordenar que descesse fogo do céu, com
as seguintes palavras: “Se eu, pois, sou homem de Deus”, como que a dizer que
caso o capitão ainda tinha alguma dúvida de que ele era homem de Deus, ela
seria dissipada com o que o Senhor faria naquela hora atendendo ao seu pedido.
É possível que pelo tempo decorrido, e por não ter
sido uma testemunha ocular do dia em que o Senhor fez cair fogo do céu para
queimar o holocausto sobre o Seu altar, que fora restaurado por Elias no
Carmelo, que o capitão considerasse tal estória como sendo uma fábula e não um
fato real.
Mas agora, ele teria a comprovação do fato, mas pagando
com sua própria vida, porque o holocausto não seria um animal oferecido sobre o
altar, mas o seu próprio corpo e os dos cinquenta homens que se encontravam com
ele naquela ocasião (v. 9, 10), não sendo queimados como holocaustos aceitáveis
e agradáveis a Deus, mas como merecedores de um juízo de fogo.
Tal era a obstinação e endurecimento de Acazias,
que em vez de temer ao Senhor e ao Seu profeta, insistiu em trazer Elias pelo
uso da força à sua presença, e enviou outros cinquenta com o seu respectivo
capitão.
Este, além de ter incorrido no mesmo erro do
primeiro, ainda ordenou que Elias não apenas descesse, mas que o fizesse
apressadamente (v. 11).
E o que o profeta havia dito ao primeiro, disse
também a este, de forma que tanto ele quanto os seus cinquenta comandados foram
consumidos pelo fogo de Deus, que desceu do céu sobre eles (v. 12).
Foi em face da recusa dos samaritanos em
reconhecerem ao Senhor Jesus como o Profeta enviado por Deus ao mundo, que
Tiago e João lhe sugeriram que lhes deixasse pedirem a Deus fogo que viesse do céu para consumir os
samaritanos, e receberam do Senhor uma firme repreensão (Lc 9.52-56), porque não haviam entendido com que espírito
e movido por quais motivos Elias o havia feito no passado em relação àqueles
102 homens que haviam sido consumidos pelo fogo, que veio da parte de Deus,
desde o céu, sobre eles.
Na verdade, não eram nem sequer os motivos de
Elias, mas os motivos de Deus, para cumprir os propósitos por Ele determinados
para nos servir de exemplo e ensino quanto ao temor que lhe é devido, e ao
profundo acatamento que deve ser dado a tudo o que Ele nos disse pela boca dos
Seus profetas.
Todavia os apóstolos de nosso Senhor estavam
vivendo numa nova dispensação, a da graça, na qual este juízos extensos e imediatos
como visitação da incredulidade e do pecado, já não existem, porque aqui se
ordena que se ame os inimigos e que se ore pelos perseguidores, em vez de se
pedir que venha fogo do céu sobre eles.
O próprio Elias, antes e depois deste evento, que
encontramos narrado neste primeiro capitulo de II Reis, não vivia a pedir fogo
do céu sobre todos que rejeitaram a sua mensagem, porque de outro modo, quase
nenhuma carne restaria em Israel em seus dias, salvo os 7.000 que não haviam
dobrado seus joelhos a Baal.
Ao contrário, o esforço de Elias era o de conduzir
Israel ao arrependimento, tanto que ele desejou até mesmo a sua própria morte,
quando pensou que sua missão havia fracassado, pelo fato de pensar que somente
ele havia restado como o único profeta que permanecia fiel e leal ao Senhor,
expondo sua vida para combater a idolatria, que havia se apoderado dos
israelitas.
Realmente, Elias estava agindo debaixo da direção
do Senhor, porque quando Acazias lhe enviou ainda um terceiro grupo de cinquenta
homens, com o seu respectivo capitão, este não ordenou que Elias descesse, ao
contrário subiu até a sua presença e em atitude de reverência colocou-se de
joelhos diante dele e lhe rogou por misericórdia tanto para com ele, quanto
para com aqueles que se encontravam debaixo do seu comando (v. 13, 14), e o que
fez o profeta?
Ordenou que viesse fogo do céu sobre eles assim
mesmo?
Não, ao contrário, ele se mostrou favorável a eles
porque o anjo do Senhor disse a Elias que descesse com aquele capitão até a
presença do rei Acazias, sem nada temer (v. 15).
Aqui nós aprendemos uma segunda lição sobre o
caráter de Deus, porque ele não é somente o Deus que julga o pecador, como
também é misericordioso para com aqueles que se humilham, e lhes mostra o favor
da Sua graça.
Ao chegar à presença do rei, Elias proferiu as
mesmas palavras que o anjo do Senhor lhe havia dado, para serem ditas aos
mensageiros de Acazias, que ele havia enviado a Ecrom, e que acabaram
retornando a ele sem cumprirem a ordem que lhes havia dado, em face do juízo de
Deus, que havia sido pronunciado contra ele.
Como Deus havia revelado ao profeta, Acazias veio
de fato a morrer daquela enfermidade, pouco tempo depois, porque reinou apenas
dois anos, e sequer chegou a gerar filhos que pudessem herdar o seu trono, de
modo que este passou para o seu irmão, também filho de Acabe, chamado Jorão.
Este, foi um dos últimos, senão o último serviço
prestado por Elias ao Senhor, como Seu profeta para protestar contra o pecado
de Israel, porque no capítulo seguinte nós encontramos a narrativa relativa à
sua sucessão por Eliseu, e o seu arrebatamento ao céu.
“1 Depois da morte de Acabe, Moabe se rebelou
contra Israel.
2 Ora, Acazias caiu pela grade do seu quarto alto
em Samaria, e adoeceu; e enviou mensageiros, dizendo-lhes: Ide, e perguntai a
Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença.
3 O anjo do Senhor, porém, disse a Elias, o
tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de
Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a
Baal-Zebube, deus de Ecrom?
4 Agora, pois, assim diz o Senhor: Da cama a que
subiste não descerás, mas certamente morrerás. E Elias se foi.
5 Os mensageiros voltaram para Acazias, que lhes
perguntou: Que há, que voltastes?
6 Responderam-lhe eles: Um homem subiu ao nosso
encontro, e nos disse: Ide, voltai para o rei que vos mandou, e dizei-lhe:
Assim diz o Senhor: Porventura não há Deus em Israel, para que mandes consultar
a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Portanto, da cama a que subiste não descerás, mas
certamente morrerás.
7 Pelo que ele lhes indagou: Qual era a aparência
do homem que subiu ao vosso encontro e vos falou estas palavras?
8 Responderam-lhe eles: Era um homem vestido de
pelos, e com os lombos cingidos dum cinto de couro. Então disse ele: É Elias, o
tisbita.
9 Então o rei lhe enviou um chefe de cinquenta, com
os seus cinquenta. Este subiu a ter com Elias que estava sentado no cume do
monte, e disse-lhe: Ó homem de Deus, o rei diz: Desce.
10 Mas Elias respondeu ao chefe de cinquenta,
dizendo-lhe: Se eu, pois, sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a
ti e aos teus cinquenta. Então desceu fogo do céu, e consumiu a ele e aos seus
cinquenta.
11 Tornou o rei a enviar-lhe outro chefe de cinquenta
com os seus cinquenta. Este lhe falou, dizendo: Ó homem de Deus, assim diz o
rei: Desce depressa.
12 Também a este respondeu Elias: Se eu sou homem
de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinquenta. Então o
fogo de Deus desceu do céu, e consumiu a ele e aos seus cinquenta.
13 Ainda tornou o rei a enviar terceira vez um
chefe de cinquenta com os seus cinquenta. E o terceiro chefe de cinquenta,
subindo, veio e pôs-se de joelhos diante de Elias e suplicou-lhe, dizendo: ó
homem de Deus, peço-te que seja preciosa aos teus olhos a minha vida, e a vida
destes cinquenta teus servos.
14 Eis que desceu fogo do céu, e consumiu aqueles
dois primeiros chefes de cinquenta, com os seus cinquenta; agora, porém, seja
preciosa aos teus olhos a minha vida.
15 Então o anjo do Senhor disse a Elias: Desce com
este; não tenhas medo dele. Levantou-se, pois, e desceu com ele ao rei.
16 E disse-lhe: Assim diz o Senhor: Por que
enviaste mensageiros a consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom? Porventura é
porque não há Deus em Israel, para consultares a sua palavra? Portanto, desta
cama a que subiste não descerás, mas certamente morrerás.
17 Assim, pois, morreu conforme a palavra do Senhor
que Elias falara. E Jorão começou a reinar em seu lugar no ano segundo de
Jeorão, filho de Josafá, rei de Judá; porquanto Acazias não tinha filho.
18 Ora, o restante dos feitos de Acazias,
porventura não está escrito no livro das crônicas dos reis de Israel?” (II Rs
1.1-18).
Muito bom meu amado.
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