No
sexto capítulo de Isaías nós temos o registro do modo pelo qual Deus o chamou
para o exercício do seu ofício profético.
Foi-lhe dado ver o Senhor assentado em seu
alto e sublime trono, com as orlas de suas vestes enchendo o santuário em que
está situado o Seu trono.
João
afirmou em seu evangelho que foi a Jesus em Sua glória celestial que Isaías
viu, antes da encarnação do Senhor neste mundo (Jo 12.41).
Ao
redor do trono havia serafins, que são seres angelicais com aparência de fogo,
porque a palavra seraf, no hebraico, significa fogo.
Como
estavam diante do trono do Senhor, estes serafins possuíam seis asas, para
cobrirem com duas suas faces, e com duas seus pés, em sinal de reverência diante
da glória dAquele que estava assentado no trono, e com as duas asas restantes,
voavam.
E foi
permitido a Isaías ouvir o que estes serafins clamavam uns para os outros:
“Santo,
santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória.”
(v. 3).
Os
judeus pensavam que a glória de Deus se limitaria para sempre a se manifestar
somente no território de Israel, mas os serafins revelaram profeticamente no
seu clamor que toda a terra seria cheia da glória do Senhor, e isto apontava
certamente para os dias do evangelho.
Tão
poderosa era a voz do Senhor que as bases dos limiares se moviam e a casa se
enchia de fumaça, que é a manifestação visível da glória de Deus (v. 4).
Diante
da visão da majestade e santidade do Senhor, e de toda a glória celestial ao
redor do Seu trono, Isaías sentiu a sua pequenez e foi convencido da sua
miséria diante de um Ser tão magnífico e santo.
E pôde
perceber não apenas a sua própria pequenez e miséria, como também a impureza de
todo o povo de Israel, que sendo povo de Deus, nada refletia daquela glória que
Isaías havia visto.
Cremos
que Isaías já era um homem piedoso ao ter recebido tal visão, e foi exatamente
por isto que o Senhor o chamou daquela maneira gloriosa para que fosse
convencido sobre a necessidade de uma total consagração e santidade para que se
possa servir ao Deus que é um fogo consumidor.
Por
causa da confissão da sua pequenez, insuficiência, miséria e indignidade,
Isaías achou favor da parte de Deus, porque se manifesta aos quebrantados de coração
e pobres de espírito.
E
fizera isto com Isaías não para convertê-lo, porque cremos que já era
convertido, mas para chamá-lo a uma maior consagração de vida, e dar-lhe o
revestimento de poder necessário para o cumprimento do ministério para o qual seria
convocado, não por obrigação, mas pelo constrangimento da pergunta, quando
ouviu a voz do Senhor perguntando:
“A quem
enviarei, e quem irá por nós?” (entendemos que este “nós” se refere à trindade
divina).
Mas Isaías só ouviu esta voz do Senhor depois
de ter sido purificado e renovado com o poder do Espírito Santo, quando foi
tocado por uma brasa viva que um dos sefarins trazia na mão, que tirara do
altar com uma tenaz, e com a qual tocou os lábios de Isaías dizendo que a sua
iniquidade havia sido tirada e perdoado o seu pecado.
O
processo da chamada para o uso consagrado para o serviço do Senhor não tem
mudado, porque Ele sempre primeiro santificará aqueles que enviará a seu
serviço, e o fará pelo revestimento de poder do Espírito Santo, depois que
estes vasos escolhidos se humilharem diante dEle, reconhecendo a sua
inabilidade e impureza.
Somente
depois da consagração e santificação, que Isaías ouviu o chamado para um
atendimento voluntário, ao qual ele respondeu afirmativamente dizendo: “Eis-me
aqui, envia-me a mim.”.
Ele é conhecido como o profeta evangélico,
porque profetizaria mais do que qualquer outro sobre a pessoa de Cristo e o
período da Igreja cristã, do milênio e da glória futura dos santos.
Ele viu
o Senhor Jesus na Sua glória em sua chamada, porque Sua grande missão seria a
de falar do ministério e glória do Messias, e que somente nEle havia esperança,
não somente para Israel, como para todas as nações da terra.
Então
não é para se estranhar que não tenha sido chamado para convocar e confrontar
os israelitas de seus dias, ao arrependimento, durante o tempo do seu longo
ministério, mas ao contrário, revelar aos israelitas que eles permaneceriam
endurecidos à recepção do Messias e do evangelho por um longo período, porque
por causa do seu endurecimento no pecado, o profeta lhes diria o que sucederia a Israel durante o período de
formação da Igreja de Cristo.
Eles
ouviriam o evangelho, mas não entenderiam.
Veriam
os sinais realizados por Cristo e pela Igreja mas não perceberiam a mão de Deus
agindo, porque o seu coração se tornaria insensível, e seus ouvidos ficariam
endurecidos à voz do Espírito, e seus olhos fechados para verem a verdade da
Palavra do evangelho (v. 9, 10).
Sobretudo
porque a justiça do evangelho é o próprio Cristo sendo oferecido como meio da
nossa justificação simplesmente pela fé, e os judeus estavam habituados à idéia
da justificação pelas obras da lei, e da justiça própria.
Isaías
falaria portanto, de coisas relativas ao evangelho, mas eles não se converteriam
a Deus por ouvirem as coisas que seriam reveladas a Isaías para serem
profetizadas.
Ao
contrário, a mensagem profética de Isaías lhes endureceria o coração, fecharia
os seus olhos, para que não vissem com os olhos e ouvissem com os ouvidos a
mensagem da verdade, e assim, não podendo entender com o coração, não se
converteriam e não seriam sarados por Deus.
A
propósito, ao longo do livro de Isaías, foi-lhe revelado pelo Senhor o caráter
da justiça que se manifestaria com a vinda de Cristo ao mundo, para morrer no
lugar do pecador.
Isaías
perguntou ao Senhor até quando duraria tal endurecimento de Israel ao
evangelho, e a resposta divina foi a seguinte:
“Até
que sejam assoladas as cidades, e fiquem sem habitantes, e as casas sem
moradores, e a terra seja de todo assolada, e o Senhor tenha removido para
longe dela os homens, e sejam muitos os lugares abandonados no meio da terra.”.
A
remoção do endurecimento de Israel ocorreria somente, conforme do conhecimento
do Senhor em Sua onisciência, e como revelou a Isaías, somente depois que a
terra de Israel fosse assolada, e as suas cidades e casas ficassem sem
habitantes e moradores e a sua terra totalmente assolada.
Isto
ocorreria no cativeiro babilônico, e na diáspora causada pelos romanos em 70 d.
C., mas o grande cumprimento da profecia
aponta para o tempo das assolações que serão realizadas pelo Anticristo.
Apenas
um remanescente seria objeto da remoção do endurecimento e se converteria ao
Senhor, mas é identificado como sendo menos da décima parte da população que
seria poupada.
E este
remanescente foi chamado de santa semente, e comparado ao toco de um carvalho
que é deixado na terra, depois que este é derrubado (v. 13).
Baseado em Isaías 6
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