No
quarto capitulo de Jonas nós vemos que o profeta ficou extremamente desagradado
com a misericórdia de Deus para com os ninivitas, livrando-os do juízo de
destruição, em face do arrependimento por eles demonstrado, a ponto de ficar
irado, e desejar até mesmo a própria morte, como vemos nos versos 1 a 3.
Ele
estava desejando a destruição da cidade, por causa do atributo do juízo divino,
que não pode inocentar o culpado.
No
entanto o próprio Jonas declarou que sabia que Deus era compassivo, misericordioso, longânimo e
grande em benignidade e que se arrepende do mal, e que a misericórdia triunfa
sobre o juízo, perdoando o culpado quando há arrependimento, e por isso havia
fugido da sua terra para Társis, quando fora comissionado pela primeira vez
para ir a Nínive.
Jonas
sabia que Deus era misericordioso e longânimo não somente pelo que Ele havia
declarado ao próprio Moisés, como também pelos muitos exemplos da aplicação de
tal misericórdia para com os israelitas
e para com muitas nações, quer ao longo da história de Israel, quer nos seus
próprios dias, porque apesar de toda a idolatria do Reino do Norte (Israel), ao
qual Jonas pertencia, Deus estava usando de grande longanimidade para com eles,
e até mesmo lhes dando uma prosperidade imerecida, conforme a que estava dando
nos seus próprios dias àquela nação infiel, na expectativa que fossem
convencidos da Sua bondade divina, e que assim viessem a se arrepender de seus
pecados, andando de maneira digna perante Ele.
Jonas queria
puramente vingança, movido por sentimentos nacionalistas, mas Deus queria
exercer justiça consoante o uso da Sua misericórdia.
Afinal,
todo o mal que os israelitas haviam sofrido da parte dos assírios foi permitido
pelo próprio Deus por causa da infidelidade de Israel. Assim, não havia nenhum
motivo para uma retribuição do mal que haviam sofrido, porque eles próprios
haviam dado ocasião às aflições que estavam sofrendo por parte dos
assírios.
É muito
comum que os homens se justifiquem a si mesmos, e se considerem vítimas
daqueles que os disciplinam e repreendem, quando na verdade não são vítimas,
mas rebeldes que estão sendo afligidos com a permissão de Deus, segundo a Sua
vontade, para que se arrependam dos seus maus caminhos.
Por
isso a Palavra nos ordena a nos submetermos debaixo da potente mão de Deus,
quando somos por Ele corrigidos, mediante as coisas que sofremos neste mundo.
O ato
de sempre se considerar vítima dos outros e das circunstâncias difíceis somente
servirá para agravar ainda mais a nossa condição.
Importa
portanto vermos a mão do Senhor na maioria das coisas que nos sucedem, de
maneira que em vez de ficarmos endurecidos pelo mal, nos submetamos
humildemente diante dEle, para que nos conceda graça e nos exalte em ocasião
oportuna.
Por
outro lado, devemos fugir da atitude de Jonas, quanto ao que sentiu quando viu
a misericórdia do Senhor sendo exibida para com os ninivitas, e muito menos
ficarmos na expectativa de que Ele destrua os nossos inimigos, em vez de
perdoá-los, tal como fizera também o profeta Jonas.
Este
capítulo nos ensina pela forma que Deus tratou com Jonas, para conduzi-lo ao
convencimento de que era irrazoável o que ele estava sentindo e desejando, que
nunca devemos ficar na expectativa de que Ele destrua os nossos ofensores e
inimigos, mas que ao contrário, use de misericórdia para com eles.
Para
arrazoar com Jonas, Deus fez crescer miraculosamente uma aboboreira em um só
dia, a ponto de dar sombra para o profeta, mas fez com que um bicho matasse a
planta no dia seguinte, e ao surgir do sol, este bateu na cabeça de Jonas de
tal maneira que ele desmaiava e deseja morrer, dizendo que era melhor morrer do
que viver.
Esta
era a hora adequada para convencer Jonas
de que estava sendo irrazoável com aquela sua ira, por não ter julgado os
ninivitas com destruição.
Jonas
teve compaixão por causa da morte de uma planta, e desejou a morte por um
simples desconforto térmico que havia experimentado, e no entanto não tivera
nenhuma compaixão de mais de cento e vinte mil pessoas, e de todos os animais e
plantas que existiam em Nínive.
Jonas
sequer havia plantado aquela aboboreira e nada fez para que ela crescesse. Mas
teve compaixão dela.
Todavia,
estava endurecido o bastante para não reconhecer que não fora o homem, mas o
próprio Deus que deu vida a todas aquelas pessoas de Nínive. Afinal é o criador
de todos os homens. E não seria razoável de se esperar que Ele tenha, como
Criador, muito mais compaixão por pessoas, do que por uma simples aboboreira?
Ainda
por cima, tendo-se em conta que eram pessoas ignorantes da Sua vontade, que não
conheciam a Sua Lei, e que portanto, não sabiam sequer discernir entre a mão
esquerda e a direita, era de se esperar que usasse de misericórdia para com
eles, caso se emendassem de seus maus caminhos, ao lhes revelar o Seu desagrado
para com os seus pecados.
Deus
estava poupando o Seu próprio povo, que apesar de conhecer a Sua Lei e vontade,
era mais culpado perante Ele, do que os próprios ninivitas, porque estes haviam
se arrependido dos seus maus caminhos, mas até aquele momento, Israel não havia
se arrependido de suas infidelidades e idolatrias, por anos e anos sucessivos;
de forma que viriam a ser destruídos
pelas mãos dos próprios assírios em 722 a. C., depois dos dias de Jonas.
Não que
os assírios dos dias do juízo de Israel fossem mais justos do que eles, porque
o rei que os deportara foi o cruel e ímpio rei Salmanazar, e logo depois dele se
levantou o rei Senaqueribe, contra Judá, nos dias do rei Ezequias, sem a
permissão e consentimento de Deus, e por isso recebeu da parte dEle o devido
juízo.
Os
assírios tinham sido o braço de Deus para julgar a impiedade do Reino do Norte
(Israel), mas se exaltaram contra o próprio Deus, pretendendo destruir também o
Reino do Sul (Judá), sem que houvesse qualquer intenção de Deus de que Judá
caísse sobre o poder dos assírios.
Quando
Deus perguntou a Jonas se era razoável a sua ira dele por causa da morte da
aboboreira, este lhe respondeu que era justo também que ficasse enfadado a ponto
de desejar a morte. É o que lemos no verso 9.
Jonas
foi sincero na expressão do que estava sentindo, mas completamente injusto para
com Deus em se permitir dominar por tais sentimentos.
O fato
notável é que apesar de Deus tê-lo repreendido, não trouxe nenhum juízo
vingativo por causa da atitude do profeta; antes o admoestou como um pai faz
com o filho que ama.
De
igual modo o Senhor tem procedido para com as injustiças dos cristãos, não lhes
trazendo juízos dolorosos imediatos, antes procura lhes conduzir a refletirem
sobre os seus maus caminhos, de maneira a se desviarem deles, e retornarem à
sensatez e a um senso justo e equilibrado quanto ao seu procedimento,
especialmente em relação às coisas insensatas que costumam pensar e sentir,
quando se sentem atribulados, tal como Jonas, ao ser molestado pelo sol e pelo
forte vento oriental que vieram sobre ele, enquanto os ninivitas desfrutavam do
favor e da misericórdia de Deus, em vez de serem destruídos por Ele, tal como
Jonas esperava.
Deus
não somente não destruiu os ninivitas, como suportou o dizer insensato do Seu
profeta, porque não o matou conforme ele havia Lhe pedido em Sua precipitação,
e de igual modo não tem atendido tais pedidos que às vezes fazemos, quando nos
achamos debaixo de grande pressão, tal como Jonas se encontrou no passado.
Que
grande, justo, bondoso, paciente e sábio Deus que nós temos.
Ele é
digno de todo o nosso louvor, porque não nos tem tratado de acordo com a nossa
precipitação e insensatez, mas em conformidade com a Sua grande longanimidade e
misericórdia, conforme podemos aprender no que nos revelou em todo o livro de
Jonas.
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